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Sérgio Vieira, técnico da Ferroviária: “No Brasil, o estudo do futebol não é tão profundo”

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Por Bruno Bonsanti

Há um aspecto em particular que aproxima Sérgio Vieira, técnico da Ferroviária, de José Mourinho e André Villas-Boas, além do óbvio fato de serem todos portugueses. Eles têm pouca ou nenhuma experiência como jogador de futebol profissional de alto nível, mas compensaram essa deficiência com muito estudo e observação. Adquiriram um conhecimento que Vieira leva para o clube de Araraquara, uma das sensações do Campeonato Paulista.

LEIA MAIS: Torcedores da Ferroviária agradecem técnico e artilheiro em carta por volta à 1ª divisão paulista

A Ferroviária lidera o grupo do São Paulo no estadual, mas, acima de tudo, teve grandes apresentações contra os campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil. Na Fonte Luminosa, deu um calor no Corinthians, que conseguiu o empate apenas no final do segundo tempo. O técnico Tite rasgou elogios ao adversário. No domingo seguinte, dominou o Palmeiras, em pleno Allianz Parque, e impôs uma derrota que quase decretou o fim da passagem de Marcelo Oliveira pelo clube paulistano.

Ainda é cedo para saber se Sérgio Vieira se tornará um grande técnico, como outros portugueses que treinam clubes relevantes na Europa (além de Mourinho e Villas-Boas, e dos treinadores do Campeonato Português, Nuno Espírito Santo, Vítor Pereira, Marco Silva, Fernando Santos, Leonardo Jardim, Paulo Sousa, entre outros), mas não será por falta de estudo. “Isso foi fruto de um desenvolvimento do conhecimento no futebol de Portugal. Hoje em dia, há centenas de livros em Portugal, literatura sobre futebol, sobre conceitos de jogo e treinos”, afirma, em entrevista exclusiva à Trivela. “Futebol é uma ciência como qualquer outra, como engenharia, medicina e mecânica, e também temos que dominar todas suas áreas complexas”.

Aos 21 anos, um centroavante que não conseguia passar de times de terceira divisão desistiu da carreira de futebol profissional e se dedicou a aprender os conceitos necessários para virar treinador. Coletou dez anos de vivências nos vestiários de clubes portugueses como Braga e Sporting, como auxiliar técnico, e em 2014, quando estava visitando o Brasil, aceitou o convite para trabalhar no Atlético Paranaense.

Ainda está descobrindo os pormenores do ofício de treinador no Brasil, que envolvem pré-temporadas curtas, desorganização, pouco intervalo entre as partidas, um risco iminente de demissão e pouca valorização do estudo. “Eu sei que aqui o estudo do futebol não é tão profundo. Isso se vê no número de livros que se faz sobre conceitos de jogo. É muito, muito mais reduzido do que existe em Portugal”, explica.

Esse é o trunfo que Vieira tem na manga para marcar história no futebol brasileiro. No momento em que os grandes do país apostam cada vez mais em técnicos estrangeiros, ele quer ser um dos primeiros a conquistar uma série de títulos por aqui. E ambicioso, por que não treinar a seleção brasileira um dia? “Existem diferentes situações de sonho, mas com a mesma intensidade. Por exemplo, treinar a seleção brasileira. Treinar um grande clube brasileiro para conquistar um Campeonato Brasileiro e uma Copa do Brasil no mesmo ano, por exemplo”, espera.

Como foi essa trajetória de jogador de divisões inferiores para treinador?

Desde os meus 12 anos até os 22, eu joguei nas categorias de base do Braga e do clube da minha terra local, onde o nível competitivo máximo que eu joguei era o equivalente à terceira divisão. Com 21 para 22 anos, comecei a estudar e tirei minha licenciatura de treinador esportivo de alto rendimento. A partir daí, foram começando situações. Comecei a trabalhar na liga portuguesa, depois na Academia de Coimbra, no Sporting de Braga, no Sporting de Lisboa. Trabalhei durante dez anos no futebol profissional, em diferentes competições. Até chegar aqui, como técnico. Em 2014, vim ficar um mês no Brasil, conhecendo melhor a cultura do futebol brasileiro, os clubes, diferentes cidades e equipes. Recebi um convite do Atlético Paranaense e foi assim que ingressei no futebol brasileiro.

Assim como você, Mourinho e Villas-Boas também tiveram pouca experiência como jogador de alto nível. Por que alguns técnicos portugueses tem esse perfil?

Isso é pura coincidência. Existem outros técnicos portugueses no futebol profissional da Europa que foram jogadores de alto nível. O Nuno Espírito Santo foi um grande goleiro do Porto. Temos o Paulo Sousa, que foi um grande volante do Borussia Dortmund e da Juventus. Existem algumas exceções, mas, realmente, nessas citações, coincide de não termos sido jogadores de elite. Assim como existem (exemplos) em níveis internacionais. Van Gaal não foi um jogador de elite. Não acho que ser um grande jogador é um fator predominante.

Qual tipo de experiência você acha que perdeu por não ter sido um grande jogador?

Considero muito importante as vivências que um jogador vive dentro do vestiário. Foi algo que vivi também, mas não como jogador, como auxiliar na elite portuguesa. Trabalhei no mais alto nível, com jogadores de seleção brasileira, argentina, chilena, peruana, russa, portuguesa. Diferentes tipos de jogadores. Trabalhei na Champions League e na Liga Europa. Essas vivências que tive durante cerca de dez anos são importantes para passarmos por situações que nos deixem preparados para ser um grande técnico. Se um jogador já as vive durante um período da sua carreira, se está atento a essas situações, e aprende com elas, logicamente é muito importante. Existem também exemplos de jogadores que foram grandes jogadores e depois não deram grandes técnicos. Depende da capacidade mental, inteligência, capacidade de liderança, conhecimento que se tem acerca do jogo, preparação que se tem como técnico, e não apenas o fato de ter sido um grande jogador.

Muitos treinadores brasileiros gostariam de trabalhar na Europa, mas você fez o caminho inverso. Por quê?

Acima de tudo, pelo histórico, o fato de um estrangeiro, um gringo, dificilmente ter sucesso no Brasil. A maior parte é de treinadores locais. É uma marca histórica que quero deixar. Um técnico português que tenha sucesso e conquiste tudo aqui. O Mourinho ganhou diferentes competições em diferentes países. É algo diferente, algo que fica marcado na história.

Você passou por alguma dificuldade por ser estrangeiro?

Passei dificuldades normais que qualquer cidadão brasileiro passa. Faz parte. Em qualquer lugar do mundo tem coisas boas e ruins. Mas nenhuma pelo fato de ser português.

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Sérgio Vieira sendo apresentado na Ferroviária

Acha que se tiver sucesso no Brasil pode abrir as portas do futebol daqui para outros técnicos portugueses?

Os treinadores portugueses saem para trabalhar na Europa e no resto do mundo. Alguns têm sucesso e outros nem tanto. Não é o país, nem a nacionalidade, que diz se alguém vai ter sucesso ou não. De Portugal, pela formação, pelo conhecimento que existe, saem pessoas competentes. Sabemos que isso depende da capacidade de cada um, dos seres humanos. Cada ser humano é diferente. Acho que certamente haverá bons técnicos no Brasil também. Cada situação tem que ser avaliada de forma diferente, não por vir de um determinado país.

Por que existem tantos técnicos portugueses bons no futebol europeu?

Ainda temos o Marco Silva, no Olympiakos, o Vítor Pereira, no Fenerbahçe. Isso foi fruto de um desenvolvimento do conhecimento no futebol de Portugal. Hoje em dia, há centenas de livros em Portugal, literatura sobre futebol, sobre conceitos de jogo e treinos. Isso já foi implementado e já foi desenvolvido na cultura portuguesa durante muitos anos. E vem se desenvolvendo de forma mais profunda. Futebol é uma ciência como qualquer outra, como engenharia, medicina e mecânica, e também temos que dominar todas suas áreas complexas. Isso foi sendo desenvolvido em Portugal ao longo do tempo. As pessoas que estudam futebol, e estudaram nas últimas décadas, estão muito mais preparadas para ter sucesso.

Acha que aqui no Brasil também dão essa importância para o estudo do futebol?

Eu sei que aqui o estudo do futebol não é tão profundo. Isso se vê no número de livros que se faz sobre conceitos de jogo. É muito, muito mais reduzido do que existe em Portugal. Naturalmente, isso é um grande indicativo.

Qual é a principal diferença entre lá e aqui?

É bastante diferente. Aqui, por exemplo, o tempo que se tem para trabalhar uma equipe dificulta. Fizemos a primeira rodada do Paulista em 30 de janeiro, com quatro semanas de trabalho. Nunca, na Europa, nas minhas experiências, tive uma pré-temporada que tivesse menos que cinco ou seis semanas. E muitas vezes, ou quase sempre, com 50%, 60% do elenco da temporada anterior. Tem-se um elenco totalmente novo, principalmente com equipes que disputam estaduais. E existem outras (dificuldades) do ponto de vista da organização das competições. Já tive duas rodadas seguidas com poucas horas de recuperação.

Você já deve ter percebido que demitir treinador é muito mais comum aqui no Brasil do que na Europa.

(Risos) Esse é um fator muito grave, algo muito grave. Não ter tempo e ser cobrado pelos resultados. Os treinadores também têm que avaliar e ter estratégia para que (o trabalho) seja mais rápido que o normal. Tem a ver com a escolha do elenco, com perfil bom, e também com estratégias didáticas e pedagógicas e de comunicação, para que o tempo de aprendizagem seja menor que o normal.

Qual que é a sua filosofia de jogo e quais conceitos dela tenta implementar na Ferroviária?

De forma muito geral, e não muito detalhada, acima de tudo eu gosto que minhas equipes tenham o domínio do jogo, o controle da bola. A bola é uma das coisas mais importantes que existem no jogo de futebol. Se minhas equipes tiverem a capacidade de tê-la na maior parte do jogo, nós mandamos nele. Controlando o jogo, controlamos qualquer situação que aconteça. Gosto que minha equipe seja ofensiva e crie situações de gol, ao mesmo tempo em que mantenha um certo equilíbrio, que não perca a bola e sofra contra-ataques. Temos que reagir à perda da bola e rapidamente recuperá-la. Gosto que minha equipe seja organizada, muito competitiva, agressiva sobre a zona da bola, para ganhá-la rapidamente, e que joguem muito compactas.

Eu ia perguntar qual a sua referência de treinador no futebol mundial, mas parece que é o Guardiola, né?

(Risos). Sem dúvida. Não apenas o Guardiola. O Mourinho também. Lembro-me do Porto dele, que dominava muito os encontros. A própria primeira passagem do Mourinho pelo Chelsea tinha uma equipe assim. Nos últimos anos, o Barcelona e o Bayern de Munique foram equipes que se destacaram. O Simeone é um excelente técnico. O próprio Van Gaal também. Mas Mourinho e Guardiola são minhas maiores referências.

Guardiola é considerado um dos técnicos mais inventivos e criativos. O que ele tem de diferente?

Não o conhecendo pessoalmente, mas lendo e vendo, tem a ver com o que ele é como pessoa, como ser humano. A forma de se comunicar, de se relacionar com os atletas, com todas as pessoas que trabalham diariamente e contribuem para o rendimento da equipe. A forma como prepara a sua equipe, a inteligência que ele tem e a capacidade de criar uma dinâmica coletiva.

E no Brasil, qual seu técnico favorito?

Eu não conheço muito profundamente. Como digo sempre, pela forma como as equipes jogam, o Corinthians da temporada passada e o Tite. É um técnico que deve chamar a atenção. Uma equipe que ganhou e deixou uma marca de conquistas, mas também de organização. Nesse sentido, é uma referência.

O Tite falou que a Ferroviária é uma equipe bem organizada, de alto nível, intensa. Você também foi muito elogiado por ter encurralado o Palmeiras no Allianz Parque.

É uma consequência normal, natural. Não influencia em nada minha forma de pensar, minha carreira como técnico. É natural que aconteça porque é fruto do trabalho. Nós nem sempre temos momentos positivos porque futebol é um processo. Precisa estar constantemente estimulado. À medida que o tempo passa, os jogos, as competições, as experiências e as pessoas ainda poderão avaliar muito mais o meu trabalho.

Qual que é o segredo para enfrentar times muito mais ricos de igual para igual?

Tudo aquilo que trabalhamos, tudo que consegui implementar desde o começo da temporada, tudo que fomos trabalhando, um grande alerta mental, conseguimos colocar quase tudo dentro do gramado. Existem jogos contra equipes menores, médias, o jogador, que é um ser humano, não tem o mesmo foco. Isso é um grande desafio dos líderes e dos treinadores. Fazer com que os jogadores estejam sempre em estado de alerta mental. Nesses jogos, eles colocaram tudo que trabalhamos em campo. Tivemos mais posse de bola que o Corinthians e o Palmeiras.

Quais os seus planos para o futuro?

Eu quero treinar uma equipe grande, que queira vencer títulos, cujo objetivo seja vencer uma Copa do Brasil, um Brasileirão. Deixar um legado de conquistas. E que o projeto seja bem estruturado. Não adianta nada treinar um time da Série A que não tenha organização, ambição de conquistas. Quero sentir que nosso objetivo é conquistar o título.

Chegou a receber alguma sondagem nesse sentido?

Essa fase é prematura. Começamos a competição há pouco tempo. É muito difícil avaliar o trabalho de um técnico em pouco tempo. Por isso, acredito que naturalmente, à medida que vou mostrando meu trabalho, as coisas vão acontecer.

Você esperava que o Atlético Paranaense entrasse em contato com você depois de demitir Cristóvão Borges?

De forma alguma. O Atlético Paranaense tem projetos bem estruturados. Sabemos, como disse o diretor de futebol Paulo Carneiro, que não projetariam um caminho de sucesso prejudicando o caminho que a Ferroviária está fazendo. É realmente muito importante para um clube histórico como a Ferroviária. Não estamos nem no meio desse caminho, ainda falta muito. Não fazia sentido nem da minha parte e nem da parte do Atlético Paranaense romper esse ciclo. O Atlético tomou sua decisão, trouxe o Paulo Autuori, excelente técnico, com muito currículo, e acredito que o caminho do Atlético também será construído.

Qual seria seu emprego dos sonhos?

Existem diferentes situações de sonho, mas com a mesma intensidade. Por exemplo, treinar um grande clube no Brasil. Treinar a seleção brasileira. Treinar um grande clube da Europa ou uma grande seleção da Europa. Essas quatro situações são de sonho, desde que seja para conquistar títulos. Treinar um grande clube brasileiro para conquistar um Campeonato Brasileiro e uma Copa do Brasil no mesmo ano, por exemplo. Na Europa, muitas vezes o Barcelona e outras equipes conseguem vencer o campeonato local, a copa, a supercopa e a competição da Uefa. A situação de sonho é essa.

@Trivela

"[Ser um grande técnico] depende da capacidade mental, inteligência, capacidade de liderança, conhecimento que se tem acerca do jogo, preparação que se tem como técnico, e não apenas o fato de ter sido um grande jogador." Ele domina o que diz, e consegue apontar os erros do nosso futebol, com respeito a falta de preparação física, desorganização tática, planejamento inexistente e etc. Por mais fácil que seja criticar o nosso futebol pós 7-1, vi que não desdém do país onde trabalha. Se ele realmente quer crescer aqui - e dá demonstrações públicas disso -, desejo sorte a ele, pois parece ser um bom profissional.

Vale a pena dar uma boa lida nessa entrevista.

  • Diretor Geral
Postado

Impressionante como o modus operandi do Guardiola acabou viralizando no mundo do futebol, hahahahaha... posse de bola, dominar o adversário, enfim.

Eu fiquei sabendo desse cara quando a Ferroviária meteu a porcada na roda em pleno Allianz Parque e fizeram uma matéria sobre a gestão do clube e a parceria com o CAP — algo mt interessante por sinal. A partir daí ele ganhou mais destaque dentro do próprio estado de SP, e tenho certeza de que vão incomodar MUITO o São Paulo já nas quartas-de-final do estadual.

Não sei nem se o SP passa desse time, hahahaha!

 

p.s: baita entrevista.

Postado
1 hora atrás, Bruno Caetano. disse:

“Eu sei que aqui o estudo do futebol não é tão profundo. Isso se vê no número de livros que se faz sobre conceitos de jogo. É muito, muito mais reduzido do que existe em Portugal”, explica.

Só entrar em qualquer livraria que dá pra perceber que a literatura sobre futebol ou outros esportes no Brasil é bastante baseada em clubismo, saudosismo e mais elementos não tão ricos como em outros países. Não tenho nenhum interesse em conhecer os "10 maiores jogadores da Portuguesa", ler a biografia do Pelé ou algo assim.

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Postado

Eu acho ele um técnico extremamente interessante, até por ter um perfil deferente do "mais do mesmo" que temos por aqui.

Realmente faz uma falta gigantesca, para jogadores e treinadores, não ter o conhecimento teórico do jogo, não estudar as coisas relativas ao jogo mais a fundo. Talvez fosse até uma boa, para os clubes ditos Grandes aqui do Brasil investir nessa formação... enviar treinadores de Base para esses cursos ou os clubes se unirem para trazer esses cursos PADRÃO UEFA para cá.

Também acho que se houvessem faculdades com um curso de "Ciência do Futebol" com uma grade bem montada, já faria uma puta diferença.

Futebol no Brasil sempre foi visto como uma ciência oculta, cheia de "causos", mistérios, mandingas... conhecimento empírico, que nos dias de hoje se tornou extremamente obsoleto.

Postado
2 horas atrás, Marco.Oliveira disse:

Também acho que se houvessem faculdades com um curso de "Ciência do Futebol" com uma grade bem montada, já faria uma puta diferença.

Futebol no Brasil sempre foi visto como uma ciência oculta, cheia de "causos", mistérios, mandingas... conhecimento empírico, que nos dias de hoje se tornou extremamente obsoleto.

 

Não existe uma graduação em "Ciências do Futebol", mas existe "Ciências do Esporte". É o mesmo tipo de graduação que existe em Portugal e é um bacharelado (formado não pode dar aula, impede que vire um prof. de Educação Física). Sei que existe há um tempo na UEL e há pouco tempo na UNICAMP. Nesta, há alguns laboratórios em que os alunos podem estudar a fundo e se especializarem num determinado esporte. Ainda é pouca coisa, mas já é um começo.

Postado

Baita entrevista. É daquele tipo de comparações, como a de Leonardo do PSG, que já viveu dos dois lados e sabe como é diferente e atrasado o futebol por aqui.

Sobre o estudo do futebol por aqui, é muito pelo o que ele falou. Eu, sinceramente, nunca vi (Seja na internet ou pessoalmente) um livro de conceitos futebolísticos. Só consigo ler algo sobre táticas em sites, os quais são muito poucos.

Torcendo pelo sucesso do portuga.

Postado

Entrevista muito boa. Precisamos de mais técnicos assim, poucos no Brasil tentam coisas diferentes, de cabeça lembro só dele, do Tite e do próprio Jorginho, que mudou completamente o padrão de jogo do Vasco e disse que está sempre estudando o futebol europeu.

Postado
9 horas atrás, Marco.Oliveira disse:

Eu acho ele um técnico extremamente interessante, até por ter um perfil deferente do "mais do mesmo" que temos por aqui.

Realmente faz uma falta gigantesca, para jogadores e treinadores, não ter o conhecimento teórico do jogo, não estudar as coisas relativas ao jogo mais a fundo. Talvez fosse até uma boa, para os clubes ditos Grandes aqui do Brasil investir nessa formação... enviar treinadores de Base para esses cursos ou os clubes se unirem para trazer esses cursos PADRÃO UEFA para cá.

Também acho que se houvessem faculdades com um curso de "Ciência do Futebol" com uma grade bem montada, já faria uma puta diferença.

Futebol no Brasil sempre foi visto como uma ciência oculta, cheia de "causos", mistérios, mandingas... conhecimento empírico, que nos dias de hoje se tornou extremamente obsoleto.

 

6 horas atrás, Giovannivm disse:

 

Não existe uma graduação em "Ciências do Futebol", mas existe "Ciências do Esporte". É o mesmo tipo de graduação que existe em Portugal e é um bacharelado (formado não pode dar aula, impede que vire um prof. de Educação Física). Sei que existe há um tempo na UEL e há pouco tempo na UNICAMP. Nesta, há alguns laboratórios em que os alunos podem estudar a fundo e se especializarem num determinado esporte. Ainda é pouca coisa, mas já é um começo.

Há esse curso de graduação também na USP - Bacharelado em Esporte. Sei que segue o mesmo caminho da UEL (embora eu não conheça a grade da UEL, só da USP, por estudar lá) e, pelo que sei, na UNICAMP é um pouquinho diferente. Tinha algo nesse sentido também na EACH, mas acho que acabou. Inclusive pelo que ouvi falar parece que o curso na UEL tá acabando.

O ponto acho que não é nem a existência do curso, visto que como o Giovanni disse, existe essa graduação aqui nos mesmos moldes de Portugal. Acho que a diferença é mesmo esse "carinho" que se dá pra pesquisa e pro estudo. Quem aqui você vê pesquisando e estudando mais a fundo a modalidade (na real, as modalidades, não só o futebol)? É complicado. Não se preza pelo conhecimento aqui. Lá fora é diferente. Além de graduação, há esse investimento e "carinho" maior com o conhecimento, por isso existe tanta literatura lá, como o Sérgio Vieira fala na entrevista. Tanto que muita gente sai daqui pra ir estudar mais lá, seja ainda durante a graduação ou depois. O Bruno Pivetti, hoje no Atlético Paranaense, e que escreveu um ótimo livro para a área, sobre periodização tática, foi até a fonte aprender mais sobre o assunto, por exemplo.

 

18 minutos atrás, Galford Strife disse:

Entrevista muito boa. Precisamos de mais técnicos assim, poucos no Brasil tentam coisas diferentes, de cabeça lembro só dele, do Tite e do próprio Jorginho, que mudou completamente o padrão de jogo do Vasco e disse que está sempre estudando o futebol europeu.

São poucos, mas tem mais do que só Tite e Jorginho. O problema é que essa galera dificilmente recebe chance. O conhecimento é mal visto aqui. As pessoas, em especial as mais velhas, experientes e consolidadas na área, tem medo do 'novo', tem medo de abrir espaço pra gente nova com idéias novas e irem pro limbo porque não se atualizam. São raros os exemplos de gente que decide se mexer pra se atualizar. Muricy PARECE ter feito isso, Zago depois da passagem frustrada pelo Palmeiras foi pra Itália fazer os cursos da UEFA, o próprio Tite depois daquela primeira passagem pelo Corinthians... Mas no geral os caras não se atualizam e "brecam" a galera mais nova que busca o conhecimento. Mas tem muita gente nas categorias de base - infelizmente esse pessoal só vem ganhando chances por ali - bem competente e estudiosa. Mas falta isso: chance. Falta a mentalidade de quem manda no futebol brasileiro mudar.

  • Vice-Presidente
Postado

Universidades na Inglaterra oferecem cursos dedicados para quem quer trabalhar com futebol, seja para ser preparador, treinador de goleiros, trabalhar na área, física, gestão esportiva e até para virar manager. Aqui, existem poucos cursos de Ciências do Esporte e pelo que o Bigode disse, pelo visto já estão acabando. Aí você vê o porque do estudo não ser tão profundo por aqui, simples, não se valoriza e o mercado é fechado e o país não está nem aí pra que se estude coisas básicas, quem dirá algo mais "supérfluo" como o futebol.

Postado
12 horas atrás, Bigode. disse:

Há esse curso de graduação também na USP - Bacharelado em Esporte. Sei que segue o mesmo caminho da UEL (embora eu não conheça a grade da UEL, só da USP, por estudar lá) e, pelo que sei, na UNICAMP é um pouquinho diferente. Tinha algo nesse sentido também na EACH, mas acho que acabou. Inclusive pelo que ouvi falar parece que o curso na UEL tá acabando.

O ponto acho que não é nem a existência do curso, visto que como o Giovanni disse, existe essa graduação aqui nos mesmos moldes de Portugal. Acho que a diferença é mesmo esse "carinho" que se dá pra pesquisa e pro estudo. Quem aqui você vê pesquisando e estudando mais a fundo a modalidade (na real, as modalidades, não só o futebol)? É complicado. Não se preza pelo conhecimento aqui. Lá fora é diferente. Além de graduação, há esse investimento e "carinho" maior com o conhecimento, por isso existe tanta literatura lá, como o Sérgio Vieira fala na entrevista. Tanto que muita gente sai daqui pra ir estudar mais lá, seja ainda durante a graduação ou depois. O Bruno Pivetti, hoje no Atlético Paranaense, e que escreveu um ótimo livro para a área, sobre periodização tática, foi até a fonte aprender mais sobre o assunto, por exemplo.

 

Busquei para dar uma olhada nas emendas da UEL, USP e UNICAMP. Como não sou da área (sou de exatas) não posso analisar a fundo, mas a impressão que fica é que, na UEL, há um foco maior nos fundamentos de cada esporte, enquanto USP e UNICAMP tem mais matérias voltadas para a biologia/anatomia do esporte e também disciplinas de outras humanidades, como microeconomia na USP e Políticas Públicas em Esporte na UNICAMP. Nenhuma delas tem (e acho que nem deveria ter) um estudo profundo num esporte, ou algo de uma função específica, como preparador de goleiros ou algo no tipo. Isso o aluno tem que buscar por conta.

 

Posso dizer bastante do curso na UNICAMP, porque fica no mesmo campus em que estudei. O grande problema do curso é que tem muita gente lá caindo de paraquedas, sem saber o que quer da vida. Geralmente são pessoas que queriam entrar em educação física, e acabando indo pra CE como segunda opção. Essas pessoas, quase que inevitavelmente, vão virar instrutores em academias, porque não podem lecionar. Nada contra quem segue esse caminho, porém não é o esperado, já que um cientista do esporte deveria ser alguém que estuda e trabalha com o esporte de alto rendimento. As pessoas que chegam no curso já tendo esse entendimento geralmente conseguem ir para grandes centros. Sei de várias pessoas que hoje trabalham na base dos grandes clubes (a maioria como preparadores físicos, é um começo). Também sei de pessoas que hoje trabalham no backstage de Confederações, como CBV e CBB.

 

Pra quem quiser se inteirar mais da ideia pedagógica que norteia o estudo do futebol na UNICAMP, o grande nome é o Prof. Dr. Alcides Scaglia, que até pouco tempo atrás escrevia para o site Universidade do Futebol. Ele trabalhava naquele Paulínia FC que se destacou na Copa SP em 2011 e revelou nomes como Gabriel (hoje Palmeiras) e Fabinho (Mônaco). Ele tem linhas de pesquisa excelentes, que se dedicam a desenvolver métodos de treinamento desportivo baseado em situações de jogo. Em outras palavras, treinar algo igual ao que o jogador vai enfrentar em campo, o que criará uma inteligência tática nos jogadores. Já é um começo muito interessante.

 

Ok, empolguei, falei demais. Pronto. Hahaha

Postado
Em 11/03/2016 at 13:41, renato. disse:

Só entrar em qualquer livraria que dá pra perceber que a literatura sobre futebol ou outros esportes no Brasil é bastante baseada em clubismo, saudosismo e mais elementos não tão ricos como em outros países. Não tenho nenhum interesse em conhecer os "10 maiores jogadores da Portuguesa", ler a biografia do Pelé ou algo assim.

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Gosto desse tipo de leitura "romantizada" do futebol, mas também percebe-se a falta de material mais racional sobre aspectos do jogo. Me deu vontade até de catar algo lá de Portugal mesmo. 

Espero que esse gajo tenha sucesso aqui. 

Postado

 

  • 3 semanas atrás...
Postado

Dirigente brasileiro é uma peste mesmo, porra.

Queriam o que? Que ele fosse campeão paulista por acaso ? 

Postado

Essa demissão dele passou pela Maldição das matérias ou pela Zica do PT?

Postado

Se eu fosse técnico num clube brasileiro seria dum clube de média expressão, mas com boa estrutura. Caso do Sport ou da Ponte Preta. E tentaria fazer história por lá mesmo. 

Sei que tem cursos on-line para treinadores. E livros; Kierkendaal, Martins, Seda, Arruda são alguns.

Postado

A verdade foi que o ótimo inicio da Ferroviária no campeonato paulista iludiu os dirigentes que certamente ficaram a espera que o clube avançasse a próxima fase e conquistasse uma vaga na serie D. Como o time não conseguiu transformar suas boas exibições em vitórias e consequentemente não conseguiu se classificar para próxima fase, aconteceu a coisa mais comum do futebol brasileiro, ser demitido após uma sequencia de resultados ruins.

Acredito que o portuga não ficará muito tempo sem clube não, acho que merecia uma oportunidade em clubes da serie C ou B, vou ficar na torcida para que permaneça no brasil e cumpra suas expectativas de fazer história no futebol brasileiro.

Postado

Esses treinadores "sensação" acabam sofrendo com uma cobrança absurda. Lembro do Milton Mendes ano passado, que fizeram algumas matérias com ele por causa do bom momento do CAP. Acabou o bom momento e mandaram o cara para a rua, sem um pingo de paciência. 

Assim fica díficil acontecer renovação no futebol brasileiro.

Postado
1 hora atrás, vinny_dp disse:

Esses treinadores "sensação" acabam sofrendo com uma cobrança absurda. Lembro do Milton Mendes ano passado, que fizeram algumas matérias com ele por causa do bom momento do CAP. Acabou o bom momento e mandaram o cara para a rua, sem um pingo de paciência. 

Assim fica díficil acontecer renovação no futebol brasileiro.

 

Milton Mendes que também se projetou na Ferroviária, que ano passado fez uma campanha fantástica na A2 do Paulista. Outro que tem vivido isso também é o Léo Condé, que se destacou na Caldense.

 

E se puxarmos um pouco mais pra trás, podemos lembrar de Guto Ferreira, Osmar Loss, Doriva, Marquinhos Santos, Ney Franco, Enderson Moreira, entre tantos outros que fizeram um bom trabalho em um ambiente com menos pressão de resultados no curto prazo e acabaram se queimando quando assumiram um desafio maior e não tiveram a mesma paciência com eles.

Postado
8 minutos atrás, Giovannivm disse:

 

Milton Mendes que também se projetou na Ferroviária, que ano passado fez uma campanha fantástica na A2 do Paulista. Outro que tem vivido isso também é o Léo Condé, que se destacou na Caldense.

 

E se puxarmos um pouco mais pra trás, podemos lembrar de Guto Ferreira, Osmar Loss, Doriva, Marquinhos Santos, Ney Franco, Enderson Moreira, entre tantos outros que fizeram um bom trabalho em um ambiente com menos pressão de resultados no curto prazo e acabaram se queimando quando assumiram um desafio maior e não tiveram a mesma paciência com eles.

Léo Condé terminou os trabalhos normalmente,tanto na Caldense, quanto no Sampaio Corrêa. Agora no Bragantino que não sei...

 

  • Diretor Geral
Postado
7 horas atrás, Messias Götze disse:

[...] Como o time não conseguiu transformar suas boas exibições em vitórias e consequentemente não conseguiu se classificar para próxima fase, aconteceu a coisa mais comum do futebol brasileiro, ser demitido após uma sequencia de resultados ruins. [...]

O grande problema desse portuga foi ter caído no mesmo grupo do Audax, hahahaha que já vem de bons trabalhos no Paulistão faz uns 2 anos. Se a Ferrinha tivesse no grupo do Santos ou até no grupo do Palmeiras, tenho certeza de que teria mt mais chances de passar pras Quartas.

Eu não vi nenhum jogo da Ferroviária pra dizer mas, se esse cara realmente tiver qualidade e disposto a implementar coisas novas por aqui, já já ele acaba arrumando outro clube.

Postado
5 horas atrás, Rafael Pires D. disse:

Léo Condé terminou os trabalhos normalmente,tanto na Caldense, quanto no Sampaio Corrêa. Agora no Bragantino que não sei...

 

 

Pô, achei que ele tinha sido mandado embora do Sampaio Correa, mas vi agora que no fim do campeonato o time fez proposta e ele que não quis ficar. Vai ver ele achou que ia aparecer proposta de algum time da série A, e como não veio acabou topando o Bragantino, que apesar de jogar a A2 (terminou em 2o na fase corrida, agora é mata-mata) também joga a Série B e a Copa do Brasil. Ou talvez ele foi pra Bragança aproveitando a parceria do time com o Corinthians na esperança de que possa ser o sucessor do Tite. Vai saber...

Postado

Mto tosca essa demissão.

Postado

Aconteceu a coisa mais comum no futebol brasileiro, que o próprio treinador criticava.

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