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A história de Daniel, o solitário torcedor do Angra dos Reis que comoveu a internet


VitorSouza

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A história de Daniel, o solitário torcedor do Angra que comoveu a internet

Jovem era o único fã do Tubarão na Rua Bariri na goleada sobre o Ceres

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São 7h40 de segunda-feira. Quando a maioria dos brasileiros se prepara para começar mais um dia de trabalho, Daniel Oliveira está abrindo mão de seu dia de folga para sair de casa e iniciar uma verdadeira epopeia: sair de Angra dos Reis e viajar 150 km rumo ao Rio de Janeiro, com o único propósito de ver o jogo do time que ama, o Angra dos Reis Esporte Clube, da terceira divisão do Campeonato Carioca. Quando chegar à Cidade Maravilhosa, ele será o único a torcer por sua equipe no estádio, mas terminará o dia bastante recompensado.

Daniel tem 19 anos e é fanático pelo Angra. Torcedor do Tubarão desde 2008, ano em que o clube montou um dos times mais marcantes de sua história (com Viola e Ziquinha, entre outros), ele passou a ir aos jogos cinco anos depois, viajando por todos os cantos do Estado do Rio. Mesmo sem saber ao certo como chegar ao local do jogo diante do Ceres, pela Série B2 do Carioca, nesta segunda (5), ele fez questão de pegar quatro transportes e gastar várias horas de viagem para acompanhar a goleada do Angra sobre os celestes por 4 a 0.

As imagens de Daniel, o garoto solitário nas arquibancadas da Rua Bariri comoveram a internet e se tornaram um símbolo de amor ao futebol e devoção a um clube que só tem 18 anos de história e um único título profissional, o da Terceirona de 1999. O próprio Angra dos Reis utilizou as imagens enviadas pelo fã para mostrar essa prova de carinho, o que acabou repercutindo grandemente.

– Foi arriscado, eu nem sabia chegar. O Heider (jogador do Angra) é que foi me ajudando, mandando mensagens. Saí de casa, esperei o ônibus até Conceição de Jacareí, em Mangaratiba, por quase uma hora, depois peguei uma van até Itaguaí. Dormi e fiquei com medo de ter perdido o ponto, mas graças a Deus acordei a tempo. Depois, outro ônibus para Campo Grande e mais outro até Olaria. Só não gostei desse último, o 397, porque desci na Avenida Brasil e fui andando. Mas não vi muito esforço nisso, não – diz Daniel, em entrevista ao FutRio.net.

Muitas horas de viagem e inúmeras baldeações depois, Daniel finalmente desembarcou na Bariri para o jogo das 15h, ao mesmo tempo que os jogadores do Angra. Ele relata que, quando foi reconhecido pelos atletas, já na porta do estádio, recebeu muitos abraços, tamanha a surpresa que sua chegada causou:

– O primeiro a me cumprimentar foi o Leandro (Silva, técnico). Depois, os jogadores desceram de ônibus e foram me cumprimentando. Quando eu entrei no estádio, o Gabriel, goleiro do Ceres, me reconheceu porque jogou aqui no Angra. Vi que ele conversava com o Leandro e o ouvi dizendo: "Isso é verdade? Esse moleque é f... Não tem ninguém igual a ele no Brasil". E o Leandro respondendo, "ele gosta muito". Foi um momento que eu nunca pensei que viveria, ninguém acreditava.

Quando a bola rolou, havia poucas centenas de pessoas no estádio. A maioria ficou na social, onde boa parte apoiava o Ceres. Muitos familiares de jogadores e até jogadores do Olaria, que tinha treinado no local mais cedo, estavam entre os espectadores, mas apoiadores do Angra eram apenas alguns. Além de Daniel, familiares do goleiro Anderson Brum eram os únicos que apoiavam o time da Costa Verde.

"Vamos jogar a Champions League!"

Do outro lado do estádio, Daniel não economizava nos gritos. De camisa azul do Angra, apoiava a equipe e estimulava os jogadores, que conhecia nome a nome. Tamanha empolgação o fez até discutir com o homem-forte do futebol do Ceres, Winston Soares, que assistia à partida a alguns metros dali, com outros membros da comissão técnica do clube de Bangu.

– Em um lance, teve mão do meu zagueiro perto da área e ele (Winston) reclamou. Eu gritei que não tinha sido nada e ele me perguntou se eu estava falando com ele, aí respondi que se a carapuça tinha servido é porque ele tinha ouvido. Ficou tentando me intimidar, mas quando o Fábio Saci fez o primeiro gol, ele teve que me aturar. No fim do jogo, eu comecei a gritar "olé" só para mexer com ele, mas depois ele veio me cumprimentar e dar parabéns – relata.

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Se o primeiro tempo foi arrastado, o segundo teve grande movimentação e muitos gols. Fábio Saci fez mais dois e Batata, um, fechando o placar em 4 a 0. A vitória cada vez mais ampla do Angra dos Reis foi deixando Daniel em evidência entre os poucos que ainda sobravam no estádio. Gritando e pulando sem parar, com um telefone em uma das mãos e girando a camisa sobre a cabeça com a outra, virou a atração do jogo. Depois dos 40 do segundo tempo, gritava "olé" para seus jogadores, a plenos pulmões, fazendo gargalhar até o meia Abedi, que já tinha sido substituído.

– Abedi, você é f...! O Angra vai jogar a Champions League, isso aqui está fácil demais – gritava Daniel.

Namorada ficou em segundo plano

Com a primeira vitória do Angra dos Reis na Terceirona, Daniel pôde dizer que não perdeu a viagem, mas acabou ainda mais recompensado: como alguns jogadores moram no Rio, deixaram o Olaria de carro, o que vagou alguns lugares no ônibus que voltaria à Costa Verde. E foi assim que o torcedor pôde voltar para casa sem precisar fazer outra longa e cansativa viagem. Porém, ainda devia satisfações à namorada:

– Vi que todos ali tinham um carinho por mim, se preocuparam comigo. O Chiquinho (lateral-direito) e o Thomaz (meia) toda hora me perguntavam se eu queria comer alguma coisa. Quando cheguei em Angra, eram quase 20h. Fui buscar minha namorada na faculdade e fazer um lanche, mas ela estava brava porque falou que eu troquei ela pelo Angra (risos).

O humilde trabalho como vendedor de picolé nas ruas de Angra para ajudar a família não impede que Daniel mantenha sua paixão pelo time. Nome frequente nas arquibancadas para torcer pelo clube, ele diz acompanhar todos os jogos em casa há quatro anos, à exceção de uma goleada sobre o Tigres. Longe de Angra, ele já esteve em várias partes do Rio, como Bangu, Xerém, Ilha do Governador e até São João da Barra. Nesta última, levou nove horas até o Norte Fluminense, mas pôde comemorar uma vitória sobre os locais, por 1 a 0, em 2015.

– O que me motiva são as pessoas que tentam me atingir, falando mal do Angra, dizendo que sou maluco e que o time não presta. Mas eu acredito no potencial do time, no presidente e na cidade. Na primeira vez que vi o Angra no Jair Toscano, ganhamos do Mesquita por 3 a 0 e eu me senti no Maracanã. Já gostava do clube na época do Viola, mas meu pai trabalhava muito e não me deixava ir sozinho ao estádio – derrete-se o apaixonado torcedor, que aproveita para fazer um apelo:

– Queria que todas as pessoas que têm grandes condições, empresários da cidade, ajudassem meu time. É um clube carente, sem condições de pagar os jogadores, mas com um time de qualidade, uma diretoria com sabedoria e um técnico excelente. Se chegar alguém investindo, acho que não vai demorar muito para chegarmos até a um campeonato nacional. Aí, vou poder olhar na cara de cada um que me chamou de louco e dizer: "obrigado por me motivar, hoje sou ainda mais feliz". Vou poder me olhar no espelho e dizer que valeu a pena.

Neste domingo, o Angra volta a campo pela Terceirona para enfrentar o Juventus em casa. E Daniel estará lá, de novo para apoiar seu Tubarão, embora provavelmente viva uma tarde diferente, ao lado de outros fãs, mais tietado e reconhecido do que era até agora. Tudo depois de uma semana que, como disse o próprio, "mudou sua vida".

FutRio.net

Postado

Tinha lido já um pequeno post no Twitter sobre o assunto. Mas essa matéria tá muito legal, com bem mais detalhes. Esse cara é foda.

Postado

Que maneiro! Angra é bem perto daqui, nem sabia que o time estava na terceira divisão do Carioca.

Postado
7 horas atrás, VitorSouza disse:

Só não gostei desse último, o 397, porque desci na Avenida Brasil e fui andando. Mas não vi muito esforço nisso, não – diz Daniel, em entrevista ao FutRio.net.

AUHAUHAUHAUHAUHA Passaram a info errada pro cara, o 397 deixa pertinho do estádio e o cara desceu lá na puta que pariu!

Postado

Tinha visto a história no Facebook, mas com muito menos detalhes, como o @Danut. Ler o relato completo agora só deixou tudo ainda melhor. Que história foda. O futebol também (e principalmente) é feito de histórias como essa.

  • Vice-Presidente
Postado

Aposto que gastou menos com essa super viagem do que gastaria para assistir um jogo na cidade dele em uma super arena de Copa do Mundo.

Postado
50 minutos atrás, Henrique M. disse:

Aposto que gastou menos com essa super viagem do que gastaria para assistir um jogo na cidade dele em uma super arena de Copa do Mundo.

E com menos riscos de sair ferido/morto por algum idiota de "crime organizada".

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