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"Vou para onde sou rei" - Como Maradona deixou o Barça e acertou com o Napoli


Bruno Caetano.

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Postado

[TRIVELA] O Napoli tirar um jogador do Barcelona era algo impensável em 1984. Mesmo assim, Diego Maradona deixou o clube da Catalunha para defender o time italiano. Na nossa série no Medium Brasil, trazemos uma matéria da revista Trivela de março de 2009, feita por Leonardo Bertozzi que conta como o maior craque da época foi parar em um clube que sequer brigava pelo título. E, com ele, foi campeão. Relembre:

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Vou para onde sou rei

Por Leonardo Bertozzi

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Para tirar Maradona do Barcelona, Napoli distorceu qualquer lógica do mercado futebolístico, motivo de orgulho até hoje

“Maradona, sim ao Napoli”. Quando o jornal La Gazzetta dello Sport publicou essa manchete, em 27 de maio de 1984, parecia algum delírio ou alucinação. Ainda que tivesse grande tradição, o clube napolitano não era realmente um grande de seu país e era inviável pensar que tiraria o craque de um dos maiores times da Europa. Mal comparando, seria como se o Manchester City tirasse Kaká do Milan, mas sem ter um xeique por trás para distorcer a realidade econômica.

Há 25 anos, tal transação acabou realmente ocorrendo. Diego Armando Maradona se transferiu do Barcelona para o Napoli, que, até aquele momento, não tinha títulos de grande expressão em seu currículo. Só o fato de o argentino ter tomado o rumo do estádio San Paolo já era uma façanha e tanto para o Napoli, independentemente do que ele poderia fazer nas temporadas em que defenderia a camisa celeste.

De acordo com o próprio Maradona, o clube italiano já o observava há anos. “Em 1979, quando estava no Argentinos Juniors, o Napoli tentou me contratar. Me mandaram uma camisa e uma carta, dizendo que esperavam a abertura do mercado para estrangeiros para me levarem. Até me convidaram a passar dez dias na Itália com tudo pago”, conta o atual técnico da seleção argentina em “Yo Soy el Diego de la Gente”, sua autobiografia. Na época, a proposta não o encantou. “Para mim, Napoli era apenas uma coisa italiana, como pizza”.

Cinco anos depois, o cenário era diferente. Diego havia brilhado no Boca Juniors e se transferido ao Barcelona (por US$ 7,3 milhões) como estrela mundial, mas nunca conseguiu conquistar o público catalão. Os dois anos que passou no Camp Nou foram marcados por desavenças com a diretoria e confusões dentro e fora de campo.

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Maradona, dono da “mão de Deus”

Na Catalunha, Maradona se cercou de compatriotas — vários deles contratados como seus assessores e funcionários — para se sentir à vontade. Com isso, se fechou em seu círculo de convivências e dificultou sua adaptação. Dentro de campo, Maradona alternou altos e baixos, com grandes atuações e problemas como brigas campais, contusões e até uma hepatite.

Após duas temporadas na Espanha, o meia argentino entrou na lista de especulações de clubes italianos. Juventus e Napoli foram os clubes que teriam se interessados. A escolha óbvia seria o time de Turim. Não para Maradona: “Escolhi o Napoli porque foi o único a me fazer uma proposta real e porque o Giampiero Boniperti, ex-jogador e presidente da Juventus na época, já havia dito que um jogador com meu porte físico não chegaria a lugar algum”, comenta, sem esconder o ressentimento.

A contratação de Maradona era um sinal de ambição de Corrado Ferlaino, presidente do Napoli e empresário do ramo de construção que prosperou com contratos polêmicos após o terremoto que abalou a região da Campania em 1980. Para pagar os US$ 13 milhões acertados com o Barcelona, o dirigente teve de blefar. Ele depositou na federação um envelope vazio, como se contivesse o contrato com o jogador. Nos dias em que o “pequeno equívoco” era descoberto, ele pôde levantar o dinheiro.

Para o argentino, a negociação foi fundamental para sua vida pessoal. “Por erros meus, estava quebrado quando deixei o Barcelona. Não vi os 15% que teria direito pela venda e dei minha casa em Barcelona para pagar dívidas”. Além disso, Maradona encontrou em Nápoles o status de ídolo que precisava.

A ousada contratação de um craque do poderoso Barcelona incendiou os napolitanos. Em 5 de julho de 1985, El Pibe chegou de helicóptero a um estádio San Paolo tomado de torcedores que queriam apenas ver a concretização da façanha napolitana. “Fiz o que me recomendaram: falei ‘Buona sera, napolitani. Sono molto felice di essere com voi’ e chutei a bola nas arquibancadas. Eles deliravam e eu não entendia nada”, descreve.

O fato de ter contratado Maradona já era uma vitória para o Napoli. A partir daí, era tempo para o clube deixar o status de força regional para se tornar uma potência nacional. Na primeira temporada, o time mediano não foi além do meio da tabela. A história começou a mudar em 1985, quando foram contratados jogadores como Bruno Giordano, Claudio Garella, Alessandro Renica, além da afirmação de revelações do clube como Ciro Ferrara. O Napoli foi terceiro colocado em 1986 e conquistou seu inédito título na temporada seguinte.

Se viveu seu auge esportivo em Nápoles, também foi lá que a vida privada de Maradona ganhou contornos dramáticos, com o caso extraconjugal que resultou no nascimento de seu filho italiano, o envolvimento com chefes da máfia e o agravamento do vício em cocaína. Ainda assim, o resultado daquela inusitada negociação entre o Napoli e o Barcelona foi mais que frutífera. Para a história do clube italiano e para a carreira do craque argentino.

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Publicado originalmente na revista Trivela nº 37, de março de 2009

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