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Os recorrentes ataques de fúria de Pavel Nedved


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Ele sempre foi sinônimo de muita técnica, inteligência e habilidade em campo. Bem cotado como um dos melhores jogadores da Europa em seu auge por Lazio e Juventus, Pavel Nedved tinha por vezes um pequeno probleminha nos seus circuitos: esquentadinho, o tcheco somou episódios de descontrole e loucura durante a sua carreira.

É até difícil imaginar que um jogador tão frio tenha tido acessos de raiva, mas as várias expulsões e suspensões falam por si. Nedved lutou por muito tempo contra o seu lado tomado pela fúria e pagou o preço pelo conflito interno.

    

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Viajamos até 1991, quando o arisco meia ainda usava cabelos curtos, com a sua pinta de moleque indefeso. Pavel atuava pelo tradicional Dukla Praga, que já encarava os seus dias finais antes da extinção. Em décadas anteriores, a equipe foi a principal potência no país e teve o craque Josef Masopust em seu elenco. O meia foi eleito o melhor jogador da Europa em 1962.

Nedved tinha pouco em comum com Masopust, saudado como o ícone maior da pátria ao lado de Antonin Panenka. Dono de um perfil mais incansável, o rapaz nascido em Cheb tinha pulmões de ouro, era o retrato perfeito da nova era do futebol, um esporte exclusivo para atletas de alto desempenho.

Aos 20 anos, o garoto tímido e reservado ganhou espaço entre os titulares. Precisou terminar o serviço militar até poder se dedicar ao futebol. Mas o pavio curto logo deu sinais de que lhe traria problemas. As boas atuações chamaram a atenção do Sparta Praga, maior força na República Tcheca. Em 1992, já no novo clube, conseguiu a façanha de ser expulso três vezes em seis partidas.

    

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Como era visivelmente mais talentoso do que o normal, ganhava novas chances. Muito cedo ouviu de seus treinadores que precisava ter mais calma. Facilmente entrava no jogo psicológico de adversários e explodia. Essa acabou sendo uma tendência até o fim de sua trajetória como profissional. O estilo briguento compensava para o Sparta. O time venceu a penúltima liga da antiga Tchecoslováquia e depois as duas primeiras ligas da República Tcheca.

O camisa 4 era diferenciado. Se pegasse a bola e ficasse invocado, ganhava o jogo para o Sparta. E assim foi até 1996. Em seu terceiro ano integrando a seleção tcheca, Nedved disputou a Eurocopa, na Inglaterra. Marcou um gol na primeira fase e virou instantaneamente um alvo dos clubes grandes do continente. A seleção surpreendeu e foi até a final contra a Alemanha, perdendo na prorrogação.

Pavel deu sua palavra de que acertaria com o PSV e era esperado em Eindhoven para causar grande impacto. Mas a transferência nunca se concretizou e ele tomou mesmo os rumos da Lazio, onde viraria ídolo da torcida. O jogo intenso, quase violento, ganhou o coração dos laziali. Em Roma, Nedved ganhou alcunhas como ‘Fúria Tcheca’ e ‘Canhão Tcheco’. Sua arma? Saber chutar com força e precisão com os dois pés. As rotinas de treinamento pesadas na infância ensinaram o futebolista a ser mais versátil e letal com ambas as pernas.

A fúria tcheca

    

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De novembro de 1997 a abril de 1998, a forte Lazio de Nedved e Roberto Mancini encaixou uma brilhante sequência de 24 jogos sem perder na temporada. O sonho do scudetto foi por água abaixo diante da Juventus, na rodada 28, quando uma derrota por 1-0 frustrou as esperanças biancocelestes.

O tcheco sentiu demais o confronto e foi expulso de forma direta restando 15 minutos para o fim. A Lazio, que ainda vislumbrava chances de ser campeã, não venceu mais até o encerramento da competição e perdeu em seis das sete jornadas que fez. Na Copa Uefa, a campanha durou até a final, vencida pela Internazionale de Ronaldo e Zamorano por 3-0 no Parc des Princes.

O consolo foi mesmo o título da Copa da Itália, contra o Milan. Pelo segundo jogo da decisão, vitória confortável da Lazio por 3-1, gols de Gottardi, Jugovic e Nesta. Na temporada seguinte, os romanos levaram o caneco da Recopa Uefa, que realizava a sua última edição naquele ano. O triunfo veio em cima do Mallorca, com gol decisivo de Nedved.

Não precisava de mais nada para ser mais idolatrado pelos aquilotti. Pavel sabia fazer tudo em campo, era o regente de uma equipe consistente treinada por Sven-Goran Eriksson. Uma coisa que faltou para o elenco do sueco foi nervos de aço. Constantemente os adversários se aproveitavam para desestabilizar os laziali.



Veio o tão esperado título da Serie A em dobradinha com a Copa da Itália, em 1999-2000. Na virada para o novo milênio, a Lazio era o time a ser batido no seu país. O troco contra a Inter veio com a ajuda de Nedved, que marcou um dos gols da vitória por 2-1 em Roma. Simeone fez o outro e os romanos seguraram o 0-0 em Milão para ficar com a taça.

Nas quartas de final da Copa da Itália em 2000-01, o nervosismo ficou evidente. Contra a Udinese, a Lazio penou e levou de 4-1 no jogo de volta. O explosivo Mihajlovic foi expulso juntamente com Nedved e a equipe de Eriksson terminou a partida com apenas nove em campo, eliminada do torneio.

A solada

Pela Liga dos Campeões, os laziali duraram até a segunda fase. Terminando na lanterna da chave D, a agremiação italiana passou vergonha na Europa e ainda sobrou para Nedved, acusado de conduta antidesportiva pelo técnico do Leeds United, David O’Leary.

A reclamação do irlandês era que o tcheco entrou por cima da bola e quase quebrou a perna de Alan Maybury. O meia da Lazio de fato entrou de carrinho e deu uma solada no joelho do oponente, mas o juiz não viu e nada fez. Contudo, a Uefa mostrou rigor e puniu Pavel com três jogos de suspensão uma semana depois. Ele não jogaria a próxima temporada pela Lazio, já que a diretoria optou por vendê-lo à Juventus por 41 milhões de euros.

O maestro intempestivo da Juve

    

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A Juve venceu a batalha com Manchester United e Chelsea, investindo pesado no tcheco para 2001-02. O time bianconero montou uma verdadeira seleção para retomar o domínio da Itália. Como Zidane foi negociado com o Real Madrid, Nedved pareceu o substituto ideal. E foi, pergunte para qualquer juventino.

Logo de cara o elenco de Marcello Lippi venceu a Serie A e também chegou na final da Copa da Itália, caindo para o Parma. O sucesso foi renovado e a Juve foi bicampeã nacional, impulsionada pela onipresença de Pavel em campo. O camisa 11 foi crucial na trajetória da Liga dos Campeões, mas suspenso por ter tomado três cartões amarelos, perdeu de disputar a final contra o Milan. Nos pênaltis, os rossoneri ficaram com a taça.

A questão é que Nedved se encontrou muito feliz em Turim durante seu casamento com a Juventus. A partir de 2005, contudo, o atleta viveu um inferno astral. Se lesionou com certa gravidade e considerou se aposentar, já que não conseguia se recuperar plenamente. Tentando priorizar a saúde, o tcheco ganhou nova motivação com a Copa do Mundo em 2006. A República Tcheca decepcionou e Nedved se machucou durante treinamentos. O fiasco não passou da primeira fase. Dois anos antes, na Eurocopa, o capitão também perdeu a reta final do torneio por problemas musculares. Os tchecos foram eliminados pela zebra Grécia nas semifinais.

 

A situação piorou quando durante o Mundial de 2006, a Juventus foi rebaixada por envolvimento no Calciopoli, o escândalo de manipulação de resultados que ainda tirou pontos de Milan, Fiorentina e Lazio, cassando os dois últimos títulos nacionais dos juventinos, herdados pela Internazionale. Mas desta vez, a saída para Nedved não foi fugir, e sim encarar de frente e mostrar personalidade para devolver a Juve à elite. Del Piero, Trezeguet e Buffon também ficaram no elenco para jogar a Serie B, o pior momento da história da equipe turinense.

Durante a segunda divisão, um duelo com o Genoa foi traumático para Nedved. O meia discutiu com o juiz e protestou após ser expulso. Após xingamentos e mais gestos ríspidos, Pavel pisou no pé do árbitro. A Federação italiana determinou cinco jogos de gancho, para a irritação do camisa 11, que ameaçou novamente se aposentar, aos 33 anos.

    

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Tudo deu certo para os comandados de Didier Deschamps e a Juve estava de volta à primeira divisão. Em novembro de 2007, o clássico contra a Inter trouxe mais problemas para Pavel. Uma disputa de bola com Figo terminou mal para o português, que levou um carrinho e quebrou a fíbula, tendo de se submeter a uma cirurgia delicada.

Nedved se defendeu dizendo que chegou atrasado e não tinha intenção de machucar o oponente e que isso não fazia dele um jogador violento.

“Eu sei que minha combatividade e minha determinação podem me levar a certos exageros em campo e até a reclamações efusivas com os árbitros. Mas garanto que não sou um jogador que acerta um rival para parar a jogada ou alguém que tem a intenção de causar uma lesão”, disse em entrevista coletiva o tcheco.

O feitiço do Canhão Tcheco durou apenas mais uma temporada. Cansado e planejando ficar mais perto de sua família, o futebolista encerrou seu ciclo aos 35 anos em 2008-09, justamente contra a Lazio, que lhe abriu as portas na Itália, pela última rodada da Serie A. Homenageado pela torcida e pelo treinador Ciro Ferrara, Nedved se despedia depois de 507 jogos e 110 gols pela liga italiana, somando as passagens por Lazio e Juve.

Não há alguém parecido com ele hoje em dia. Com a sua aposentadoria, ficou uma lacuna a ser preenchida, alguém que una a pungente determinação com a classe mundialmente reconhecida. Nedved hoje é diretor da Juventus e não nega seu passado, marcado por momentos de ira. Para alguém com a alcunha de Canhão e Fúria Tcheca, ao menos a carreira foi coerente.

 

http://tfcorp.net/2015/11/19/os-recorrentes-ataques-de-furia-de-pavel-nedved/

 

Quando um gênio intempestivo afeta, mas não minimiza a genialidade dentro de campo. Pavel Nedved foi um desses.  

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Um dos melhores jogadores que já vi jogar, se não o melhor.

Não gostava da Juventus (torcia para o Milan na época), mas assistia aos jogos só por causa dele. Saudades daquela época...

E também era mito no CM e FM, hahaha.

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