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Amir Somoggi e o atraso criminoso dos clubes do futebol brasileiro…


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“Os balancetes do Corinthians, com Andrés presidente, eram mentirosos. Não eram recolhidos IR e INSS. Foi autuado pela Receita Federal. E ainda era tratado como modelo de gestão.” Amir Somoggi e o atraso criminoso dos clubes do futebol brasileiro…
http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/os-balancetes-do-corinthians-com-andres-presidente-eram-mentirosos-nao-eram-recolhidos-ir-e-inss-foi-autuado-pela-receita-federal-e-ainda-era-tratado-como-modelo-de-gestao-amir-somoggi-e-o-atr-06012016/
Cosme Rímoli

A cada ano, a preocupação de muitos torcedores brasileiros deixou de ser apenas quais as grandes contratações do seu clube. Misturando curiosidade e preocupação, já virou tradição a mesma pergunta. Quanto o meu clube deve?

Enquanto empresas tradicionais e geradoras de emprego são massacradas pela absurda tributação brasileira, dirigentes incompetentes, irresponsáveis e, algumas vezes, corruptos fazem a festa. Usam o dinheiro dos clubes que presidem sem preocupação.

Acobertados por governos populistas, todos os partidos são iguais, os dirigentes se esbaldam. Acumulam dívidas. Com raríssimas exceções fazem questão de manter o atraso. E a falta de transparência.

Desde 1998, quando a Lei Pelé obrigou os clubes a tornarem públicos seus balanços, é a mesma história. Dão provas de falta de seriedade e explicam porque o abismo entre os clubes brasileiros e os europeus. O problema vai muito além da recessão que engole o Brasil atual. O país já viveu momentos de euforia no início dos anos 2000 e mesmo assim, os clubes seguiam falidos.

Amir Somoggi é consultor e professor de marketing e gestão no esporte, especialista em marketing e gestão de clubes. Independente. É colunista do jornal Lance! Tem um blog excelente, didático, contundente. Explica, sem disfarce, o atraso dos nossos clubes em relação ao mundo civilizado.

Suas análises econômicas e mercadológicas são lições. Mostram caminhos a ser seguidos. Detalham o sucesso de clubes que são verdadeiras empresas na Europa. Há mais de 40 anos.

As comparações são vergonhosas. Perturbam quando são levadas a sério.

Muitas delas estão aqui nesta entrevista.

Quem deseja entender o criminoso atraso do futebol do Brasil, que preste atenção nas respostas de Somoggi.

E tente evitar a revolta diante do protecionismo, do paternalismo governamental...

Amir, como os nossos clubes são administrados? A legislação brasileira impôs algum modelo?

Cosme infelizmente nossos clubes são administrados como na década de 70 e 80. Ainda que estejam faturando R$ 200, R$ 300 milhões mantem o mesmo padrão político por conta dos estatutos e amador/apaixonado do ponto de vista de gestão.

O veto do clube-empresa do Profut que poderia mudar tudo e seria uma real possibilidade de transformar os clubes em empresas pagando apenas 5% de tributação sobre as receitas. Imagine, você empresário faturar R$ 300 milhões e só recolher 5%. Seria um sonho. E nenhum clube se quer se posicionou publicamente sobre isso.

Por que os clubes não acabam falindo, como qualquer empresa que tem dívida maior do que a receita?

Não falem porque são clubes, se fossem empresas já teriam fechado as portas com os números atuais.

Segundo meu último estudo sobre os 20 clubes com maiores receitas do Brasil embora as receitas estejam estagnadas desde 2012, as dívidas dos 20 clubes atingiram R$ 6,3 bilhões, um aumento de 16,8% em comparação com 2013. Nos últimos dois anos as dívidas cresceram 30%. Desde 2003 as dívidas aumentaram 528%, muito acima da inflação do período que foi de 99%.

Em 2014 os 20 clubes fecharam com o maior déficit da história, perdas de R$ 598 milhões. Uma piora de 43% em relação a 2013. Este foi o pior resultado financeiro da história do futebol brasileiro.

A situação é realmente grave, já que nos últimos 2 anos os 20 clubes somaram perdas de mais de R$ 1 bilhão, nos últimos 4 anos os déficits acumulados foram de R$ 2,4 bilhões e desde 2003 as perdas foram de R$ 3,1 bilhões.

Qual o grande problema, além da incompetência, da falta de pessoas especializadas no comando financeiro dos clubes? Qual o erro do modelo de gestão brasileira?

O grande erro é sistema político estabelecido nos estatutos. Vem presidente, sai presidente e os clubes não evoluem em termos de gestão. Qualquer eleição pode mudar tudo. Os estatutos e os conselhos deliberativos são os maiores responsáveis institucionais da atual situação.

Mas ninguém é mais responsável que o presidente eleito, um torcedor, que quer marcar história no clube, gasta tudo e deixa para o sucessor a conta. Este chega e faz o mesmo e assim caminha o futebol brasileiro. Faço uma ressalva para dois clubes que ainda que vivam o mesmo cenário político se tornaram bons exemplos de controle orçamentário. O Flamengo e o Atlético Paranaense.

Como deveria ser o organograma ideal dos clubes brasileiros? Como é o dos principais e mais ricos clubes europeus?

Os gigantes europeus são empresas como estrutura, mesmo aqueles que se mantém como clubes, como no caso de Real Madrid e Barcelona, que tem um sistema mais parecido com o nosso.

O presidente eleito e seus poucos vices, tem poder, mas toda a gestão fica a cargo de executivos, todos altamente capacitados.

Quais os modelos de gestão que você mais admira? Por quê?

Eu gosto de como Real e Barcelona, sem virarem empresas se mantém no topo, trabalhando muito bem suas marcas, faturando cada vez mais e de forma criativa, gastando muito com futebol mas com controle.

Outro que gosto muito é o alemão, em que o clube detém 50%+1% das ações. O Bayern é o maior exemplo, tem sócios minoritários como Adidas, Allianz e Audi, mas mantem o controle com o clube e seus sócios.

Esse é um ótimo modelo pois obriga o clube a mudar totalmente sua gestão e Governança para atrair investimento, sem perder o controle para um magnata russo ou árabe.

Quais as diferenças mais gritantes nas gestões dos clubes brasileiros em relação aos europeus?

O mais gritante é a falta total de planejamento estratégico e a baixa criatividade do marketing.

Falo há anos que o marketing esportivo no Brasil vive na era da pedra lascada.

O quanto o governo é paternalista no Brasil e tolerante com administrações irresponsáveis, corruptas? Essa postura não estimula a estagnação? Qual a ação do Estado nos clubes da Europa?

Sim totalmente esse Governo é o exemplo mais claro disso. Vejam o caso do patrocínio da Caixa. A empresa investe mais de R$ 100 milhões por ano nos clubes. Pelo viés do marketing 100% adequado, já que a Caixa fala com seu público alvo investindo no futebol. O problema é que esses clubes devem verdadeiras fortunas para o governo e recebem dinheiro, mesmo tendo sendo autuados pela Receita Federal como ocorreu com o Corinthians. Isso é uma aberração, O Profut presenteou os maus pagadores com descontos e mais descontos, ajudas e benesses. Os governos Lula e Dilma vem usando o futebol de forma sistemática pelos seus objetivos eleitorais.

Por que os dirigentes se negam a transformarem os clubes em empresas? O que mudaria se tivessem o capital aberto? A transparência, que os dirigentes não querem?

Mudaria tudo, empresas não podem fechar com R$ 100 milhões de prejuízo como SPFC e Corinthians encerraram 2014. Os sócios têm que aportar recursos para a sobrevivência das empresas e os executivos podem responder com seus bens.

No modelo clubistico os clubes usam os contratos de TV como garantia para antecipar recursos de orçamentos futuros, comprometendo a operação futura da entidade.

O quanto uma diretoria pode usufruir da falta de transparência na sua administração? Quando os balanços dos clubes passaram a ser confiáveis? Aliás, são confiáveis?

Poucos balanços seguem um padrão empresarial robusto. O Flamengo evoluiu muito, especialmente do que era. O Corinthians para mim é o maior exemplo de como é difícil ainda confiar nos balanços.

A gestão que tinha Andrés como presidente publicava mensalmente balancetes, anualmente relatórios de sustentabilidade, que na prática eram mentirosos.

O clube não recolhia Imposto de Renda e INSS dos salários dos jogadores e foi autuado pela Receita Federal o que fez uma dívida fiscal que apareceria no balanço e relatórios de R$ 54 milhões em 2012 no ano seguinte após a autuação saltou para R$ 169 milhões. E ainda era tratado como modelo de gestão. Não é nem nunca foi. O caos com sua arena prova isso.

No seu blog você acaba de esmiuçar os problemas do Vasco. O quanto o Eurico e o Dinamite podem ser responsabilizados pelo desastre econômico que o clube está mergulhado?

O Dinamite pegou um clube em frangalhos e iniciou uma gestão correta, novos números apareceram, portanto mais transparência, mas em pouco tempo o clube se afundou. O Vasco como escrevi é um gigante maltratado. O Eurico é muito culpado, mas o Dinamite tem muita responsabilidade, não só nos números mas com sua péssima gestão permitiu a volta do Eurico.

Como administrar clubes com dívidas gigantescas como Vasco, Botafogo e Flamengo e ainda ter de conseguir bons resultados no futebol? Por que o futebol carioca tem tanta dificuldade financeira, digamos, em relação a São Paulo?

As diferenças sempre foram uma questão de PIB. Mas o Flamengo sempre esteve junto dos paulistas.

O Flamengo se descolou dos demais cariocas. Hoje vem reduzindo suas dívidas, tem a maior recita do Brasil e é o único que tem superávits elevados.

A questão é que o Flamengo administrou mal o futebol, gasta menos que Corinthians, São Paulo e agora Palmeiras, mas não teve um projeto. O Cruzeiro foi campeão brasileiro em 2013 gastando R$ 150 milhões com futebol. Corinthians e São Paulo gastam mais de R$ 230 milhões por ano.

O Flamengo gastou R$ 180 milhões em 2014 com futebol. Poderia obter melhores resultados, é uma questão de erros na aplicação dos recursos.

Já Botafogo e Vasco com grandes dívidas precisam investir em suas marcas, aumentar receitas e alocar o máximo de recursos na base, se ficarem gastando com jogadores que ganham R$ 400 mil por mês não evoluirão.

Você pode, por favor, citar as dívidas dos principais clubes paulistas, cariocas, mineiros, gaúchos?

(Amir me passou um gráfico, detalhado.)

Dívidas em milhões de reais

Clubes Anos 2014 2013 2012 2011

1º) Botafogo 845,5 698,8 660,9 563,9

2º) Flamengo 697,9 757,4 803,7 355,5

3º) Vasco 596,4 571,8 430,0 422,6

4º) Atlético MG 486,6 438,4 414,5 367,6

5º) Fluminense 439,6 422,7 444,8 404,9

6º) Grêmio 383,1 282,0 187,2 198,9

7º) Santos 373,2 296,7 278,1 297,7

8º) São Paulo 341,0 250,7 273,4 158,5

9º) Palmeiras 332,7 311,8 324,5 240,5

10º) Corinthians 313,5 193,7 177,1 178,5

11º) Inter 280,4 229,3 215,4 197,4

12º) Cruzeiro 252,9 199,9 143,0 120,3

13º) Atlético PR 233,4 118,3 -- 4,1

14º) Bahia 216,0 167,8 61,2 58,4

15º) Coritiba 214,3 168,4 151,0 111,0

16º) Goiás 80,1 96,3 80,4 79,9

17º) Figueirense 65,3 56,8 37,3 27,0

18º) Sport 55,6 49,4 12,3 35,6

19º) Avaí 46,7 44,1 35,3 33,3

20º) Vitória 26,0 23,2 15,6 10,4

Muita gente acreditou que a medida provisória da Dilma, dando um prazo de vinte anos para os clubes pagarem suas dívidas, seria a salvação do futebol brasileiro. Li matérias suas e vi que você também não se iludiu. O que foi bom e o que faltou? Por que clubes como o Palmeiras não aceitaram essa facilidade?

Quem acompanha o futebol sabe que os clube tratam os impostos como recursos adicionais para serem usados. Na necessidade não pagam impostos, sempre foi assim.

São autuados e continuam operando. O Profut é mais uma ajuda, como tantos Refis e a Timemania.

Juristas comentam que é uma questão de tempo para vir o Profut2.

È mais uma ajuda de tantas outras que já surgiram. Enquanto isso no futebol alemão os times pagam 875 milhões de euros em impostos por ano. Em uma dpecada já pagaram 7 bilhões para o Governo.

E ainda querem me convencer que o certo é fazer uma lei tão frágil e com todas as características para dar errado. Chega a ser esquizofrênico, aplaudimos mesmo sabendo que não vai dar em nada.

Fiquei praticamente sozinho nessa briga. Fui o único 100% contrário a lei e sou contra. Há erros técnicos, não haverá punição esportiva e não resolverá os problemas.

Muitos defendem que foi o melhor que se podia fazer. Não cocordo para ser ruim é melhor não tê-la e que todos os clubes devedores sejam autudados pelos órgãos competentes.

Mas infelizmente o Brasil não é um país sério.

Políticos tão corruptos não fazem as gestões dos clubes seguirem tão atrasadas? Essa fragilidade econômica não é útil para os maquiavélicos?

O erro no Brasil, mesmo dos corrutos que deveriam estar na cadeia, é que querem usurpar tudo, mesmo que prejudique o país. Não tem a visão de crescer o bolo, mesmo que para ganhar mais na frente, roubando

Somos um dos países mais corruptos do mundo e nossos corruptos são os mais burros do planeta. Ou melhor a

Além da incompetência, corrupção, erro de gestão, a Lei Pelé é cúmplice que sangra financeiramente os clubes? Qual seria o modelo ideal para as equipes lucrarem com seus jogadores, escaparem dos agentes? Sem voltar a fazer dos jogadores escravos, como era na lei do passe?

Os clubes sempre se colocam como vítimas por culpa da força dos agentes. Desde o fim do passe o futebol se adaptou ao mercado de trabalho, afinal jogador não é escravo que tem dono.

O problema é que os clubes por debilidade financeira perceberam que vender pedaços de jogadores era um bom negocio e lucraram muito com isso. Hoje os empresários mandam nos clubes, sem eles não há futebol.

Se um clube quiser podem começar do zero e deter 100% dos direitos econômicos, mas um clube grande não consegue. Somos vítimas das decisões erradas de nossos cartolas.

Você ficou encantado com o modelo de gestão alemão. A comparação com o futebol brasileiro que fez para a Veja foi assustadora. Por quê? Qual a solução, lembrando que somos um país muito mais pobre...

A questão não é de riqueza mas sim de seriedade. Os alemães fizeram uma revolução investindo 1 bilhão de euros na base. De forma séria, com metodologia e sem roubalheira.

Aqui no mesmo período a CBF gastou mais de R$ 1,18 bilhão em salários e custos administrativos e apenas R$ 654 milhões com futebol e da pior maneira possível.

Os clubes aqui torram o que tem e não tem sem projeto, sem visão de logo prazo, sem recursos. Somos um mercado desregulado comandado com incompetentes.

Qual a sensação que você fica com a CBF milionária e os clubes, na sua maioria, tendo tanta dificuldade financeira? Não é algo muito errado? Como a Seleção Brasileira é afetada com essa situação tão oposta?

A CBF só faz o que faz porque tem apoio das 27 federações e 20 clubes da Série A. Com o Profut agora temos 40 clubes no colégio eleitoral. Não há mais desculpa. Não mudam por que não querem. Veja quem está prestes a virar o presidente da entidade o Coronel Nunes, uma cara sem a mínima condição de se quer ser vice.

Os clubes são os verdadeiros responsáveis.

Sobre a seleção suga todo o dinheiro do mercado, dinheiro que ficaria com os clubes. Só aqui a seleção fatura mais que seus grandes clubes. Isso é proposital, no dia que os gigantes brasileiros se libertarem das amarras da CBF seus ganhos podem se multiplicar muito e a CBF terá problemas.

Amir, não seria melhor adequar o calendário do Brasil ao europeu? Para excursões e janelas?

Eu gosto desse modelo o mundo não nos enxerga, os torcedores pelo mundo mal sabem quem são nossos clubes. Somos o pais da seleção e dos craques.

A fortaleza de um mercado de futebol depende da força de seus clubes e de sua principal competição domestica, a Série A no nosso caso.

Não adianta somente mudar o calendário tem que haver gestão e com foco no longo prazo.

Com a crise, as empresas fugiram do futebol. O quanto o marketing brasileiro é atrasado? O que poderia ser feito para render na sua plenitude, mesmo na recessão?

Temos que mudar nossos conceitos. Marketing esportivo é um mundo de oportunidades para empresas. Aqui ficamos reféns desse modelo arcaico a atrasado de colocar marcas nos uniformes e placas.

Marketing é relacionamento, vendas e comunicação. Aqui fazemos quase nada de comunicação. Somos muito fracos, e somos um dos maiores mercados de mídia e entretenimento do planeta. O maior depois da China entre os emergentes.

Qual o modelo de distribuição de cotas de transmissão de tevê você considera o mais justo? Há chance de Corinthians e Flamengo se 'espanholarem' ganhando muito a mais?

Se nada for feito sim. O melhor modelo é o americano que que todos recebem os valores de forma idêntica. Isso valoriza muito a competição.

Na sequência gosto do modelo inglês que quanto mais o contrato cresce menor fica a diferença entre os maiores e menores.

A falta de credibilidade afeta economicamente o futebol brasileiro? De que maneira?

O futebol brasileiro tem uma história linda, clubes centenários, milhões de torcedores e agora até novos estádios, “somente” não temos gestão e credibilidade.

Empresas sérias estão se afastando do futebol, outras não querem nem ouvir falar. Realmente sem credibilidade você não atrai grandes marcas, mas parece que nossos dirigentes não se importam com isso.

O Brasil desperdiçou a Copa do Mundo?

Sim, Cosme. Gastamos mais de R$ 8,5 bi em estádios, boa parte deles elefantes brancos. Agora até o Maracanã será devolvido.

Sempre defendi menos estádios com preços menores. Veja o Corinthians sofre para pagar uma arena de mais de R$ 1 bilhão. Se custasse R$ 400 milhões pagaria com facilidade somente com as rendas.

Já do ponto de vista do projeto foi uma vergonha. Obras superfaturadas, falta de pudor com o dinheiro público, e para piorar a gestão do evento inviabilizou que o país arrecadasse.

Os feriados decretados para fazerem as cidades funcionarem causaram u prejuízo superior a R$ 30 bi na economia brasileira. A Copa afundou o Brasil na recessão.

Os milhões de turistas e todos os seus gastos foram uma gota nesse oceano de incompetência e superfaturamento.

Como analisa o país ter feito a Copa mais cara de todos os tempos? Foi surpresa a acusação de corrupção, os superfaturamentos dos estádios? Qual a sensação que o domina quando pensa no Mané Garrincha, um elefante branco de R$ 2 bilhões? Como torná-lo lucrativo? Assim como as arenas de Manaus, Natal, Cuiabá?

Nenhuma surpresa eu venho alertando isso em artigos e estudos desde 2007. Mostrei todos os acertos dos que fizeram bem e dos que fizeram mal. Mas aqui os croticos são os pessimistas antipatrióticos.

O que mais me assusta é que mesmo assim com tantos avisos e esrudos sérios muita gente entrou na onda ufanista, inclusive empresas serias e respeitadas. Todo mundo surfando na onda.

E agora são os Jogos Olímpicos, mais bilhões gastos por políticos sem pudor algum com o trato do dinheiro público.

Anote aí Cosme, os dois megaeventos são muito responsáveis pela profunda crise que o Brasil atravessa e se a economia não voltar a crescer o déficit público é garantido.

O quanto as novas arenas podem representar para clubes como Palmeiras, Corinthians, Inter, Grêmio, Atlético?

A casa do clube é fundamental, do ponto de vista financeiro e também esportivo. Os clubes precisam entender que sua arena, mesmo não sendo de sua propriedade é um dos maiores alvancadores mercadológicos e esportivos de um time.

Mas para isso precisa de muito marketing, que falta a boa parte dos clubes citados.

Está correta a utilização pelos clubes do plano de sócio-torcedores?

Não uma sequencia de erros de marketing básico. O conceito de sócio torcedor nasceu errado no Brasil. Na Europa e EUA o conceito é lotar o estádio com os sócios, que são os donos da cadeira para a temporada. ( season ticket).

Com essa demanda controlada você cria um segundo escalão que seria o sócio torcedor, que poderá comprar os ingressos cm prioridade.

Veja o caso do Inter, há anos tem 100 mil sócios, mas sua média no antigo Beira Rio era baixíssima. Se o time vai bem lota, se vai mal fica com o estádio vazio.

O que faz um estádio ficar lotado é sua venda antecipada, qualquer mercado atua assim, menos o Brasil. Por isso estamos na era da pedra lascada.

O que o Barcelona fatura com seus sócios e season tickets em um estádio obsoleto como o Camp Nou supera R$ 200 milhões. A receita total do estádio supera R$ 730 milhões Todos os nossos clubes não chegam a R$ 700.

O que deveria ser feito nos próximos dez anos para os clubes se fortalecerem de verdade?

O único caminho é a união dos clubes e o rompimento em definitivo com a CBF. Essas são as minhas sugestões para mudarmos o futebol brasileiro:

Começar do zero, o único caminho! Repensar o futebol brasileiro em todas as suas dimensões em um projeto de reestruturação de longo prazo.

CBF deve ter seu investimento direcionado para o desenvolvimento do futebol brasileiro, especialmente na base da pirâmide, em projetos de fomento do futebol nas 5 regiões do Brasil.

Mudanças urgentes na CBF e uma nova mentalidade na gestão de cada clube, onde cada entidade entenda qual o seu papel para mudarmos o atual cenário de crise profunda.

A Liga Nacional- No médio prazo a solução para criação da Série A e Série B no Brasil em um novo ambiente com melhoras comerciais e principalmente de regulação do mercado.

A regulação efetiva da gestão dos clubes por uma Liga é o único caminho para construirmos um futebol brasileiro independente, comercialmente atrativo e nas mãos de quem realmente detém o poder econômico, os clubes de futebol do Brasil.

Daqui dez anos se os clubes forem sérios, as dívidas estarão pagas? O que mudaria na realidade dos clubes?

Um controle mais eficiente, tanto nas dividas quanto nos orçamentos permitiriam que os clubes investissem mais em sua atividade fim, o futebol.

A debilidade financeira dos clubes impede o desenvolvimento de longo prazo do nosso futebol, já que passam o ano tentando sobreviver e não antecipando tendências, desenvolvendo o ambiente de negócios, enfim criando condições efetivas para mudarmos de patamar.

Os clubes pagam R$ 20, 30, 40 milhões por ano em juros bancários para poderem operar. Se devessem menos teriam recursos para trazer grandes jogadores ou mantê-los no Brasil.

Por que muitos dirigentes de clubes insistem que dívidas não devem ser pagas?

Porque somos o país da impunidade. Se fossem presos por má gestão e principalmente fossem obrigados a usar seus bens, seguramente não ficavam devendo nenhum centavo.

Qual a fundamental diferença na maneira que Corinthians e Palmeiras pagarão suas arenas? Aparentemente, os palmeirenses acertaram. Concorda?

O Corinthians deu um passo maior que perna. O clube não tinha a mínima condição de arcar com esse ativo de mais de R$ 1 bilhão. O Palmeiras foi mais inteligente, não fica com o grosso do dinheiro (camarotes, shows, patrocínios) mas tem a bilheteria de seus jogos. O mesmo caso do Inter, Flamengo, Cruzeiro.

O Corinthians fatura alto com bilheteria, mas não pode usar os recursos, por isso vive esse drama que vai demorar para ser solucionado.

Como o futebol brasileiro estará daqui a dez anos se nada for mudado?

Estamos há anos cavando o fundo do poço. O 7x1 era uma chance efetiva de mudança e jogamos fora. A sociedade brasileira estava fragilizada e sua maior paixão destruída pela vergonha na Copa.

Há vontade dos dirigentes deste país em modernizar suas gestões? Até os corruptos?

Não creio, os dirigentes somente se preocupam com seus clubes não tem visão de todo.

E gestão do futebol brasileiro tem como característica ser conservadora, gerida por amadores e ineficiente.

Temos que mudar as pessoas se quisermos mudar o futebol brasileiro.

 

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