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Iagotta

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O clássico proibido de Mar del Plata

Por Douglas Ceconello 

Neste final de semana, Real Madrid e Barcelona se enfrentam para disputar a Supercopa da Espanha. O jogo entre os gigantes espanhóis é uma espécie de Disney World do mundo dos clássicos, com estádios apinhados de turistas, transmissão para o mundo inteiro, os maiores jogadores do mundo envolvidos. Como rivalidade em si, é um chá de camomila temperado pelo marketing, e pelo mundo há centenas de confrontos mais apimentados. Do lado extremamente oposto no espectro da rivalidade, sem televisão, nem glitter, nem Mickey Mouse, desconhecido de quase todos, está o clássico de Mar del Plata, cuja rivalidade envolvida é tão crespa que o jogo sequer é disputado: neste 10 de agosto fez exatos VINTE anos que Aldosivi e Alvarado encontraram-se pela última vez num campo de futebol. A raiva nutrida e bem regada entre as diminutas torcidas e a previsão de doses cavalares de violência impedem que os clubes se enfrentem mesmo em amistosos. 

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(Capa do jornal El Atlántico, de Mar del Plata, na última vez que Aldosivi x Alvarado se enfrentaram. Origem da foto: Twitter do Código de Barras)

A última vez que se cruzaram, em 1997, deixou como legado um enorme e aparentemente insolúvel trauma na cidade, distante 400 quilômetros de Buenos Aires. A partida pelo torneio local foi repleta de intermináveis incidentes com a torcida, bombas de gás lacrimogênio, correria intensa pelas ruas do balneário e um muro do estádio derrubado, que deixava os jogadores vulneráveis para qualquer mudança de HUMOR da torcida — "Se fizéssemos um gol, matariam todos nós", disse Martín Gallo, então jogador do Aldosivi. A "Pérola do Atlântico", oásis de águas geladas que no verão sacia a fissura dos argentinos por praia, se tornara o epicentro do caos, uma Sodoma futebolística às margens do oceano. O juiz não viu alternativa que não encerrar o jogo aos 30 minutos do primeiro tempo. Foi o derradeiro Aldosivi x Alvarado na história, com apenas um terço da partida disputado.

Conforme texto do jornalista Andrés Burgo no jornal Página 12, em 2011 a AFA queria reorganizar a Copa Argentina e resolveu tirar uma FEBRE com os responsáveis pela segurança nos principais centros de futebol do país para a realização de clássicos. Recebeu carta branca para cruzar Newell's e Rosário Central, cujos encontros são praticamente uma guerra civil dentro do campo, ou Boca Juniors e River Plate, uma das maiores rivalidades do mundo, e também Gimnasia e Estudiantes de La Plata, que praticamente acionam as placas tectônicas quando se encontram na Ciudad de Las Diagonales. Mas em Mar del Plata não é bem assim. Em Mar del Plata, ouviram basicamente um LO SIENTO: não seria possível organizar um Aldosivi x Alvarado, em qualquer hipótese. Boca Juniors x River Plate é uma quermesse de escola perto do antagonismo vivenciado pelos toritos do Alvarado e pelos tiburones do Aldosivi.

O primeiro clássico marplatense aconteceu em 1954, mas os ânimos se acirraram de maneira irreversível na década de 1990, quando aconteceram vários embates por torneios das divisões inferiores da AFA e também partidas decisivas pela Liga de Mar del Plata. Imagens daqueles delirantes encontros noventistas evidenciam o clima demente que acompanhava os jogos: estádios módicos e fumaceira constante, bombas pipocando inclusive no campo e, dentro do gramado, disputas que flertavam perigosamente com a CRIMINALIDADE, sendo que lá pelas tantas aparece num vídeo um jogador do Alvarado praticamente arrastando o adversário pelos CABELOS depois que este atinge com brutalidade um companheiro seu. 

As feridas nunca cicatrizaram após aquele 10 de agosto de 1997. Na verdade, sangram de maneira cada vez mais pungente. Nem a possibilidade de um amistoso entre EX-JOGADORES é vista com bons olhos: faz um par de anos, veteranos de ambas as equipes tiveram que abandonar a ideia de um jogo festivo para arrecadar dinheiro para um HOSPITAL, tal era o clima bélico que começava a surgir nas redes sociais. E, para deixar a situação ainda mais surreal, muitos destes que hoje se inflamam na internet ou se pegam nas esquinas da cidade litorânea ou mesmo se engalfinham como milanesas selvagens na areia da praia não eram sequer NASCIDOS quando os times se encontraram pela última vez na cancha.

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A esperança de um futuro menos turbulento está na piazada. (Foto do El Retrato de Hoy)

A promessa de caos e violência fez com que os confrontos inclusive pela liga marplatense fossem evitados. Como ambos os times frequentam divisões diferentes há muitos anos, também não se encontram nos torneios da AFA, ainda que agora isso esteja PERIGOSAMENTE próximo de acontecer: com a queda do Aldosivi para a segundona, basta que o Alvarado suba uma categoria para que o mar gélido do balneário alcance temperatura de fervura e até os lobos marinhos fiquem com o pelo eriçado. O futuro, no entanto, parece menos sombrio: nas categorias de base ainda é possível ver as tradicionais cores em lados opostos dentro de um campo e convivendo de maneira cordial e fraterna.

Não deixa de ser irônico que a cidade para onde acorrem milhares de argentinos no verão, período em que tem sua população quadruplicada e recebe os famosos clássicos de pré-temporada, que colocam frente a frente os maiores clubes do país, não consiga realizar seu encontro mais representativo, modesto e ao mesmo tempo incomparável, desconhecido do mundo, impraticável e hoje fantasmagórico. O encontro que, por caminhos medonhos, elevou a rivalidade à sua quintessência: um antagonismo que cresce à medida em que os times não se enfrentam.
 

@Meia Encarnada

  • Diretor Geral
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Esse "lado B" do futebol é gostoso demais de ler/ver... agora, de onde sai tanto ódio entre esses caras?! Puta que pariu parceiro, hahahahahahaha queria saber, no texto não ficou tão explícito. Parece até os derbys aqui em Campinas, haha.

 

No mais, belo texto @Iagotta. Vlw!

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O futebol sul-americano guarda várias preciosidades, sempre bem escondidas.

Em 13/08/2017 at 07:59, Leho. disse:

Esse "lado B" do futebol é gostoso demais de ler/ver... agora, de onde sai tanto ódio entre esses caras?! Puta que pariu parceiro, hahahahahahaha queria saber, no texto não ficou tão explícito. Parece até os derbys aqui em Campinas, haha.

Pelo que li nos textos, tinha tudo pra dar merda. Colocaram um clássico entre duas equipes que são rivais locais e esportivas num estádio pra 1/2 mil torcedores com o Alvarado precisando de um ponto pra levar o título. O reforço policial era de 60 homens e 8 viaturas, pouco também.

No final, o Tribunal determinou que o Alvarado tinha ganho por 1x0 porque o Aldosivi não se apresentou pra continuar a partida. Lembrando que o muro que separava a torcida do gramado tinha caído e tacavam bombas dentro e fora do gramado. Boas condições pra se voltar ao campo, né?

  • Diretor Geral
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10 minutos atrás, Yan Perisse disse:

O futebol sul-americano guarda várias preciosidades, sempre bem escondidas.

Pelo que li nos textos, tinha tudo pra dar merda. Colocaram um clássico entre duas equipes que são rivais locais e esportivas num estádio pra 1/2 mil torcedores com o Alvarado precisando de um ponto pra levar o título. O reforço policial era de 60 homens e 8 viaturas, pouco também.

No final, o Tribunal determinou que o Alvarado tinha ganho por 1x0 porque o Aldosivi não se apresentou pra continuar a partida. Lembrando que o muro que separava a torcida do gramado tinha caído e tacavam bombas dentro e fora do gramado. Boas condições pra se voltar ao campo, né?

Tá, tudo bem... a situação aí descrita era calamitosa, mas eu queria entender mais de perto como se construiu essa raiva toda entre as torcidas ao longo dos anos 90. Na matéria só diz sobre "vários embates por torneios das divisões inferiores da AFA e também partidas decisivas pela Liga de Mar del Plata".

Até aí a gente pode deduzir, né? Hahahaha que foram vários embates.

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Agora, Leho. disse:

Tá, tudo bem... a situação aí descrita era calamitosa, mas eu queria entender mais de perto como se construiu essa raiva toda entre as torcidas ao longo dos anos 90. Na matéria só diz sobre "vários embates por torneios das divisões inferiores da AFA e também partidas decisivas pela Liga de Mar del Plata".

Até aí a gente pode deduzir, né? Hahahaha que foram vários embates.

Fica difícil mesmo. O que é certo é que nos anos 90 a rivalidade chegou no auge por causa da rivalidade competitiva, como Flamengo e Palmeiras é hoje em dia, só que entre clubes da mesma região.

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4 horas atrás, Yan Perisse disse:

Fica difícil mesmo. O que é certo é que nos anos 90 a rivalidade chegou no auge por causa da rivalidade competitiva, como Flamengo e Palmeiras é hoje em dia, só que entre clubes da mesma região.

Oi?! Em que mundo existe essa rivalidade aí entre Palmeiras e Flamengo? Só se for do lado daí...

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15 horas atrás, Bigode. disse:

Oi?! Em que mundo existe essa rivalidade aí entre Palmeiras e Flamengo? Só se for do lado daí...

Desde as brigas pelo título do ano passado e por contratações acima da média existe sim, logicamente que é muito mais de flamenguistas, mas existe sim. O que eu vi de palmeirense zoando na nossa eliminação e vice-versa foi bem acima do que eu esperava.

Postado

Bem legal o texto, valeu por trazer Iagotta :)

Mas também fiquei curioso por saber mais sobre a história. Não fica claro no texto. Se duvidar, nem os próprios envolvidos sabem de onde vem tanto ódio mútuo.

  • Diretor Geral
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41 minutos atrás, Danut disse:

Se duvidar, nem os próprios envolvidos sabem de onde vem tanto ódio mútuo.

Creio fortemente nessa hipótese, hahahahaha...

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