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Jogo à Italiana: A história dos esquemas táticos no futebol da Bota


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Trapattoni e Sacchi, dois dos mais influentes técnicos da história do futebol italiano (Interleaning)
Itália, terra do Renascimento, de obras de arte ao ar livre, de praias belíssimas, montanhas imponentes, vinhos saborosos, muita comida boa e... do futebol tático. Discutir esquemas táticos, forma de colocar uma equipe em campo e a melhor estratégia para um time é algo que qualquer amante do futebol na Bota aprende a fazer desde cedo, seja em rodas de conversa com amigos seja assistindo aos programas esportivos da TV.

Entender os movimentos do jogo é algo inerente à cultura futebolística italiana, até porque foram os técnicos do país que introduziram muitas novidades no esporte ao longo dos anos. Em um especial de quatro partes iremos dissecar o que aconteceu em pouco mais de um século de futebol na Itália e em que os treinadores azzurri contribuíram para o desenvolvimento do jogo ao longo dos anos, quem eles influenciaram e por quem foram influenciados. O nosso passeio pela história começa agora.

O começo: o advento das escolas inglesa e húngara e o contraponto de Pozzo
Embora seja o esporte mais popular e que hoje seja uma parte considerável do dia a dia italiano, o futebol demorou para chegar e se desenvolver na sua forma moderna noBelpaese. Enquanto na Inglaterra o esporte já tinha caráter profissional desde os anos 1860, com a criação da Football Association (FA) – a federação de futebol da Terra da Rainha –, somente nos anos 1890 é que os clubes começaram a se organizar na Itália. Primeiro com os lígures do Genoa e depois com os piemonteses do Pro Vercelli e da Juventus, seguidos pelos romanos da Lazio e de um novo clube de Turim, o Torino.
 
Naquela década, a organização tática no futebol já vinha se desenvolvendo, saindo daspremissas do rugby e buscando a essência do que é o esporte hoje - um esporte coletivo e muito, muito tático. Nessa época aconteceu a primeira mudança na regra do impedimento e surgiu o esquema  pirâmide, o 2-3-5, como registra Jonathan Wilson no livro Invertendo a Pirâmide. A publicação é a grande referência no assunto e estará sempre presente daqui em diante nesse especial, que também aproveita a tradução e interpretação de Eduardo Cecconi em seu antigo blog.
 
Nessa época, os escoceses do Queens Park já traziam a ideia de criar linhas de passes, priorizar a circulação da bola através de passes curtos com velocidade, quebrando o paradigma do futebol inglês, antes baseado no kick and rush, nas corridas individuais. Dali, austríacos e húngaros importaram muitas coisas e desenvolveram a Danubian School, atingindo sucesso no continente com seu futebol coletivo no início do século XX.
 
Décadas depois, com a nova mudança da regra do impedimento, um inglês revolucionou o futebol, trazendo novo sistema tático com sua interpretação da nova regra, e também a importância da organização coletiva, do trabalho sem a bola, e a figura do treinador que estuda o adversário e orienta seus jogadores de forma mais precisa. Era Herbert Chapman, treinador do Arsenal, com seu revolucionário WM, o 3-2-2-3.
 
Ok, inglês aqui, escocês ali, austro-húngaros acolá... mas e os italianos? É a partir daDanubian School e do WM de Chapman que o futebol italiano começa a se desenvolver taticamente. Vittorio Pozzo se torna a grande figura do futebol na terra que, àquela época, era dominada pelo fascismo – o regime viu no esporte uma forma de fazer propaganda. Pozzo, que treinara Torino e Milan e a seleção italiana por duas outras oportunidades, estava no seu último trabalho à frente da Squadra Azzurra – que duraria 19 anos, entre 1929 e 1948.
 
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Vittorio Pozzo, técnico marcado como primeiro "taticista" do futebol italiano (Punto Cultura)
O técnico era identificado ao regime de Benito Mussolini, e seria apelidado de "tenente" por seu jeito rígido. Pozzo foi um dos primeiros a trazer a ideia de pré-temporada, de fazer a preparação para competições isoladamente. Preparação essa que também traria mudanças no trabalho físico, com maior preocupação na força e na velocidade. Era o "futebol-força".
 
Pozzo, amigo e rival de Hugo Meisl, treinador da seleção austríaca e expoente daDanubian School, desenvolveu um novo sistema tático, não convencido com o WM inglês e buscando ajustar a pirâmide para a nova regra do impedimento. Juntamente com Meisl, com quem trocava contínuas ideias sobre tática, embora Itália e Áustria fossem rivais em campo (especialmente nos anos 1930), o italiano criou o esquema WW, na prática um 2-3-2-3 - na Itália conhecido como metodo, enquanto o WM era o sistema.
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O WW, 2-3-2-3, de Pozzo e Meisl
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O revolucionário WM, 3-2-2-3, de Chapman
Enquanto Meisl priorizava passes curtos, posse de bola, contínua troca de posicionamento e movimentação ofensiva, num jogo de posição muito rico - talvez o primeiro -, Pozzo, no mesmo "desenho", tinha um futebol caracterizado pela força e velocidade, implantando a até então nova marcação individual. Um dos zagueiros fazia a sobra e os outros jogadores "encaixavam" a marcação e "perseguiam" adversários previamente definidos, especialmente seus destaques, como o centromédio, que muitas vezes tinha a figura do regista na época, e, claro, o centroavante. Com os encaixes na marcação e linhas recuadas, este esquema tinha nas transições ofensivas o seu ponto forte: os contra-ataques através das bolas longas, da velocidade dos pontas e da individualidade dos meias-atacantes, consagrando dois craques, Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari.
 
Assim, sempre com Meazza e Ferrari e seu metodo, Pozzo comandou os times italianos que ganharam o primeiro bicampeonato mundial do futebol, conquistando as Copas de 1934 e 38 - o treinador, até hoje, é o único a ter alcançado tal feito. Aquela seleção italiana ainda faturou o ouro na Olimpíada de 1936 e dois títulos na Copa Internacional, similar à Eurocopa de hoje, em 1930 e 35. No campeonato nacional, foi seguindo o planejamento de Pozzo que o Bologna venceu seis vezes nos anos 1920 e 1930 e a Juventus alcançou o recorde dos cinco scudetti consecutivos entre 1931 e 35 – até hoje apenas igualado, por Torino e Inter, mas não ultrapassado.
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A formação da Itália campeã mundial em 1938, no WW
Apesar da fórmula vencedora na seleção e em alguns clubes, o WW não foi difundido no futebol como o WM, mesmo na Itália. O sucesso de Pozzo sempre esteve ligado ao fascismo, e, com a queda do regime, o técnico nascido em Turim foi definido como um homem do passado, antiquado. Seu jogo de imposição física, de vencer a qualquer custo e de intimidação ao adversário não superou o pós-guerra, caindo no ostracismo, mesmo que Pozzo ainda estivesse ligado ao futebol italiano até os anos 1950, participando, inclusive, da criação do centro de formação de treinadores da Federação Italiana de Futebol – FIGC, em Coverciano. Taticamente, foi o esquema WM, de Chapman, que seguiu como referência para os treinadores no Belpaese.
 
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No WM, a formação titular do último Grande Torino, antes da tragédia de Superga, em 1949

A afirmação do WM como esquema principal dos times italianos se deve também pelo que aconteceu nos anos 1930 e 1940, com a importação de treinadores húngaros e ingleses, todos influenciados pelo WM de Chapman. A contratação de técnicos sobretudo da Hungria era uma verdadeira febre e todos os principais times do país – e quase todos os menores, mas seguramente todos os que jogaram a Serie A alguma vez – tiveram pelo menos um técnico do país entre as décadas de 1920 e 1940 – magiares ainda treinaram equipes italianas nos anos 1950 e 1960.

Enquanto a II Guerra Mundial entrava no auge em 1940, o futebol italiano avançava após os vários títulos dos anos 1930. Nessa época, surge o Grande Torino, que passa a construir um ótimo time a partir da contratação de jogadores de vários clubes, como Juventus, Ambrosiana-Inter, Fiorentina, Venezia, Genoa, entre outros. Inicialmente treinado pelo austríaco Tony Cargnelli, seguidor de Pozzo, o Torino não teve sucesso e abandonou o WW em favor do WM ao substitui-lo pelo húngaro András Kuttik, que seria seguido por Antonio Janni, Luigi Ferrero, Mario Sperone – ex-jogadores do clube –, Leslie Lievesley (inglês) e Erno Erbstein (húngaro), todos preservando o sistema.

Com o esquema clássico de Champman, os técnicos tornaram o Torino cinco vezes campeão italiano - além dos títulos dos campeonatos de guerra em 1944 e 45, época em que foi patrocinado pela Fiat e contou com o craque Silvio Piola. A inteligência de grandes jogadores, como Mario RigamontiEzio Loik, Romeo Menti, Franco Ossola eValentino Mazzola ajudou que, mesmo com as constantes mudanças de treinadores, o time executasse o esquema com perfeição. O Desastre de Superga acabou com aquele elenco multicampeão, mas não foi o responsável pela extinção do WM. A evolução tática do futebol nos anos 1950 e 1960 mudou o esporte para sempre e ajudou a tornar os placares mais magros, em um jogo cada vez mais estudado.

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Herrera e Rocco, dois dos técnicos que mais trouxeram novidades ao futebol italiano
 
O auge, a queda e o ressurgimento do jogo à italiana
O fim do Grande Torino foi uma perda imensurável para o futebol italiano. Até então o maior time da história do Belpaese - e talvez ainda seja, por tudo o que representa -, era também a base da seleção azzurra - à época, 10 dos 11 titulares eram granata - e que encantava o país com seu futebol. Enquanto o Torino aos poucos caiu no ostracismo, a rival Juventus voltou a dominar e levou consigo Milan e Inter, na época acompanhados também pela Fiorentina.
 
Nesse contexto, a presença de estrangeiros ganhou maior relevância, ainda que sempre dentro do limite de três não-italianos para cada clube. Suecos, húngaros, dinamarqueses eram os destaques da liga, ao lado dos oriundi - argentinos, brasileiros e uruguaios de descendência italiana, que já desde os anos 30 passaram a ser importados para o futebol da Bota, assim como para a seleção nacional. Para a Nazionale, agregavam sua habilidade e individualidade para um futebol marcado pela organização tática desde os tempos de Vittorio Pozzo. Na beira do gramado, a presença estrangeira seguiu influente, com húngaros, britânicos e outros do leste europeu comandando vários times na primeira divisão.
 
Algo que descobri recentemente, porém sem uma fonte exata - um dos grandes problemas do futebol da época, com pouca oferta de material em foto e vídeo, e alguns registros de jornais e rádios - foi uma mudança importante no Grande Torino. Em sua última versão, na temporada 1948-49, sob o comando de Leslie Lievesley e Erno Erbstein, o Torino já apresentava uma das variações do WM que seriam difundidas na Europa nos anos 1950 e 1960, com um "leve" recuo de um dos meio-campistas, que atuava próximo dos defensores e participava com eles do sistema de marcação a homem. No caso, era Giuseppe Grezar quem fazia esse movimento, aparentemente sutil, mas que posteriormente moldaria a próxima grande mudança do futebol.
 
Do WM, 3-2-2-3, surgia quase um 4-2-4, ainda sem a defesa a quatro justamente alinhada. Não se sabe como, mas talvez Lievesley e Erbstein tenham se inspirado em algum adversário que enfrentaram numa das suas várias viagens internacionais que começaram a fazer após os consecutivos sucessos - numa dessas turnês, tragicamente, aconteceu o Desastre de Superga. Na América do Sul, acompanhada também por outras mudanças de posicionamento do WM, surgiu a diagonal, marca do grande River Plate dos anos 40. La Máquina jogava assim, e da mesma forma atuavam alguns times no Brasil, como o Corinthians e o Flamengo. No clube carioca, o argentino Carlos Volante atuava como Grezar - dez anos antes, por sinal - e popularizou o termo "volante". A função, já sabemos, dava sustentação para a defesa e o time.
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A evolução do WM e o sistema das diagonais, quase um 4-2-4 assimétrico, que surgiria primeiro no Brasil, nos anos 50
Ao mesmo tempo, o gioco all’italiana (literalmente jogo à italiana) começava a dar as primeiras caras. O termo, normalmente utilizado para a zona mista, modelo de jogo disseminado nos anos 1970 e predominante até os anos 1980 na Itália, na verdade se refere ao sistema de marcação homem a homem tipicamente italiano, que por décadas consagrou diversos zagueiros no Belpaese. Tudo isso em conjunto com times de linhas baixas e que tinham no contra-ataque seus grandes argumentos ofensivos. Esse modelo de jogo revolucionou a preparação física, a partir de então mais intensa, e o estudo do futebol.
 
Além dos defensores ótimos no um a um, duas funções desempenhadas por jogadores bastantes técnicos surgiram nesse contexto. Um deles estava atrás da linha defensiva: era o libero (em italiano, quer dizer "livre"), que marcava por zona, "livre" da marcação individual, e que ocupava os espaços e buracos ocasionados pelas perseguições da marcação a homem, também fazendo a saída de bola, saltando linhas e apoiando o regista. O regista aparece como o construtor do jogo, realmente regendo os companheiros com lançamentos precisos e determinando onde, quando e como atacar. Junto com eles, surgiram também os primeiros terzini fluidificanti: defensores laterais que tinham liberdade para atacar, por fora ou por dentro, e causavam desequilíbrio aos adversários, visto que, até então, os laterais se limitavam a defender.
 
Essa ideia de retranca e contra-ataque, ou catenaccio e contropiede, em italiano, foi a principal característica do primeiro clube da Bota a conquistar sucesso mundial, construindo sua reputação com conquistas continentais e intercontinentais. Era a Grande Inter, nos anos 60, treinada por Helenio Herrera. O treinador se revolucionou, saindo das premissas técnicas da Espanha, do Barcelona e de suas raízes argentinas, e acabou mudando o futebol para sempre. A preparação física intensa surgiu com o franco-argentino, que tinha esse fator como uma das somas da fórmula da vitória. "Técnica + preparação atlética + inteligência = scudetto", era sua mensagem acima da porta do vestiário nerazzurro – como se vê na foto. Herrera ainda tinha outros dogmas. "Defesa: não mais de 30 gols sofridos. Ataque: mais de 100 gols marcados".
 
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A fórmula do sucesso da Grande Inter
Apesar de tudo, mesmo com boas médias de gols marcados e com a qualidade de seus jogadores na frente – Sandro MazzolaMario CorsoLuis SuárezJair da Costa e Antonio Angelillo, por exemplo –, o time de Herrera foi massivamente criticado, sendo chamado de exemplo de "anti-futebol", por se defender com linhas baixas e preferir o contra-ataque como arma ofensiva. Assim, por exemplo, bateu o Real Madrid dos já "velhinhos" Francisco Gento, Ferenc Puskás e Alfredo Di Stéfano e o Benfica de Mário Coluna e Eusébio. 
 
Além do mais, o sucesso desse time repercutiu em interpretações ainda mais defensivas do modelo de jogo, com os times pequenos fazendo uso da tática de Herrera, mas não do jeito que o treinador idealizava. Isto gerou críticas do próprio franco-argentino, já que esses times se limitavam apenas a defender, sem oferecer opções de ataque, limitando também a atuação dos jogadores: os defensores ficavam restritos a defender, os meio-campistas a fazer lançamentos, os pontas a correr e fazer cruzamentos e os centroavantes a fazer gols. Longe de uma organização coletiva – o proposto por quem aplicava bem o esquema tático –, o futebol dessas equipes ficou demasiadamente individual.
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A versão 1965 da Grande Inter de Herrera
As origens do ferrolho 
catenaccio, um modelo de jogo com estratégia defensiva, privilegiando os contra-ataques e maior segurança, não surge exatamente com Helenio Herrera. Na verdade, no Mundial de 1938, a Suíça apresentou ao mundo o ferrolho suíço, o verrou (tranca ou ferrolho, do francês; ou, no italiano, catenaccio, que significa parafuso ou ferrolho), superando a Alemanha. Do WM, o treinador Karl Rappan colocou um dos meio-campistas na linha dos zagueiros e recuou um desses para atuar atrás da primeira linha, livre de marcação fixa. Por sua vez, esse homem devia fazer marcação dupla ou recuperar bolas, atuando na sobra. Era o primeiro líbero.
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verrou de Rappan
Mais tarde, na Itália, três times chamaram atenção com a ideia de catenaccio e contropiede, ainda antes dos sucessos que os times milaneses teriam com o modelo de jogo, tornando-o popular nos anos 1960. Primeiro, a Triestina de Mario Villini em 1941-42, que fechou a Serie A com um digno oitavo lugar e a terceira defesa menos vazada no campeonato. Posteriormente, a equipe alabardata voltaria ao catenaccio com Nereo Rocco, treinador do time entre 1947 e 1950 – ainda falaremos sobre Rocco. Em um dos campeonatos entre-guerra, em 1944, o Spezia de Ottavio Barbieri surpreendeu ao bater um Grande Torino ainda em formação, reforçado pelo artilheiro Silvio Piola.
 
Mais tarde, o mais famoso catenaccio da época, a Salernitana de Gipo Viani, que se mostrou um incômodo contra os grandes times do norte, mas acabou rebaixada em 1947-48. O sistema tático e modelo de jogo, baseado na ideia de Antonio Valese, ex-treinador-jogador do clube, recebeu até apelido, vianema, uma brincadeira com o sobrenome do treinador. O vianema basicamente era uma adaptação do WM, na qual Viani tirou o centroavante e colocou um meio-campista entre os zagueiros laterais, recuando o zagueiro central original para atuar atrás da primeira linha, como Rappan fizera na Suíça. A curiosidade é que esse meio-campista adaptado à zagueiro central, Alberto Piccinini, preservava a numeração do centroavante, a camisa 9, e era o próprio quem marcava especificamente o centroavante adversário.
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vianema de Viani: líbero no lugar do centroavante
Na década seguinte, mais especificamente em 1952-53, enquanto Milan e Juventus eram comandados por húngaros, veio o primeiro scudetto de um time que fazia o catenaccio. Comandada por Alfredo Foni, a Inter voltou a ganhar o campeonato depois de 13 anos com um futebol nada agradável e bastante criticado por torcedores e imprensa, mas quase imbatível em campo: apenas 24 gols sofridos em 34 partidas, mas somente 46 gols anotados.

Dessa vez, Foni fez uma adaptação diferente do WM, colocando o zagueiro lateral-direito Ivano Blason atrás da primeira linha, como líbero, e recuou o ponta-direita Gino Armano, que revezava entre a primeira e a terceira linha, uma função que se tornaria popular muitos anos depois, na zona mista, principalmente nos anos 1980, por Bruno Conti, na Roma e na seleção italiana. Armano era o ala tornante, que dava equilíbrio para o poderoso trio Lennart Skoglund, Benito Lorenzi e István Nyers decidir. Mesmo campeão, Foni abandonou o catenaccio na temporada seguinte, ainda levando ao bicampeonato um time que se mostrou forte defensivamente e mais regular, perdendo duas vezes menos e marcando 21 gols a mais.
 
Se a Inter de Foni foi a primeira a conquistar a Itália com o catenaccioo Milan de Rocco foi o primeiro a conquistar a Europa. Apesar de Herrera ter acabado mais identificado como sinônimo do esquema tático, foi o treinador rossonero um dos precursores do modelo de jogo no Belpaese, e com a apresentação de versões do módulo em diferentes sistemas de jogo.

Rocco usava o padrão 1-3-3-3 - interpretado por Rappan e Herrera, com algumas diferenças -, que, apesar da aparente semelhança com o 4-3-3, não tem nada a ver e não foi sua origem. O técnico triestino também usou o 1-3-2-2-2 (o vianema), um 1-3-3-3 de sua própria criação, com desenho diferente no meio-campo, o 1-4-4-1 e o 1-4-3-2, com cinco defensores – veja nas "pranchetas" abaixo. Assim, Rocco fez boas e surpreendentes campanhas na primeira divisão com Triestina e Padova, chegando ao segundo lugar com o clube de Trieste em 1947-48, auge do Grande Torino, e ao terceiro lugar com o clube do Vêneto em 1957-58, liderado por Kurt Hamrin, peça importante anos mais tarde no seu Milan.
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Em Milão, após as sólidas campanhas pelo Padova, Rocco teve sucesso imediato, levando o scudetto em 1961-62 e a Copa dos Campeões em 1962-63, superando o Benfica de Coluna e Eusébio. O time encarnado apresentava o 4-2-4 disseminado pelo húngaro Béla Guttmann, que trazia a novidade tática do Brasil.

O Milan de Rocco era baseado no WM, com certas adaptações e, claro, o catenaccio e contropiedeCesare Maldini liderava a defesa, dando cobertura à primeira linha e equilibrando a marcação a homem de Víctor Benítez e Giovanni Trapattoni, que sustentavam o jogo para Dino Sani e Gianni Rivera distribuírem e apoiarem o trio de ataque que tinha como destaque e artilheiro José Altafini. Mais tarde, Rocco voltaria a repetir o mesmo caminho, levando o scudetto em 1967-68 e a Copa dos Campeões em 1968-69, além da Copa Intercontinental, em 1969, sempre com Trapattoni e Rivera, e dessa vez reforçado com Roberto Rosato, Karl-Heinz Schnellinger, Kurt Hamrin, Angelo Sormani e Pierino Prati.
 
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Rocco e seu discípulo Trapattoni, em tempos de Milan
O declínio do catenaccio e um novo jeito de entender futebol 
O sucesso de Inter e Milan no catenaccio também foi acompanhado de melhor observação dos adversários, especialmente os internacionais, que tanto criticavam o modelo de jogo. O melhor entendimento dos adversários quanto aos esquemas táticos dos italianos ajudou a frear o desempenho internacional dos times da Bota. Entre a metade dos anos 1950 e fim dos anos 1960, os times italianos chegaram a 10 de 27 finais europeias, e levaram cinco títulos – quatro deles na Copa dos Campeões. Na década seguinte, com mais competições continentais acontecendo, foram seis decisões, e apenas dois títulos, em 33 torneios disputados. 

Ainda nos anos 1960, a soberba Inter sucumbiu ao veloz e sagaz Celtic no 4-2-4 de Jock Stein em 1966-67. Dois anos depois, porém, o Milan resistiu e goleou a primeira versão do Ajax de Rinus Michels e seu totaalvoetbal (futebol total, literalmente). Na década seguinte, o time holandês simplesmente destruiria o catenaccio e a reputação dos times italianos, superando os envelhecidos times de Inter e Juventus em 1971-72 e 1972-73 com a constante movimentação e marcação agressiva, superando a marcação a homem e os contra-ataques.
 
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Herrera, já velho, mostra seu time e como todos passaram a copiar e gerar encaixes óbvios
Simultaneamente, a seleção italiana também sucumbiu com o catenaccio. A seleção foi eliminada na fase de grupos da Copa de 1966, em uma de suas piores campanhas em mundiais. Renasceu pouco depois: a Squadra Azzurra foi campeã europeia em 1968, e montou grande time na Copa do Mundo de 1970, treinada em ambas as ocasiões porFerruccio Valcareggi. O treinador, porém, limitava espaço entre Mazzola e Rivera – só um jogava como titular, com a famosa e pouco agradável staffetta – , apostando nos gols de Roberto Boninsegna e Gigi Riva e a solidez defensiva.

Naquela Copa, a Nazionale fez fase de grupos modesta, com apenas um gol e uma vitória, além de dois empates por zero a zero, contra Uruguai e Israel. Depois, goleada sobre os anfitriões mexicanos e, nas semifinais, a equipe fez um dos jogos mais espetaculares do futebol, à época chamado de o jogo do século, terminado com vitória épica a Alemanha Ocidental. Após estar vencendo por quase 90 minutos e sofrer o empate no último lance, a Itália levou a virada na prorrogação; voltou a estar na frente no placar (3 a 2) e sofreu novo empate. Foi aí que Rivera decidiu e levou o time para a fatídica final – para os azzurri.

Aquela seleção seria totalmente superada pelo Brasil, que conhecia bem a marcação a homem e as perseguições individuais. Os canarinhos promoveram a desordem no sistema defensivo italiano com Carlos Alberto Torres, Gérson, Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé. O ocaso do catenaccio na seleção aconteceu com um show do futebol ofensivista à brasileira.
 
Os anos 1970 foram tempos difíceis para os italianos, especialmente para o futebol. A "morte" do catenaccio após os insucessos internacionais fez o campeonato fechar espaço para estrangeiros e distanciou os clubes italianos de uma final da Copa dos Campeões por 10 anos - título, mesmo, só depois de 16 temporadas. Mas enquanto no Belpaese se praticava o futebol do catenaccio e contropiede, nos outros centros europeus surgiam os sistemas com defesa a quatro, as primeiras versões do 4-4-2 após o 4-3-3 e a marcação a zona voltava a ser uma tendência com o totaalvoetbal de Michels e Cruyff. Era hora de mudar.

A Itália entra na zona
Na Bota, muitos técnicos decidiram por manter o catenaccio. O futebol do país já estava sob influência da marcação por zona introduzida por Nils Liedholm, um dos primeiros a enfrentar as críticas por causa da preferência histórica dos italianos por marcação a homem. Com a introdução do novo tipo de marcação, o técnico sueco teria grande prestígio nos anos 1980, inspirando outros treinadores e clubes apostarem na mudança – mas isso é assunto para outra parte.

Mesmo para aqueles que optaram por manter o catenaccio algumas mudanças foram necessárias. Assim, na segunda metade dos anos 1970, Giovanni Trapattoni e Luigi Radice conseguiram sucesso ao fazer adaptações em termos de marcação e posicionamento no tradicional 1-3-3-3, a versão mais repetida do catenaccio.
 
Basicamente, Trapattoni e Radice apostaram em misturar as duas formas de marcação, a homem e por zona. Os defensores, criados no contexto de marcação apertada e perseguições individuais, tinham como referência o jogador adversário, enquanto os meio-campistas e o líbero tinham o espaço como referência, com atenção na cobertura e compensações aos defensores. Era, assim, a zona mista, a próxima evolução do jogo à italiana. Em termos de posicionamento, a ideia era ter superioridade numérica no meio-campo, setor que sofreu  pela baixa presença de jogadores por ali nos tempos decatenaccio.
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Versão tradicional da zona mista
zona mista, como evolução do catenaccio, aproveitou algumas funções que começaram a ser difundidas graças à Inter de Herrera, como o terzino fluidificante e oala tornante: o lateral-esquerdo tinha liberdade para apoiar e o ponta-direita, por causa da marcação a homem, devia seguir o seu adversário, e assim passou a atuar mais recuado que o normal. Por causa da nova mudança na regra do impedimento, o líbero também sofreu mudança de posicionamento, passando a atuar mais próximo dos defensores – e não tão atrás, próximo do goleiro –, fazendo a cobertura ou dobrando a marcação.
 
O modelo de jogo também traz uma mudança de estratégia, com os times buscando mais o ataque e a posse de bola. Isso também afetou o papel dos líberos italianos, cuja maior inspiração, agora, vinha de Franz Beckenbauer e dos líberos holandeses, como Ruud Krol. Agora, eles passavam a ter maior peso na construção do jogo, avançando para o meio-campo e apoiando de forma mais contínua o regista, o playmaker do time - seja ele mais adiantado ou recuado.

Com isso, muitos meio-campistas passaram a assumir a função de líbero, a exemplo deAgostino Di Bartolomei, que, inclusive, usava a 10, na Roma, e Andrea Mandorlini, hoje treinador do Verona e então líbero com Trapattoni na Inter – até mesmo o meia-atacante Zbigniew Boniek chegou a jogar assim, em alguns momentos da fase final da carreira. Mas as grandes estrelas na função de "novo líbero" foram Gaetano Scirea eFranco Baresi, ambos desenvolvidos no catenaccio – para muitos, os dois se juntam a Beckenbauer na tríade dos melhores intérpretes da função em toda a história. O primeiro sempre sonhou ser regista e começou como meio-campista, mas virou líbero na Atalanta; o segundo, um defensor de físico incomum, baixo e sem muita massa muscular, mas com senso de posicionamento e leitura de jogo extraordinários.
 
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Trapattoni, da Juventus, e Radice, do Torino, em um dérbi turinense dos anos 1970
Do 1-3-3-3 padrão, os times passaram a atuar em 4-4-2 assimétricos, quase sempre contando com o terzino fluidificante à esquerda e o ala tornante à direita. No novo modelo de jogo, muitas funções foram redefinidas e são usadas até hoje assim.

Entre essas podemos citar a figura do mediano, meio-campista central à frente da defesa e mais recuado, e também o mezz'ala ou interno, antes meia-atacantes, e a partir de então meio-campistas laterais em um trio: os "motorzinhos", agressivos na marcação e ricos em movimentos ofensivos, entrando na área. Também podemos falar do regista, não apenas aquele que nos acostumamos hoje na frente da defesa, mas sempre o construtor do jogo do time, definitivamente o playmaker. O regista podia atuar mais recuado, como Paulo Roberto Falcão, por exemplo, ou mais adiantado, videMichel Platini e Lothar Matthäus. As modificações criaram também a figura do seconda punta (segundo atacante), que largava a ponta esquerda para transitar no último terço do campo, usando sua velocidade e habilidade para apoiar o centroavante, geralmente mais fixo, usado como referência física e de bolas aéreas para o time.
 
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Que dupla! Scirea e Baresi em campo
Mas a zona mista também teve variações de sistema, como com um losango no meio-campo, então com dois mezz'ali ou interni, e a figura do trequartista, um regista transformado em meia-atacante. A zona mista partia sempre da premissa de ser um 4-4-2 assimétrico. Era um modelo de jogo, e não exatamente um esquema tático, mas influenciou alguns sistemas posteriores, como o 3-5-2 e o 4-3-1-2, que se tornariam populares nos anos 1990 e voltaram a ser utilizados nos anos 2010 - assunto nosso para o futuro. A zona mista também foi adaptada por treinadores da marcação por zona, como Nils Liedholm (Milan 1978-79 e Roma 1982-83) e Osvaldo Bagnoli (Verona 1984-85).
 
Dessa forma, comandado por Radice, o Torino ganhou seu último scudetto na temporada 1975-76, 27 anos depois do Desastre de Superga. Além da contribuição com a zona mista, o treinador foi um dos primeiros a importar o pressing, a marcação pressão, para a Itália. Também assim, Trapattoni se consagrou um dos maiores treinadores do futebol italiano, dominando o campeonato com a Juventus entre o final dos anos 1970 e início dos 1980 – levantando também a Copa dos Campeões e o Mundial Interclubes –, e tirando a Inter da seca nacional em 1989 e continental em 1991. Ao todo, Trap conquistou 17 troféus nesse período, se tornando o recordista de títulos da Serie A (sete) e da Copa Uefa (três). É o técnico italiano com mais taças levantadas em toda a história.
 
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Torino de Radice, 1975-76
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Primeira Juventus de Trapattoni, 1976-77 e 1977-78
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Juventus modificada por Trap, em 1983-84
Enzo Bearzot foi outro a fazer sucesso com a zona mistaconduzindo a Itália para o título mundial em 1982. Entre outros exemplos, também no Belpaese, adaptações do modelo acabaram em scudetti em diversas ocasiões – veja os desenhos táticos abaixo. Os melhores expoentes deste futebol foram a Inter de 1979-80 com o losango de Eugenio Bersellini e a dupla Evaristo Beccalossi e Alessandro Altobelli; o grande Napoli de Ottavio Bianchi e, depois, de Alberto Bigon, em 1986-87 e 1989-90 com suportes para o trio Ma-Gi-Ca (Diego MaradonaBruno Giordano e Andrea Carnevale, depois Careca) desequilibrar; e a grande Sampdoria de Vujadin Boskovcampeã em 1990-91 com Pietro VierchowodToninho CerezoRoberto Mancini e Gianluca Vialli.
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O losango de Bersellini na Inter 1979-80
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A retranca de Bianchi no Napoli 1986-87: líbero, três zagueiros, três volantes e o trio Ma-Gi-Ca
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A Inter dos recordes de Trapattoni, 1988-89
Mais abaixo: desenhos táticos parecidos com a zona mista, mas marcação por zona.
 
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Roma de Liedholm, 1982-83
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Verona de Bagnoli, 1984-85
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O Milan que marcou época tinha um dono rico e alguns craques, mas 
foi o técnico Sacchi que revolucionou o futebol (Eurosport)

Itália: entre a inovação e a atualização da tradição 
Se os anos 1970 foram tempos difíceis e de reinvenção para o futebol italiano, os anos 1980 representaram o início da que se transformaria na maior liga do futebol europeu. Depois do escândalo Totonero, a Itália foi campeã mundial com o time de Enzo Bearzote então emplacou finais europeias com Roma e Juventus, voltando ao título europeu em 1984-85 com a Vecchia Signora de Giovanni Trapattoni, sua zona mista e o poderoso trio formado por Michel PlatiniZbigniew Boniek e Paolo Rossi.
 
Até então, os grandes expoentes do futebol no Velho Continente eram o totaalvoetbalholandês do Ajax de Rinus Michels e Johan Cruyff, o Bayern Munique organizado e criativo de Franz Beckenbauer e o Liverpool de Bill Shankly e Bob Paisley, com as duas linhas de quatro rígidas. Como relatei na última parte, nessa época, a Itália viveu o "colapso" do catenaccio e o ressurgimento do gioco all'italiana com a zona mista de Trapattoni e Radice.
 
A abertura para contratação de craques estrangeiros foi a grande mudança na Serie A, o que popularizou o campeonato internacionalmente e o tornou grande sucesso comercial. Os mais antigos lembrarão das transmissões dominicais no Brasil, onde podiam ver Platini, Diego MaradonaLothar Matthäus ou os brasileiros Paulo Roberto FalcãoZico,Toninho Cerezo e muitos outros. Mas foi um time em particular que alavancou ainda mais o futebol italiano, e com boas razões: o Milan de Arrigo Sacchi.
 
Como bem define o especial do ESPN FC sobre grandes treinadores, "alguns treinadores alcançaram grandeza pela longevidade, enquanto outros alcançaram através de uma breve explosão que revolucionou o jogo". E o segundo caso é exatamente é o de Sacchi. O emiliano surgiu repentinamente no futebol, treinando um Parma pré-Parmalat na Serie C e na Serie B. Em seu segundo ano no clube crociato, apareceu para o mundo ao surpreender e eliminar o Milan da Coppa Italia em pleno San Siro, com seu futebol ofensivo, já praticando as premissas que consolidaria no clube comandado por Silvio Berlusconi. O dono do clube rossonero, aliás, sempre bancou o polêmico treinador, desde que apostou as fichas para que Sacchi, embora não tivesse currículo expressivo, tomasse as rédeas de um gigante europeu.

No início, Sacchi enfrentou resistência pela pouca experiência e por não ter tido passado como jogador profissional – atuou apenas em campeonatos amadores, por pouco tempo. Isso o técnico respondia com a célebre frase: "não sabia que para ser jóquei era preciso ser cavalo antes". Depois, o carequinha era combatido por ter enfrentado o tradicional jogo à italiana, a marcação a homem, as linhas baixas e a individualidade.
 
Com sua evolução do futebol total holandês, o calcio totale de Sacchi revolucionou o futebol. As preparações física, técnica e tática, entre outros aspectos, sofreram profundas alterações a partir das práticas do treinador, que só tornou tudo isso popular a partir das conquistas europeias e nacionais com o Milan entre 1987 e 1991. Apesar de tudo, o resultado sempre foi, e provavelmente continuará sendo, o grande determinante das mudanças no esporte. E não poderia deixar de ser com o histórico Milan formado pelo técnico emiliano.
 
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Milan 1988-89, no 4-4-2 de Sacchi
Sacchi aproveitou a base construída no Milan e o desenvolvimento de jovens com o lendário Nils Liedholm – como dito por aqui, na segunda parte do especial, um dos precursores da marcação por zona no Belpaese – e pode contar com os reforços pontuais (se é que se pode dizer assim de tais craques) dos holandeses Frank RijkaardRuud Gullit e Marco van Basten. Juntos, formariam o esqueleto de um time extraordinário, trabalhador, técnico e ao mesmo tempo simples e complexo. E muito do futebol de Sacchi passava pela marcação por zona. O forte pressing, a marcação por pressão, era a base de um time que jogava sempre compacto e estreito, com os 11 jogadores próximos e formando uma sociedade com pequenos grupos, voláteis, que se moviam juntos para frente e para trás, para a esquerda e para a direita, para o ataque e para a defesa.
 
Com seu 4-4-2 em linha, que eventualmente ganhava forma de losango no meio-campo quanto atacava - e que não era exatamente tão determinante -, tinha linhas altas, muito altas, que praticava a linha de impedimento sob o comando do líbero Franco Baresi. Sacchi, apesar do futebol ofensivo e da predileção pela posse de bola no campo adversário, era obcecado pelo trabalho sem a bola, treinava exaustivamente os movimentos e, especialmente, a fase defensiva: eram notórios os achiques dos defensores para subir o posicionamento da última linha, buscando deixar o ataque adversário em impedimento, e as perfeitas basculações das duas linhas de quatro.

Se hoje os times se preocupam tanto em limitar o espaço em 30-40 metros, com compactação dos setores, as linhas bastantes próximas para atacar e defender, isso se deve muito a Sacchi, que gozou de sucesso e fama apenas nos seus quatro primeiros anos em Milanello. Mas foi o bastante para alterar quase tudo não só na Itália, mas no mundo. O futebol de alto ritmo, da marcação por pressão, de movimentos e jogo posicional mais ricos estava presente naquele time, campeão de tudo.
 
O pós-Sacchi foi marcado com a continuação do sucesso da Serie A, e dois treinadores particularmente fizeram fama nos anos 1990 - em certos momentos nos anos 2000 também -, moldando o futebol de Sacchi para novos modelos de jogo, estratégias e esquemas táticos. Ambos foram criados ainda no catenaccio, e também se aproveitaram muito do jogo à italiana. Na verdade, atualizaram o jeito italiano de se jogar para o futebol moderno.
 
Se você pensou em Fabio Capello e Marcello Lippi, então acertou na mosca. O primeiro foi o escolhido para suceder Sacchi, então convidado para treinar a seleção nacional, no comando do Milan. Apesar da inexperiência, rapidamente Capello se mostrou um treinador determinado, competente e também rigoroso. Um sujeito de convívio não muito fácil, egocêntrico e egoísta, mas criado para vencer. Goste ou não, seus times venciam - no passado mesmo.
 
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Pragmático e brilhante, Capello manteve a máquina montada por Sacchi girando em alto ritmo (Who Ate All The Pies)
Capello conseguiu isso porque conseguiu trazer a leitura de jogo que tinha em campo - era um bom regista, que liderava o meio-campo em Milan, Juventus e Roma - para a beira do gramado, como treinador. Poucos têm o mesmo entendimento de jogo e direção de campo que o técnico friulano.

No Milan, ele foi capaz de montar times dos mais variados estilos, mantendo a base tática de Sacchi, com certas adaptações. Seu time era mais rígido e menos agressivo, e tinha novos jogadores: inicialmente, ele manteve a base do antecessor, com os holandeses, mas com o tempo vieram jogadores da antiga Iugoslávia – Dejan Savicevic eZvonimir Boban. Eles formaram um time ainda mais forte, competitivo e vencedor, que chegou a 58 jogos sem derrotas na Serie A, além de quatro scudetti, três consecutivos, e três finais de Liga dos Campeões, com um título. Tudo isso entre 1991 e 1996.
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Milan 1993-94, no 4-4-2 de Capello
Capello ainda montou dois outros grandes times nos anos seguintes. Primeiro, sua Roma campeã italiana, deixando de lado o 4-4-2 em benefício do 3-4-1-2, para aproveitar melhor o trio formado por Francesco Totti, Vincenzo Montella e Gabriel Batistuta e seus alas ofensivos. Sem esquecer das passagens pelo Real Madrid e o reencontro com a Juventus, voltando ao seu rígido e imbatível 4-4-2.
 
Marcello Lippi surgiu para o futebol no final dos anos 1980, e após boas campanhas por Cesena, Atalanta e Napoli, chegou na Juventus, em 1994, na última temporada deRoberto Baggio em Turim, justo no momento da afirmação de Alessandro Del Piero. A partir dali, e na segunda metade dos anos 1990, tornou a sua Juventus a grande equipe da então maior liga europeia, na primeira versão da Vecchia Signora de Luciano Moggi e Antonio Giraudo.
 
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Na Juventus de Gianni Agnelli, Lippi foi o segundo e último a levantar a Liga dos Campeões (L'Unità)
Apesar das estrelas e grandes jogadores, era na simplicidade que seu time se destacava. Na primeira passagem por Turim entre 1994 e 1999, Lippi conquistou, entre outros títulos, três scudetti e duas finais de Liga dos Campeões – foi vencedor uma vez. Posteriormente, em sua segunda etapa na Juventus, de 2001 a 2004, foi campeão italiano por mais duas vezes. Ele teve como antecessor Carlo Ancelotti, assunto para a próxima parte, e como sucessor o já citado Capello, campeão italiano mais duas vezes – em títulos cassados pelo processo Calciopoli.
 
Lippi sempre valorizou o equilíbrio. Nunca foi de extremos e, estudioso, montava seus times pensando no contexto e no adversário, mas sempre focando na vitória. Como destaca o ESPN FC, uma vez, Sir Alex Ferguson disse o seguinte: "A Juventus foi um exemplo para meu Manchester United. Os meus jogadores assistiam vídeos da equipe de Lippi e eu destacava: 'não olhe para as táticas ou técnica, nós temos isso também, vocês precisam ter esse desejo de vencer'".
 
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Juventus de Lippi em 1995-96, usando o 4-3-3
Também contemporâneo de Sacchi, treinou antes, durante e depois do impactante trabalho do carequinha no Milan. Cria do catenaccio, Lippi aprendeu a marcação a homem e estratégia defensiva, e acaba se tornando uma espécie de revival de Trapattoni, apesar das tantas diferenças entre ambos. A comparação surge pelo fato de os dois formarem equipes, dependendo da situação, que sabiam marcar a homem ou por zona, que podiam defender em bloco baixo e contra-atacar, ou pressionar no campo adversário e atacar com dinâmica no último terço do gramado. Nessa aspecto, o técnico toscano era mais flexível que o velho Trap, mas soube conviver muito bem com o contexto e suas mudanças, e se destacar nesse cenário como um vencedor.
 
Sua primeira Juventus se portou num 4-3-3 dinâmico e agressivo, com defesa e meio-campo robustos e ataque que se completava: primeiro Baggio, depois o jovem Del Piero, operando a partir da esquerda, mas livre para se movimentar no último terço. Ainda no ataque, Gianluca Vialli partia do centro do ataque com seus ricos movimentos e agilidade, e Fabrizio Ravanelli vinha pelo outro lado, como opção mais direta, física, e garantindo trabalho de equipe e profundidade.
 
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Juventus 1996-97, no 4-3-1-2
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Variação da Juve em 1997-98, com um 3-4-1-2

Posteriormente, Lippi teve em mãos uma equipe ainda mais completa, com opções para o treinador adequar bem sua escalação ao contexto. Com isso, a Juventus ia a campo de 1996 a 1999 alternando entre 4-3-1-2, 4-4-2 e 3-4-1-2, aproveitando a versatilidade de seus meio-campistas e a capacidade organizativa e criativa de Zinédine Zidane para combinar com a riqueza de atacantes dos bianconeri – à época, o elenco tinha gente do naipe de Del Piero, Pippo Inzaghi, Christian Vieri e Alen Boksic.

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Sacchi, Ancelotti e Conte: poucos ganharam tanto como o trio acima (Getty)

A passagem de bastão
Depois dos anos 1990, o fator Arrigo Sacchi e o domínio dos times de Fabio Capello eMarcello Lippi, o futebol italiano teve a polarização entre Juventus e Milan até, pelo menos, metade dos anos 2000. Outros clubes ainda conseguiram competir, mesmo que sem o scudetto, como a Fiorentina de Francesco ToldoRui Costa e Gabriel Batistuta, treinada por Claudio Ranieri, Alberto Malesani e Giovanni Trapattoni, o Parma dos grandes investimentos da Parmalat com Nevio ScalaCarlo Ancelotti e Malesani e a Inter da época instável e gastadora de Massimo Moratti, de bons resultados com Luigi Simoni e Héctor Cúper.
 
Somente dois times quebraram a dualidade entre rossoneri e bianconeri: a dupla de Roma, na passagem do século XX para o XXI. A ambiciosa Lazio, de tantos investimentos, talentos e comandada por Sven-Göran Eriksson, foi a primeira a levar oscudetto com um 4-4-2 fora do contexto trazido pelo Milan de Sacchi. O time do sueco não tinha a rigidez de Capello ou a agressividade de Sacchi, mas era uma equipe organizada e criativa, que usava muito a potência de Pavel NedvedDejan Stankovic e Marcelo Salas, mas também aproveitava bastante a leitura de jogo e liderança deRoberto ManciniJuan Sebastián Verón e Alessandro Nesta.
 
Na temporada seguinte, foi a vez da surpreendente Roma de Capello. O clube de Franco Sensi se reforçou bastante e formou elenco forte, mas a surpresa se deveu pela forma que Capello decidiu organizar seu time. A estratégia e modelo de jogo continuaram os mesmos, mas o sistema tático mudou drasticamente, passando do seu consolidado 4-4-2 para um 3-4-1-2, que buscava dar sustentação para Francesco Totti no apoio aos artilheiros Batistuta e Vincenzo Montella (às vezes, Marco Delvecchio) e ainda aproveitar toda a ofensividade dos laterais, agora alas, Cafu e Vincent Candela, com o sólido trio de defesa formado por Antônio Carlos Zago, Walter Samuel e Jonathan Zébina, auxiliados pelos aguerridos Cristiano Zanetti e Damiano Tommasi.
 
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Batistuta, Capello, Sensi e Totti: grande parte da história da Roma (Sky)
Era até mesmo uma resposta para os tantos 4-4-2 e 4-3-1-2 que começaram a ser utilizados na época. Com as duas linhas de quatro, muitos viram este esquema como a melhor forma para defender, com linhas baixas e compactas, além de aproveitar o talento dos vários fantasistas que surgiram nesse contexto. Eram trequartista ou seconda punta, camisas 10 atacantes e que, depois de Roberto Baggio, popularizariam o termo "nove e meio". No 4-3-1-2, outros preferiram dar liberdade aos laterais, ter proteção com o trivote atrás do trequartista, o fator de desequilíbrio do time, com um dupla de ataque que se completava, como na zona mista: um mais fixo, outro mais livre.
 
Mas a solução de Capello não voltaria a render outro scudetto para os giallorossi, que ficaram com o vice no ano seguinte. Isso porque a Juventus, depois de vender Zinédine Zidane e Pippo Inzaghi a peso de ouro, se reforçou de maneira inteligente. Depois de rescindir com Ancelotti - tópico importante nessa parte, a última do especial -, a Velha Senhora trouxe Lippi de volta. O técnico "descobriria" o 4-4-2 como a melhor forma de explorar seus talentos e que combinaria muito bem com o futebol de equilíbrio que sempre privilegiou, aproveitando o trabalho do antecessor. Com seu cigarrinho, comandou mais dois scudetti, antes de ser substituído por Capello, que novamente manteve a base construída ainda por Ancelotti e potencializou um time que dominou por completo o futebol italiano por dois anos, mas acabou marcado pelos títulos retirados por causa do envolvimento no Calciopoli.

O aprendizado com os mestres e as vitórias em campo
Ao mesmo tempo, Carlo Ancelotti começava a se consolidar como grande treinador. Autor de uma das melhores teses de Coverciano - como destacado nessa antiga matéria da BBC; e você pode acessar grande quantidade das teses do centro esportivo italianoaqui -, Don Carlo aprendeu com muita gente antes de assumir o posto de treinador – foi pupilo de Nils Liedholm e Arrigo Sacchi, dois dos grandes técnicos que o futebol da Itália já teve. Reconhecidamente um jogador com boa leitura de jogo e atributos técnicos, muito trabalhador e versátil no meio-campo, quando ainda jogava era quase como um segundo treinador do time. Justamente o posto que assumiu após a aposentadoria, quando foi auxiliar de Sacchi na seleção italiana.

Uma grande experiência antes de assumir a Reggiana por uma temporada, na qual levou a equipe para a Serie A, e ser contratado pelo Parma, substituindo Nevio Scala, em 1996. No lugar do 3-5-2 do velho treinador, a defesa a quatro e marcação por zona que os times que Ancelotti jogou tanto prezavam. O esquema tirou espaço de Gianfranco Zola, por causa da utilização de Enrico Chiesa e Hernán Crespo – isso levou o atacante pra o meio-campo e acelerou sua saída para o Chelsea –, mas mostrou grande organização e teve bons resultados: o Parma alcançou a segunda posição no campeonato, a apenas dois pontos da campeã Juventus.

Na Juventus, apesar do bom início, Ancelotti acabou não tendo grande admiração, até pela falta de títulos em duas temporadas e meia – em duas vezes, amargou o vice. Mesmo com Zidane, seguiu com seu 4-4-2, com o francês voltando às origens posicionado na esquerda do meio-campo. E, nesse sentido, antecedeu Lippi e Capello na predileção pelas duas linhas de quatro que seriam a marca da Juventus nos próximos anos.
 
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Uma das duas conquistas da orelhuda por parte de Ancelotti no Milan (Reuters)
Demitido para a volta de Lippi à Turim, retornou para Milanello com o objetivo de substituir Fatih Terim. Seus antecessores tiveram vida curta em Milão, mas Ancelotti manteve-se firme mesmo com as críticas de Silvio Berlusconi por, na sua opinião, ser defensivo. Em oito anos de San Siro, Carletto aproveitou suas argumentações na tese feita em Coverciano e mudou alguma das suas ideias que utilizara na Serie A até então.Il Futuro del Calcio: Più Dinamicità (em tradução literal, O Futuro do Futebol: Mais Dinamismo) era o título do artigo, e foi a partir dele que o treinador realmente trouxe mais dinamismo com o novo sistema tático usado pelo Diavolo. 

Ancelotti conquistou apenas um scudetto em todo o tempo que treinou o Milan e falhou em competir com a Inter depois a queda da Juventus na segunda metade dos anos 2000. A sua passagem como técnico por Milanello, no entanto, foi bastante vitoriosa, já que em termos de Liga dos Campeões, seu time chegou a três finais e ganhou duas. Assim se fez sua influência no futebol.

A fórmula de Ancelotti era simples, e partia do trivote, o trio de meio-campistas na frente da defesa. No Milan, reuniu um "cão de guarda" (Gennaro Gattuso), um talentoso meia-atacante (Andrea Pirlo) e outro meia ofensivo igualmente talentoso, técnico e inteligente (Clarence Seedorf). Gattuso era responsável por destruir as jogadas adversárias e apoiar as ultrapassagens do lateral (Cafu, a partir de 2003; antes tinha um quarteto defensivo que pouco apoiava ofensivamente). Por sua vez, Pirlo, muito técnico e inteligente, hábil nos dribles e passes decisivos, sem contar a bola parada, jogava à frente dos zagueiros, reinventando a função do regista, aproveitando o experimento deCarlo Mazzone no Brescia de Baggio. Para completar o setor, Seedorf fazia a distribuição e "administração" do jogo, retendo a bola e apoiando um clássico trequartista (Rui Costa), mais cadenciado, mas habilidoso e grande fornecedor de passes decisivos. Na frente, Inzaghi e Andriy Shevchenko davam dinamismo, desmarques e gols.

Jogando assim, o Milan foi quarto colocado em 2002, terceiro em 2003 – ano em que foi campeão da Liga dos Campeões superando Inter e Juventus –, e campeão em 2004, enfim com Cafu e Kaká, que trariam ainda mais dinâmica e qualidade para a organizada equipe de Ancelotti. O lateral deu apoios providenciais pela direita, com suas ultrapassagens e cruzamentos, enquanto o jovem meia-atacante trouxe mais potência com suas arrancadas e chutes, mantendo cota de gols, e alternativas táticas para o treinador emiliano. Posteriormente, o brasileiro assumiria o posto de Rui Costa como trequartista, com e faria a equipe funcionar de forma diferente, dando maior protagonismo e importância para Pirlo e Seedorf.

Mas foi mesmo com nova mudança no sistema tático que Ancelotti chamaria mais atenção. O treinador passou do 4-3-1-2 para o 4-3-2-1, consagrando a "árvore de Natal" com o título da Liga dos Campeões de 2007 sobre o Liverpool, vingando a derrota de 2005 para os Reds. Na nova formação, Massimo Ambrosini atuava na esquerda da primeira linha do meio-campo, oferecendo mais combate e dando outros movimentos, apoiando com infiltrações e equilibrando os apoios de Marek Jankulosvki, enquanto Seedorf passou a atuar mais à frente, ainda operando como o gestor do time, combinando com Kaká e suas arrancadas partindo da direita. Intencionalmente, o novo sistema permitiu maior variabilidade no posicionamento, muitas vezes se comportando com duas linhas de quatro (uma volta às origens), com Gattuso e Seedorf abertos.

Depois de se desgastar nos anos finais, no qual viu o Milan passar pelo início de sua crise técnico-financeira, Ancelotti mostrou ser um dos principais treinadores do futebol italiano nas últimas duas décadas. As influências de Liedholm, Sacchi e da escola holandesa, por tabela, foram úteis para que ele se mantivesse como um dos treinadores mais requisitados da fase contemporânea do esporte. Não à toa, Carletto conseguiu contratos milionários em Chelsea, Paris Saint-Germain e Real Madrid. Não à toa, também, conquistou títulos nos três países – e mais uma orelhuda para seu currículo.

Um pouco mais novo que Ancelotti, Roberto Mancini também teve boas referências antes de assumir a carreira de treinador. Por 14 anos, só teve dois treinadores - que, na verdade, também eram diretores técnicos, ou managers - e que acabaram influenciando bastante o jogador e o homem Mancini. Na Sampdoria, ficou seis anos sob a batuta deVujadin Boskov, comandante do time que venceu o scudetto em 1991 e jogou a final da Copa Europeia em 1992. Seu substituto foi Sven-Göran Eriksson, com quem Mancini desenvolveu longo relacionamento profissional. Enquanto jogador, Mancio usava sua influência e liderança sobre o grupo para aparecer quase como um segundo treinador. Quando o sueco foi para a Lazio, Mancini o seguiu, e após aposentar-se assumiu o posto de vice-treinador da equipe.
 
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Mancini aproveitou ensinamentos de técnicos estrangeiros e montou a base tática de uma Inter vencedora (AP)
Mancini teve sua primeira experiência como treinador em uma Fiorentina prestes à falência, ainda sem a licença máxima de treinador, substituindo Fatih Terim em março de 2001. O que não o impediu de guiar o aguerrido time para o título da Coppa Italia naquele ano, num simples e improvisado sistema tático, com duas linhas de quatro atrás de Rui Costa e Chiesa, fórmula que acabou seguindo nos meses seguintes até pedir a demissão em janeiro.

Em sua tese de Coverciano, Mancini focou na função de trequartista, que tanto desempenhou na sua carreira de jogador. No seu trabalho seguinte, na Lazio, acabou não utilizando alguém assim, preferindo se restringir ao 4-4-2 com um meio-campo trabalhador e criativo com Stefano Fiore, Giuliano Giannichedda, Stankovic e César e dupla de ataque que se completava: um mais fixo (Bernardo Corradi) e outro mais livre (Claudio López). Dessa forma, foi quarto colocado em 2003 e novamente campeão da copa em 2004.

Aproveitando a turbulência financeira da Lazio, a Inter aproveitou e contratou o treinador jesino, escolhido para guiar o novo time e dar um pouco de estabilidade ao elenco. E aos poucos conseguiu, conquistando mais uma vez a copa na primeira temporada, acompanhada de um terceiro lugar curioso no campeonato, com apenas duas derrotas no ano, mas recordista em empates – 18. Em 2006, com o escândalo Calciopoli viu seu time, novamente terceiro colocado, acabar campeão da Serie A com as punições a Juventus e Milan.

Em Appiano Gentile, foram dois anos de 4-4-2, nos quais Mancini não fugiu do seuscript: duas linhas de quatro simples e compactas, defesa bem coordenada (Toldo, Javier Zanetti, Iván Córdoba, Marco Materazzi ou Samuel e Giuseppe Favalli), meio-campo que reunia força e técnica (Stankovic, Cristiano Zanetti, Esteban Cambiasso e Verón na sua primeira versão; Luis Figo, Stankovic, Cambiasso e Verón na seguinte) e ataque potente (Christian Vieri, Adriano, Obafemi Martins e Julio Cruz). Com o declínio físico de Figo e a chegada de Zlatan Ibrahimovic, além de laterais mais apoiadores - Maicon, Maxwell e Fabio Grosso -, Mancini passou a buscar novas soluções. E mesmo sem um sistema tático consolidado, fez sua melhor campanha em 2007, sofrendo apenas uma derrota e quase chegando aos 100 pontos.

Somente na sua última temporada - graças aos seguidos insucessos na Europa, apesar do domínio no país -, Mancini consolidou o 4-3-1-2, depois de largar o 4-4-2 e não ter agradado no 4-3-3. No esquema, redescobriu Stankovic como meia-atacante atrás de Ibrahimovic e Cruz, e deu início à dupla Maicon-Zanetti pela direita, com os potentes apoios, ultrapassagens, cruzamentos e chutes do ofensivo lateral brasileiro e a cobertura do veterano ex-lateral argentino, confortável no meio-campo, dando equilíbrio ao time e liderando a partir dali.

Uma sólida base que seria continuada e melhorada por seu sucessor, José Mourinho, adepto do 4-3-1-2 e também sem muito sucesso nos experimentos com o 4-3-3. Em duas temporadas em Milão, o treinador de Setúbal utilizou alguns conceitos já introduzidos por Mancini, e aplicou reais diferenças em métodos de treinamento, abordagens de situações de jogo e preparação psicológica. Ao mesmo tempo, contou com peças mais adequadas para o seu entendimento de futebol. Assim, aperfeiçoou o time.

Apenas na temporada seguinte, após mercado ativo e sob suas orientações, é que o treinador português se sentiu confortável em utilizar pontas, com a contratação de Samuel Eto'o, adaptado à ponta direita, e Goran Pandev, no mercado de inverno, na esquerda – completando o trio com o artilheiro Diego Milito, também recém-chegado. Atrás, Wesley Sneijder era o criador, fundamental nos passes decisivos e bola parada. O holandês era apoiado por Cambiasso e Thiago Motta, a dupla de volantes que se completava e dava sustentação para o novo sistema tático do time, o 4-2-3-1, utilizado na campanha europeia que levou ao triplete em 2010. Naquele time, destaca-se, ainda, o fato de a defesa atuar com linhas mais baixas, por causa das características do treinador e também de seus jogadores – Lúcio, Samuel e Christian Chivu.

Os outsiders
Em especial, pelos resultados que alcançaram e impacto que tiveram, cinco treinadores também tiveram relevância nessa época, entre os anos 1990 e 2000. O mais chamativo, certamente, foi Zdenek Zeman. O revolucionário treinador checo, ao lado do seu inseparável maço de cigarro, criou um frisson no futebol italiano no início dos anos 1990 com sua estratégia ofensiva e um 4-3-3 particular que seria apelidado de Zemanlandia.

Não bastasse já colocar em prática um estilo ousado de futebol, o boêmio ainda fazia isso em equipes pequenas, algo muito raro no futebol mundial – e muito mais em um país de técnicos conservadores, como a Itália. À época, muitos times de menor expressão, pequenos ou de meio de tabela, ainda reciclavam, algumas vezes com sucesso, versões do futebol do catenaccio e da zona mista. Um grande exemplo foi o Torino de Emiliano Mondonico, que chegou a brigar na parte de cima da tabela e atingiu a final da Copa Uefa. O mesmo fazia o Genoa de Osvaldo Bagnoli, que fora campeão com o Verona em 1984.
 
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Mondonico, Zeman e duas formas completamente diferentes de ver o mesmo esporte (Badamgia)
A primeira versão do modelo de jogo zemaniano a chamar atenção teve espaço no Foggia, que subiu da Serie B para dar espetáculo na já badalada liga italiana. Um time sem escrúpulos, que gostava apenas de atacar e pressionar o adversário com o maior número de jogadores possível no campo ofensivo, sem se preocupar em levar gols e perder jogos. Mesmo que às vezes acontecessem derrotas acachapantes, como o famoso 8 a 2 sofrido em casa diante do Milan, em 1992.

Mesmo com a tática suicida, Zeman conseguiu bons resultados e se mostrou um ótimo desenvolvedor de jovens talentos, revelando dezenas de jogadores ao longo da sua carreira. Craques como Nesta e Totti, nos seus tempos na capital italiana, quando treinou Lazio e Roma e, apesar da falta de títulos e equilíbrio tático, chegou a brigar no topo da tabela e disputar competições europeias.

Também se destacaria pelas polêmicas declarações e acusações contra a Juventus, o que acabaria prejudicando seu trabalho no Belpaese. Somente nos anos 2010 voltaria a fazer outro bom trabalho, novamente pelo Foggia e revelando mais jogadores – Lorenzo Insigne e Marco Sau, por exemplo –, mas, especialmente, no Pescara em 2012, campeão da Serie B com recorde de gols marcados – lá, deu destaque novamente a Insigne, e também a Ciro Immobile e Marco Verratti.

Não tão ofensivo e destemperado quanto Zeman, Alberto Zaccheroni chamou atenção pelo seu sistema tático incomum para a época, também agressivo e com predileção pelo ataque. No seu 3-4-3, fez boas campanhas pela Udinese, inclusive um terceiro lugar em 1998, consagrando trio de ataque que contava com Oliver Bierhoff e Amoroso.

Currículo que chamou atenção de Berlusconi, profundo admirador do futebol ofensivo, que o contratou – assim como seus jogadores Bierhoff e Thomas Helveg – para a temporada que marcaria o centenário do clube, e que acabou com o scudetto, em 1999. Os anos seguintes, porém, não foram tão bons e os insucessos na Liga dos Campeões acabaram custando seu emprego  Sempre fiel ao seu sistema tático, apesar das críticas, emplacou trabalhos irregulares por Lazio, Inter, Torino e Juventus, entre intervalos de dois a três anos, sem jamais voltar a ganhar títulos - até assumir a seleção japonesa, treinando de 2010 a 2014 no país asiático.
 
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Com futebol baseado na posse de bola, Prandelli treinou Fiorentina e a seleção (Eurosport)
Mais recentemente, Gian Piero Gasperini, seguiu o legado de Zaccheroni e seu 3-4-3, mesmo sem ter qualquer relação com o técnico romanholo. Depois de quase dez treinando na base da Juventus e trabalhos pelo Crotone, emplacou boa sequência pelo Genoa. Da Serie B, em 2006, levou o clube de Enrico Preziosi para a Liga Europa em 2009. Seu modelo de jogo respondeu bem na Ligúria, com encaixes individuais, marcação agressiva e muito jogo pelas laterais, com os apoios dos alas e grande participação dos pontas.

No entanto, o técnico piemontês teve resistência quando assumiu uma enfraquecida Inter. Sua experiência em Milão durou apenas quatro partidas, nas quais acumulou três derrotas e um empate. Além dos maus resultados e planejamento equivocado da diretoria, Gasperini causou desconforto ao utilizar Zanetti como zagueiro e Sneijder em posicionamento mais recuado – nada muito absurdo para quem conhece o seu trabalho e vê como ele gosta de experimentar. Depois de experiência sem sucesso pelo Palermo, voltou ao Genoa em 2013 e voltou a engatar bom trabalho, com nova vaga para a Liga Europa em 2015 –  a falta de licença do clube impediu a participação no torneio europeu.

Apesar de ser o primeiro a conquistar o scudetto no 4-2-3-1, Mourinho não foi o primeiro a utilizar o esquema com bons resultados na Itália. Antes, em 2005, Luciano Spalletti chamou atenção com sua Roma, um grande incômodo para a Inter nos anos de baixa da Juventus e de insucesso nacional do Milan. Entre 2006 e 2010, os giallorossi foram vice-campeões quatro vezes, levando ainda duas copas.

Em tática muito parecida com a da França de Raymond Domenech naqueles anos, Spalletti inovou no Belpaese ao utilizar Totti mais avançando, não mais trequartista, mas como falso nove, largando o centro do ataque para transitar na intermediária e circular a bola com o trio de meio-campistas romanista (Daniele De Rossi, Simone Perrotta e David Pizarro ou Alberto Aquilani) e acionar os pontas (Rodrigo Taddei, Mancini e Mirko Vucinic), que garantiam profundidade e infiltrações na área juntamente com Perrotta. A defesa, com Doni, Christian Panucci, Philippe Mexès e Chivu também era ponto forte do único time que ainda competia com a Inter.

Na mesma época, Cesare Prandelli também conseguiu bons resultados com a Fiorentina no 4-2-3-1 – e às vezes no 4-3-1-2 –, levando o clube toscano para a Liga dos Campeões depois de longos anos. No organizado time do treinador, se consagraram os centroavantes Luca Toni e Alberto Gilardino, além do atacante romeno Adrian Mutu, que viveu seu auge em Florença. Naquele período, ainda foram revelados outros bons atacantes, como Pablo Daniel Osvaldo, Giampaolo Pazzini e Stevan Jovetic. Chamava atenção também o meio-campo técnico, com Riccardo Montolivo, Fabio Liverani, Zdravko Kuzmanovic e Felipe Melo.

Prandelli, posteriormente assumiria a seleção italiana, e levaria à Nazionale alguns dos conceitos adotados no Artemio Franchi. A base do time era o meio-campo técnico, que valorizava a posse de bola, em uma clara inspiração no futebol que Espanha e Alemanha vinham trazendo naquele momento. Na tentativa de fazer a Itália jogar de forma mais contemporânea, mostrou ótimas ideias, boa observação e interpretação tática, principalmente no início do trabalho, com longas séries de invencibilidade em jogos oficiais, o vice-campeonato europeu, em 2012, e o terceiro lugar na Copa das Comfederações, em 2013. Depois, por não conseguir formar um time-base, acabou se perdendo na Copa do Mundo de 2014, e não evitou o vexame da Itália.

A volta da defesa a três
Zaccheroni e Gasperini utilizam – no caso do segundo, ainda – a defesa com três homens. No entanto, enquanto os dois concebem o artifício para oferecer alternativas ofensivas pelos flancos a seus times, alguns treinadores revisitaram, neste milênio, a disposição tática com três defensores com o intuito de reforçarem a defesa.

Walter Mazzarri, por exemplo, disseminou a defesa a três e seu 3-5-2 na Itália nos anos 2000 com uma postura mais rígida e estratégia defensiva. No Livorno, na Reggina, na Sampdoria e, especialmente, no Napoli, formou times que defendiam com linhas baixas, tendo capacidade para "sofrer" a pressão adversária, consagrar seus zagueiros e goleiros, mas também apresentar ricos contra-ataques e ataques diretos muito perigosos e eficazes. Na Inter, até pela forma com que era confrontado por outros, não teve sucesso nesse modelo de jogo e falhou em apresentar alternativas.

Sem dúvidas, o grande trabalho do técnico toscano foi no Napoli, no qual levou o clube de Aurelio Di Laurentiis, ainda se organizando financeiramente e sem grandes investimentos, para competições europeias e ao primeiro título desde a era Diego Maradona – a Coppa Italia, em 2012.

Mazzarri consagrou Camilo Zúñiga e Christian Maggio neste esquema: os alas versáteis, de contribuição defensiva e apoios dinâmicos, não se prendiam a cruzamentos da linha de fundo e buscavam o drible e infiltrações. No meio-campo, os jogadores se limitavam a passes curtos e simples, enquanto o trio de defesa era igualmente agressivo, com muitas antecipações e apoios laterais. Os azzurri tinham o jogo pelos flancos como base e  ponto de desequilíbrio, mas era o trio Marek Hamsík, Ezequiel Lavezzi e Edinson Cavani que fazia a diferença e decidia na frente. O dinamismo de Hamsík ligava os setores, e o eslovaco ainda entrava na área e distribuía assistências. Lavezzi oferecia individualidade, dribles e jogadas rápidas pelos lados, enquanto Cavanai aparecia com oportunismo, ótimos desmarques, corridas em ataques rápidos, aproveitando ao máximo seu grande poder de finalização.
 
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Conte repensou convicções para se sagrar tricampeão nacional (Getty)
Outro técnico que ficou marcado por apresentar três jogadores na defesa é Antonio Conte, mesmo que sua origem como treinador não venha daí. Da escola de Antonio Toma e Giampiero Ventura, Conte cresceu como treinador no ofensivo 4-2-4, conseguindo bons resultados assim por Bari e Siena. A partir do sistema tático, estratégia e modelo de jogo bem definidos, tinha a predileção por toques curtos na saída de bola, uma defesa sem muito apoio ofensivo (em termos de ultrapassagens), mas com apoio na manutenção da posse e circulação da bola junto aos dois meio-campistas, um mais combativo, indo de uma área à outra, outro mais criativo, com passes decisivos e lançamentos. O ataque era particular, com pontas de bom ritmo e trabalho de equipe, dando profundidade e jogo lateral, enquanto os centrais eram ágeis com toques curtos, movimentando-se no último terço, com um entre os zagueiros e outro circulando atrás. Era essa a base do 4-2-4 que Conte conseguiu exportar para um grande time e elenco mais completo, a sua Juventus tricampeã italiana.

Foi com Conte que a maior campeã italiana acertou um projeto após anos de ostracismo com Claudio Ranieri, Ciro Ferrara, Zaccheroni e Luigi Delneri. Todos treinadores medianos, sem grandes ideias e que não conseguiram dar o salto final em Turim. Diferentemente do ambicioso e renovador Antonio Conte. Com uma boa equipe o auxiliando e um mercado inteligente da diretoria, aos poucos deu consistência ao time e engatou três scudetti, encaminhando o trabalho para seu sucessor potencializá-lo - Massimiliano Allegri, que levou a Vecchia Signora para a final da Liga dos Campeões em 2015.

Com as peças que tinha em mãos, Conte reconfigurou suas ideias táticas. Para encaixar Vidal, depois de experimentos com o 4-2-3-1, encontrou confiança e equilíbrio com o 4-3-3, seguindo praticamente as mesmas premissas do antigo modelo, mas com um homem a mais no meio-campo para dar suporte a Pirlo na criação das jogadas. Assim, o técnico acabava exigindo também dos zagueiros – especialmente de Leonardo Bonucci – maior contribuição na gestão da posse e controle  do jogo. Dessa maneira, foi campeão italiano na primeira temporada.

Mas Conte não estava convencido e, percebendo novas tendências no campeonato e no futebol em si, viu no 3-5-2 a oportunidade de potencializar ainda mais sua equipe. Com o novo sistema, que tinha inspirações da zona mista, ainda que preservando a marcação por zona, como a variação para o 4-4-2. Mesmo com a mudança de posicionamento e novas funções, o treinador preservou a compactação dos setores, com e sem a bola, controlando o jogo com a posse da pelota ou com linhas baixas. Preservou a liberdade para Pirlo, melhorando-a, na verdade, com Bonucci se tornando uma espécie de líbero e o apoio dos zagueiros laterais, criando novas linhas de passe.

Os alas se comportavam como os pontas do 4-2-4, dando amplitude e profundidade, mas com liberdade para entrar na área e sem se prender a jogadas de linha de fundo. A dupla de ataque, por sua vez, seguiu com o mesmo funcionamento, com um entre os zagueiros e outro livre na intermediária, bem como os meio-campistas ao lado de Pirlo. "Motorzinhos", indo e voltando com bom ritmo, infiltrações, chutes de longe e apoios aos alas, atacantes e ao regista.

Assim, Conte dominou a Itália com seu futebol impositivo, que acabou sendo copiado por outros à sua maneira, quase sempre por uma estratégia defensiva, espelhando seu 3-5-2 com linhas baixas e alas convertidos a laterais - na verdade, 5-3-2. Fora do Belpaese, alguns também importaram algumas ideias, como mesmo Pep Guardiola, utilizando algumas ferramentas para o controle do jogo e o pressing alto, como os zagueiros avançados e com apoios laterais, os alas convertidos a pontas, abrindo o campo e criando linhas de passe, assim como a circulação do trio de meio-campistas no campo adversário.

Agora, em um momento em que a Serie A renova os treinadores e começa a receber mais aporte financeiro, o que virá pela frente? Técnicos como Vincenzo Montella, Maurizio Sarri e Eusebio Di Francesco ajudarão a entendermos o que a Itália irá produzir de novo em termos táticos nos próximos anos.
 

Análise fantástica do Quattro Tratti, blog de futebol italiano que acompanho. Para quem gosta de futebol é um prato cheio, disseca toda a história futebolística de uma das escolas mais tradicionais do futebol. É um texto longo porque foi publicado em 4 partes no blog, mas eu coloquei em um tópico só. Vale a pena a leitura, é sensacional. 

Postado

Eu li a parte um certa vez, enquanto explorava o Quattro Tratti. Em terras tupiniquins, esses caras manjam tudo e mais um pouco do Calcio. Essas análises minuciosas que a turma do Barcellos e Antonelli fazem são sensacionais, digno daquela aba de "futebol" que muita gente tem em seus favoritos. 

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