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Filhos do mundo: os passos largos do Pérolas Negras e o sonho de chegar à Síria


VitorSouza

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Filhos do mundo: os passos largos do Pérolas Negras e o sonho de chegar à Síria

Campeão da quarta divisão do Rio nasceu após terremoto que devastou o Haiti, se profissionalizou no Brasil quer abrir as portas para outros países para ser reconhecido como time mundial de refugiados

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Da dor de uma tragédia à esperança de um futuro melhor. Virou uma fábrica de talentos o que era uma para ser apenas uma ajuda humanitária depois do catastrófico terremoto que devastou o Haiti em 2010. A Academia de Futebol Pérolas Negras nasceu da poeira dos escombros do tremor que matou mais de 200 mil pessoas e deixou outras 300 mil feridas, além da destruição devastadora de cidades. Hoje, o campeão da quarta divisão do Campeonato Carioca pavimenta o futuro de jovens haitianos que sonham em ser jogador de futebol. E quer mais: ser reconhecido como um clube mundial de refugiados.

O pontapé inicial foi a criação de um centro de recreação em Porto Príncipe, a capital haitiana, idealizado pela ONG Viva Rio logo depois da tragédia. O sucesso nos primeiro anos fez o projeto crescer, e uma comissão técnica brasileira começou a trabalhar a formação profissional entre os que se destacavam nas atividades.
 

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O primeiro grande passo foi dado depois do convite para disputar da Copa São Paulo de Futebol Júnior do ano passado. A repercussão que a participação trouxe ao projeto fez nascer a ideia de fazer do Pérolas Negras um time de futebol profissional com sede no Brasil.

— Depois que estourava a idade dos jogadores do sub-20, eles não tinham para onde ir. Esse era o caso de quase todo o grupo naquele momento. Trazer o clube para cá abriu a possibilidade do atleta dar sequência à carreira e almejar algo maior dentro do esporte - explicou gerente Marcos Badday, que já jogou profissionalmente e hoje é responsável pelo planejamento do futebol do clube.

O pedacinho do Haiti no Brasil foi acomodado em Paty do Alferes, simpático município no interior do Rio de Janeiro. O clube é mantido pelo patrocínio master da empresa Sodexo e também por apoios locais que ajudam nos gastos com uniforme e alimentação.

— A escolha da direção foi por uma cidade segura, tranquila, com despesas incomparavelmente mais baixas do que se nos instalássemos no Rio de Janeiro, por exemplo. Fora que a cidade não tem uma equipe de futebol, e a gente queria vir a ser o time representante dessa região. Fizemos um campo de treino e uma arquibancada e estamos investindo em um centro de treinamento com sala de reabilitação, fisioterapia, departamento médico - contou Marcos Badday.
 

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O projeto arrendou um hotel fazenda pelos próximos 10 anos e oferece moradia, formação profissional, aula de português e oportunidade de disputar torneios profissionais de futebol.

— Mudou tanta coisa na minha vida... Quando eu passei a fazer parte do Pérolas, formei com meus parceiros uma família. Eu aprendi muito nesse time, tanto a jogar bola, quanto na escola, para trabalhar. A partir de agora, a gente começa realizar nossos sonhos - reconheceu o lateral-direito Duce Elison, que sonha em dar um futuro melhor para a família, que ficou no Haiti.
 

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Os números desde o vínculo com a Federação de Futebol do Rio, em outubro de 2016, impressionam. Recentemente, com cinco haitianos no time titular, o Pérolas Negras conquistou de forma invicta o título da quarta divisão do carioca sub-20. Na tarde de domingo, consagrou a brilhante campanha nos profissionais com o título estadual.
 

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— O brasileiro é acolhedor, e o haitiano é alegre por natureza, apesar de tudo. O pessoal aqui trata eles com muito respeito porque sabe que a trajetória deles é mais difícil que a dos brasileiros. Sempre ouço um ou outro dizendo que não pode reclamar da vida, porque esses jovens passaram por coisas muito piores no Haiti - lembrou o gerente.

O clube já escoa jogadores para o futebol brasileiro. Dois jogadores chamaram a atenção durante a Copinha deste ano e foram emprestados ao Goiás: o jovem atacante Wabi e o meia Jacko. Outros atletas também já fizeram avaliações em grandes equipes do futebol brasilerio, como Grêmio e Cruzeiro.

Os haitianos que não seguem no futebol não são esquecidos. Solon, de 23 anos, não era um jogador promissor, mas continua no clube como roupeiro e estuda para ser treinador. Paskal tem história parecida: aposentou as luvas para se dedicar a ser treinador de goleiros.

— Nós temos vários objetivos. Além dos objetivos esportivos, nós temos objetivos sociais. A gente quer que um jovem que passe pelos nossos projetos nunca mais se perca em sua formação como homem. A gente incentiva para que estude, encaminha para empregos... O objetivo maior é aliar a formação de jogadores com a responsabilidade social - destacou Marcos Badday.
 

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Assim como o Pérolas Negras foi o caminho para os haitianos que vieram em busca de oportunidades no futebol brasileiro, o clube quer abrir as portas para outros países com graves problemas sociais, como a Síria, a Jordânia, o Iraque e a Venezuela. O Haiti foi o ponto de partida para um plano maior: ser reconhecido como um clube mundial de refugiados.

— Quando conheceu o poder que o futebol tem de parar guerras, ressocializar e gerar empregos, o Rubem César [Fernandes, antropólogo, escritor e secretário executivo da Viva Rio] se encantou de uma maneira muito especial pelo esporte. Hoje, nosso grande sonho é que a gente se torne um clube mundial de refugiados, provando que é possível conciliar um trabalho social com desempenho esportivo de alto nível. E digo mais: a gente vai continuar subindo de divisões nos próximos anos e revelando talentos para o futebol do Brasil e do mundo - prometeu Marcos Badday.
 

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GloboEsporte.com

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