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A longa e esburacada estrada de Clough e Taylor


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Parceria entre o treinador e seu auxiliar durou 16 anos, por quatro clubes diferentes. Relação quase fraternal uniu a dupla que fez história no futebol inglês, mas rusgas e diferenças pessoais não impediram o rompimento da parceria em 1982.

Certas personalidades se completam de alguma forma. Um mandão e arrogante se encaixa perfeitamente em um outro ser que seja calmo, conciliador e ponderado em tudo que faz. Foi assim que Brian Clough e Peter Taylor se conheceram, se aproximaram, brigaram, reataram a amizade e eventualmente cortaram relações em definitivo, nos últimos anos de suas vidas. Mas até que chegasse a este ponto, muitas taças e façanhas foram alcançadas pelo técnico e seu auxiliar.

Tudo começou em 1965, quando Peter, já experiente, treinava o Burton Albion, que não disputava nenhuma competição profissional na época. Clough recebeu um convite para treinar o Hartlepool United e se tornaria o mais jovem treinador da Inglaterra naquele momento, aos 30 anos. Aposentado desde 1964, após lesões graves no joelho, Brian deixou para trás um futuro promissor como atleta, arrasado pelos problemas médicos. Contudo, seu histórico como técnico superou as melhores lembranças que teve dentro das quatro linhas.

Quando chegou o convite para Brian, ele sabia que não estava pronto para embarcar na viagem sozinho. Dirigiu então até Burton para trazer Peter à sua comissão. O Hartlepool estava em estado de calamidade e sem dinheiro para nada. Por esta razão, Clough dirigiu o ônibus com o elenco nos primeiros meses e ainda fez campanhas beneficentes em bares para arrecadar dinheiro e assim reformular o clube, abandonado na quarta divisão. O presidente da equipe, Ernest Ord, chegou a se revoltar com os desmandos e mudanças radicais da dupla, demitindo ambos no primeiro ano. No entanto, como a diretoria enxergava um processo de recuperação, houve um golpe interno que derrubou o mandatário e devolveu os dois aos seus respectivos empregos.

Em 1967, Clough e Taylor lideraram o modesto time até a oitava colocação da Liga, passando muito perto do acesso. Conseguiram tirar o Hartlepool da lama com uma restruturação adequada, economizando dinheiro e trazendo as peças certas. Eles deixaram a cidade após esta campanha para assinar com o Derby County, que estava na segunda divisão. A melhora foi tamanha no Hartlepool, que em 1968 eles conseguiram o acesso, demonstrando o que ficou como legado da dupla.

Da lama à glória

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O Derby County também precisava de novos ares. Apesar da primeira campanha de Clough e Taylor ter sido ruim, em 1967-68, o clube alvinegro comandado por Sam Longson atravessou anos dourados quando se reinventou. Clough disse algumas vezes que precisou demitir até mesmo a senhora que fazia o chá para os diretores e ria após as goleadas sofridas pelos Rams. A ordem só seria restaurada se começassem tudo do zero.

Com um passo por vez, o Derby foi se fortalecendo e em 1969 conseguiu o acesso à elite. Tinha outra cara e novos craques para fazer uma boa campanha e se manter entre os principais concorrentes do país. Em 1972, foram campeões ingleses e arrancaram até as semifinais da Copa dos Campeões Europeus, perdendo partidas polêmicas para a Juventus. As declarações de Brian e as brigas compradas por desobedecer Longson chegaram ao limite algumas vezes, em virtude das posições pouco convencionais de Clough na imprensa. Em certo ponto, a ira do treinador se voltou até mesmo contra a torcida, a quem ele chamava de quieta e omissa.

A passagem foi encerrada em outubro de 1973 após o pedido de demissão da dupla. Uma proposta salarial interessante do Brighton, na terceira divisão, tirou Clough e Taylor dos Rams. Os dois queriam alguma tranquilidade para trabalhar, o que se provou como um erro meses mais tarde, com o fracasso absoluto do projeto. Brian deixou o clube menos de um ano depois da chegada e não foi acompanhado por Peter na passagem pelo Leeds United, considerado o maior inferno na carreira do lendário comandante.

Campeão inglês em 1972, Clough já tinha fama considerável e era dono de frases provocativas, críticas ferrenhas a seus opositores e até mesmo ofensas desnecessárias a jogadores e treinadores do país. Detestava publicamente o técnico Don Revie, que levou o Leeds ao título inglês em 1973, acusando-o de “promover um jogo sujo, violento, desleal e covarde” e dizendo que os Whites não eram campeões justos. O clima para Brian, isolado nos vestiários, foi terrível. Sem o apoio do plantel, por motivos óbvios, ele durou apenas 44 dias em Elland Road, só para ser demitido e sair com o dinheiro da rescisão para seguir sua carreira. Peter, que estava adaptado ao Brighton, preferiu ficar até 1976 na equipe litorânea, sem o sonhado acesso. Diziam que ele não funcionava sem Brian e o oposto também se aplicava. Pura verdade.

Os anos finais

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A primeira briga da dupla foi ainda no Derby, pouco antes da demissão dos dois. Brian havia aceitado um aumento salarial proposto por Longson, sem a ciência de Taylor, que continuou ganhando a mesma coisa. Antes de Clough seguir para o Leeds, em 1974, Peter se recusou a continuar a parceria e assumiu o cargo que era de Brian. Não que ele se importasse, já que tinha outros desafios e interesses em mente. Deixaram de se falar por um semestre, até que o desempregado Clough tentou reparar a situação indo até o amigo. A passagem é retratada no filme “Maldito Futebol Clube” (The Damned United), de 2009.

No início de 1975, Clough pegou a bucha de treinar o Nottingham Forest, rival do Derby County. Peter se juntou a ele apenas em julho de 1976, antes da disputa da segunda divisão de 1976-77. Sozinho, Cloughie conseguiu apenas um oitavo lugar. Unido novamente com seu fiel escudeiro, foi muito além: subiu para a primeira divisão com o terceiro lugar em 77, arrancou até o título inglês em 1978 e para a conquista inédita e fascinante da Copa dos Campeões em 1979 e 80, destronando o Liverpool de Kenny Dalglish, que era o terror da Europa naquela época.

A rusga

Em 1982, após nove títulos juntos, Clough e Taylor seguiram caminhos diferentes. Dois anos antes, Peter resolveu fazer uma autobiografia e retratar a sua relação com Brian, sem o conhecimento do amigo. Os dois se desentenderam, mas continuaram a trabalhar sem grandes problemas. Taylor se aposentou por seis meses em 1982, no que seria o fim da dupla dinâmica. O problema é que em novembro daquele ano, o Derby County anunciou um novo técnico para tentar sair do inferno da segunda divisão, tão pouco tempo depois de beijar duas vezes a taça de campeão nacional: justamente Peter.

Rivais novamente, os dois ainda mantinham uma relação amigável até que uma transferência jogou a pá de cal na história entre eles. E o pivô foi o atacante John Robertson, um dos pilares do Forest campeão de tudo. Em 1983, Peter contratou o escocês sem a permissão de Brian, o que iniciou uma série de declarações inflamadas entre eles. Antes, em harmonia, Clough afirmava que jamais seria bem sucedido sem Peter. E ele não estava errado. O tom de agradecimento mudou do respeito para o ódio quando Robertson virou a casaca para jogar no Derby. Eles nunca mais se falaram depois disso, incluindo as ocasiões em que Brian chamou o ex-amigo de “cobra traiçoeira e silenciosa.” Houve momentos em que a raiva ficou tão evidente que Clough disse publicamente que se visse Peter com o carro quebrado à beira da estrada, pedindo carona, preferiria passar por cima dele ao invés de ajudar.

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A amizade nunca mais foi restaurada e Peter morreu em 1990. Brian compareceu ao funeral e se disse muito chateado pela perda. Sozinho novamente, pelo Forest, conquistou apenas a Copa da Liga Inglesa em 1989 e 90, já sem o mesmo prestígio de antes e corroído pelos efeitos do alcoolismo. Se aposentou em 1993, após o rebaixamento dos Reds para a segunda divisão, arrependido com a forma que as coisas transcorreram e saudoso por Peter, seu amigo de longa data. Brian faleceu em 2004, vítima de um câncer no estômago, em decorrência de seus péssimos hábitos com a bebida.

Taylor virou nome de setor de arquibancada na casa dos Rams, enquanto Clough deu nome a uma via que liga Derby a Nottingham, além de uma linha de bonde que cruza a cidade-lar do Forest. O Derby prestou uma homenagem em 2010 ao inaugurar uma estátua dos dois segurando uma taça na frente do estádio Pride Park. Pelo menos nessa escultura, os grandes amigos se acertaram e ficarão eternamente abraçados um ao outro, junto ao troféu do título inglês de 1972 pelo time alvinegro.

Todo Futebol

A maioria dos que viram "The Damned United" tem a impressão de que Pete e Brian foram amigos até o fim, mas bem, seria bonito se tivesse sido dessa maneira. Também é curioso o fato do Nigel Clough estar dirigindo o Burton, que foi a primeira equipe que o Pete Taylor dirigiu.

Deixo também o trailer de I Believe in Miracles, um documentário sobre a guinada do Nottingham Forrest de Clough e Taylor:
 

 

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