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Daniel Alves — O Segredo


Bruno Caetano.

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Postado

 

O Segredo

Por Daniel Alves

Eu vou começar contando um segredo. Na verdade, você pode tomar conhecimento de alguns segredos nesta história, porque sinto que sou incompreendido por muita gente. Mas vamos começar com esse primeiro segredo.

Três meses atrás, quando o Barcelona fez sua incrível remontada contra o Paris St-Germain pela Champions League, eu estava assistindo a cada lance sentado no meu sofá. Você podia pensar a partir da leitura dos jornais que eu esperava que meu antigo clube perdesse.

Mas e quando meu irmão Neymar marcou aquele lindo gol de falta? Eu pulei do sofá e estava gritando para televisão.

“Vamooooooos”

Quando o Sergi Roberto operou aquele milagre aos 50 minutos do segundo tempo?

Como todos os demais torcedores do Barça ao redor do mundo, eu estava ficando completamente maluco. Porque a verdade é que o Barcelona ainda está no meu sangue.

Fui desrespeitado pela cúpula dos dirigentes quando eu saí do clube no verão passado? Certamente que sim. É simplesmente a maneira como eu me sinto a respeito, e você jamais pode dizer algo diferente a esse respeito para mim. Mas não é possível jogar por um clube ao longo de oito anos, e alcançar tudo o que nós alcançamos, e não ter esse mesmo clube no coração para sempre. Dirigentes, jogadores e membros do conselho vêm e vão. Mas o Barça nunca vai desaparecer.

Quando eu fui para a Juventus, eu fiz uma promessa final para a cúpula do Barcelona. Eu disse, “Vocês vão sentir saudades de mim”.

Eu não quis dizer como jogador. O Barça tem muitos jogadores incríveis. O que eu quis dizer foi que eles iriam sentir saudade do meu espírito. Eles iriam sentir saudade de alguém que prezava tanto pelo ambiente e pelo clube. Eles iriam sentir saudade do sangue que eu derramei todas as vezes que eu coloquei a camisa do Barcelona.

Quando eu tive de jogar contra o Barcelona na rodada seguinte, pelas quartas-de-final da Champions League, havia um sentimento bastante estranho no ar. Especialmente no segundo jogo, no Camp Nou, a sensação era a de que eu estava em casa de novo. Pouco antes do jogo começar, eu fui até o banco de reservas do Barcelona e cumprimentei meus colegas, e eles diziam: “Dani, venha e sente aqui conosco. Nós guardamos o seu lugar, irmão”.

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Eu estava dando a mão para todos de costas para o árbitro. De repente, eu ouvi um apito. Eu me virei e o árbitro já iniciara a partida. Saí correndo para o campo, e eu pude ouvir meu antigo treinador, Luís Henrique, se matando de rir.

É engraçado, não? Mas aquele jogo não era uma piada, especialmente para mim. As pessoas me veem e dizem: “O Dani está sempre brincando. Ele está sempre sorrindo. Ele não é sério.”

Preste atenção, vou te contar outro segredo. Antes de eu enfrentar os melhores atacantes do mundo – Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo – eu estudo as suas forças e as suas fraquezas como uma obsessão, e então eu planejo como vou atacar. Meu objetivo é mostrar ao mundo que Dani Alves está no mesmo nível. Talvez eles me driblem uma ou duas vezes. Certo, tudo bem. Mas eu irei para cima deles, também. Eu não quero ser invisível. Eu quero o palco. Mesmo aos 34 anos, depois de 34 troféus, eu sinto que tenho de provar isso todas as vezes.

Mas ainda é mais profundo do que isso.

Pouco antes de cada partida, eu sigo a mesma rotina. Eu fico de frente ao espelho por cinco minutos e bloqueio todo o resto. Então um filme começa a rodar na minha cabeça. É o filme da minha vida.

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Na primeira cena, eu tenho 10 anos de idade. Eu estou dormindo numa cama de concreto na pequenina casa da minha família em Juazeiro (BA), Brasil. O colchão é tão fininho quanto o seu dedo mindinho. A casa cheira a terra molhada, e ainda está escuro lá fora. São 5 da manhã, e o sol ainda não nasceu, mas eu tenho de ajudar a meu pai na nossa fazenda antes de ir à escola.

Meu irmão e eu vamos para o campo, e nosso pai já está lá, trabalhando. Ele está carregando um tanque grande e pesado nas costas, ele está pulverizando as plantas e as frutas para matar as pragas de uma colheita.

Meu irmão e eu provavelmente somos muito novos para manipular, mas ainda assim nós ajudamos. Esta é a nossa forma de comer… de sobreviver. Por horas, eu fico competindo com meu irmão para ver quem é o trabalhador mais dedicado. Porque aquele que mais ajudar a nosso pai vai ter mais direito ao uso da nossa única bicicleta.

Se eu não ganhar a bicicleta, eu terei de caminhar 20 quilômetros da nossa fazenda até a escola. A volta da escola é ainda pior, porque eu tinha de voltar correndo para conseguir chegar a tempo de jogar a pelada.

Mas e se eu ganhar a bicicleta? Então eu posso ficar com as meninas. Eu posso escolher uma delas no caminho e oferecer uma carona até a escola. Por 20 quilômetros, eu sou o cara.

Então eu trabalho duro para caramba.

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Eu olho para o meu pai enquanto eu saio para a escola, e ele ainda está com o mesmo tanque grande e pesado nas costas. Ele tem ainda um dia inteiro pela frente, e então à noite ainda há o pequeno bar que ele administra para ganhar um dinheiro extra. Meu pai foi um jogador incrível quando ele era mais jovem, mas ele não teve dinheiro para ir até a cidade grande e ser notado pelos olheiros. Então ele faz questão de que eu tenha essa oportunidade, mesmo que isso custe a vida dele.

A tela escurece.

Agora, é domingo, e nós estamos assistindo aos jogos de futebol na TV preto-e-branca. Há um bombril amarrado na antena para que nós possamos pegar o sinal da cidade, que está muito distante. Para nós, esse é o melhor dia da semana. Há muita alegria em nossa casa.

A tela escurece.

Agora meu pai está me levando para a cidade com seu carro velho para que alguns olheiros possam me ver jogar. O carro tem transmissão manual, só com duas marchas – devagar e muito devagar. Eu posso sentir o cheiro da fumaça.

Meu pai é um lutador. Eu tenho de ser um lutador, também.

A tela escurece.

Agora, eu tenho 13 anos, e eu estou numa academia de futebol para jovens jogadores numa cidade maior, longe da minha família. Há 100 garotos reunidos num dormitório pequeno. É como se fosse uma prisão. No dia antes de eu sair de casa, meu pai me comprou um conjunto novo para jogar. Com isso, ele dobrou meu guarda roupa. Até então, eu só tinha um conjunto.

Depois do primeiro dia de treinamento, eu pendurei meu conjunto novo no varal. Na manhã seguinte, tinha sumido. Alguém levou. É quando eu percebo que esta já não é mais a fazenda. Este é o mundo real, e a razão para chama-lo de mundo real é porque a coisa é pra valer aqui fora.

Voltei para o quarto, e eu estava morrendo de fome. Nós treinávamos o dia inteiro, e não havia comida no suficiente no campo. Alguém tinha roubado as minhas roupas. Eu sinto saudades da minha família, e definitivamente eu não sou o melhor jogador por aqui. De 100, talvez eu seja o número 51 em termos de habilidade. Então eu faço para mim mesmo uma promessa.

Eu digo a mim mesmo: “Você não vai voltar para a fazenda até você deixar seu pai orgulhoso. Você pode ser o número 51 em habilidade. Mas você será o número 1 ou 2 em força de vontade. Você será um lutador. Você não vai voltar para casa, não importa o que aconteça”.

A tela escurece.

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Agora, eu tenho 18 anos de idade, e eu estou contando uma das únicas mentiras que eu já disse no futebol.

Estou jogando pelo Bahia no Campeonato Brasileiro quando um importante olheiro vem até mim e diz: “O Sevilla está interessado em te contratar”.

Eu digo: “Sevilha, maravilhoso”

O olheiro diz: Você sabe onde fica?”

Eu digo: “Claro que eu sei onde Sevilha fica. Sev-iiiiiilha. Eu amo.”

Só que eu não faço a menor ideia onde fica Sevilha. Pelo que eu sabia podia ser na Lua. Mas do jeito que ele diz o nome parece importante, então eu minto.

Alguns dias depois, eu começo a perguntar por aí, e eu descubro que o Sevilha joga contra o Barcelona e o Real Madrid.

Eu digo para mim mesmo: “Agora”

Só se for agora! Vamos!

A tela escurece.

Agora em Sevilha, e estou tão mal nutrido que os técnicos e os outros jogadores olham para mim como se eu tivesse de jogar pela equipe mais jovem. Eu estou no meio dos seis meses mais difíceis da minha vida. Eu não falo o idioma. O treinador não está me colocando para jogar, e pela primeira vez eu penso em voltar para casa.

Mas então, por alguma razão, eu penso no conjunto que meu pai tinha comprado quando eu tinha 13 anos de idade. Aquele que levaram. E eu penso no meu pai novamente com o tanque grudado nas costas, espalhando veneno. E eu decido que vou ficar e aprender o idioma e tentar fazer alguns amigos, assim ao menos eu posso voltar ao Brasil com uma experiência nova para compartilhar.

Quando começa a nova temporada, nosso diretor passa a instrução a todos: “Aqui no Sevilha nossa defesa não ultrapassa a linha do meio campo. Nunca”.

Eu jogo alguns jogos, chuto a bola por aí, olhando sempre para aquela linha. Somente olhando para ela, como um cachorro que está com medo de ultrapassar alguma linha invisível no quintal. Então, num jogo, por alguma razão, eu apenas me solto. Eu tenho que ser eu mesmo.

Eu digo, “Agora

Eu simplesmente vou. Ataque, ataque, ataque.

Funciona como se fosse mágica. Depois disso, o técnico diz: “OK, Dani. Nova estratégia. No Sevilha, você ataca.”

Em poucos anos, nós vamos de um clube que ficava na zona do rebaixamento para levantar a taça da Copa da UEFA duas vezes.

A tela escurece.

Meu telefone está tocando. É meu agente.

“Dani, o Barcelona está interessado em te contratar”

Eu não tenho que mentir desta vez. Eu sei onde fica Barcelona.

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Este é o filme que roda na minha cabeça quando eu olho para o espelho antes de cada partida. Ao final, antes de eu voltar para o vestiário, eu sempre digo a mesma coisa para mim mesmo.

Mano, eu vim da Pqp.

E estou aqui agora.

É irreal, mas eu estou aqui.

…Bora.

Quando eu tinha 18 anos de idade, eu atravessei o oceano para jogar por um clube que jogava contra o Barcelona. Então ter a honra de jogar pelo Barcelona? Era incrível. Eu consegui ser a testemunha de um verdadeiro gênio.

Eu me lembro que, durante um treino, o Messi estava fazendo coisas com a bola nos pés que desafiavam a lógica. Claro, é o tipo de coisa que ele fazia todos os dias. Só que desta vez algo estava diferente.

Agora, eu preciso lembrar a você, era uma sessão de treinamento extremamente intensa. Nós não estávamos brincando, jogando bobinho. O Messi estava driblando, atravessando a defesa, e finalizando como um matador.

E então, enquanto ele está passando por mim, e eu olho para os pés dele, e eu estou pensando comigo mesmo: “Isto é uma piada?”

E ele está passando por mim novamente, e eu penso: “Não, é impossível”.

E ele está passado por mim novamente, e agora eu tenho certeza do que estou vendo.

As malditas das chuteiras estavam desamarradas. As duas.

Eu quero dizer completamente desamarradas. Esse cara estava jogando contra os melhores defensores do mundo, simplesmente flutuando, e ele age como se fosse um domingo no parque. E esse foi o momento em que eu soube que eu jamais jogaria com alguém como ele novamente na minha vida.

E então, claro, há Pep Guardiola.

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Se você virar a palavra computador de trás para frente, vai aparecer Steve Jobs.

Se você virar a palavra “futebol” de trás para frente, vai aparecer Pep.

Ele é um gênio. Vou dizer novamente. Um gênio.

Pep contaria para você exatamente como tudo ia acontecer num jogo antes mesmo da partida começar. Por exemplo, o jogo contra o Real Madrid em 2010, quando nós ganhamos de 5-0? Pep nos disse antes do jogo, “Hoje, vocês vão jogar futebol como se a bola fosse de fogo. A bola jamais ficará nos pés de vocês. Nem meio segundo. Se vocês fizerem isso, não haverá tempo para que eles nos pressionem. Nós ganharemos facilmente.”

Quando nós saíamos de uma preleção como essa a sensação era de que o jogo já estava 3-0 para nós. Nós estávamos tão preparados, tão confiantes, que nós sentíamos que já saíamos ganhando.

A coisa mais engraçada era se nós terminássemos o primeiro tempo e o jogo não estivesse indo bem; Pep se sentaria e esfregaria a cabeça.

Você sabe como ele esfrega a cabeça? Você já deve ter visto, não? É como se ele estivesse massageando o cérebro, procurando o gênio para agarrá-lo.

Ele faria isso na nossa frente no vestiário. Então, como mágica, surgiria uma revelação para ele.

Bang!

“Já sei!”

Daí, ele pularia e começaria a dar as instruções, desenhando o esquema no quadro.

“Nós faremos isto, e isto, e isto; e então nós marcaremos o gol”.

Então nós saíamos e fazíamos isto, e isto, e isto. E era assim que nós fazíamos o gol. Era uma coisa maluca.

Pep foi o primeiro treinador da minha vida que me ensinou a jogar sem a bola.

E ele não somente exigiria que os jogadores mudassem seu jogo, ele nos fazia sentar e nos mostrava por que gostaria que nós mudássemos com estatísticas e vídeo.

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Aqueles times do Barça eram quase imbatíveis. Nós jogávamos de memória. Nós já sabíamos o que nós iríamos fazer. Nós não tínhamos que pensar.

É por isso que, até hoje, o Barça está no meu coração.

E foi por isso que, quando nós batemos o Barcelona na Champions League, eu fui até meu irmão Neymar, e dei um abraço nele. Ele estava chorando, e eu estava quase chorando, também.

Eu posso imaginar as pessoas lendo isso, perguntando-se por que é que estou dividindo esses segredos.

Bem, a verdade é que estou com 34 anos. Eu não sei por quanto tempo ainda vou jogar. Talvez dois ou três anos. E eu sinto que as pessoas não me entendem, tampouco a minha história completa.

Quando eu vim para a Juventus nesta temporada, foi como se eu estivesse saindo de casa novamente. Eu fiz isso com 13, quando fui para a escola de futebol. Eu fiz novamente aos 18, indo para a Espanha. E fiz mais uma vez, aos 33, indo para a Itália.

Outra vez, eu estava como o cachorro no quintal. Eu estava olhando a cerca invisível.

Devo ir?

Mas eu não fui. No começo desta temporada, eu quis ter a certeza de que os jogadores da Juve entendiam que eu respeitava a filosofia deles, assim como a história do clube. Uma vez que eu tivesse a confirmação de ter conquistado o seu respeito, eu tentaria mostrar a eles minha força, também.

Um dia, eu olhei para a linha do meio campo e disse para mim mesmo, Devo ir?

Bang! Agora.

Ataque, ataque, ataque (e, OK, um pouco de defesa, também, ou Buffon ficará gritando comigo).

Às vezes, eu penso que a vida é um círculo.

Veja, eu não consigo escapar destes argentinos.

No Barça, eu tinha o Messi.

Na Juve, eu tenho o Dybala.

Os gênios me seguem em todo o lugar, eu juro.

Um dia, no treinamento, eu vi uma coisa no Dybala que eu vi no Messi. Não é apenas o dom do puro talento. Eu tenho visto isso muitas vezes na minha vida. É o dom do puro talento combinado com a vontade de conquistar o mundo.

No Barça, nós jogávamos de memória.

Na Juve, é diferente. É a mentalidade coletiva que nos levou até a final da Champions League. Quando o apito soar, nós simplesmente daremos um jeito de ganhar não importa a dificuldade. Ganhar não é apenas um objetivo para a Juve; é uma obsessão. Não há desculpas.

Neste sábado, eu tenho a chance de conquistar a 35ª taça em 34 anos de vida na terra. É uma oportunidade especial para mim, e isso não tem nada a ver com provar para a cúpula do Barcelona que eles cometeram um erro ao me deixarem sair de lá.

Eu sei que eles jamais vão admitir isso.

Esse não é o ponto.

Você se lembra quando eu contei a respeito da academia de futebol no Brasil, quando eu disse a mim mesmo que eu jamais voltaria para a fazenda até fazer meu pai ficar orgulhoso?

Bom, meu pai não lá uma pessoa muito emotiva. Eu nunca soube quando verdadeiramente alcancei aquele momento de fazê-lo ficar de fato orgulhoso. Durante a maior parte da minha carreira, ele estava em casa, no Brasil.

Mas em 2015 ele foi a Berlim para me ver ganhar a final da Champions League pela primeira vez pessoalmente. Eu me lembro que, após as comemorações pela conquista nos gramados, o Barça deu uma festa especial para as famílias dos jogadores.

Nós tivemos que entregar o troféu para as pessoas que nos ajudaram a realizar nossos sonhos. Então eu me lembro que, quando foi a minha vez, passei o troféu para o meu pai, e nós dois o estávamos segurando, posando para a foto.

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Então, ele disse uma coisa, que, por ser um palavrão, eu não vou reproduzir aqui exatamente com precisão.

Mas, basicamente, ele disse algo do tipo “Meu filho é o cara agora”

E você quer saber? Ele estava chorando como um bebê.

Aquele foi o grande momento da minha vida.

No sábado, eu terei a oportunidade de jogar por outro troféu da Champions League contra um oponente bastante conhecido. Como sempre, eu estudarei o Cristiano Ronaldo como uma obsessão.

Como sempre, eu irei para a frente do espelho antes da partida e rodar o mesmo filme na minha cabeça.

A tela escurece, e eu me lembro destas coisas…

Minha cama de concreto.

O cheiro da terra molhada.

Meu pai carregando o tanque de veneno nas costas.

O caminho de 20 quilômetros até a escola.

O novo conjunto de roupa.

O varal de roupas vazio.

“Claro que eu sei onde é Sevilha”

Mano, eu vim da Pqp.

E estou aqui agora.

É irreal, mas eu estou aqui.

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Postado

Porra, sensacional, né. Não tem como respeitar ele.

Confesso que uns tempos atrás achava ele meio bosta, falador demais. Mas o cara come grama  e trabalha muito. Tem que respeitar.

Postado

Foda demais esse texto, puta que pariu.

Postado

Caralho, que texto!

Esse ano do Dani Alves na Juve mudou mt minha opinião sobre ele. Nunca questionei sua técnica mas não reparava o quanto ele se dedica em campo, o cara é um monstro.

Postado

Antes de ler esse texto, eu tinha uma impressão péssima do Dani Alves. Eu era daqueles que achava que ele não tava nem aí por causa das trocentas fotos com roupa nova que ele postava no instagram. Me passava a impressão que ele gostava mais de fazer roupa do que de jogar bola.

Quando eu lia alguma declaração mais contundente dele sobre futebol, lembrava dessas coisas e pensava comigo: "Que moral esse cara acha que tem pra falar alguma coisa se ele nem gosta de futebol?" Sim, essa era minha impressão: que ele não gostava de futebol. De que de tanto fazer roupa, ele havia colocado a bola pra segundo plano. E as más fases dele - que eu não sabia se era coisa dele ou de treinadores que não sabiam aproveitá-lo - ajudavam a reforçar essa impressão. Me passava a ideia que ele se dedicava demais a outras coisas e muito pouco ao que ele dizia amar.

Agora eu respeito mais o homem Daniel Alves, que mostra saber dar valor às coisas importantes. Mas vou continuar sem entender como um profissional aparece tanto fazendo outras coisas.

  • Diretor Geral
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2 horas atrás, Ichthus disse:

[...] Mas vou continuar sem entender como um profissional aparece tanto fazendo outras coisas.

Cara, confesso pra você que esse lado do Dani pra mim era o mais irrelevante. Eu meio que cagava e andava pras mil e uma fotos dele e seus looks extravagantes. Aliás, isso vale pra qualquer jogador: cago e ando pro que o cara gosta de publicar em rede social.

Agora, o que me incomodou no Dani de fato foi aquele período pós-títulos no Barça (2012 talvez?!) onde ele passou, tanto ali quanto na Seleção, a somente ser escalado e idolatrado pelo nome e pelas conquistas. Não pelo que jogava em campo.

Porra... teve jogo pela Seleção nesse período que ele foi pífio. No Barça sempre foi mt respeitado (com razão), mas metia ali um "piloto automático" e ninguém questionava. Eu ficava fulo com isso, sinceramente.

Mas aí, nessa fase final de Catalunha e bem mais recentemente na sua passagem pela Juve, a gente pôde ver o "renascimento" do Dani como excelentíssimo lateral ofensivo que é. E achei bacana porque na carta ele deixa bem claro que tem a exata noção daquilo que a gente sempre soube: ele é um LD ofensivo, mt ofensivo. E sempre se fez valer disso em sua carreira.

 

Enfim, a carta é mt foda, e assim como outros que tinham essa "birra" com ele eu também voltei a admirá-lo como jogador.

Belíssimo momento pra soltar um depoimento assim. Que sirva de inspiração pros nossos próximos laterais da Seleção e do país afora.

Postado
2 horas atrás, Leho. disse:

Cara, confesso pra você que esse lado do Dani pra mim era o mais irrelevante. Eu meio que cagava e andava pras mil e uma fotos dele e seus looks extravagantes. Aliás, isso vale pra qualquer jogador: cago e ando pro que o cara gosta de publicar em rede social.

Agora, o que me incomodou no Dani de fato foi aquele período pós-títulos no Barça (2012 talvez?!) onde ele passou, tanto ali quanto na Seleção, a somente ser escalado e idolatrado pelo nome e pelas conquistas. Não pelo que jogava em campo.

Então, @Leho., eu também não costumo me incomodar... Senão eu cornetaria muito mais o Neymar do que qualquer outro. A questão é que no caso do Daniel Alves isso aparecia tanto que ele parecia dar mais importância pra isso do que pra bola que joga! Eu também me incomodei com esse período onde ele só era escalado em má fase por causa do nome de peso, mas eu sempre julguei que a falta de futebol era mais por causa disso.

Acho que jogador pode fazer o que quiser até determinado limite. Quando a liberdade interfere no desempenho de forma negativa, deve ser repensada. E eu sempre achei que fosse o caso dele.

  • Diretor Geral
Postado
9 horas atrás, Ichthus disse:

[...] Quando a liberdade interfere no desempenho de forma negativa, deve ser repensada. E eu sempre achei que fosse o caso dele.

Ah sim, agora entendi teu ponto. Nisso concordo, embora eu não visse isso no Daniel, hehe.

Mas te compreendo.

  • Vice-Presidente
Postado

Texto foda e cheio de mensagens importantes (e até clichês) de quem venceu na vida. Mas vale lembrar que ele só renasceu no segundo semestre com o ajuste tático feito na Juventus e após a lesão séria que teve. O começo dele na Juventus foi deprimente.

Aí encontrou um treinador que sabe explorar o que ele tem de melhor, assim como o Pep explorava no Barcelona e acho que isso meio que explica a diferença entre os Daniel Alves vistas recentemente. Teve seu auge e seu declínio junto com o Barcelona (não que o Barcelona tenha virado o Espanyol, mas a diferença entre os Barcelonas do Pep e os depois dele são enormes), mas a diferença entre ele o Barcelona é que ele decidiu seguir em frente e tentar fazer diferente.

Postado
42 minutos atrás, Henrique M. disse:

Mas vale lembrar que ele só renasceu no segundo semestre com o ajuste tático feito na Juventus e após a lesão séria que teve.

Como você disse, carreira do Daniel é resumida nisso: ajuste tático que o favoreça. Mas também há um ponto bastante positivo nele — o Daniel Alves é jogador de jogo grande. Por isso os meses espetaculares na reta final da última tríplice do Barcelona, as excelentes partidas que ele sempre fez contra o Real Madrid, todas as memoráveis atuações em momentos decisivos da temporada, e essa atual fase na Juventus.

Com o Pep ele evoluiu muito, principalmente a parte ofensiva, visão de jogo, posicionamento, saber jogar com e sob pressão, etc. Os técnicos que ele teve depois disso nunca extraíram o melhor dele, pelo contrário, sempre expuseram seu pior. Se após o Pep ele fosse treinado pelo Mourinho, por exemplo, ele poderia ter um caminho parecido ao do Marcelo: ofensivamente pronto, mas se tornando um excelente lateral defensivo. Ninguém mais o usou como Guardiola - um ponta de um 3-4-3 -, mas sim um lateral que deveria segurar posição, e por vezes completamente exposto. Isso mata as qualidades que ele tem.

  • Vice-Presidente
Postado

Escroto, mas engraçado. hahaha

Postado
30 minutos atrás, Henrique M. disse:

Escroto, mas engraçado. hahaha

hahahahahahahahahahahahaha

Postado
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Agora você quer confete, Dani?

05/06/2017 | por: Leandro Iamin

Dani Alves foi o personagem da semana passada no futebol brasileiro, superando contendores do naipe, por exemplo, de Vanderlei Luxemburgo. O lateral assinou um texto no excelente site The Players Tribune, que se dedica a publicar material do tipo em vários idiomas, sempre com uma narrativa dramática muito bem construída e em primeira pessoa: é o atleta falando com o leitor, sem um intermediário direto. O texto do Dani, chamado O Segredo, você pode ler clicando aqui.

A reação ao texto de Dani Alves foi muito positiva, e não era para menos. Comemoro quando algo bem escrito chega a um número grande de pessoas. Além disso, a história do Daniel, embora seja comum aos jogadores de futebol brasileiros, é inspiradora, agulha no palheiro, um em milhares, tudo isso que a gente admira em quem superou a falta completa de persperctivas e virou o que Dani virou: alguém cuja personalidade é o maior trofeu, o trofeu da vitória contra o outro Daniel Alves possível, quieto, humilde, sem instrução, destratado e escondido no interior da Bahia. O Dani Alves poliglota, colorido e divertido é quase um milagre. Sou capaz de observar tudo isso com simpatia.

Na Central 3, Paulo Júnior defende Dani com força. Enxerga nele o Salvador Dalí do futebol brasileiro, um incompreendido adorável que desconstrói e derrete as paredes do comportamento da bola. Minha namorada gargalha com seu estilo de vida e cada vez mais o futebol de Dani Alves varre as críticas e as antipatias. Seu final de carreira é ótimo, a maturidade lhe fez muito bem, o desafio proposto a si mesmo fora do Barcelona deu muito certo e, como dizia, na última semana seu texto provocou no público uma empatia que, aqui, eu rejeito e ponho um ponto.

Daniel Alves disse, em entrevista à ESPN em 2015, assinada pelo amigo Thiago Arantes, a respeito do 7×1 e da Copa do Mundo de 2014: “Na minha maneira de entender, o final da Copa do Mundo pra gente foi drástico, foi doloroso… E eu não aceito que ninguém fale, que ninguém critique, que ninguém tenha opinião sobre isso. Porque só quem viveu pode falar, pode sofrer ou não sofrer. O resto vai opinar sempre à distância”.

Quando li esta entrevista, revivi tudo que aquele dia medonho me deu, os piores sentimentos possíveis no esporte. Mais que isso, relembrei que por causa daquele dia, muita coisa do mês de Copa foi apagada da memória afetiva, e o sonho de uma vida virou frustração de sete tentos, que depois viraram dez, Holanda 3×0 Brasil. Cada detalhe de cada briga que comprei em nome desse elenco enquanto os amigos desencanados com a Amarelinha me olhavam meio torto, eu também recordei. E o cara disse que só quem estava lá pode sofrer. Pois bem.

Nada contra a empatia entre jogador e torcedor, aliás, muito pelo contrário, é do que o futebol mais precisa, só existe torcida quando existe identificação, e é cada vez mais raro enxergar-se em algo ou alguém de dentro do jogo. Mas me permito negar este sentimento a Daniel Alves. Afinal, foi ele quem interditou a empatia ao “não aceitar” que se tivesse opinião sobre o 7×1, a menos que você estivesse lá. Segundo sua ideia na hora da maior derrota, só “quem viveu” pode falar ou sofrer. Por que isso mudaria na hora de um texto bonito sobre a vitória de sua vida? Eu não “estava lá” nas glórias em campo, nem em Juazeiro no começo da carreira, mas como estamos falando de vitórias, aí então tudo bem, devo me sentir parte disso e aplaudir de pé? A regra do 7×1 também vale pra final da Champions, Dani, e não fui eu quem a criou. Foi você. Festeje seu sucesso sozinho.

A vida segue e ninguém será um novo Barbosa, nem eu quero que sejam – aparentemente a vida seguiu normal para todos eles. Mas ainda espero, quando abro um site, jornal ou ligo uma TV, que os presentes no 7×1 respeitem a dor de quem os defendeu até o último minuto. Ontem, domingo, foi a vez do Julio Cesar gargalhar na TV Globo dizendo que se houver uma brecha, ele tá aí para assumir de novo o gol da seleção. Disse também que pensou em abandonar a carreira e ouviu a família para seguir. Nenhum vestígio de preocupação em falar com o torcedor no tom devido, de débito. Falam “para”, mas não “com” a gente. Ou então sou eu que teimo em acreditar que um 7×1 e um 3×0 na fase final de uma Copa do Mundo em casa precisam ser tratados com uma solenidade diferente – nada contra os insolentes, mas certas coisas precisam dela.

A insolência de Dani Alves é divertida. Sua história, que já está escrita, é bela. Pena que fomos afastados dela quando foi conveniente a ele. Um texto bem acabado em um site internacional pesa mais, mesmo, que uma entrevista replicada no Uol, que, para sorte de muitos, quase ninguém mais lembra muito bem do que leu uma semana depois. Mas eu me lembro, Dani Alves, e não compro mais a sua briga.

Fonte: Central3

Vi esse texto aqui agora e achei que valia a pena trazer pra cá. Não tô dizendo que concordo (nem tô dizendo que discordo, vou me abster de valorar ele), mas fica aí como uma espécie de contraponto.

 

  • Diretor Geral
Postado
21 minutos atrás, Danut disse:

[...], devo me sentir parte disso e aplaudir de pé? [...]

Ué, mas quem falou que ele deveria? Hahahaha... que viagem. Eu vi o texto como um ato mt bonito do Daniel em expor sua trajetória, algo que até então eu pelo menos nunca tinha visto ele fazer.

Não vi (o texto) como um pedido pra que as pessoas esquecessem tudo de ruim que o Daniel viveu e fez os torcedores viver, em nenhum momento. Até porque a história do Daniel é de conhecimento público, ele não precisa esconder nada e nem tentar se desculpar de nada, mt menos pedir pra que comemorem com ele alguma coisa.

 

O autor do texto me parece uma viúva do Dunga, isso sim. Se sentiu ofendido, e aí é de cada um. Mas querer apregoar um texto como sinal de insolência do cara, aí já acho demais.

Postado
2 minutos atrás, Leho. disse:

O autor do texto me parece uma viúva do Dunga, isso sim.

HAHAHAHAHAHA! Tirou as palavras da minha boca, Léozito.

Postado

Iamin sendo Iamin. Adoro esse jeitão carrancudo e "não gosto de nada" dele, mesmo que eu discorde dele em algumas opiniões é um cara que muito bacana e mal humorado pra cacete nos textos dele hahaha Acho que o futebol moderno e cada vez mais frio de São Paulo destruiram os sentimentos dele HAHAHAHAH

Pra quem quiser conhecer mais do Iamin ele escreve o Blog, O periquitão na ESPNFC e ta metido em diversos podcasts da central3 (recomendo fortemente o "Meu time de botão") 

Postado

Iamin escreve bem demais mesmo e é uma leitura altamente recomendável, como o @Iagotta já falou aí.

E eu concordo com muitos pontos que ele levanta nesse texto aí sobre o Dani Alves, embora o texto dele - o atleta - tenha sido realmente um puta texto em muitos aspectos.

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