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A Copa do Brasil precisa repensar sua primeira fase


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A Copa do Brasil precisa repensar sua primeira fase, com um privilégio que significa comodismo aos grandes

por Leandro Stein

publicado em 14 de fevereiro de 2020 @ 14:31

Após duas semanas intensas de jogos, a primeira fase da Copa do Brasil praticamente chegou ao final nesta quinta-feira. Restam apenas mais três partidas para definir todos os times que estarão na segunda fase. E foi impressionante a quantidade de grandes clubes brasileiros que se safaram graças ao regulamento proposto pela CBF, contra adversários de orçamento bastante inferior. Na última semana, o Botafogo respirou aliviado por sobreviver ao Caxias. Já nesta semana, enquanto Vasco e Atlético Mineiro pareciam cômodos pela igualdade contra Altos e Campinense, o Cruzeiro suou para sair com o 2 a 2 diante do São Raimundo de Roraima.

Considerando o sobrecarregado calendário brasileiro, a CBF tem sua parcela de acerto ao mudar o regulamento da Copa do Brasil nas fases iniciais, em relação ao que era feito anteriormente. Adotar o esquema de jogo único diminui o desgaste aos times das principais divisões e até permite absorver mais participantes de rincões diferentes do Brasil. Porém, dizer que a mudança foi positiva não significa que tudo está perfeito atualmente. Há outros entraves que os concorrentes de menor ranking acabam pagando.

Não é todo mundo que acha injusta a vantagem do empate ao time visitante nesta primeira fase da Copa do Brasil. Mas por que apenas na primeira fase? Por que não dar a possibilidade de que a classificação se resolva com uma prorrogação ou então com pênaltis? Por que não definir em campo, e não com um ranking que apenas reforça a condição de algumas equipes? Difícil encontrar algum torneio de primeiro nível ao redor do mundo que trate uma “não-vitória” em jogo único como vitória. Descaracteriza a premissa da própria competição, a vitória.

O time de menor ranking precisa jogar em casa neste esquema de partida única, não há discussão. Um dos grandes baratos da Copa do Brasil está justamente em levar clubes maiores para diferentes cantos do país – e isso até poderia ser estendido às fases seguintes. Há o engajamento ao redor do time menor, o clima especial nas arquibancadas, a mobilização da região. Mas será mesmo que jogar em casa gera uma vantagem em campo tão grande assim a São Raimundo, Picos, Campinense ou Caxias, a ponto de garantir o empate a clubes que possuem vantagens históricas, orçamentárias e até mesmo políticas dentro da CBF?

Ao menos a mim, este esquema da Copa do Brasil soa como um privilégio ao status quo. E não premia o momento, o campo, a maneira como cada equipe sente aquele jogo. É um anticlímax ver clubes mais poderosos conduzindo os compromissos com a barriga, quando podem se dar por satisfeitos com o empate. Ou então, correndo atrás do resultado apenas quando o calo aperta, caso dos eliminados Sport ou Coritiba nesta quarta-feira. O empate em jogo único é um tanto quanto vazio, como se não resolvesse exatamente o verdadeiro intuito do embate.

Ao todo, 14 classificados nesta primeira fase da Copa do Brasil se valeram do empate – com dez triunfos dos mandantes e outros 11 dos visitantes que não se acomodaram. Mais de um terço dos 37 confrontos resolvidos até o momento se valeram do regulamento questionável. É muita coisa, e já um recorde desde a adoção do sistema em 2017. As surpresas poderiam ser ainda mais recorrentes e aumentar a competitividade em diferentes regiões do país. Histórias como as de Manaus, River, Vitória-ES ou Brusque são menos numerosas.

Obviamente, nem todo mundo é Cruzeiro contra São Raimundo de Roraima. Há emparelhamentos mais igualados, como Brasiliense x Paysandu ou Santo André x Criciúma, em que alguma vantagem ao visitante pode não ser um disparate tão grande. Ainda assim, é suficiente para punir o esforço de Davi’s contra Golias’? Não é melhor definir em campo? Não é melhor ver o time favorito se esforçando pela vitória do que assisti-lo cozinhando um empate?

Porque, afinal, a questão não é exatamente apenas o gosto de se classificar à segunda fase da Copa do Brasil. A conquista esportiva, claro, serve como um orgulho ao clube menor e uma história a ser contada por décadas. Mas há o fator financeiro, tão lembrado na competição. E, neste ponto, parece bem mais injusto pensar que o Cruzeiro terá R$650 mil para diminuir o seu rombo, e não o São Raimundo de Roraima, que se esfolou durante 90 minutos, mas não verá um dinheiro que poderia salvar o seu ano. O empate que permitiu aos roraimenses caírem em pé não pagará conta nenhuma. O “quase” poderia ser muito bem determinado nas quatro linhas – mesmo que os pênaltis não sejam um grande exemplo de justiça no esporte.

Não existirá nenhuma solução completamente perfeita, mas a CBF precisa repensar o regulamento da Copa do Brasil em alguns sentidos. A vantagem do empate é um ponto primordial, porque não permite ao jogo ficar circunscrito aos seus 90 minutos.

Um caminho seria adotar a prorrogação, como na Copa da Alemanha, onde os grandes participam desde a primeira fase – e admitir que o fator campo não é uma vantagem tão grande quanto o empate ao favorito. Ainda assim, os poréns permanecem em outros sentidos ao Brasil. O calendário sufocante não dá margens de manobra. Trinta minutos a mais de jogo pesam na somatória aos clubes grandes. Além disso, a teórica preparação física superior dos clubes mais estruturados também não é verdade absoluta, considerando que boa parte deles ainda está em ritmo de pré-temporada, contra pequenos se preparando especificamente à Copa do Brasil.

Outro caminho seria repensar a entrada de parte dos times desde a primeira fase. Em torneios como a Copa da Inglaterra, a adição dos participantes conforme sua divisão é gradual. Isso evitaria, por exemplo, que equipes como o Atlético Mineiro e o Atlético Acreano fossem colocados no mesmo balaio durante o sorteio da primeira fase da Copa do Brasil. Se o empate fora de casa já parecia difícil aos acreanos, que tomaram de 3 a 0 na visita ao Afogados da Ingazeira, isso não se aplica em mesmo grau aos mineiros em seu embate contra o Campinense.

Caso essa mudança de estrutura ocorresse, determinar o mando de campo conforme a divisão nacional é até uma ideia mais interessante do que se valer apenas do Ranking da CBF – no qual um Red Bull Bragantino aparece abaixo de vários oponentes das Série B ou C, assim como a recém-rebaixada Chapecoense levará tempo para ser ultrapassada por componentes da Série A. Aos times sem divisão, uma organização conforme o estado de origem e sua respectiva representatividade nas séries nacionais seria ideal.

Além do mais, reorganizar a entrada das equipes na Copa do Brasil com base nas divisões do Brasileirão até mexeria com a máquina de moer carne que existe na fase final atualmente. Os cinco sobreviventes dos 80 participantes iniciais acabam jogados aos leões a partir das oitavas, sobretudo com a entrada dos presentes na Copa Libertadores. Ver jogos grandes é legal, claro, mas o privilégio não precisa ser tão esmagador. Tal funil também prejudica a imprevisibilidade da Copa do Brasil e torna bem menos possível a escalada aos menores.

No fim das contas, a resposta é a de sempre: o interesse financeiro e o jogo político da CBF sempre pesam. Na atual estrutura, a Copa do Brasil se torna um “produto” bastante rentável para a televisão, não só por facilitar o caminho dos favoritos que entram na primeira fase, como também por assegurar as camisas mais pesadas na reta final. A competitividade e a democracia do torneio se perdem no meio disso. Se os pontos corridos do Brasileirão forçam uma estabilidade aos times que desejam uma escalada, a Copa do Brasil poderia prover o reconhecimento a outros tipos de mérito que não são contemplados pelo Ranking da CBF.

Dividir um pouco mais o bolo de dinheiro com os pequenos ou permitir que o fato de jogar em casa não se torne ônus, contudo, pode provocar impacto nos interesses gerais da CBF pelo atual esquema. Talvez por isso, o mínimo de “não tratar empate como vitória” não seja feito pela entidade. Poder desafiar um dos grandes na fase inicial, o que é comemorado em diversas copas ao redor do mundo, é bem menos bem-vindo na Copa do Brasil.

* Agradecimento ao leitor Gabriel Andrade, que nos escreveu, e aos demais leitores que contribuíram com a discussão na caixa de comentários durante os últimos dias.

 

Trivela

Postado

O que leva ao grande bordão. A copa do brasil só é "democratica" pq as outras competições  de âmbito nacional são mais excludentes.

Postado

Esse regulamento é tosco demais mesmo. Inadmissível o time grande ter a vantagem do empate. 

Postado

Sempre achei bizarro isso do time grande ter a vantagem do empate só por jogar fora. Se é pro empate ser vantagem de alguém, NESSE CASO, deveria ser do time da casa, normalmente (mas nem sempre, como o texto exemplifica) munido de muito menos qualidade e mais abaixo no ranking. Oras, se o dito time grande, trocentas posições acima no ranking e com condições financeiras pra "fazer acontecer", não consegue vencer um Altos da vida, por que raios a vantagem do empate é dele e não do mais fraco, que conseguiu se segurar nesse confronto de Davi x Golias?

Mas não tem como esperar muito da CBF. O torneio é assim desde 2017 justamente pra dar vantagem pra quem tem dinheiro, pra quem tá no topo da pirâmide. É triste, mas todos sabemos disso e sabemos que não mudará tão cedo. Pior que temos tantos bons exemplos de regulamentos decentes por aí (como o inglês e alemão, citados). Pior ainda é que nem é difícil seguir por esse caminho, é só ter um pouquinho de noção na cabeça. Mas CBF, né?

Postado

Pra mim o fato dos times da Libertadores entrarem nas oitavas e o jeito que os potes são organizados é muito pior que a vantagem do empate.

Alias acho que esse formato da até mais chance pra zebra, é como se o time grande tivesse ganhando de "meio a zero" a "ida". Pra um time pequeno acho muito melhor jogar uma em casa precisando vencer do que ida e volta com um time gigante

 

"Zebras" na 1a fase Copa do Brasil de 2010-2020

2020:10 ( 3 jogos a serem jogados)

2019:10

2018:10

2017:13

ida e volta

2016: 11

2015: 6

2014:8

2013:10

(sem times da libertadores)

2012:2

2011:4

2010:5

alguns desses confrontos eram em nivel de time equilibrados, mas considerei "zebra" sempre o caso do pior rankeado passando

O jogo unico mesmo com o empate parece ser mais vantajoso

Postado

O problema é o que o autor aborda de colocarmos a mesma regra pra confrontos "Davi vs Golias" e confrontos bem igualados. Qualquer mudança que faça, vai ser cobertor curto.

Se deixar pra se resolver em campo com prorrogação e/ou pênaltis, o time visitante de confrontos mais igualados vai ficar claramente em desvantagem. Eu acho que essa regra seria interessante apenas em confrontos entre Série A contra Série C ou D. Só que nesses confrontos desequilibrados andam tendo muitas zebras, como o @F J mostrou. Então, por mim, não mudaria.

  • Vice-Presidente
Postado

A única coisa que eu acabaria é essa putaria de clube entrar direto nas oitavas.

Postado

Bastaria adicionar uma disputa de pênaltis em caso de empate e pronto. Esse lance do melhor ranqueado passar com o empate não faz o menor sentido, nunca vi um empate valer 3 pontos. 

Postado
Em 15/02/2020 em 23:31, F J disse:

Pra mim o fato dos times da Libertadores entrarem nas oitavas e o jeito que os potes são organizados é muito pior que a vantagem do empate.

Alias acho que esse formato da até mais chance pra zebra, é como se o time grande tivesse ganhando de "meio a zero" a "ida". Pra um time pequeno acho muito melhor jogar uma em casa precisando vencer do que ida e volta com um time gigante.

Nesse ano não vai ter aquela divisão dos potes nas oitavas. Todos serão sorteados juntos, então poderá existir confronto entre times da Libertadores nas oitavas.

No entanto, eu concordo contigo..é um absurdo os times da Libertadores (e mais aqueles outros: campeão da Série B, Copa Verde e Nordeste) entrarem direto nas oitavas. Uma covardia enorme 80 times terem que passar por 4 fases eliminatórias enquanto outros mais fortes tem o privilégio de entrar lá na frente.

Eu também tiraria essa vantagem do empate pro grande no jogo inicial.

Postado

Podia ser jogo único o campeonato inteiro com sorteio do mandante a partir das oitavas e antes o time mais fraco jogando em casa.

Diminuí as datas e deixa muito mais emocionante, além de poder fazer a final em vários estados. Igual a final da ucl, libertadores e etc.

Postado

Os caras tiraram toda a mística da Copa do Brasil, que era a possibilidade de um time pequeno chegar forte nas fases finais.

Postado

Até quando a CBF acerta, eles dão um jeito de cagar nas coisas. 

É um completo absurdo uma competição iniciar e ter, nas 8as de finais, ONZE EQUIPES já garantidas. E esse ano tem um adendo né: O Corinthians participou da libertadores por dois jogos apenas e já vai entrar, também, lá na frente. 

Esse já é o maior absurdo. Daí temos o segundo, que é as 80 equipes se matarem por 5 vagas. 

E daí vem essa questão do empate, outro critério sem sentido. 

Postado

Eu acho a Copa do Brasil toda errada, desde os clubes participantes até ao formato.

Se eu tivesse poder de decisão, eu faria uma cópia quase perfeita da Copa da Inglaterra. Colocaria todo mundo pra participar (ou definir um critério com o máximo de clubes possível), com os participantes entrando nas fases seguintes, de acordo com suas divisões nacionais e regionais. Jogo único até as Oitavas, mando definido por sorteio, com renda dividida 50/50 entre os dois clubes, com pênaltis em caso de empate e sem prorrogação.

Postado
Em 17/02/2020 em 22:04, David Reis disse:

Nesse ano não vai ter aquela divisão dos potes nas oitavas. Todos serão sorteados juntos, então poderá existir confronto entre times da Libertadores nas oitavas.

No entanto, eu concordo contigo..é um absurdo os times da Libertadores (e mais aqueles outros: campeão da Série B, Copa Verde e Nordeste) entrarem direto nas oitavas. Uma covardia enorme 80 times terem que passar por 4 fases eliminatórias enquanto outros mais fortes tem o privilégio de entrar lá na frente.

Eu também tiraria essa vantagem do empate pro grande no jogo inicial.

 

Eu nem digo desses potes eu digo do pote do inicio mesmo

Por exemplo o Cruzeiro (pote A) pegou o São Raimundo de Roraima (pote E) enquanto times como Ferroviaria e Gremio Novorizontino estão no pote F. Por que? Porque o São Raimundo é "Pai" no seu estadual e ganhar estadual vale pro ranking, mas Ferroviaria e Novorizontino jogam o estadual mais dificil então pontuam menos, mas é obvio que, mesmo que o São Raimundo tenha conseguido aquele empate com o Cruzeiro, é um time muito inferior a Ferroviaria e Novorizontino.

A diivsão dos potes tem uma grande falha nisso, alem de que sendo um campeonato jogado no inicio do ano, os times que jogam estaduais mais populares tem uma vantagem enorme sobre outros, então não é vantagem o Criciuma no pote C pegar um paulista (Santo André) no pote G. Essa elaboração que eu acho que deveria ser ajustada, ter um peso do ranking do estado tambem, pelo menos pra organização dos potes "fracos", pra ter confrontos mais equilibrados pra todo mundo, um time que é campeão frequente num estadual fraco acaba tendo menos vantagem que um time de meio de tabela de estadual forte

Postado
21 horas atrás, -Igor disse:

Até quando a CBF acerta, eles dão um jeito de cagar nas coisas. 

É um completo absurdo uma competição iniciar e ter, nas 8as de finais, ONZE EQUIPES já garantidas. E esse ano tem um adendo né: O Corinthians participou da libertadores por dois jogos apenas e já vai entrar, também, lá na frente. 

Esse já é o maior absurdo. Daí temos o segundo, que é as 80 equipes se matarem por 5 vagas. 

E daí vem essa questão do empate, outro critério sem sentido. 

Poderia ser assim

 

88 > 44 > 22 > ai aqui entrava 10 times (9 ou 8 da libertadores e copa verde e nordeste (em caso de 9 da libertadores poderia ter um jogo previo entre os campeões regionais pra ver quem enttra nessa fase e quem joga desde o começo (roubando a vaga do pior classificado do time do seu estado)), sem campeão da  B). Pelo menos precisariam de muito mais jogos pra chegar la

Postado

Mais fácil pegar todos os times da A até a D (128 no total, fica redondinho). Três primeiras fases jogo único na casa do time da menor divisão (ranking da CBF só em caso de times da msm divisão). Oitavas até as semis ida e volta (ordem dos mandantes por sorteio), final em um lugar de fácil acesso para ambos os finalistas. 10 datas e zero problemas.

  • 8 meses depois...
Postado
14 minutos atrás, -Igor disse:

https://twitter.com/matheusleal1/status/1326621279462567942?s=20

Não sei colocar o Tweet direto aqui. Mas enfim, a CBF acabou com a vergonha que era ter 11 clubes nas oitavas de final garantidos. A partir do ano que vem, eles entrarão na terceira fase.

Vão entrar nos 16avos de final, eu so mudaria essa vaga de campeão da serie B.

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