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Eu amo o Dinheiro! A história de um mercenário na América do Sul


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Postado

Bom grupo queno Nandez tem na mão nessa temporada. Jogadores experientes e com mais técnica do que em times passados. Dentro de campo isso se comprovou, excelente início de trabalho.

Concordo com os colegas em relação à defesa também. Por falar nisso, como é o critério desempate em caso de mesmo número de pontos? SG ou Vitórias? Tem que pensar nisso. Se for SG, é melhor tirar contra equipes mais fracas, do que deixar pro confronto dos 15 mil. 

No mais, o time tá voando e o Nandez tá na briga pelos R$15 mil.

Valeu Pepe, boa sorte na sequência!!

  • Vice-Presidente
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Esse jogo contra o Bermejo vai pegar fogo, já que vale muito para o nosso mercenário. Em campo, o time vai bem, mas esse tropeço pode acabar custando muito caro para o treineiro.

Postado
Em 03/06/2020 em 08:05, ElPeroMG disse:

Bom grupo queno Nandez tem na mão nessa temporada. Jogadores experientes e com mais técnica do que em times passados. Dentro de campo isso se comprovou, excelente início de trabalho.

Concordo com os colegas em relação à defesa também. Por falar nisso, como é o critério desempate em caso de mesmo número de pontos? SG ou Vitórias? Tem que pensar nisso. Se for SG, é melhor tirar contra equipes mais fracas, do que deixar pro confronto dos 15 mil. 

No mais, o time tá voando e o Nandez tá na briga pelos R$15 mil.

Valeu Pepe, boa sorte na sequência!!

Confesso que eu também fiquei surpreso com o bom nível da terceira na Bolívia, é bem melhor que Equador e Venezuela, por exemplo. 

Pior que eu acho que os problemas defensivos são mais questão de concentração e problemas particulares com o elenco do que necessariamente o esquema, mas teve testes com Recuperador de Bolas já pra não deixar o entrelinhas tão desguarnecido.

Valeu pela presença, ElPero!!

17 horas atrás, Henrique M. disse:

Esse jogo contra o Bermejo vai pegar fogo, já que vale muito para o nosso mercenário. Em campo, o time vai bem, mas esse tropeço pode acabar custando muito caro para o treineiro.

Pois é, Henrique, isso é decisão de campeonato tipo SuperCopa do Brasil: todos de olho pelo prêmio, já que a classificação pros playoffs que é o principal está bem encaminhada. 

Obrigado por acompanhar!

 

A todos os leitores, é claro que eu não poderia deixar de agradecer a vocês pelo apoio e por impulsionarem a história a um sucesso tão grande e tão imediato com a eleição do save do mês. Eu jamais achei que o Hernández fosse fazer tanto sucesso assim, fico feliz demais com a repercussão e se preparem porque ainda tem muita coisa pra acontecer até que nosso mercenário aceite seu fim e vá se aposentar nadando num cofre com moedas tal qual o Tio Patinhas (até porque, hoje, esse cofre seria o porquinho do banner de apresentação).

Postado

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Milagres realmente acontecem.

Começamos essa parte em 7 de setembro, dentro do ônibus indo para Oruro. O elenco estava bem, contente e era visível a intimidade dos jogadores entre si. No meio de toda aquela resenha, o presidente, lá no fundo junto com seu filho, grita:

- Chama o Nández! Chama o Nández…

Os ânimos diminuíram, uma situação estranha foi criada. O presidente Pedro Mendoza continuou:

- Vocês sabiam que se a gente der o título para La U, a gigante, esse desgraçado vai ganhar 15 mil reais, limpo de impostos?? Fala pra eles o que você pretende fazer com o dinheiro, vai Nández.

O presidente não percebeu mas o clima pesou, ouvi uns cochichos aqui e outro ali. O elenco não gostava mesmo de mim:

- Eu vou pegar esses 15 mil para ir embora daqui!! Hehehe.

A risadinha no fim foi solitária e marcou uma resposta ruim aquela situação. Eu me recolhi, voltei aos primeiros bancos e os risos voltaram a ser ouvidos dentro do ônibus. É oficial, eles não gostam de mim.

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4-4 E.M Huanuni | 2-0 Real América | 3-1 Deportivo Fatic | 2-1 Atlético Marban

Eu não sei se foram minhas palavras mal calculadas naquele ônibus, mas algo aconteceu de diferente no jogo do dia seguinte porque aquela partida não pode ser chamada de normal. Aos 6’, escapamos no contra ataque e Montaño abriu a contagem a nosso favor, 1-0. 3 minutos mais tarde e o contra ataque foi a arma deles, Mesa empatou, 1-1. Antes de descer para o intervalo, Cárdenas nos colocou novamente na frente após cobrança de escanteio, 2-1. A vitória nos fazia encostar no Atlético Bermejo, que empataria em 0x0 em partida simultânea a nossa contra o Atlético Marbán. Tentei não mostrar ansiedade aos atletas, mas eu estava ansioso e Rafael, o nosso torcedor mirim mais fanático, acompanhava pela internet e sinalizava na arquibancada visitante a cada vez que eu olhava. No segundo tempo, a Empresa Minera Huanuni empata com Diego Gutiérrez, em falha feia de Saucedo, o líder do motim, e vira em chutaço de Jairo Huarana, 3-2 aos 78’. Falha que vai, falha que vem: aos 86’ Katic erra cabeçada, e deixa Carlos Rodas avançar livre para empatar. Mais dois minutos e Castellón vira num golaço, após conduzir desde o meio campo até a area, 4-3, e eu ensandecido no banco. Que jogo! Só que virada instantânea de lá, empate relâmpago de cá: no mesmo minuto 88’, na saída de bola, Diego Gutiérrez avança e marca de fora, 4-4. O frustrante empate manteve a distância do Bermejo em 3 pontos, deu um “Hola!” ao Huanuni, que viria a ser o melhor time desse Segundo Turno no Grupo D, e estabeleceu um recorde de gols na competição.

A sequência nos reservou um clássico contra o Real América para recuperarmos a confiança. A imprensa veio cobrir, a torcida estava empolgada e o filho do presidente foi parar na sala da direção:

- Nández, ele bateu no colega só porque disse que o Real América ia ganhar. Depois ficou batendo na mesa da diretora enquanto cantava “América puuuuuto!”. O que eu faço?

- Você eu não sei, mas eu vou comprar uma murga pra esse garoto fundar a “La Banda de Rafa”. Se ele quer ser um barra brava, que seja.

E no meio dessa loucura, atropelamos o Real América na primeira partida da nova banda. 2x0 foi pouco diante das chances criadas, e Saldías saiu nos braços do povo depois de dois gols iguais: cruzamento, defesa afasta e ele acerta um petardo da entrada da área. Três dias depois, recebo uma chamada de vídeo do presidente. Quando abri estava ele de cuecas, o filho batendo a murga e os dois gritando coisas inaudíveis.

- SEEEEEEIS!!! SEEEEIS – eu nem conseguia diferenciar que voz era aquela

- Ok! Seis. E daí?

- SEEEEEEEEIS!! SEEEEEEEIS!

Rafael tomou a palavra, gaguejando, empolgado:

- Seis a Dois, Nández, o Bermejo perdeu de 6x2 hoje, agora!! Você não viu? O que você tá fazendo na internet pra não acompanhar esse jogo?

Preferi não responder para não traumatizar uma criança. Fui atrás das redes sociais para entender se aquilo era verdade. Era…

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Com a derrota para o E.M Huanuni, nós tínhamos um jogo a menos e o confronto direto na nossa casa. Bastava vencer 1 e assumir a liderança. Vencemos! Mesmo em casa, o Universitário de Tarija não foi páreo para a empolgação de quem via os 15 mil reais tão próximos. Abrimos 2-0 com Montaño, sempre ele, e Cárdenas ainda na primeira etapa. O gol adversário aos 49 do segundo tempo já aconteceu quando os 2 bravos guerreiros visitantes ecoavam sozinhos o grito de “ole ole ole líder líder”.

O jogo seguinte era justamente contra o Atletico Bermejo e nada podia nos deter, ou talvez pudesse. A partida foi bem disputada e muito aberta, o Bermejo adotava estilo de jogo semelhante ao nosso o que dava volume de jogo a ambos os ataques. E, de novo, o imponderável pendeu para o lado de lá: aos 45’, fim de primeiro tempo, falta frontal levantada em nossa área, Vaca saiu mal do gol e foi pego adiantado quando Banderley (com B) Melgar empurrou de cabeça para as redes, 0-1. No segundo tempo eu bem que tentei incentivar os atletas, mas o nosso 424 não criou mais que algumas chances bem defendidas pelo goleiro adversário ou desperdiçadas pela dupla Montaño e Rodas, que não fizeram bom jogo. A derrota quase sepultava nossas chances: eram 3 pontos de diferença e 2 rodadas em disputa, ao menos os critérios de desempate estavam ao nosso favor. Para embolar, com um jogo a mais, o Huanuni nos ultrapassou na tabela e passou a prometer briga pelo vice do grupo também.

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Contra o Deportivo Fatic, no jogo seguinte, entramos em campo já cientes da vitória do Bermejo, e fizemos a pior partida desde a minha chegada: o adversário era inferior e abrimos o placar cedo, mas não o suficiente pra justificar a prensa que tomamos ao longo do jogo. Acuados na defesa, com pouca saída para contra ataques, vimos o Fatic empatar aos 55’, 1-1, e buscar uma vitória que seria justa. Mas o imponderável precisa pesar pro nosso lado alguma vez. Irritado, eu saquei a dupla de ataque e pus a reserva. Bustillos seguiu o nível baixo de Montaño nas partidas recentes, mas Carlos Vaca aproveitou: aos 73’ sofreu falta em frente a área que Castellón cobrou com categoria, nos recolocando em vantagem, 2-1, e aos 85’ inverteram-se os papéis: Castellón rolou para Vaca, sem goleiro, dar números finais ao jogo, 3-1. Na última e derradeira rodada, os jogos aconteceriam ao mesmo tempo e nós íamos com a faca no pescoço: a campanha do Huanuni havia terminado com 26 pontos, 1 a mais que nossos 25 e a vantagem era deles no desempate. Ou seja, era preciso vencer para ficar em segundo e torcer para um milagre para ser campeão. É nessas horas que o título do capítulo faz sentido…

Mentira. Não faz não. O Bermejo sobrou no jogo, venceu por 4-1 e desde os 22’ já vencia confortavelmente. A nós, a vitória precisava vir a qualquer custo independente disso, e tratamos de abrir a contagem aos 21’ com Montaño. O Marbán alcançaria o empate aos 40’ com Bryan Ortega, mas a mania de gols relâmpagos não saiu de nós. No minuto seguinte, Castellón acertou bonito chute de fora e deu números finais ao jogo, 2-1. Os 15 mil reais não vieram. Não posso dizer que desanimei pois os sempre 2 visitantes de La Banda de Rafa nos aplaudiram muito na saída daquele jogo. Era preciso lutar pelo acesso como retribuição ao pequeno e a pequena barra brava.

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A classificação terminou assim com o título e grande campanha do Atlético Bermejo: a goleada foi a única derrota deles no grupo, somado ao empate na virada do turno. Quanto ao Universitario de Potosí, nos restou a segunda colocação com números bem altos e acima da média. Fechando a vaga para os playoffs veio o E.M Huanuni com 35 gols marcados e uma campanha arrasadora no segundo turno: empatou o primeiro jogo naquele 4-4 conosco, venceu os outros 6 e chegou a sonhar com o título. Abaixo dos três, ficaram 4 times que brigaram entre si o tempo todo sem nenhum conseguir maior destaque, com o rebaixamento consumado para o Atlético Marbán justamente na última rodada contra o Universitario de Potosí.

Nesse meio tempo de jogos, duas coisas precisam ser destacadas. A primeira é a nova fornada que surgiu como “a geração de ouro”. Eu confesso que nenhum garoto me encheu os olhos, nem nos atributos e nem na partida contra nosso sub-21. Quem sabe mais a frente eu seja surpreendido e possa aproveitá-los, prometi olhar melhor ao final da temporada, por ora deixei a cargo do treinador do sub-21 fazer as contratações devidas.

A segunda coisa é a minha relação com o elenco. Por melhor que o time estivesse e eu inflasse a moral deles a cada vitória, o time vivia em constante harmonia entre si trabalhando num consenso: me odiar. Segundo fontes, vulgo o meu grande amigo e auxiliar, Marco Hermoza, os jogadores estão insatisfeitos com a minha reputação, como se ela fosse baixa. Oras, qual deles aí ganhou a Terceira Divisão Venezuelana com um time lotérico? Incrível como o desconhecimento gera ignorância.

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O ápice foi quando Carlos Saucedo, lateral direito titular e único da posição no elenco, se ausentou por duas vezes no treino. Na busca por panos quentes para pôr na situação, eu o multei apenas em meia semana de salário nas duas vezes. Nem assim o elenco me respeitava mais. Talvez seja os escritos de Deus com linhas tortas, mas pouco antes dos playoffs, Saucedo caiu machucado e seria desfalque até o final do campeonato. Eu comemorei de leve, e fui castigado...

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No meio disso tudo, faltava o sorteio. Se passaram 3 dias do último jogo e nenhuma notícia do nosso adversário. Fui pedir ajuda ao presidente.

- É impressionante como você não conhece mesmo dos regulamentos, Nández. Eu achei que os venezuelanos estivessem exagerando quando falaram. - ele respondeu minha pergunta.

- Venezuelanos? O que? Você fala com eles?

- Meu caro, quem é que contrata um sujeito como você sem conhecer o seu passado? Milagre quem faz é Padre, e ele me garantiu que tinha feito no seu caso.

Eu estava cada vez mais preocupado com os vazamentos do meu passado que o Pedro tinha, mas fingi não ligar preocupado com a fase final. Ele me explicou:

- Os playoffs são independentes, feitos pela Federação Boliviana e não ligam para título, eles querem saber de pontos. Os 6 melhores pontuadores avançam para a semi-final direto. É o caso dos 3 times do nosso grupo.

Pois é, eu devia desistir de cobrar coerência de regulamentos em terceiras divisões. Fui pego de surpresa, nossa campanha nos qualificou direto para a semifinal. Passei a dar mais valor quando percebi que somente dois clubes fizeram mais pontos que a gente no campeonato: o Atletico Bermejo, óbvio, e o Deportivo Cristal, do grupo C, que fez 34 pontos em 36 possíveis. Descobrir isso na sala do presidente me fez abrir o armário de whisky dele. Botei um copo, levantei e disse:

- Se esse clube se localiza em qualquer lugar da Bolívia que não fosse esse, eu teria ganho os 15 mil de bônus. Hoje essa garrafa é minha…

Dei o primeiro gole, mas fui impedido de beber o resto.

- O meu melhor whisky não, sai daqui e vai caçar aquelas urinas de cavalo que vocês no Paraguai chamam de whisky.

Nem mesmo descontar na bebida, eu estava conseguindo. Mas calma, sempre há espaço para piorar.

Passado todos os percalços, o sorteio nos colocou perante o Universitario de Vinto na semifinal. Com toda experiência de vida, eu sei que playoffs em divisões inferiores se definem com um jogo em cima do outro, então esperava enfrentar um U de Vinto bem cansado, o que de fato aconteceu. O Universitario de Vinto começou a mil e melhor em campo, mas não fez o gol cedo e começou a ceder. No intervalo, era visível que o time deles não tinha mais pernas. Eu enxerguei a oportunidade e tentei aproveitar no segundo tempo, forcei jogo rápido, intenso e atacante. Mas o mundo não queria conspirar a meu favor. Aos 50’ um escanteio para eles, bola na área e pênalti irresponsável. Ricardo Tumiri na bola, chute com raiva, 0-1. O resto do jogo foi um ataque desinteressado vs defesa cansada. É claro que o placar ficou como estava. Para a volta, eu decidi dar uma de maluco e ligar o modo irresponsável. Não sem antes ouvir o auxiliar:

- O Gutiérrez tá treinando bem, coloca ele na meia esquerda.

- Marco, o Gutiérrez tecnicamente parece aquele alambrado de tão ruim. Você deve estar brincando com minha cara.

O modo irresponsável foi ativado dado a quantidade de lesões: Carlos Rodas sentiu e não estava inteiro, seus reservas são ruins. Então decidi colocar Vilca, voltando de grave lesão, na meia esquerda e o sempre titular Carlos Bejarano de meia ofensivo como avançado sombra. Mandei o time atacar o tempo todo desde o começo, era matar ou morrer. A torcida veio em peso, 632 torcedores, o maior público da temporada. Cantavam enlouquecidamente com a Banda de Rafa. Logo aos 18’, Montaño recebe passe longo e abre o placar. Aos 20’ senti que era nosso dia: jogada de Vilca pela esquerda, cruzamento e Bejarano de cabeça, dentro da área como um atacante, marca o 2-0. O placar já era suficiente, mas Montaño deu números finais aos 32’, 3-0.

Ida: 0-1 Volta: 3-0

É então que começa o drama…

Aos 44’ Bejarano sai machucado, voltei ao 442 com Rodas e concluímos o jogo assim. No dia seguinte, o fisioterapeuta me diz: 6 meses fora, isso se for para um especialista. No mesmo dia, nova ligação do fisioterapeuta: Castellón sentiu no treino, 2 meses fora mas poderia jogar a final a base de infiltrações.

- Dá, enfia a agulha nele porque a gente precisa demais e o elenco já não tem mais jogador em condições.

Meia hora depois, mais um recado do fisioterapeuta. Raúl Menacho, lateral esquerdo titular e também sem reserva, sentiu bolhas no pé e não terá condições de jogar a ida. Com sorte fica no banco na volta. Aquilo parecia um filme de terror. Ou melhor, de tragédia.

No mesmo fatídico dia 6/11, aconteceria o sorteio da final. Por problemas com a organização, dois jogos dos playoffs estavam atrasados e ainda tinha quartas de final acontecendo. Na hora eu pensei que se o sorteio ajudasse com o adversário certo, a gente teria tempo para entrar descansado na final e aliviaria um pouco as lesões leves. O que vocês acham que aconteceu?

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Pois é. A única final que aconteceria dali em 3 dias era justamente o nosso jogo. O adversário sorteado foi o Oruro Royal, que terminara em segundo no seu grupo. A final era em ida e volta, com segundo jogo em nossa casa. Sem muito o que preparar, eu aliviei a carga de treinos e tentei salvar o elenco. Tentei...

A ida começou bem aberta, como era natural em nossos jogos, mas aquela foi uma partida a ser esquecida pelo nosso ataque, pois finalizamos em grande quantidade mas muito mal. Apesar disso, aos 33’ nosso esforço foi cirúrgico: Rodas puxou contra ataque, cruzou e Castellón emendou para as redes. O lesionado Castellón abriu o placar!! Se aquilo não era Deus brincando de cineasta e escrevendo um grande roteiro, eu não sei mais o que pode ser. Cinco minutos depois Montaño pôs pras redes mais um cruzamento de Rodas, só que o bandeira marcou mal o impedimento e o placar seguiu em 1-0. No intervalo, é claro, mais uma lesão: Brandon Chávez sentiu de leve e optei por tirar, voltou Vilca que ainda se recuperava de lesão. Com finalizações muito mais eficazes, ao todo foram 14 no alvo contra 2 nossas, o Oruro Royal chegou ao empate aos 60’ com Carlos, 1-1. Nos minutos finais,  pressão total do Oruro que ainda marcariam 2 vezes mas dessa vez bem anulados, ao passo que nós só sabíamos rezar e pedir para o tempo correr depressa.

Oruro Royal 1-1 Universitário de Potosí

Brandon Chávez lesionado por 2 dias preocupava para a volta, não estaria inteiro, e Vilca tomou o terceiro amarelo naquele dia. O auxiliar seguia me dizendo “coloca o Gutiérrez” como um papagaio, e eu explicando que o Gutiérrez sequer tinha entrado em campo no Interprovincial. A escolha natural era o meia Jorge Vaca, que é muito mais central, porém ia ter que quebrar o galho por ali.

O que está ruim, sempre pode piorar.

Na véspera do jogo, ligação do fisioterapeuta:

- Pelo amor de Deus, fala que minha mãe morreu ou que o cartel de Coca vai me matar, mas não fala o que eu acho que você vai falar.

- Pois é, o goleiro Jorge Vaca não joga amanhã. Lesão séria, 5 semanas fora.

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Visão detalhada do Quadro de Lesões na véspera do jogo

(A sequência 4, 5 e 6 de novembro é inacreditável: todos titulares) 

Em resumo, eu ia pra final do campeonato sem meu goleiro, substituído por um que não jogou nenhuma vez na temporada; sem os 2 laterais titulares, com zagueiros improvisados nas funções; com o craque a base de infiltrações pelo segundo jogo seguido, e com 3 meias esquerdas impossibilitados de jogar. Isso sem falar de Rodas que voltou de lesão em meio a uma sequência tão intensa, e não estava bem fisicamente.

Duas horas da manhã, com a pior insônia do mundo, eu liguei pro Marco Hermoza e avisei:

- Amanhã, o Gutiérrez é titular, pode avisar a ele.

- Alô? Quem é?

- Sou eu, acorda e avisa ao Gutiérrez que ele vai jogar amanhã. Abraços.

Os Atributos de Gutiérrez

Depois disso, eu consegui dormir. Sonhei com o Paraguai, lembrei do dia que meu auxiliar falou do Palacíos e eu desdenhei. Curioso, a capacidade de finalizar do Gutiérrez é igual a do Palacíos. Seria um sinal? No meu sonho eu bem que procurei a parede, mas toda porta que eu abria, entrava no lugar errado.

No dia e hora do jogo, eu era só desânimo. E acho que a torcida também: num fenômeno inexplicável, a final teve metade do público da semifinal. Ninguém acreditava, nem eu, mas não levei isso para o vestiário, reforcei a eles que era final e La Banda de Rafa merecia celebrar seu primeiro título. Entramos em campo com dois jogadores estreando no campeonato, o Oruro era pleno favorito e começou dando as cartas. Só que o goleiro reserva Cristhian Rojas (curiosamente o MESMO nome do goleiro deles) praticou dois milagres em chutes de longe, nos deixando vivos no jogo.

Aos 13’ o lateral direito improvisado Balanda saiu machucado. Mais um pra coleção. Ofensivamente, nossas estocadas eram curtas, nosso jogo era desconfiado mas fomos pegando confiança. Um chute perigoso aqui, um passe chave interceptado ali que deixaria Montaño em boas condições. Aos 45+2’, no apagar das luzes da primeira etapa, o roteiro cinematográfico ganhou seu ponto alto: Huarana pressionado jogou a bola dentro da área, Denilson Vaca, zagueiro de Oruro, afastou a bola pra frente e nos pés de Saldías, na entrada da área, de frente pro gol. Ele rolou para Gutiérrez, o 4º reserva da meia esquerda, que dominou na área, em diagonal a baliza, olhou pro gol e soltou uma bomba com seus 4 de finalização e 4 de força. Um golaço. Universitario 1-0.

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(a foto para a eternidade: Gutiérrez solta o pé para abrir o placar)

Aquilo deu outro ar ao jogo, agora o desespero era do lado de lá e se tudo desse errado, quem sabe a gente não segurasse nos penaltis. Recobrei a atenção e voltamos do intervalo. Rojas, o nosso, prosseguia como um dos melhores em campo, muito seguro na nossa meta, ao passo que nossa defesa fazia a melhor partida no campeonato, seguros por cima e tranquilos por baixo, mereciam ser premiados. Foram: aos 73’ Gutiérrez sofre falta rente a área. Castellón vai para a bola, joga no segundo poste e o zagueiro Cardenas confere para as redes, 2-0. O milagre aconteceu! Um time combalido, totalmente desacreditado até pelo seu treinador, vence com autoridade a final e carimba a vaga para a Copa Simón Bolívar, equivalente a segundona boliviana.

É claro que antes do fim do jogo, mais um jogador nosso saiu lesionado: Antezana lateral esquerdo, mas nada que impedisse ele de voltar rolando pelo gramado para celebrar essa conquista. O Universitario de Potosí conquistou o acesso!

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Naquela noite, Potosí parou! A festa varou a madrugada e em determinado momento eu mesmo redigi e assinei o contrato vitalício de Marco Hermoza com o Universitario de Potosí, e passei a chamá-lo de Mensageiro da Alegria. A noite terminou com a saga atrás de um cartório que validasse o acordo na madrugada de um domingo. Recobrei a consciência às 08h, jogado no banco de um cartório, com a senha 02 na mão e uma funcionária gritando que era a minha vez. Infelizmente, aquele acordo assinado numa folha de caderno não podia ser validado.

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Mata-Mata Completo

Ao final da Liga Nacional Interprovincial, subiram Universitario de Potosí, Deportivo Cristal e Atlético Bermejo, curiosamente as três melhores campanhas na fase de grupos. A febre minera do Huanuni, que fez 6 no Bermejo na fase de grupos, não conseguiu repetir o feito na final, e perdeu na última fase. Tal fato só mostra como aquele grupo foi de alto nível.

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Para fechar, nosso elenco com a escalação vitoriosa do último jogo em destaque. Os melhores jogadores em nota foram Jorge Montaño e Juan Nelio Castellón, que cumpriram as expectativas do início da temporada. Confesso que vi certa oscilação deles ao longo da temporada, mas felizmente cresceram na hora certa e foram decisivos nos últimos jogos. Além dele, Rodas, Saldías e Cárdenas também ficaram com a média acima dos 7 e foram uma espinha dorsal fundamental ao longo da temporada, aparecendo sazonalmente entre os marcadores também. Além deles, Eduardo Gutiérrez também encerra a temporada com média acima de 7, mas com 1 jogo disputado. Ainda não pude parar para observar o nível que nos aguarda na Simón Bolívar, entretanto, metade dos destaques voltam para seus clubes após os empréstimos, e terei certo trabalho para criar a reposição, já que ninguém no elenco desponta como capaz de suprir Montaño, por exemplo. Isso, claro, se os jogadores permitirem que eu fique...

Até agora não houve nenhuma oferta, conversa ou sinalização de renovação, mas como os últimos jogos foram um em cima do outro numa loucura inexplicável, eu também não dei bola. Agora, já ando com o celular no bolso, volume no máximo, para ouvir se o presidente ligar. E é possível que o elenco nem seja um impedimento, já que logo após o título, o herege-mor voltou atrás.

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Desgraçado... Só serviu para atrapalhar nos momentos mais importantes. Mas como eu aprendi o perdão e a perdoar no Equador, fiz questão de chamar ele num canto:

- Chamou, professor? 

- Agora é professor? Cadê o "Mr Bolinha de Queijo" que você e seus amigos falavam?

A cara dele de sem graça mostrou que os apelidos eram verdadeiros. E esse era um dos mais leves. Prossegui:

- Eu te perdoo, Saucedo, pois sei da sua importância no elenco mas espero que isso não volte mais a se repetir. Ficarei de olho até o fim de janeiro pra saber se você merece a renovação de contrato de acordo com suas atitudes.

- Ok, professor.

E ele voltou a correr. 

Nada como um acesso conquistado, muito chá de coca e impor falsas regras que você nem sabe se vão ser cumpridas, pois dependem da renovação, para deixar o coração mais leve. Eu venci no campo e no vestiário.

  • Peepe mudou o título para Eu amo o Dinheiro! A história de um mercenário na América do Sul - (Milagres realmente acontecem. 04/06)
Postado

Fala Pepe!

Já levou o Rafa pro mal caminho? Barra brava mais novo da história hahah. 

Ótima campanha durante a competição, consegui resolver o problema defensivo da virada do turno. Caiu para o melhor time da competição na fase de grupos, foi muito azar. No entanto, conseguiu uma ascensão honrosa, jogando contra tudo e contra todos, inclusive seus jogadores. Merecia metade dos R$15k. 

Já deu uma olhada na segundona? Acha que dá pra brigar? 

Boa sorte na sequência!!

Postado
7 horas atrás, Peepe disse:

- Agora é professor? Cadê o "Mr Bolinha de Queijo" que você e seus amigos falavam?

Que apelido perigoso... HAUAHUHAUAHUHA

Rapaz, mesmo com lesões, jogadores fazendo motim e coisas do tipo, você foi lá e garantiu o acesso. Baita campanha e sofrido como tinha que ser mesmo. Isso daí é pra orgulhar qualquer time hahahaha

E agora, acha que dá pra aguentar o tranco na divisão de cima?

Boa sorte!

Postado
18 horas atrás, ElPeroMG disse:

Fala Pepe!

Já levou o Rafa pro mal caminho? Barra brava mais novo da história hahah. 

Ótima campanha durante a competição, consegui resolver o problema defensivo da virada do turno. Caiu para o melhor time da competição na fase de grupos, foi muito azar. No entanto, conseguiu uma ascensão honrosa, jogando contra tudo e contra todos, inclusive seus jogadores. Merecia metade dos R$15k. 

Já deu uma olhada na segundona? Acha que dá pra brigar? 

Boa sorte na sequência!!

 

15 horas atrás, marciof89 disse:

Que apelido perigoso... HAUAHUHAUAHUHA

Rapaz, mesmo com lesões, jogadores fazendo motim e coisas do tipo, você foi lá e garantiu o acesso. Baita campanha e sofrido como tinha que ser mesmo. Isso daí é pra orgulhar qualquer time hahahaha

E agora, acha que dá pra aguentar o tranco na divisão de cima?

Boa sorte!

Primeiramente muito obrigado pelos comentários, ElPero e Márcio, foi um acesso suado mas merecido, eu só não esperava ligar o modo "com emoção" e passar tanto perrengue com os lesionados. Vou responder junto porque vocês fizeram praticamente a mesma pergunta.

A essa altura da carreira, é muito difícil não traçar comparações: a situação é bem semelhante ao acesso com o Loterías, chance de fazer uma graça até existe mas é sonho. O objetivo tem que ser não cair desde o começo da temporada. A diferença maior é que o Universitário tem uma parte financeira mais bem resolvida, e vai me permitir ter uma folha razoável e uma reputação que não afasta bons jogadores. Se ficar, o Nández promete um bom trabalho.

Postado

Fala, mano. Parabéns pelo título de Save do Mês e parabéns pelo acesso. O Bermejo fez uma campanha sensacional, mas você se manteve sempre ali por perto, diria que até com uma campanha de campeão. Acho que as coisas vão ficar ainda mais interessantes daqui pra frente.

Boa sorte!!

Postado

" A cara dele de sem graça mostrou que os apelidos eram verdadeiros. E esse era um dos mais leves..."

 

Agora a curiosidade bateu, Se esse era o mais leve...🤣🤣

Parabéns pelo acesso, mas que campeonato estranho. Foram 3 finais. Coisa de louco.

Postado

Otima campanha, chegou la e a duvida: Conseguiu os 15 mil ou só o acesso? 

De qualquer forma foi contra tudo e contra todos rolando até o final! Que campanha! 

Postado
6 horas atrás, LC disse:

" A cara dele de sem graça mostrou que os apelidos eram verdadeiros. E esse era um dos mais leves..."

 

Agora a curiosidade bateu, Se esse era o mais leve...🤣🤣

Parabéns pelo acesso, mas que campeonato estranho. Foram 3 finais. Coisa de louco.

esse aí deve gostar de bolacha recheada 🤣😂

Postado
Em 06/06/2020 em 07:18, PedroJr14 disse:

Fala, mano. Parabéns pelo título de Save do Mês e parabéns pelo acesso. O Bermejo fez uma campanha sensacional, mas você se manteve sempre ali por perto, diria que até com uma campanha de campeão. Acho que as coisas vão ficar ainda mais interessantes daqui pra frente.

Boa sorte!!

Muito obrigado, xará!!

O Bermejo é surpreendentemente bom, inclusive para o nível da Segundona. Dava pra ter segurado um empatezinho ali em um dos dois jogos, e isso teria dado o título, mas não dá pra reclamar por isso.

Em 06/06/2020 em 13:30, LC disse:

" A cara dele de sem graça mostrou que os apelidos eram verdadeiros. E esse era um dos mais leves..."

 

Agora a curiosidade bateu, Se esse era o mais leve...🤣🤣

Parabéns pelo acesso, mas que campeonato estranho. Foram 3 finais. Coisa de louco.

LC, você teve ensino médio, pensa em nomes para alguém gordo, branco e careca. Eu confio no seu potencial hahahahaha

Muito obrigado por acompanhar e aquilo, essa de 3 finais é meio que normal, na Venezuela também era assim. A primeira fase é um campeonato regional e o título na realidade é esse, mais ou menos como a Série D e os estaduais por aqui. Os melhores qualificam para o mata-mata, mas como a competição não é unificada e a primeira fase fica a cargo das federações provinciais, os playoffs só definem quem sobe e não tem um campeão. O FM tenta simular essa realidade, e como eu baixei um update de fora, imagino que seja o mais próximo possível que o editor permita.

 

21 horas atrás, Valismaalane disse:

Otima campanha, chegou la e a duvida: Conseguiu os 15 mil ou só o acesso? 

De qualquer forma foi contra tudo e contra todos rolando até o final! Que campanha! 

Valeu por sempre acompanhar, amigo.

Os 15 mil só viriam se eu ganhasse o título na primeira fase, infelizmente o Bermejo não deixou. O acesso foi bom mas não rendeu nada financeiramente.

 

21 horas atrás, felipevalle disse:

esse aí deve gostar de bolacha recheada 🤣😂

KKKKKKK bolacha não, biscoito.

Valeu pela presença, Felipe.

Postado

Com tanto bovino no plantel ao invés de mandar a campo manda pro pasto mesmo! E esses amotinados da vontade de mandar pastar!

Não ganhou seus 15 mil, que nem eram muito, mas para deixar o barrinha brava feliz, e para tentar despontar na divisão mais acima, acho que vale a pena continuar. Mas não tenho saco para elenco bundão não.

No mais título épico, time tava pior que o Vasco com 16 positivos para COVID!

  • Vice-Presidente
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Gostei da audácia do Saucedo, e fico feliz que não tenha atrapalhado o time na busca pelo acesso. Curiosamente, eu achei que essa fase de grupos anterior, que você ficou em segundo, já servia para definir quem subia ou não.

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Em 07/06/2020 em 21:16, Andreh68 disse:

Com tanto bovino no plantel ao invés de mandar a campo manda pro pasto mesmo! E esses amotinados da vontade de mandar pastar!

Não ganhou seus 15 mil, que nem eram muito, mas para deixar o barrinha brava feliz, e para tentar despontar na divisão mais acima, acho que vale a pena continuar. Mas não tenho saco para elenco bundão não.

No mais título épico, time tava pior que o Vasco com 16 positivos para COVID!

Olha, André, é por comparações como essa com o Vasco e a ideia de mandar o time pastar que eu voto convicto em você para leitor do mês. Sensacional kkkkkk

Eu também não gosto de elenco assim não, fiquei ainda mais incomodado com a falta de reputação que eles viram mas o jeito foi abaixar a cabeça e deixar o destino dar conta.

Em 08/06/2020 em 01:42, Henrique M. disse:

Gostei da audácia do Saucedo, e fico feliz que não tenha atrapalhado o time na busca pelo acesso. Curiosamente, eu achei que essa fase de grupos anterior, que você ficou em segundo, já servia para definir quem subia ou não.

Obrigado por sempre acompanhar, Henrique.

As fórmulas são sempre bem curiosas nessas terceironas sudacas, mas normalmente segue a linha que eu comentei com o LC: os grupos são regionais e o mata-mata é uma última fase nacional, tipo a nossa Série D mesmo. Dessa forma, os grupos dão uma boa vantagem na questão física, já que os jogos finais acontecem num curto período de tempo, e de avançar uma fase, e isso já basta.

Postado

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Ano Novo, Vacas Novos!

Ao terminar o Campeonato Nacional Interprovincial, eu e os jogadores tiramos nossas férias já costumeiras. Apesar disso, eu não voltei para o Paraguai e fui ausência novamente na ceia de natal. Os sobrinhos, já chegando na pré-adolescência, não recebiam mais presentes, mas o pacote de chá de coca que eu mandei foi sucesso entre as minhas tias na festa. Prova disso é que no dia 26/12 já havia mensagens de tia Dolores com os dizeres “Nández, meu querido, manda mais dessa coca que ela me deu tanta jovialidade.”. Eu não saberia explicar isso para a Polícia se eles apreendessem meu telefone.

O objetivo de continuar na Bolívia nas férias era mostrar serviço para o presidente, em busca daquela renovação. Em meados de dezembro, fizemos a primeira tentativa: o ingrato não quis aumentar 1 real que fosse. Comecei pedindo 2,5 por semana, abaixei para 2,2 e finalizei com 1,9. Todos os pedidos foram negados, e olha 1,9m por semana são 100 reais a mais do que eu já ganho.

Também favoreceu minha permanência que o clima em Potosí era fantástico para quem gosta de futebol: o Universitario subiu, o Nacional caiu da primeira para a segunda e o Real Potosí coroava uma grande temporada chegando a final da Copa da Bolívia. A derrota acachapante de 3x0 para o Bolívar foi um deleite para Pedro Hermoza, Rafa e eu que curtimos em um bar da cidade. Todas as torcidas da província tinham algum motivo para comentar futebol. Aquele foi mesmo um fim de ano curioso para os bolivianos: pela primeira vez na história, o país foi sede de uma final de Libertadores, Palmeiras e Boca Jrs decidiram a maior glória do continente a 3.600 metros de altitude, no estádio Hernando Siles em La Paz. Os argentinos levaram a taça ao vencer a partida por 3x2. Deixaram como herança uma série de turistas que passeou pelo país ao longo do mês de dezembro.

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As Contratações com seus valores

Pedro Vaca | Jorge Vaca (o zagueiro) |Jorge Vaca (o atacante) | Luis Justiniano | Jesus Vargas | Fernando Paz | Diego Castellón

No meio daquela loucura, havia espaço para as transferências, mesmo sem saber se eu ficaria, era justo que o clube trilhasse bom caminho. Aproveitei 3 garotos da última fornada: Denílson Gutiérrez, Ivan Vargas e Luis Quevedo, nenhum deles vai compor o elenco principal mas são apostas interessantes para o futuro.

Reformulei, então, o elenco em cima do que já existia. Ao todo foram 2 saídas para algum clube e mais uma infinidade em final de contrato. Dos 25 jogadores do elenco de acesso, 7 tiveram seus contratos renovados e mais 4 foram recontratados, o lateral Roberto Saldías, o meia Victor Saldías, o zagueiro Odair Arauz e o meia defensivo Óscar Huarana. De 25 sobraram 11, portanto. Para quem se pergunta, o predestinado Gutiérrez foi mesmo embora, eu sei o gol foi lindo e o auxiliar ficou carente, mas o jogador não tinha de fato nosso nível. Quem também saiu foi o sementinha do mal Saucedo. Na saída de férias eu pedi para entregar um cartão a ele: nele foi escrito “Nem precisa voltar. Abraços, Bolinha de Queijo”. Rancoroso eu? Jamais, desejo todo sucesso ao jogador na sarjeta, desempregado, enquanto eu curto a divisão de cima.

De todos os 21 jogadores contratados, ou recontratados, apenas 4 vieram por empréstimo. Eu adotei a mesma lógica da última temporada de criar uma espinha dorsal, com um grande jogador por setor, para desenvolver o time a partir dela. Isso significa que temos um grande destaque na defesa, Jorge Vaca (xará do goleiro, do meia e agora também de um atacante.), ele não é o melhor do mundo na bola alta defensiva mas compensa com desarme e marcação acima da média, vai duplar com Arauz, remanescente do acesso. O meio aparenta ser nosso principal setor, com Victor Saldías mantendo boa avaliação e Diego Castellón, seu companheiro de meio, candidato a craque do time: Diego não tem nada que o destaque muito, mas é um cara que mantém bons atributos em tudo e o torna capaz de jogar em qualquer função. Fernando Paz, que joga um pouco mais avançado, foi o grande destaque da janela, veio dispensado pelo San José e tem o suficiente para ser um bom construtor de jogo na divisão de cima. O detalhe fica para o antes dono do time, Juan Nelio Castellón, que pulou de 4 estrelas na avaliação para apenas 2 na nova temporada. Um bom demonstrativo de como o nível sobe de uma divisão para a outra. No ataque, mantive a ideia de um jogador alvo mas dessa vez isolado: Jesús Vargas é o homem-gol da temporada, um atacante com boa finalização, somado ao jogo aéreo que nos faltou na última temporada e atributos mentais de destaque, disputa com Paz pelo posto de nosso melhor jogador. Fechamos o plantel em 27 jogadores, embora alguns ainda possam migrar para o time de reservas e até mesmo o sub-21 dada a baixa idade dos atletas. O número é um pouco mais elevado do que eu pretendia, mas considero importante ter variação e possibilidades para que o desespero seja parcial caso o cenário de lesões volte. Como diria, tia Dolores, a da Coca: gato escaldado tem medo de água fria.

Ainda sobre o elenco, eu abri caminho para uma tentativa de patrocínio com uma grande TV local: a TV Pecuarista, famosa Canal do Boi. Com 4 Jorges, além de 1 Pedro, são 5 Vacas no elenco. Eles infelizmente não atenderam minha ligação com muito entusiasmo, e nem gostaram da piada. O fato do diretor deles se chamar Ramiro Vaca talvez explique alguma coisa.

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Pro esquema tático, eu não pensei em grandes transformações e mantive minha forma de trabalhar: deixar os melhores jogadores confortáveis em suas funções. Com isso, até tentei encaixar Paz, Diego Castellón e Saldías em um 442, como o da última temporada, mas o nível dos atacantes não me convenceu e nem o de Paz como meia lateral. Portanto, adaptei aquele esquema para um 4411, que ainda me exigiu a transformação do estilo de passe para mais curto: o jogo em bola longa favorece uma dupla de ataque, tendo em vista que Vargas joga sozinho, faz mais sentido trabalhar um ataque com maior apoio das peças de meio. A grande transformação sentida, inclusive, é essa: já nos amistosos se viu uma participação efetiva dos meias no campo de ataque e um número maior de finalizações, embora a maior parte seja de longe. Confesso que ainda estou buscando os papéis exatos para o Paz, atual CJA, e Vargas, atual alvo. As duas funções jogam mais recuadas, e eu gostaria de ter Vargas mais rente a linha defensiva esperando um passe curto em profundidade que o deixe na cara do gol (o que os antigos Fms chamavam de Jogador Alvo receber passes nas costas da defesa), mas também não sei se um PL Fixo cumpre esse papel, e preciso respeitar o movimento favorito do jogador. De todo modo, o 4411 me dá uma possibilidade de variações de acordo com os jogos: posso optar por algo mais defensivo no 4141, para algo mais agudo com um 4231 e até o 442 comum pode ser realidade. Essa flexibilidade ajuda até para suprir os desfalques, caso a onda de lesões reapareça.

Financeiramente falando, o elenco estava dentro dos nossos padrões mas notícias recentes, e uma baixa arrecadação na primeira metade da temporada, fizeram Pedro Hermoza baixar consideravelmente a faixa salarial: de 35 mil para 27 mil. Levando em conta que nossa folha é de 30 mil, seria surpreendente caso alguém chegasse na janela do meio de ano.  O provável é que eu enxugue mais o elenco, procurando a saída de alguns reservas. Mas isso é papo para outro momento, porque minhas conversas com o Pedro não avançaram ao longo de dezembro.

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O ano virou, a janela abriu, o Hermoza deu suas condições e eu comecei a ler os jornais mais atentamente: Cruzeiro atrás de treinador, Olimpia atrás de treinador, Sobradinho atrás de treinador, Loterías del Táchira, recém rebaixado, atrás de treinador. Confesso que eu liguei para um lugar ou outro, fui atrás de clubes uruguaios para fazer um teste de popularidade no Tacuarembó, mas ninguém me conhecia. Ainda. Em 15 de janeiro, acertando os últimos passos da pré-temporada, lá vem o Hermoza me chamar na sua famosa sala. Ao adentrar ao recinto, dois copos e a garrafa do melhor whisky que ele tinha.

- Sente-se. Vamos conversar.

Falando lentamente, ele encheu meu copo e começou a contar sobre as dificuldades financeiras de um clube em frangalhos, mas que apesar de tudo estampava orgulhoso os feitos da última temporada nos muros de sua sede. Os recordes, o melhor onze da década diziam isso, os prêmios da temporada atingiram recorde de votação na internet. Realmente um feito. A conclusão que foi trágica:

- Tendo tudo isso em vista, Hernández, e a carta branca que eu te dei para exterminar os vagabundos do elenco, é justo que você assine a 1,8 mil por semana.

Todo aquele lenga lenga pra me oferecer a mesma coisa que eu já ganhava. Recusei, ele insistiu, recusei, ele insistiu e não chegamos a acordo. Faltando exatos uma semana para o fim do meu contrato, mais uma tentativa: ele trouxe meu xodó Rafa junto na sala para assinar como testemunha. A oferta não mudou, 1,8 mil por semana e se reclamar, ele até abaixava a oferta. A minha postura também não mudou, não cedi a chantagens com crianças e nem ameaças de barra bravas na mesma pessoa, e recusei. Três tentativas para renovação costumam ser o suficiente para tomar um pé na bunda, e durante aquela semana eu fiz questão de reviver passo a passo da última temporada, já em tom de despedida.

No dia 31 de janeiro, o último dia, no final do dia, ele me chamou de novo para conversar. Quando vi a sala sem whisky, sem Rafa e sem nenhuma chantagem, senti que era para dar adeus. Ele colocou o contrato redigido em cima da mesa, uma caneta azul em cima e pediu:

- Assina! O clube quer você.

Corri com os olhos atrás da parte do salário: 1,8 mil por semana. Minha feição mudou, eu explodi e dei um tapa na mesa gritando:

- Não é o salário, não é a decadência, é a falta de reconhecimento. Eu coloco meia dúzia de fazendeiros na Símon Bolívar e assim que sou recebido? Nem um bônus, nem um aumento, nada? - na hora da raiva eu não pensei, e fechei – 1,9 mil por semana, como símbolo, e eu assino. Não quero mais negociar, não quero mais conversa.

Na mesma hora, ele apertou o enter no teclado e saiu de sua impressora velha o novo contrato: 1,9 mil por semana, sem bônus, sem nada.

- Lá se vai a bicicleta do Rafinha no aniversário dele, tudo pra pagar o seu salário – a chantagem e o drama não podiam parar.

Eu ignorei, assinei e saí. Quem diria que no último dia de negociações, falar mais grosso e se recusar a negociar bastariam. “Se eu soubesse, tinha feito antes...” era só isso que eu pensava. No dia seguinte, para a aceitação de um elenco ainda se formando, lá estava eu de novo, só pensando em vencer, aumentar minha reputação e voltar aos 3 mil por semana, como era antes.

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Tratei de começar, enfim a preparação para a temporada com amistosos. Até ali havíamos apenas jogado contra o Flamengo-Bol, vitória tranquila, mas com um elenco ainda repleto de jogadores da última temporada. Assim como a Interprovincial, a Copa Símon Bolívar, a segundona, só começa em julho, o que faz o tempo sobrar entre as fases da Copa, e nos dá tempo para jogar amistosos. Foram a partir deles que eu comecei a desenhar o 4141 já apresentado, contra adversários que, em sua grande maioria, eram times da região a espera do Interprovincial. Era nosso dever vencê-los além de promover os testes: cumprimos. Vencemos praticamente todos, e a partir de março, com o 11 titular bem definido, as partidas serviram apenas para dar ritmo de jogo e aprimorar o físico dos atletas, sem muita testagem e rodagem ao grande elenco. A única derrota foi uma goleada de 1-4 para o Stormers, curiosamente adversário do nosso grupo na Símon Bolívar.

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Simultaneamente aos amistosos, rolava a Copa Bolívia. Nossa expectativa era apenas a de ser competitivo, e realmente é difícil prever alguma coisa: não existem potes no sorteio, é  uma urna simples com todos os times e qualquer jogo pode acontecer em qualquer fase, não a toa que logo na Segunda Fase tivemos um clássico Paceño entre The Strongest x Bolívar. Para nós, o sorteio reservou o Juventud Unida, um clube que varia entre estar sem divisão e jogar o Inteprovincial. Toda a Copa Bolívia acontece em jogo único com mando na casa do mais sortudo, que dessa vez fora o Juventud.

Em 15/03, entramos em campo pela primeira vez na temporada para um jogo sério. Eu mal pude me acostumar a respirar um ar menos rarefeito, nos 1150 metros em Tarija, e Carlos Huarana entrava livre, chutava em cima de nosso zagueiro e aproveitava o rebote, 0-1 aos 1’ minuto. Mais rebote que fere, com rebote é ferido, aos 9’ começou a surgir a lenda Jesus Vargas: Arauz faz grande lançamento da defesa pro ataque, Jesus Vargas sai na cara do gol e chuta, o goleiro espalma e ele mesmo confere para as redes no rebote, 1-1. Mais dois minutos, mais um lançamento, dessa vez de Saldías, e Vargas conferiu de cabeça, encobrindo o goleiro, 2-1. Voltamos ao nosso jogo de domínio. Aos 30’ Pedro Vaca foi chamado na esquerda, levou para o fundo e encontrou Jesus Vargas, que dividiu com o zagueiro, e finalizou com força para as redes, 3-1 e hat trick de Jesus em sua estreia. Na volta do segundo tempo, Jorge Vaca, o zagueiro, subiu mais alto que todo mundo e fechou a conta, 4-1, e um jogo muito mais tranquilo do que as estatísticas sugerem.

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Mais um sorteio, nosso adversário agora era o Universitário de Beni, nosso companheiro na Copa Símon Bolívar, na casa deles. O jogo dessa vez foi bem mais complicado, o campo curto facilitava para a defesa deles, ao passo que dificultava nosso jogo mais cadenciado. Só que o imponderável também pesa para nós: aos 14’ Huarana, o nosso, recebeu lateral e experimentou jogar na área, o campo curto faz com que a bola chegue mais fácil e quem tem Jesus Vargas já pode comemorar, o atacante subiu e testou no contrapé do goleiro, 1-0. Controlamos o jogo até o final com boa posse de bola, mas não matamos o jogo e eles cresceram. Os últimos 10 minutos foram um inferno de tamanha pressão, mas ao apito do juíz foram nossos 4 visitantes que puderam festejar. La U de Potosí chegava as Oitavas!

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A cueca da sorte eu não usava no jogo, eu na verdade uso no sorteio. Com o sistema sem potes, muitos clubes chegam longe com uma forcinha do destino. Para nós, a bolinha veio favorável novamente: quase no final, saiu o Fancesa para ser nosso adversário, em nossa casa. O Fancesa é um clube da Interprovincial da mesma região que a nossa, fato que nos permitiu jogar um amistoso pouco tempo antes de conhecermos o sorteio, nessa partida ficou claro nosso favoritismo. Só que como treino é treino e jogo é jogo, armei aquela palestra protocolar pedindo atenção e exigindo vitória. Fomos a campo e QUE JOGO! Uma atuação de almanaque! Aos 5’, Saldías aproveitou pivô aéreo de Vargas, recebeu a bola, ajeitou, fintou o zagueiro e mandou no ângulo, um golaço! 1-0. A torcida em cima, o nosso jogo ofensivo ativo e eles sentiram: aos 25’ o zagueiro foi recuar, errou o passe e Jesus Vargas roubou a bola do goleiro Quevedo, empurrando para as redes o segundo, 2-0. Um primeiro tempo excelente e eu empolguei no vestiário, o time voltou mais manso para a segunda etapa. Suficiente para o desconto em linda cobrança de falta de Carlos García aos 57’, 2-1. O jogo em si parecia tranquilo, mas eu estava nervoso, mais um gol vadio deles e não teríamos pernas para aguentar a prorrogação. Gritava no banco e o time não reagia tão bem, o cenário era perigoso. Eu só fui relaxar aos 81’: Vargas sofreu falta na entrada da área e Juan Nelio Castellón, com categoria, cobrou na gaveta, 3-1. Classificados novamente! Que venham as quartas!

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No sorteio do dia seguinte, da-lhe cueca da sorte. Mas não há sorte que resista a uma quartas de final. Quando caiu a bolinha, ouvi um grito contido de um lado e o meu choro contido do outro: o adversário da próxima fase é o Jorge Wilstermann, atual campeão nacional. Ao menos, cumprimos o objetivo de sermos competitivos e quem sabe não role uma zebrinha. La Banda de Rafa está de caravana marcada para Cochabamba desde já.

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O que se aproxima agora é a Copa Símon Bolívar, e é sempre bom entender o regulamento antes do campeonato começar. Ou foi isso que o Hermoza quis dizer quando abriu o livro da Federação para me explicar como funcionava.

- Em resumo, são 3 grupos de 7 times cada, definidos por sorteio, que jogam em turno e returno. - ele me explicava - O último de cada grupo é rebaixado.

- Só isso?

- Que a gente precise saber sim, mas para fins de entretenimento na competição, os dois melhores se classificam para os playoffs. Nos playoffs, as duas melhores campanhas avançam para a final hipotética, enquanto as outras 4 fazem 2 semifinais. Os vencedores das semis enfrentam os times de melhor campanha, mata-mata, quem vence sobe. Não há título além do que se joga nos grupos.

- Eu percebo que vocês gostam tanto de título, que resolvem premiar 10% do campeonato em todas as divisões. Impressionante.

O nosso grupo, sorteado ainda em fevereiro, é o Grupo B com os seguintes times:

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Todos os Grupos | Expectativa da Imprensa

Não analisei um por um, mas usei as expectativas da imprensa como base para criar as minhas. A boa notícia é que fugimos dos 2 times rebaixados, e favoritos para o bate-volta. A má é que dos 5 melhores times do torneio, segundo a imprensa, 3 estão no nosso grupo: Palmaflor, Stormers e Wilstermann Cooperativas. Na previsão da imprensa, ficamos com a honrosa 15ª posição, a frente de Tiquipaya e San Borja, quase empatados ao Chaco Petrolero. São esses os 7 times do nosso grupo, 3 muito favoritos ao acesso, 4 no bolo para não cair. Eu sinto que essa vai ser uma temporada acima das nossas expectativas iniciais, que é a de não cair, e realmente nos acho capazes de competir com a “xepa” do grupo, mas sem sonhar com uma chegada aos playoffs: a única derrota nos amistosos foi um 4-1 com folgas do Stormers, e me deixou muito claro que o nível do trio de frente tende a ser muito mais alto que eu poderia sonhar em alcançar.

Pessoalmente falando, essa temporada começou com vitórias: o avanço até as quartas de final da Copa é um feito, que inclusive ameniza o peso financeiro que estamos carregando. Se a folha em 34.500, para ser exato, sobrava, a de agora em 25 mil faz faltar e isso mancha a confiança da direção no meu trabalho. Confesso que ainda vivo um dilema de como solucionar esse problema.

Mas é óbvio que o grande momento, a grande vitória, sem dúvidas, foi ganhar o respeito do elenco e banir o bonde da Bolinha de Queijo.

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Expectativas da Direção | Relatório Financeiro 

Vá lá, ainda não é o melhor dos mundos no que diz respeito ao apoio do treinador, nem a coesão da equipe. Entretanto, eu trato como normal em um elenco de 16 caras novas, que ainda busca pelas novas lideranças. Até coloquei um infiltrado no meio deles, que é o remanescente Carlos Rodas.

- Eu testei eles, essa semana quis comemorar a boa fase com uma pequena festinha no vestiário - eu na linha com meu futuro biógrafo, Rivaldo Rojas - levei salgados dos mais variados, inclusive os de queijo. Deixei o Rodas incumbido da missão de espionar possíveis piadinhas e ninguém falou nada, ninguém deu risinho, ninguém nem lembrou de mim quando estavam comendo como desesperados.

- Olha, Nández, isso vai ser um dos grandes capítulos da sua história, pode ter certeza. Mas agora, ao invés de contar sobre a emoção de uma festa infantil em um vestiário com marmanjos, que tal deixar eu dormir?

- Desculpa, foi a coca que me deixou assim. - E de novo, eu não saberia explicar essa fala para a polícia se o telefone estivesse grampeado - Abraços, amigo, e vamos em frente porque nessa temporada a Vaca não pode ir pro brejo!

  • Peepe mudou o título para Eu amo o Dinheiro! A história de um mercenário na América do Sul - (Ano Novo, Vacas Novos! 09/06)
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Achei MUITO BOA a chave na Simón Bolívar, sem nenhum figurão na chave. Se você tivesse no Grupo A, por exemplo, já deveria pensar em fazer uma retranca.

Escapou do Nacional e do Sport Boys Warnes, além de outros times tradicionais das inferiores na Bolívia, como Atlético Bermejo, Unión Tarija, Mariscal Braun, Garcia Águeda e Unión Maestranza. Tem apenas o Tiquipaya, mas esse em baixa, que deve lutar mais para evitar o descenso.

Em um cenário modesto, você fica em 4º na chave, mas eu sou um pouco mais otimista. Faz o seu em casa, pois é torneio curto e 18 pontos em casa tem que ser uma meta plausível para o time. Já faz 75% do objetivo só ali (isso visando vaga, no caso).

Vejo teu time nos playoffs, mas talvez perdendo nas 'meias-semifinais' pra um Atlético Bermejo ou um Union Tarija, dependendo do chaveamento, não conseguindo o acesso, que deve ficar com dois times do grupo A (não acredito que suba alguém dos grupos B e C - normalmente quando chega favorito dessa forma, o Nacional Potosí tende a decepcionar.

(Em tempo: Também acredito que deva sair do clube no fim da temporada, isso vai te fazer bem. Esse desempenho nas quartas da Copa Bolívia com um time de história, mas que só tem história ultimamente, te dá uma moral na carreira).

Boa sorte no andamento.

Postado

Essa história tá melhor a cada capítulo.

Para uma equipe que foi remodelada. o desempenho nos amistosos foi bom e, na Copa Bolívia, melhor ainda. Porém, o que vale é a Copa Simon Bolívar, e essa tudo está nebuloso (especialmente porque nunca ouvi falar de um time sequer dentre os que vai enfrentar). Tudo pode acontecer.

Boa sorte para a continuidade.

Postado

Realmente um grupo acessivel, ja fez otimos jogos e convenhamos, acho que rola passar pelo Winstermann hein? Que doidera posakopsakposakpoaskposak

Ta otimo o save, a narração ta otima e vamo vamo bandita do rafita! Animar as arquibancadas da La U!

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O FM na negociação entre clube e treinador é carne de pescoço. Não importa se o treinador levou o clube a ganhar títulos. Passei por isso no meu save, mas isso já é spoiler. Concordo com o @CCSantos. Final da temporada mete o pé do clube e tenta uma vaga num clube do Equador. Acredito que consiga passar pelo Winstermann, mas para nas semifinais. Boa sorte na sequência.

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Fala, Pepe.

Gostei muito do Jorge Vaca como zagueiro, acho que tem tudo pra ser um destaque do time na divisão superior, principalmente quando enfrentar equipes de maior qualidade. 

O desempenho na Copa foi sensacional, e como bem disso o CCSantos, pode te abrir oportunidades para equipes maiores na próxima temporada. Mas como o principal objetivo é o dinheiro, vamos ver o que eles irão oferecer. Além do mais, pode surpreender contra o atual campeão nacional. Já sabe como vai entrar em campo? Vai testar algo mais retrancado? 

Sorteio bem equilibrado do nacional, embora não tenha nenhum rebaixado, caiu com 3 favoritos, o que promete ser bastante interessante de se ver.

Boa sorte na sequência!!

Postado
22 horas atrás, CCSantos disse:

Achei MUITO BOA a chave na Simón Bolívar, sem nenhum figurão na chave. Se você tivesse no Grupo A, por exemplo, já deveria pensar em fazer uma retranca.

Escapou do Nacional e do Sport Boys Warnes, além de outros times tradicionais das inferiores na Bolívia, como Atlético Bermejo, Unión Tarija, Mariscal Braun, Garcia Águeda e Unión Maestranza. Tem apenas o Tiquipaya, mas esse em baixa, que deve lutar mais para evitar o descenso.

Em um cenário modesto, você fica em 4º na chave, mas eu sou um pouco mais otimista. Faz o seu em casa, pois é torneio curto e 18 pontos em casa tem que ser uma meta plausível para o time. Já faz 75% do objetivo só ali (isso visando vaga, no caso).

Vejo teu time nos playoffs, mas talvez perdendo nas 'meias-semifinais' pra um Atlético Bermejo ou um Union Tarija, dependendo do chaveamento, não conseguindo o acesso, que deve ficar com dois times do grupo A (não acredito que suba alguém dos grupos B e C - normalmente quando chega favorito dessa forma, o Nacional Potosí tende a decepcionar.

(Em tempo: Também acredito que deva sair do clube no fim da temporada, isso vai te fazer bem. Esse desempenho nas quartas da Copa Bolívia com um time de história, mas que só tem história ultimamente, te dá uma moral na carreira).

Boa sorte no andamento.

O seu otimismo me entusiasmou e passei a olhar com outros olhos para os times do grupo, mas ainda permaneço com o cenário modesto: o 4º lugar é justo e seguro, até pelo retrospecto recente. O grande time do grupo é o Stormers que vem de 3 títulos e um vice consecutivos na fase de grupos, ou seja, é um time que sobra nos pontos corridos e pipoca no mata-mata. O Palmaflor vive numa gangorra entre subir e cair, é o segundo ano seguido na Símon Bolivar, algo que ainda não tinha acontecido no save (era 1 ano em cima e outro embaixo). Talvez o Wilstermann seja o cotado por exagero, o elenco é até bem avaliado e caro mas é um time bem irregular.

O caminho é muito o que você aponta, ter um bom fator casa nos confrontos diretos e tentar não perder para os menores. Admito que estou animado, e ver esse comentário me deixou mais, eu acho que é possível mas de todo modo, nos considero azarões.

Inclusive, fico muito contente com o teu conhecimento do futebol boliviano. Eu pessoalmente acompanho e torço para o The Strongest mas é um país que a informação chega pouco pra cá, os jogos não tem transmissão e é sempre uma aventura acompanhar o clube fora dos torneios continentais. Faço o que eu posso, mas não tenho essa facilidade de conhecer as divisões inferiores.

 

22 horas atrás, Khroiskantis disse:

Essa história tá melhor a cada capítulo.

Para uma equipe que foi remodelada. o desempenho nos amistosos foi bom e, na Copa Bolívia, melhor ainda. Porém, o que vale é a Copa Simon Bolívar, e essa tudo está nebuloso (especialmente porque nunca ouvi falar de um time sequer dentre os que vai enfrentar). Tudo pode acontecer.

Boa sorte para a continuidade.

Amigo, muito obrigado pelo comentário!

O grande barato desses sorteios é justamente que não dá pra saber de onde vem as surpresas. Também não conheço muito bem, e espero fazer um bom papel mas time que sobe tem de ficar quietinho na primeira temporada, subir brigando mesmo exige um investimento que eu não tenho.

 

21 horas atrás, Valismaalane disse:

Realmente um grupo acessivel, ja fez otimos jogos e convenhamos, acho que rola passar pelo Winstermann hein? Que doidera posakopsakposakpoaskposak

Ta otimo o save, a narração ta otima e vamo vamo bandita do rafita! Animar as arquibancadas da La U!

Muito obrigado pelo comentário e por sempre acompanhar!

Se eu conseguir passar pelo melhor time do país, nem sei o que faço. O Jorge Wilstermann, inteiro e dentro de casa, é um desafio quase inalcançável, nem me iludo.

 

11 horas atrás, LC disse:

O FM na negociação entre clube e treinador é carne de pescoço. Não importa se o treinador levou o clube a ganhar títulos. Passei por isso no meu save, mas isso já é spoiler. Concordo com o @CCSantos. Final da temporada mete o pé do clube e tenta uma vaga num clube do Equador. Acredito que consiga passar pelo Winstermann, mas para nas semifinais. Boa sorte na sequência.

A dica que eu dou é observar sempre o estado financeiro do clube na hora de negociar. Os clubes em dificuldade não oferecem um bom aumento, e podem se tornar intransigentes. Dessa vez, eu sei que foi o caso do Universitário. Eu só não esperava uma mudança de postura quando ativei a chavezinha do "proposta não negociável".

Em relação a sair, eu confesso que penso nisso pra poder voltar a ganhar 2k por semana mas sei que não é fácil: la U tem de longe a pior reputação da Símon Bolívar, e o Nández também não esbanja grande reputação. Sair é voltar ao calvário de uma terceira, imagino eu, mas isso é assunto mais pra frente.

 

3 horas atrás, ElPeroMG disse:

Fala, Pepe.

Gostei muito do Jorge Vaca como zagueiro, acho que tem tudo pra ser um destaque do time na divisão superior, principalmente quando enfrentar equipes de maior qualidade. 

O desempenho na Copa foi sensacional, e como bem disso o CCSantos, pode te abrir oportunidades para equipes maiores na próxima temporada. Mas como o principal objetivo é o dinheiro, vamos ver o que eles irão oferecer. Além do mais, pode surpreender contra o atual campeão nacional. Já sabe como vai entrar em campo? Vai testar algo mais retrancado? 

Sorteio bem equilibrado do nacional, embora não tenha nenhum rebaixado, caiu com 3 favoritos, o que promete ser bastante interessante de se ver.

Boa sorte na sequência!!

Fala, ElPero, muito obrigado por sempre acompanhar.

Os Jorges Vacas são bons mas o zagueiro é um dos grandes destaques sim da temporada, é até curioso porque mesmo com 6 de cabeceio, ele é presença frequente nos escanteios ofensivos marcando gols. Vai liderar minha zaga e toda a defesa. É daqueles caras que já abrem as conversas falando "Vai usar o clube para crescer na carreira" e a gente tem de aceitar.

Eu ainda não tenho nada em mente porque o jogo vai demorar, tem um mês e meio de Símon Bolívar antes das quartas de final. É possível que eu opte pelo 4141 ou por pontas mais defensivos, com um jogo mais direto. Existem algumas alternativas mas nada definido. E no Nacional, é o que eu venho dizendo, não cair é vitória pra comemorar muito. Todo time que sobe, tem que começar devagar a sonhar na divisão de cima.

Postado

É tanto Vaca no seu time que realmente, o Canal do Boi deveria lhe patrocinar.

Cacete, eu não entendo por que motivo dificultam tanto quando criam regras para futebol. Que bagulho confuso hahahaha. Mas enfim, eu não entendo muito do futebol boliviano, porém me parece que tem um time bom o suficiente para pelo menos ser competitivo e buscar os playoffs. Se não alcançar deve ficar por ali.

No fim da temporada, se sentir que deve sair (vulgo não conseguir melhora no contrato) eu acho que deve procurar um novo desafio mesmo.

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Em 12/06/2020 em 16:25, marciof89 disse:

É tanto Vaca no seu time que realmente, o Canal do Boi deveria lhe patrocinar.

Cacete, eu não entendo por que motivo dificultam tanto quando criam regras para futebol. Que bagulho confuso hahahaha. Mas enfim, eu não entendo muito do futebol boliviano, porém me parece que tem um time bom o suficiente para pelo menos ser competitivo e buscar os playoffs. Se não alcançar deve ficar por ali.

No fim da temporada, se sentir que deve sair (vulgo não conseguir melhora no contrato) eu acho que deve procurar um novo desafio mesmo.

Cara, divisões inferiores costumam ser bem criativas kkkkk eu as vezes tento ver um sentido mas juro que não consigo imaginar uma final sem campeão e um campeão sem final.

 

Aproveito pra avisar, e me justificar, que a história está parada e pela graça de Sagrado Corazón eu vou atualizar hoje ou amanhã, tendo em vista que já joguei. Só que, infelizmente, tenho tido pouco tempo pra preparar post e até para jogar pois, aparentemente, a gente é obrigado a trabalhar quando entra em Home Office.

Postado

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(Ir)Regularidade.

Existe um ditado famoso que diz “Quem morre de véspera é Peru de Natal”. Eu não vou dizer que morremos, já que viver era bem difícil, mas a verdade é que, contrariando o ditado ou assumindo ser um peru, nosso destino na temporada 2025 foi selado na véspera da Copa Simon Bolívar. Os fatos se sucederam rápido, em menos de uma semana, e minaram a confiança do elenco em fazer um bom trabalho.

Tudo começa quando o presidente me chama para conversar. Sempre que eu entro na sala dele e não vejo nenhum copo, um aperitivo ou mesmo uma balinha, eu sei que o assunto é sério.

- Nández, vou direto ao ponto – Mendoza parecia um pouco trêmulo – não nos deixe ser rebaixado esse ano. As contas não estão fechando, e os sócios estão com medo de falir.

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Sem saber o que falar, eu balancei a cabeça assertivamente. Cair nós não vamos, não tem nem como esse desastre acontecer. Na sequência, ele me apresentou os prêmios financeiros da Simon Bolívar e eles são progressivos: cada posição acima na tabela final recebe um pouquinho mais. Na situação que o Universitario se encontrava, cada pouquinho fazia a diferença.

Eu achei que aquela conversa tivesse sido particular, até chegar ao treino no dia seguinte. Fernando Paz, nosso meia e craque, chamou no canto e me indagou sobre os problemas financeiros. Pus panos quentes, disse que o presidente sabe o que faz e que os atrasos salariais não seriam problemas. A resposta? “Como confiar para nos tirar do buraco, a pessoa que nos colocou aqui?”. Faz todo sentido, eu não tinha resposta, mandei ele pro campo e rezei para que aquilo acabasse ali. Mais um dia, e o Paz me tirou a Paz…

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O elenco dividido nessa questão era algo positivo, mostrava como meu respeito estava em alta, especialmente se observarmos que os mais antigos, Jorge Vaca (goleiro), Rodas e Juan Castellón estão ao meu lado. Chamei os insatisfeitos, expliquei que se os resultados vierem, os problemas desaparecem. De 5 insatisfeitos, apenas 1 aceitou e melhorou suas expectativas: justamente o Fernando Paz, causador disso tudo.

A situação só foi contornada de fato quando o presidente anunciou a venda de nossas instalações de treino, que já não eram grandes coisas. Os valores não foram divulgados abertamente, nem no particular, mas observando o balanço, a venda girou em torno de 20 milhões de reais. Os problemas foram 2: a folha salarial não teve aumento, e nada caiu para as transferências, ou seja, Mendoza reteve 100% dessa venda, e nosso campo de treino que já era ruim, tornou-se ainda pior.

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Relatório Financeiro (já de outubro)

No meio daquela desordem, parte do elenco insatisfeita, crise batendo e pressão por resultados, iniciamos nossa caminhada na Copa Simon Bolívar. Se eu já não era dos mais confiantes, embora reconhecesse nossas pequenas chances, depois de toda a semana de véspera, sabia que a casa tinha caído.

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2-1 Wilstermann Cooperativas | 1-1 San Borja | 1-1 Palmaflor

4-2 Tiquipaya | 3-0 Chaco Petrolero | 1-5 Palmaflor

Diante da Banda de Rafa, estreamos contra o Stormers com o favoritismo todo do lado de lá. A derrota no amistoso em março já havia deixado claro que os níveis são distintos, e eles bem superiores. Em campo, isso se confirmou: 0-2 para o Stormers foi justo. A sequência contra o Tiquipaya era nossa chance de exterminar o fantasma e ganhar a primeira. Perdemos a chance. Em uma boa partida da nossa equipe, segura defensivamente e com o setor de criação em alta, vimos a trave nos impedir de vencer, além de outras oportunidades desperdiçadas por Vargas. Olhando de trás pra frente, e como a classificação terminou, foi inadmissível empatar essa partida.

A terceira partida contra o Wilstermann Cooperativas marcou também nossa primeira vitória: mais forte que o Tiquipaya, o Wilstermann foi mais agressivo e buscou mais o gol. Nosso jogo não foi tão dominador, mas a posse de bola foi em maior parte nossa. Aos 8’ Luis Mesa concluía de cabeça e empatava o jogo para eles, 2 minutos após Vargas abrir o placar. Os dois gols foram semelhantes: jogada pela esquerda, cruzamento reto e testada firme para as redes. O gol da vitória só veio aos 67’, Pedro Vaca cruzou, a defesa afastou mal e Jesus Vargas, rente a pequena área, fuzilou para as redes, 2-1, primeira vitória no campeonato e um time que parecia em ascensão. Parecia.

Quando se joga de igual para igual, o que decide é a eficácia. Diante do Palmaflor, o jogo foi chato e extremamente disputado. Ambos os times tem uma proposta de jogo cadenciado e o que se viu foi muito meio campo, pouca infiltração, dois ataques que pouco produziram e o 1-1 fez justiça. Wilfredo Menacho abriu a contagem para os aurinegros aos 28’ e Jesus Vargas, de pênalti, empatou aos 66’. Em seguida, roteiro quase igual e final trágico: o Chaco Petrolero fez o seu gol aos 27, de pênalti, 0-1. Passamos o resto do jogo buscando agredir mais, mas o que vimos foi um novo jogo igual e dessa vez sem o gol de empate para fazer justiça.

E por falar em justiça, no último jogo do turno fomos a Trinidad enfrentar o San Borja. O nosso melhor jogo no campeonato: um primeiro tempo dominante, com bola na trave, chances criadas e um time que media perfeitamente a hora de cadenciar e a de acelerar. O gol não saiu. Voltamos para a segunda etapa, um domínio mais tímido mas o jogo ainda era nosso. Aos 78’, quando Paz vê o goleiro adiantado e acerta um chutaço na gaveta, eu abri os braços e pensei “Hoje não escapa”, 1-0. Pois escapou. 90+2’, falta para o San Borja, todo mundo na área. Campos bate curto, Pedro Vaca (o deles) ajeita e chuta de fora da área, a bola cutuca a trave e morre no fundo das redes, 1-1. O balde de água fria foi enorme: com aquele empate, Palmaflor e Stormers se tornaram ainda mais inalcançáveis e o sonho morreu. O que nos restava era confirmar a permanência e cumprir tabela.

Já abrimos o segundo turno voltando ao nosso calvário: Stormers. Dessa vez, um pesado 3-0 na casa do adversário em Sucre e uma partida de almanaque para eles, todos os 11 jogadores tiveram nota acima de 7. Ronaldo Hermoza aos 13’ e Juan Zanca aos 55’ e 69’ construíram o placar, em momento algum ameaçado pela nossa falta de força ofensiva.

Sem compromisso mais com tabela e ciente de que não existia bicho de 7 cabeças a frente, optei por um time mais ofensivo. O resultado imediato foi um jogo muito aberto contra o Tiquipaya, onde sempre tomamos a iniciativa e a frente do placar: Vargas fez 1-0 de pênalti, sofremos o empate de pênalti; Castellón marcou o 2-1 em linda cobrança de falta e o empate veio 20 minutos depois, 2-2. Aos 70’, Vaca (o zagueiro) marcou de cabeça após escanteio e não deixamos mais o adversário jogar. Partida dominada, faltava a última pá de cal. Após linda troca de passes Jesus Vargas bate forte e rasteiro, cruzado, sem chances para o goleiro.

Enfrentamos dois Wilstermanns na sequência, e para o segundo jogo, contra o Cooperativas, preparei um time cansado e desfalcado. Batemos muito, como o juiz era estranhamente permissivo, fizemos 17 faltas e saímos com 1 amarelo. Isso serviu para diminuir o ritmo do jogo e segurar o xoxo 0-0 até o final.

Fechamos o campeonato com 2 tranquilas vitórias e uma pesada goleada. Quem olhar para as estatísticas do jogo contra o Chaco Petrolero pode pensar “Tranquilo?? Mentiroso!” mas eu explico, aos 53’ quando Vargas aproveita falha de zagueiro Gómez, carrega a bola e bate na saída do goleiro, fechando a conta em 3-0, o Chaco tinha 5 finalizações no jogo. Dali em diante, com uma proposta bem ofensiva, eles cresceram, fizeram pressão mas nada que tirasse a tranquilidade de quem tem Jorge Vaca, o goleiro, inspirado e o 3-0 construído. Em ritmo de férias, Jesús Vargas, sempre ele, cobrou o penalti com categoria e foi para a galera, saudar La Banda de Rafa, na partida contra o San Borja, espantando o fantasma do primeiro turno, em uma partida disputada com preguiça por ambos os times, que já haviam confirmado permanência.

Fechamos a temporada com uma goleada acachapante para o melhor time e campeão do grupo, Palmaflor. Eu até tentei zombar com o treinador deles no pré-jogo, reclamei do gramado, disse que ele não sabia com quem estava falando e fiz meu barulho. Resultado: eles entraram voando, nós entramos dormindo. Tendo em vista o que ambos criaram, o 5-1 é um exagero, mas se explica pela facilidade adversária ao finalizar com qualidade, ao passo que para nós, o golzinho de cabeça de Pedro Vaca fica como uma sutil defesa da própria honra.

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Classificação de Todos os Grupos

Não posso me queixar de como correu a temporada, e a classificação confirma. O grupo viu um domínio enorme do Palmaflor, que foi irregular nas primeiras rodadas e quase perdeu para nós, mas que se reencontrou sem deixar pontos pelo caminho e foi campeão com sobras. O Stormers confirmou aquilo que eu imaginava, fechou a campanha em segundo a alguma distância dos meros mortais. Na ponta de baixo foi fácil: o Tiquipaya, daquele empate que deixamos no começo do campeonato, conseguiu 2 pontos ao longo do campeonato, sofreu pesadas derrotas e foi o rebaixado.

A nós, fica o curioso dado numérico e a demonstração do quanto ser regular demais é um limitador de horizontes: ganhamos 4, empatamos 4 e perdemos 4 partidas. Se olhar com mais clareza, ganhamos 1 vez de cada um dos “meros mortais” (os não classificados) e empatamos outras 3, além de perder 3 em 4 jogos contra a dupla na ponta.

Nos outros grupos, fica o detalhe para o rival de cidade: o Nacional Potosí ganhou 11 e empatou 1, com incríveis 47 gols marcados. Campanha forte que lhe rendeu uma semifinal de Copa Bolívia, onde foi eliminado pelo Guabirá.

E por falar em Copa…

A partida contra o Jorge Wilstermann, pelas quartas de final da Copa Bolivia, era o maior jogo da minha carreira disparado: os 15 mil torcedores no estádio que nem estava lotado era algo que eu sequer vivenciei na carreira de jogador, que dirá na vida de treinador. Por falar nisso, a renda era dividida e fechamos o mês de setembro com mais de 600 mil reais no balanço derivados da venda de ingressos.

O Jorge Wilstermann vinha tranquilo, eu estava nervoso. Não mexi no time e optei por fazer as mexidas de acordo com o que rolasse no jogo. Como nossa postura já é cautelosa e a linha defensiva só defende, não há muito mais como se resguardar. Diante disso, fiz o ritual de sempre, lustrei a careca, ajeitei o bigode e levei uma filosofia para o vestiário:

- Ganhar? Perder? Isso é para os pequenos, nós viemos aqui para fazer história como gigantes!

Sentido? Senso? Isso é para quem é racional, eu sou coração e queria acreditar nos garotos.

Com a bola rolando, ficou claro porque nossa tarefa era impossível: que massacre do Jorge Wilstermann, que jogo coletivo bem feito. Campo estreito mas longo, nossa defesa avançava e os atacantes caíam nas costas com alguma liberdade, por sorte sempre mais na lateral da área e impediam um perigo maior. 45 minutos passaram e no intervalo acertei a linha defensiva, a intensidade de pressão e anulamos em partes o adversário. Ofensivamente não posso dizer que existimos, tivemos 2 chances com cruzamentos longos e Pedro Vaca aparecendo de surpresa no jogo aéreo, mas nada que significasse perigo propriamente dito. A defesa segurou bem, eles finalizaram muito mas criaram poucas grandes oportunidades, apenas 2, e a maturidade defensiva me deixou orgulhoso.

O problema era o maldito regulamento: o jogo único empatado levaria a uma prorrogação. Sem os pênaltis imediatos e com o time destroçado fisicamente, eu sabia que mais cedo ou mais tarde, o gol deles viria. E veio ainda no tempo normal: aos 90+3’ jogada pela esquerda, cruzamento médio e Ambrello de peixinho, na marca do pênalti marcou o tento da vitória aviadora, 0-1 Jorge Wilstermann.

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A irregularidade fica constatada pelo que produziu o elenco e suas notas. Três jogadores passaram da nota 7, levando em conta Copa Bolívia e Copa Simon Bolívar: o xerifão Jorge Vaca, o zagueiro, que elevou inclusive o nível do companheiro de zaga, Odair Arauz. Se tivemos números defensivos que assustam (mas fomos a segunda melhor defesa não classificada de todos os grupos), não me recordo de nenhum gol com falha direta dos dois. O segundo, no meio, foi Juan Nelio Castellón, o craque que foi subestimado pelos relatórios de um ano para o outro, manteve o bom nível e surpreendeu mais recuado, inclusive com números de desarmes acima do resto do time. Fernando Paz, o dono do mini motim, que veio com toda pompa foi uma grande decepção, e não conseguiu ser um construtor de jogo como pedido e nem o segundo atacante como tentado. E o craque vem dos céus, mais uma vez na minha trajetória, Jesús salva! Jesús Vargas fez 13 gols em 16 jogos, atingiu média 7.19 e foi o melhor jogador da temporada. Se o Universitario me deixou uma lição, é a importância de ter um jogador alvo pra um time que gosta de jogar pelas laterais. Vargas atinge esse número de gols porque é o nosso grande finalizador e, em comparação com Montaño que cumpriu tarefa igual no ultimo ano, o poder de cabeceio de Vargas estruturou nosso jogo ofensivo com cruzamentos longos.

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Dinâmica do Plantel

 

Dois dias depois do último jogo, contra o Palmaflor, foi a minha vez de chamar o Pedrinho presidente para conversar:

- Bom, Mendoza, o ano acabou e o próximo só começa em julho, como toda divisão inferior boliviana. Eu quero anunciar que estou voltando aos estudos.

- Treinador diplomado tem vaga nos engomadinhos da capital, é isso que você quer?

Eu entendi a lenga lenga, abri o armário de whisky na sala dele, botei dois copos e insisti, no fundo ele tinha razão, eu sabia disso e eu queria o que ele chama de engomadinhos, mas me fiz de desentendido. O presidente é frouxo, abaixa a cabeça quando alguém fala grosso e, depois de umas conversas, ele aceitou

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Mas o desgraçado tinha uma surpresa. Rafinha, nosso pequeno barra brava, entrou na sala cantando "Vamo Nández vamo! Esta banda já te ama" (pra quem curte ritmo, experimentem em "Ponga huevo que ganamos" para cantarolar) me viu e, fingindo espontaneidade, perguntou:

- Nanditooooo! Você vai ficar?? Você vai nos vingar do Jorge Wilstermann??

Crianças balançam meu coração, o presidente sabia disso. Eu prometi que ficaria para Rafinha, mas puxei Mendoza num canto e deixei claro:

- Quero aproveitar 2026 com 2,5 mil por semana. Se não for isso nem conversamos, e eu sei que lá fora alguém me paga isso…

- E você vai se meter em um buraco de novo, Nández, é isso que você quer?

- Eu quero dinheiro, que culpa eu tenho se é no fundo do poço que se encontra petróleo.

Saí porque o whisky dele me deixou filósofo, eu precisava voltar pra casa e apesar do teor alcoolico daquela fala, eu me determinei a levar isso como verdade: 2026 ou é 2,5 mil ou nada!! Isso vale para a renovação com La U ou para o próximo desafio, quem sabe.

 

Spoiler pessoal apenas para registrar os próximos passos.

Spoiler

Tendo em vista que estou com tempo apertado, vou diminuir um pouco o tempo do jogo para as postagens e ganhar um fôlego. Então, fecho a temporada de fato com o próximo post e trago quem ganhou a Copa, quem subiu e o resto do país fora do universo Universitario Potosí. Além, claro, de trazer como ficou os contatos de renovação de temporada, caso pinte um novo clube.

 

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