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Carlo Ancelotti: "A única coisa que um técnico não consegue controlar é o resultado"


Bruno Caetano.

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Carlo Ancelotti abre o jogo

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ESPN

É janeiro, e o treinador italiano de um time alemão armado com jogadores de nove países diferentes está sentado na varanda de um hotel suíço, no Catar, falando sobre seus clubes passados na França, Espanha e Inglaterra, além de coisas mais esotéricas, como o restaurante japonês que ele vai levar a equipe naquela noite, ou como fazer um salmão do Pacífico, ou ainda sobre os ursos que encontrou no Canadá

Globalização, né?

Esses ursos em particular, Coola e Grinder, pesam cerca de 1 tonelada juntos e vivem em Grouse Mountain, próximo a Vancouver, onde Carlo Ancelotti passou boa parte da temporada 2015-2016.

"Eles dormem no final do outono, em uma hibernação especial, e só acordam na primavera", diz Ancelotti. "Os seus metabolismos desaceleram, seus padrões diários mudam e eles apenas adormecem! E quando acordam novamente, viram a notícia de primeira página nos jornais locais!", completa, abismado, com a animação de um garotinho empolgadíssimo para falar sobre algo muito legal que aprendeu na escola naquele dia.

Quase lembra a cena do Tony Soprano alimentado patos.

Esse senso de admiração está muito vivo em Ancelotti, mesmo após quase 1.500 jogos como jogador e técnico. Isso ressurgiria várias vezes durante uma longa conversa em Doha, onde o Bayern estava treinando no inverno.

Às vezes, seu rosto se ilumina ao falar sobre os grandes jogadores que ele trabalhou ou viu, locais que ele visitou e pessoas que conheceu. E, certa vez, quando os 60 membros da expedição do Bayern (incluindo chefs, assistentes e segurança) passeavam pelo CT do time, a maravilha se materializava e logo se tornava melancólica.

"Eles estão se preparando para o jogo entre o pessoal desta tarde", diz ele. "Eu quero muito jogar. Mas não posso. Meus joelhos já eram. Totalmente destruídos."

Talvez esta tenha sido a única vez, em várias horas de conversa, em que Ancelotti ficou triste.

Guardiola

Ele substituiu talvez o treinador mais cobiçado no mundo futebolístico quando concordou em assumir o Bayern de Munique, uma pessoa que ganhou a Bundesliga três vezes em três temporadas.

Mas Pep Guardiola é mais que isso. Ele se encontra naquele seleto grupo de treinadores que não apenas produziu resultados, mas também recebeu o crédito de mudar o jogo e o nosso pensamento sobre ele. Parecido com o mentor de futebol de Ancelotti, Arrigo Sacchi, há 30 anos.

"Acho que, na verdade, é mais difícil vir para um clube em que tudo está bem e todos estão felizes", diz Ancelotti. "Quando você assume o lugar de alguém que foi demitido porque as coisas não estavam bem, é algo mais direto. Todos, desde os jogadores até os diretores do clube, esperam mudança. E é fundamental que você já entre fazendo mudanças. Além disso, as pessoas serão mais pacientes, pois reconstruir um time leva tempo".

"Então não é apenas substituir o Pep", ele acrescenta. "É saber o que mudar e ajustar. É uma questão de detalhes. E entender que você não necessariamente muda as coisas por achar que elas estão erradas ou você acha que elas podem ser melhoradas. Mas mudar os detalhes para ajustar-se ao seu método de trabalho. Não é fácil, pois este time já tinha uma identidade muito clara com o Pep."

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Mesmo para uma pessoa como Ancelotti - instruído no jogo de pressão de Sacchi, mas também o arquiteto de uma parte do Milan campeão da Champions League com jogadores como Andrea Pirlo, Rui Costa e Clarence Seedorf (e, portanto, não averso ao jogo de posse de bola) -, identificar e executar as mudanças não tem sido um trabalho rápido.

É como um piloto cuja equipe montou um carro quase perfeito. Quando for o momento de substituí-lo, será preciso saber quais as alterações precisam ser feitas para se adaptar ao novo piloto em termos de estilo, tamanho e preferências, mas sem desacelerar demais o carro.

"A principal mudança é que pressionemos um pouco mais, intermitentemente, e tentemos jogar de maneira mais direta e vertical," diz Ancelotti. "Está demorando um pouco, mas me sinto encorajado pela reação dos jogadores. Acho que o desafio de ganhar de uma nova maneira e com uma nova abordagem os está motivando. Eles receberam isso muito bem."

Sacchi treinou Ancelotti quanto aos caminhos onde existe um jogo de pressão, e ele venceu duas Champions League dessa forma. Mas deve ser estranho ver tantos lados, principalmente na Alemanha, pressionando com tanta intensidade, muito semelhante ao que Guardiola fez com o Bayern no ano passado.

"Veja, esse sistema de defesa é excelente, mas não é algo que você pode fazer por 90 minutos, eu acho", diz ele. "Eu acredito que só vale a pena fazer isso quando você está na posição certa para fazê-lo, caso contrário, você estará vulnerável, e a defesa, fora de posição. E, na verdade, hoje é muito mais difícil de fazer do que no passado, devido à regra de jogo ter mudado. Você não pode confiar na linha de impedimento como você fazia antes."

De alguma forma, Guardiola está enfrentando desafios semelhantes no Manchester City. Em 22 jogos da Premier League, ele já sofreu 5 derrotas, tantas quanto ele enfrentou em suas 66 primeiras partidas no Bayern.

"Mas ele tem diferentes jogadores agora, e as pessoas por vezes subestimam o que isso significa", diz Ancelotti. "Qualquer problema que ele possa ter, eu penso que decorre da adaptação de trabalhar com pessoas com as quais ele nunca trabalhou antes. Fazê-los entender e aceitar a maneira como ele pensa e chegar ao ponto onde eles possam se beneficiar de forma completa de sua abordagem... Isso leva tempo."

"Acho que esse é muito mais do que um problema que ele terá que enfrentar para se adaptar à Premier League", ele acrescenta. "Para se beneficiar de Guardiola, os jogadores têm de se adaptar a ele. E é a mesma coisa para mim aqui no Bayern. Os jogadores têm de se habituar a mim e isso tem, por vezes, um preço. Quando me lembro dos objetivos que tivemos de abrir mão nesse meio tempo... por que, isso é suficiente para te deixar louco."

Conte

Ancelotti não compra a ideia que o futebol inglês é algum tipo de animal raro, que requer um longo período de adaptação. Os números asseguram o seu argumento: dos seis técnicos estrangeiros que ganharam a Premier League, quatro - incluindo Ancelotti -- o fizeram em sua primeira temporada completa no novo cargo.

O técnico no topo da Premier League agora, Antonio Conte, também é um estreante. Alguns técnicos, obviamente, se adaptam mais facilmente que outros. Mas, sempre, se trata de os jogadores se acostumarem com o novo chefe, e não o contrário.

Dito isso, quando você voltar a pensar no que Guardiola disse após a derrota do Manchester City em dezembro em Leicester - "A coisa principal no futebol inglês está em controlar a segunda bola. Sem isso, você não sobreviverá" -, você se pergunta se é tão simples assim. A segunda bola se torna de uma importância crucial quando uma equipe decide pressionar, principalmente quando eles fazem isso tanto quanto os que estão ao lado de Guardiola.

"A fórmula para vencer a pressão é simples, é a execução dela que é difícil", explica Ancelotti. "Se você tiver a qualidade para fazê-lo, você terá sucesso. E se você não o fizer, apenas chute para a rede. E então ele se torna um jogo de ganhar 'segundas bolas'. Os clubes ingleses, certamente, escreveram as regras disso, têm a mentalidade e a capacidade de ir e ganhar as segundas bolas."

Guardiola ocupou as manchetes, recentemente, quando disse que ele tem uma maior satisfação no desempenho do que nos resultados.

Tática, técnica

"O resultado é uma coisa vazia; o resultado é que estou feliz pelos próximos dois dias, recebo menos críticas e mais tempo para melhorar o meu time", disse à NBC Sports. "Mas o que mais me satisfaz no meu trabalho é sentir emoção com a maneira com que jogamos... o processo é tudo."

Esta é uma afirmação que não deixa dúvidas de onde ele se encontra no espectro de técnicos que valorizam resultados mais do que a forma como eles foram alcançados.

Ancelotti concorda.

"Sim, ele está certo", diz. "E vou ainda mais longe. A única coisa que um técnico não consegue controlar é o resultado. Quando se trata de nossos clubes, quando você chega a um certo nível, nós possuímos controle, quase que total. Mas este é um esporte imprevisível; é um esporte de baixa pontuação, onde lances individuais têm uma influência imensa. E um técnico não tem como controlar isso. Existem técnicos bons e ruins, certamente, mas ninguém pode controlar o imprevisível. Tudo o que você pode fazer é dar a si mesmo uma melhor chance de sucesso e que o faça por meio de bom trabalho e desempenho. Evidentemente, bons desempenhos são correlacionados com bons resultados, mas apenas a longo prazo, não em um mês de jogos e, por vezes, nem em uma temporada."

Ancelotti sabe bem sobre tudo isso. Ele perdeu um título italiano na Juventus quando o seu time foi derrotado por uma equipe que não tinha nada a mostrar, no meio de um temporal, no último dia da temporada. Ele perdeu ainda outro na temporada seguinte quando Edwin Van der Sar não segurou o chute de Hidetoshi Nakata, permitindo à Roma empatar um jogo "ganho".

E então, evidentemente, houve a derrota do Milan em 2005 para o Liverpool em Istambul. Ele escreveu em sua biografia que, das quatro finais da Champions League em que ele participou, aquela foi, de longe, a melhor performance da sua equipe. E ela terminou com corações partidos, naquela que foi a maior reviravolta da história.

Isso funciona bem da forma inversa também. Se Sergio Ramos salta uma fração de segundo mais cedo ou mais tarde ou meia polegada para qualquer dos lados, então não existiria nenhuma "La Décima" para o Real Madrid em 2013-2014. E se a bandeira do auxiliar não ficasse abaixada no Manchester United em 2009-2010, Ancelotti não ganharia a Premier League pelo Chelsea.

"Essa é a ironia, porém, não é?" diz ele. "Como técnico, você é avaliado em termos de resultados e não sobre o trabalho que você faz e o desempenho da sua equipe. Imagine pagar a um sujeito uma enorme quantidade de dinheiro e depois não lhe julgar sobre as coisas que ele pode controlar, mas sobre aquelas que ele não pode."

Ancelotti é muito claro sobre o fato de que os técnicos ganham o seu salário sobre o treino no campo e, uma vez que os jogadores já não estão ali, está fora das suas mãos. Você lembra do Arqueiro em "Sobre as Crianças," um poema de Khalil Gibran: Você pode apontar o mais estável dos arcos, mas uma vez que você deixa a flecha ir, ele está fora de suas mãos.

"O fato é que, em dias de jogo, há muito pouco que um técnico possa fazer", diz Ancelotti. "Você faz o seu trabalho durante a semana. Mesmo antes de um jogo, pode haver ainda algo a ser dito. Como fazer uma leitura do jogo e aplicar alguns ajustes... Eu não sei ao certo. Primeiro de tudo é que você não consegue ver bem o jogo ali do banco. Quando eu assisto ao replay do jogo, posso perceber várias coisas que não conseguia ver durante a partida, por que ali estava em uma posição diferente. E mesmo assim, várias mudanças que o técnico vai fazer fazem parte do senso comum, reproduzindo as porcentagens. Ou coisas que você já tinha planejado à frente, com base em situações de jogo.".

Quando um técnico pode fazer a diferença é na preparação da equipe, dar táticas a serem usadas e uma identidade futebolística. A herança de Ancelotti veio dos preceitos de Guardiola, que envolvem geralmente a organização tática e o posicionamento na defesa e meio-campo e maior liberdade na terceira parte do campo, como explicado por Thierry Henry, que jogou para Guardiola no Barcelona.

"Não há dúvida de que Guardiola dá muita liberdade para os jogadores no ataque," diz Ancelotti. "Isso é algo que estou tentando manter. A diferença talvez seja quando não temos a bola e na criação."

É uma filosofia levemente diferente daquela defendida por seu compatriota Conte. O técnico do Chelsea declarou que, falando do ponto de vista de alguém que foi um volante durão, os esquemas táticos ajudam os medianos. A razão: esse tipo de jogador não precisa pensar muito, ele sabe onde o companheiro vai estar e, por isso, não se atrapalha. Assim pode ter mais tempo e energia para controlar e passar a bola.

"Acho que é verdade, mas vale para a defesa e o meio-campo," diz Ancelotti. "Essas são áreas onde você pode trabalhar o esquema e confiar em táticas e repetição, por que geralmente temos uma vantagem numérica nessas partes do campo. Por isso, se o time está organizado, até um jogador comum pode jogar bem, por que ele vai ter opções e vai saber onde estão e como encontrar os companheiros. Mas, na última parte do campo, tudo muda. É quando você precisa da criatividade e da liberdade. Sem elas, só vai conseguir uma posse de bola inútil. Especialmente se a defesa adversária estiver organizada e atenta."

Na terceira parte, na hora de criar e finalizar, o talento nato cria coisas inesperadas. E isso fura os esquemas. Esse é o conselho que Ancelotti daria para si mesmo quando jovem, se pudesse.

Egos

"Acho que sou muito mais pragmático e flexível hoje do que era no passado," diz. "Antes de me fixar em uma certa filosofia, fui muito influenciado por Sacchi e pensava que sua versão do 4-4-2 era a fórmula vencedora. Quando estava no Parma, o clube quase contratou Roberto Baggio. Eu vetei, por que ele não se encaixava no meu esquema. Hoje eu sei que não existe uma fórmula vencedora. Existem várias. Se um clube me trouxer um Roberto Baggio hoje, pode acreditar que eu vou encontrar um lugar para ele no time."

De fato, Baggio marcou 23 gols na temporada 1997-1998 pelo Bologna, enquanto Ancelotti caiu no fim do ano. Baggio foi vetado por que queria jogar no meio e ter a titularidade garantida. Ancelotti aprende rápido. No seu seguinte emprego, na Juventus, se deparou com Zinedine Zidane, que também queria jogar pelo meio e nem cogitava ficar no banco. E assim fez o treinador.

Independentemente da forma que escolhe para trabalhar, uma qualidade torna as coisas muito mais fáceis para o treinador: impor respeito. Não importa como. Sir Alex Ferguson dizia que era importante para o treinador ter o maior salário do clube, porque isso mostrava que a diretoria o valorizava.

"Não acho que hoje seja concebível que um técnico ganhe mais do que os jogadores," diz Ancelotti. "E talvez isso seja o certo. A verdade é que os jogadores são mais importantes que o técnico. As pessoas não vêm assistir ao Bayern por minha causa, vêm ver [Robert] Lewandowski ou [Arturo] Vidal ou simplesmente vêm porque são torcedores e este é o clube deles."

Temos a impressão que, como a maioria dos jogadores dos clubes grandes são todos milionários, muitas vezes eles não se importam com os salários, fora aqueles que chamamos de mercenários. Mas não é o caso.

"Claro que os jogadores sabem quanto ganham e quanto ganham os companheiros", diz Ancelotti. "Muitos deles usam isso como medida. Não é coincidência que muitos clubes sejam cautelosos com isso, fazem tudo para evitar diferenças e desequilíbrios. Às vezes, é fácil, é normal que [Cristiano] Ronaldo ou [Lionel] Messi ganhem mais do que outros que não são Ronaldo ou Messi. O problema acontece em outras situações. Como manter o equilíbrio?".

Atualmente, os jogadores de futebol vivem em uma outra realidade. Um contrato pode garantir o futuro de várias gerações. Mesmo assim, ainda existe orgulho e amor à camisa. Eles nasceram para competir.

"[Motivar] os jogadores nunca foi um problema para mim, especialmente nos tipos de clubes que treinei," diz Ancelotti. "Caras como Xabi Alonso e Pepe, só para citar alguns, querem ganhar de todo jeito, então eles nunca estão satisfeitos, nunca se acomodam e sempre querem mais."

Ronaldo

Ancelotti afirmou que Cristiano Ronaldo tinha uma fome insaciável

"Obviamente, o maior exemplo disso é o (Cristiano) Ronaldo", ele completa. "A fome dele nunca acaba. Me disseram que ele já era assim antes de eu chegar ao Real Madrid. Mas você não percebe o quanto ele é dedicado até trabalhar com ele. Ele é muito profissional e dá o máximo como todo mundo faz lá. Cuida de cada detalhe, da dieta ao repouso, para que tudo esteja perfeito. Quando lembro dos meus tempos de jogador, não dá para comparar. Os jogadores de hoje, no geral, são muito mais profissionais. Mas o Ronaldo está em outro nível."

Bayern

A chegada ao Bayern significou a descoberta de vários novos jogadores, já que, fora Xabi Alonso, ninguém do elenco havia sido treinado por Ancelotti. Ouvir o italiano falando de seus atletas com os olhos arregalados é como ouvir a um garoto que ainda está empolgado com seu presente de Natal no fim de janeiro, por que ainda está descobrindo novas formas de brincar.

"Para mim, [David Alaba] é um excelente zagueiro", diz. "Mesmo não jogando sempre por ali, ele tem todas as condições de fazer isso. Ele é excelente no 'bote', quando os zagueiros ficam esperando os adversários chegarem com a bola dominada, Além disso, sabe fazer a defesa ativa, quando você avança, recua e se posiciona, dependendo da situação. A maioria dos jogadores se dá melhor com uma das duas coisas. Ele não. É excelente nas duas;"

Ancelotti encontrou um "time novo" no Bayern

Outro destaque é Philipp Lahm, com 33 anos e quase 750 jogos oficiais pelo clube e pela seleção. Algumas pessoas acham que o Bayern deve começar a planejar o futuro sem ele, mas não é essa a opinião do treinador.

"Lahm não está em fim de carreira", bradou Ancelotti, levantando um pouco a voz. "Não mesmo. Acho que o que acontece quando os jogadores ficam mais velhos é que o grande número de jogos pode trazer problemas em termos de consistência. Por isso, a ênfase fica na qualidade e não na quantidade. Talvez ele só jogue alguns jogos, as decisões, onde ele pode fazer a diferença. Ou talvez em algumas partidas ele jogue no meio-campo e não na lateral, uma posição que não exige tanto do físico. Mas não tenho dúvida de que ele pode jogar em alto nível por muito tempo."

Ancelotti deve ter visto mais de 1 mil jogadores em sua carreira de jogador e treinador. Depois de 40 anos no futebol, você já não espera surpresas, não espera atletas que sejam muito diferentes. Mas ele encontrou Thomas Muller.

"Ele é diferente por que é um grande atacante com um conjunto de habilidades totalmente heterodoxas", diz Ancelotti. "Esperamos que um atacante seja ótimo fisicamente, com técnica e criatividade. Esse não é o seu forte, ele é ótimo taticamente. Ele sabe ler o jogo e tem a capacidade de estar no lugar certo na hora certa. Geralmente não associamos esse tipo de inteligência tática aos atacantes, certamente não a esse nível. Às vezes, vemos isso em zagueiros e meio-campistas. Mas, nos atacantes, é muito raro."

"Quando um técnico vê que um novato tem essas qualidades táticas, ele geralmente coloca o garoto na defesa ou no meio-campo, por que ali essas qualidades são mais importantes", diz. "Com o Muller, acho que isso nunca aconteceu. Ele jogava lá na frente e ficou por lá."

E isso abre um potencial ainda não explorado. A questão é saber como utilizá-lo melhor.

O reposicionamento de Müller foi questionado

"Eu sei que isso é um clichê, mas ele pode mesmo jogar em qualquer posição", diz Ancelotti. "Muller vai fazer do jeito dele e vai reinventar a posição. Engraçado, me criticaram na Alemanha por ter colocado ele para jogar aberto. A imprensa disse 'Ah, ele não é um ponta!'. Sério? Eu não sou idiota. Sei que ele não vai ser um ponta tipo Arjen Robben ou Douglas Costa. Nem vou pedir para ele imitar um dos dois. O que ele pode fazer é usar sua inteligência para encontrar o posicionamento correto no gramado, caindo pela ponta. Isso cria espaços e ajuda o time."

É óbvio que Ancelotti gosta de Muller, que, depois de uma Euro-2016 ruim, começou a temporada 2016-2017 sem brilho, com apenas quatro gols em todas as competições até agora. Neste mesmo período do ano passado, ele tinha 21 gols. Mas seu técnico não liga.

"Não estou preocupado", garante. "Ele é muito forte mentalmente. É um vencedor, nunca fica deprimido, está sempre positivo e confiante no que faz. E sabe rir de si mesmo também."

Muller é apenas um dos jogadores que pode determinar se Ancelotti terá sucesso no Bayern. O recorde doméstico de três títulos da Bundesliga obtido por Guardiola no mesmo número de anos não pode ser melhorado, apenas igualado. O grande objetivo, no entanto, é a Champions League, assim como era no Real Madrid.

Nenhum treinador venceu mais vezes e, mesmo assim, se você prestou atenção no que escrevemos antes, sabe que Ancelotti é o primeiro a reconhecer que nenhum técnico, por melhor que seja, pode garantir resultados. Ainda mais em uma competição eliminatória.

A única certeza é que Ancelotti vai se divertir tentando. Pois poucos seres são tão felizes no seu trabalho e na sua rotina. Como Coola e Grinder na webcam.

Gabriele Marcotti é repórter e analista do ESPN FC. Edição de Antônio Strini. O texto original, em inglês, pode ser lido em "Carlo Ancelotti talks Bayern, Ronaldo, player egos and ... bears".

Você vê que ele é um cara que ama o futebol. O Ancelotti me parece ser um gestor de grupo muito bom, absolutamente positivo e ligado no bem estar do elenco. Gostei da entrevista, vale a pena ler.

  • Bruno Caetano. tirou o destaque deste tópico

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