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Entidades místicas do futebol brasileiro


Bruno Caetano.

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Os redatores da Trivela está fazendo um especial "Entidades místicas do futebol brasileiro". Depois de excelentes artigos, resolvi postar aqui. É impressionante como tem um desses em cada time (e time da Série A). Vale a pena a leitura de cada 'personagem'. E a cada novo artigo eu posto aqui.

Entidades místicas do futebol brasileiro: o atacante que finaliza mal

Jean comemora: seus três gols ajudaram a decidir o título do Flamengo em 2004, contra o Vasco
Jean comemora: seus três gols ajudaram a decidir o título do Flamengo em 2004, contra o Vasco

Quando ele está com a bola, a torcida se levanta. Habilidoso, ele normalmente passa pelos adversários, seja na rapidez, seja na habilidade. Muitas vezes é capaz daquelas jogadas que fazem o torcedor se empolgar e preparar o grito na garganta, driblando vários adversários até ficar cara a cara com o goleiro.

Aí que vem o problema. Ele olha para os lados, procurando dar um passe que o exima daquela responsabilidade tão pesada para ele. Procura alguém que o exima da obrigação tão temida: finalizar. Por quê? Porque finalizar é o seu drama. Chutar mal é o seu carma. Ele é mais uma entidade mística do futebol brasileiro: o atacante que finaliza mal.

Um exemplo disso é Jean, maldosamente apelidado de JEAN PÉ DE PANO. Revelado pelo Flamengo, ele brilhou na final do Campeonato Carioca de 2004, quando marcou incríveis três gols. A sua carreira mostraria que essa seria a exceção, não a regra. Passou por Cruzeiro, Saturn, da Rússia, Vasco, Corinthians, Fluminense, Santos e passou por diversos times pequenos. Atualmente, o jogador defende o América.

Sua finalização era tão ruim que ele era acusado de ser o atacante que “não gosta de fazer gols”. Uma fama que aumentou quando ele tentou justificar a falta de gols dizendo que preferia passar a bola a fazer o gol.

“Não sou um atacante de área. Caio pelas laterais. Sou rápido e habilidoso. Meu forte é a movimentação. Gosto de fazer as jogadas e servir os companheiros na cara do gol”, disse Jean quando foi apresentado ao Santos, em 2009.

“Meu forte é a movimentação” é um mantra do jogador que finaliza mal. Em geral, é um segundo atacante, que tem habilidade e/ou velocidade. Consegue se destacar por outros atributos, mas chega ao profissional sem saber finalizar.

Mesmo sendo atacante. Quando as críticas chegam, seus defensores argumentam pela sua permanência no time baseando-se em outros atributos. A frase muitas vezes começa com um “ele não faz gol, mas…” e se completa com algum de seus atributos.

A desculpa pode ser clássica (“mas ele é habilidoso”; “mas ele é rápido”), motivacional (“ele é tem muita raça”) ou até em sua versão futebol moderno (“ele marca a saída de bola”; “ele acompanha o lateral adversário”). No fim, tudo para justificar por que diabos manter no time um atacante que finaliza TÃO mal.

Alguns atacantes conseguem passar a carreira inteira perambulando por times grandes, jogando até no exterior, mas parece que nunca conseguem aprender a finalizar. De quando sobe para o time profissional até os seus últimos anos como jogador, este místico personagem torce para que a bola nunca sobre para ele finalizar. Tenta sempre um drible a mais na esperança de um companheiro aparecer mais bem colocado para ele passar a bola e respirar aliviado. Porque se sobrar para chutar para o gol, ele sabe: vai mandar a bola na lua e a torcida irá xingar até a sua 15ª geração.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o jogador talismã

Tupãzinho, do Corinthians

Tupãzinho, do Corinthians

Salve, salve, amigos da Trivela! Tudo bem com vocês? Aqui, Felipe Lobo que escreve e quero, antes de tudo, agradecer às muitas contribuições para a nossa série sobre entidades místicas do futebol. Vocês são fantásticos, cheios de grandes ideias que anotamos com carinho. Vocês verão algumas duas suas ideias por aqui nas próximas semanas, porque teremos que estender a série para incluir as ótimas sugestões que vocês nos mandaram. Responderemos a elas uma por uma. E podem continuar mandando! Nosso e-mail (redação@trivela), Facebook e Twitter espera por vocês, que são os melhores leitores do mundo.

Só você que me ilumina, meu pequeno talismã
Como é doce essa rotina de te amar toda manhã
Nos momentos mais difíceis você é o meu divã

“Por que ele não é titular? Sempre que ele entra vai bem”. Quantas vezes você já ouviu isso falando de um jogador? Há muitos exemplos, no passado e no presente. O talismã normalmente é um jogador que não tem muita qualidade para ser o titular do time. Chega aquele momento que ele começa a entrar, marcar seus golzinhos mesmo com pouco tempo em campo e se torna um xodó da torcida. Se cria uma ilusão que aquele jogador é melhor do que ele é, porque consegue converter em gols ou boas jogadas os poucos minutos que entra em campo.

O Corinthians teve, durante muito tempo, Tupãzinho, um jogador histórico do clube. Autor do gol no jogo decisivo contra o São Paulo, no Brasileirão de 1990, acabou tornando-se reserva. Mas ficou no clube por longos seis anos, até 1996. Quase sempre reserva. Ele se tornou o maior talismã do time. Durante anos, foi um jogador emblemático que vinha do banco de reservas para “colocar fogo no jogo”. Em geral, isso não funcionava. Mas a imagem era que funcionava, porque algumas vezes ele marcava gols, ou fazia a jogada do gol. E aí, a mística se torna maior que o jogador.

O jogador talismã é como o horóscopo que se lê de manhã. Se errar, ninguém se lembra. Mas se acertar, a mística ganha ares de premonição. “Sempre que ele entra, resolve”. E a memória afetiva cria a imagem de um jogador que resolvia, mas que na verdade tinha mais carisma do que qualquer qualidade técnica. Como titular, Tupãzinho nunca se tornou um atacante que realmente se destacava. Não era um jogador cheio de recursos técnicos, estava longe de um grande craque. Mas tinha o carinho da torcida e a mística.

Caio, nos tempos de Flamengo, comemora gol observado por Romário

Caio, nos tempos de Flamengo, comemora gol observado por Romário

O Flamengo teve uma relação parecida com Caio, atualmente conhecido como Caio Ribeiro, comentarista da Globo. Vestindo a camisa 16 – em uma época que os titulares sempre jogavam com numeração de 1 a 11 -, Caio entrava nos jogos e ganhava a imensa massa rubro-negra com os gols que marcou em finais de jogos e com boas atuações – mas só quando vinha do banco.

Caio tinha sido jogador de seleção (poucos jogos), com passagem pela Europa (um fracasso) e grandes times (sem se destacar mesmo por nenhum). Tinha suas qualidades técnicas, mas nunca pareceu suficiente para ser o titular do Flamengo. Mas entrando durante o jogo, fazia a alegria do povo que frequentava a geral e comemorava com o atacante. Mesmo não tendo feito tantos gols assim. Foram só 17 em 91 jogos pelo Flamengo. Os gols que marcou na final da Copa Mercosul, em 1999 – dois no primeiro jogo, no Maracanã, e um no jogo de volta, no Parque Antártica – deixaram a impressão que Caio era sempre decisivo quando entrava no segundo tempo.

Euller, no Palmeiras de 1999, também viveu uma situação assim, entrando no segundo tempo dos jogos para “colocar fogo no jogo”. No Palmeiras atual, Cristaldo é o xodó, que entra no segundo tempo das partidas, marca gols e acaba caindo nas graças dos torcedores. Mesmo que, quando comece jogando, não consiga ter atuações de destaque. Os gols nem são tantos, mas assim como a temperatura real nem sempre é a mesma da sensação térmica, o jogador talismã costuma ter uma mística muito maior do que o seu real desempenho em campo. Talismã mesmo só na música do Elson do Forrogode (de onde tirei os versos que abrem o texto).

Nós gostamos da mística porque ela não é racional. Nem sempre há motivos para gostar daquele jogador, mas ele nos lembra uma sensação deliciosa de fazer um gol no final do jogo que ele entrou, uma sensação que isso irá acontecer de novo. Um componente de fé. E futebol tem muito de fé. Uma fé que por vezes é cega.

Embora seja um meio cercado de superstições, o futebol é laico.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o volante brucutu

Dinho, volante do Grêmio
Dinho, volante do Grêmio

Salve, salve, amigos da Trivela! Como vocês estão? Aqui estou mais um dia, sob o olhar sanguinário do vigia (nosso vigia chama Cícero e até ajuda para não ter trânsito aqui na rua, é fera). Quero, antes de tudo, agradecer a participação de vocês nesta nossa série de entidades místicas do futebol brasileiro. Depois do camisa 10 clássico e do lateral que não sabe marcar, é a vez de darmos vida a mais um desses personagens fantásticos.

A entidade de hoje é uma figura emblemática, mal visto por grande parte dos torcedores, que também são os primeiros a pedir por ele quando o time está mal, especialmente na defesa. Basta tomar um gol com toques pelo meio que vem a corneta: “Falta alguém ali no meio que marque. Não dá para ter um meio-campo assim!”. Seja na seleção, seja nos clubes, dos times mais técnicos as mais toscos, o volante brucutu parece sempre ter um lugarzinho. Porque mesmo os que mais falam sobre ter um meio-campo que jogue, que pense, que tenha técnica e habilidade, basta uma derrota para a crítica vir. “Falta alguém que marque, equilibre o meio”. É ele: o volante brucutu.

Este tipo de jogador é o responsável por expressões consagradas no rádio esportivo brasileiro como “cada machadada, uma minhoca” ou “ele não perde a viagem”. É aquele jogador que divide todas – às vezes pega até a bola. Um tipo de jogador que normalmente é líder em estatísticas de desarmes, mas que não consegue fazer um passe mais longo que o próprio braço. É aquele jogador que passa meses sem dar um chute no gol e anos sem balançar a rede. Quando sai um gol dele, a torcida até faz graça. É um símbolo de um futebol viril, que não deixa de dar um tapa na orelha (ou algo um pouco pior) no adversário que for mais folgado. É aquele tipo de jogador que normalmente é muito valorizado em disputa de Copa Libertadores.

É uma espécie de patinho feio do futebol. Porque mesmo que ninguém diga abertamente, mas ele é sempre um dos mais pedidos, um dos mais queridos e frequentemente cai nas graças da torcida. É aquele que grita, xinga, marca. Alguns técnicos não conseguem montar um time sem ele. Basta um técnico da seleção colocar uma meiúca com dois volantes leves e técnicos que logo vem a crítica que falta “pegada” no meio-campo. Afinal, se o lateral não marca, alguém tem que marcar, né?

Ele é uma espécie de complemento a outras entidades místicas, como o camisa 10 clássico (que precisa fazer tudo, mas não marca) e que pode cobrir os laterais que não sabem marcar. Um volantão, pegador, mordedor de tornozelo, aquele que entra em campo para destruir, recordista de cartões do time (a não ser que o Luís Fabiano ou o Kléber Gladiador estejam na sua equipe). É aquele cara especialista em fazer faltas para matar contra-ataques, um totozinho de leve, um puxão de camisa, um empurrão nas costas…

Alguns até são injustiçados. Muitos dos volantes que ganham a fama de brucutu não são toscos que não sabem passar a bola, mas assumem um papel tático de jogador de destruição por um pedido do técnico ou por uma necessidade do time. Dinho, ex-Grêmio, que ilustra a nossa newsletter, é um desses. É um volante brucutu por essência, mas estava longe de ser ruim com a bola nos pés. Podemos dizer o mesmo de jogadores como Ralf ou Luiz Gustavo, que fizeram esses papéis no Corinthians e na seleção brasileira, respectivamente, porque era o que se precisava deles naqueles times.

O volante brucutu é uma espécie em extinção no mundo. É mais do que uma característica, é um papel tático, é uma função, é um destino. O futebol de alto nível cada vez dá menos espaço a esse tipo de jogador. Mas o Brasil é um país complexo, que adora olhar para o meio-campo da Alemanha, sem um “camisa 5” autêntico e desejar isso, mas secretamente ter como ídolo esse tipo de jogador. Nós adoramos falar sobre como o futebol brasileiro precisa de um meio-campo que jogue, como vemos nos melhores times do mundo, mas no fundo, nós amamos esse tipo de jogador.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o lateral que não sabe marcar

Zé Carlos (1998) - Flávio Conceição também foi cortado da seleção em 1998, no dia da apresentação. A ideia de Zagallo era usá-lo de volante e lateral, então o substituto foi Zé Carlos, naquela época no São Paulo. Acabou tendo que jogar, no lugar do suspenso Cafu, na semifinal contra a Holanda (Foto: AP)

Zé Carlos (1998) - Flávio Conceição também foi cortado da seleção em 1998, no dia da apresentação. A ideia de Zagallo era usá-lo de volante e lateral, então o substituto foi Zé Carlos, naquela época no São Paulo. Acabou tendo que jogar, no lugar do suspenso Cafu, na semifinal contra a Holanda

O que é um bom lateral no Brasil? A primeira coisa que se pensa é que ele tem que apoiar bem. A cobrança é pra isso. Um lateral que guarde posição e feche o seu lado na defesa dificilmente chegará aos profissionais se não tiver um bom desempenho ofensivo. Lateral defensivo? Pode esquecer. Não vinga.

Isso tem a ver com o que se cobra na formação do jogador, mas também com o que a imprensa cobra que os laterais façam. Basta olhar nas avaliações dos jogadores naquelas notas de jornais ou sites: “Tímido no apoio. 5,5”. Mas espera aí, o lateral marcou bem o adversário, fechou os espaços e não apareceu muito no ataque e por isso ganha nota baixa? Sim, é isso.

Quantos casos de laterais que vemos chegar ao profissional e são logo taxados de: “Bom jogador, mas marca mal”? É só pegar os exemplos que temos atualmente. Marcos Rocha, do líder Atlético Mineiro, recebeu muitas críticas durante a carreira por não ser um bom marcador. Ao mesmo tempo, se cobrava dele o apoio intenso pelo qual ele se caracterizou. A crítica à pobreza defensiva é constante, mas se o lateral for defensivamente muito bom e “tímido” no ataque, não tem vez. Vai entender… E nós tentamos.

Quando um jogador sobe da base e atua na lateral, a primeira crítica normalmente é essa: não sabe marcar. Auro, do São Paulo, brilhou por seleções de base e nos times das categorias de base do clube. Quando chegou ao profissional, logo foi taxado como um lateral que não sabe marcar e se cogitou até a mudança de posição para jogar mais à frente. Mas ele se destacou justamente por ser um lateral ofensivo, rápido, habilidoso, que chegava bem ao ataque e fazia assistências para gols. No profissional, é cobrado que ele marque bem. Desde que continue atacando bem.

Há de se perceber uma mudança tática também. Os laterais brasileiros ganharam muita liberdade a partir do momento que os pontas deixaram de ser usados, entre o final dos anos 1980 e início dos 1990. Quando o 4-4-2 com dois volantes e dois meias se consagrou no Brasil, foi preciso criar alternativas de jogo pelos lados do campo – sim, eles mesmos, os laterais. Só que o mundo voltou a usar jogadores pelos lados, o futebol ficou com espaços mais reduzidos e os laterais – vejam só – precisam marcar, porque muitos times resgataram os pontas ou jogadores de ataque pelos lados do campo. E aí ouvimos que lateral brasileiro não sabe marcar.

Cafu e Roberto Carlos surgiram como laterais que se destacavam ofensivamente. Cafu, inclusive, jogava como meia no São Paulo de Telê Santana – no Mundial de 1992, ele é o camisa 11 que ajeita a bola para Raí marcar o gol do título naquela falta ensaiada. Na Europa, tornou-se também um marcador. Roberto Carlos se consagrou pelo seu chute forte e preciso, mas não ficou 10 anos como titular do Real Madrid só por isso. Tornou-se um grande marcador também, uma qualidade que não era muito ressaltada na sua carreira. É, talvez, o melhor lateral esquerdo brasileiro de todos os tempos, um dos melhores da história.

Cobramos que os laterais apoiem o ataque, apareçam nas pontas, cruzem bem, sejam técnicos, mas também sejam grandes marcadores, mesmo subindo da base e os formando como jogadores ofensivos. No Brasil, raramente se usa um zagueiro como lateral. Em outros países, como na Argentina, por exemplo, é comum que os laterais também saibam jogar como zagueiros. São defensores, antes de tudo. No Brasil, isso é raro e, em geral, os zagueiros que jogam como laterais são criticados pela falta de velocidade e… Por não serem ofensivos. Pois é.

Laterais que não sabem marcar, mais uma instituição mística do futebol brasileiro.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: O camisa 10 clássico

Pelé se despede da seleção em amistoso no Maracanã, em 1971 (AP Photo)

“Ele não é um camisa 10 clássico”. “Falta um camisa 10, 10 mesmo, não só de número, mas de característica”. “Falta alguém para pensar o jogo”. “Não produzimos mais camisas 10”. “Falta um autêntico camisa 10”.

Mudam os adjetivos, mas não o fetiche. O camisa 10 é buscado há tempos, com uma fé maior que em algumas igrejas – e, em alguns casos, cobram até um dízimo que chamam de sócio-torcedor, sempre na esperança de um milagre. Mas quem é o tal camisa 10 clássico? Quem é essa entidade no futebol brasileiro, que tanto se cobra e pouco se vê? Quem, afinal de contas, tem essa figura no seu elenco?

Na Alemanha, campeã do mundo, não há um “camisa 10 clássico” (não me venham falar de Özil). Na Espanha também não. Na Itália, menos ainda. Na Argentina, o 10 é Messi, que é um craque, mas está longe do fetiche do camisa 10 clássico. Na Copa América, os camisas 10 eram completamente diferentes entre si. Neymar é um atacante, mais do que tudo, com mais características de finalização do que de armação; James Rodríguez é um jogador que mais chega ao ataque do que arma jogadas; Valdívia é, talvez, o que mais se aproxime desse delírio coletivo de camisa 10 clássico, mas no Palmeiras não deixou saudades.

O 10 clássico que se pede é um jogador quase impossível. Um armador de jogadas, que tenha visão de jogo, que tenha um passe milimétrico e toques de genialidade. Precisa fazer gols, mas também precisa estar na construção das jogadas. Precisa chutar bem, passar bem, cabecear na área, vir buscar o jogo com os volantes. Precisa ser um grande passador, mas também um grande finalizador; tem que ter a “elegância” de Didi na armação e a frieza de Romário em frente ao gol. Precisa ser um 10 que nunca houve, mesmo que vários craques tenham vestido esse número, mas com características muito diferentes um do outro.

O tal camisa 10 clássico é uma entidade do futebol brasileiro. Os times buscam como um Santo Graal, como a salvação da lavoura. Talvez por isso tenha havido tanta esperança com Paulo Henrique Ganso quando ele surgiu e a decepção com ele seja tão grande. Se imaginou que ele poderia ser o “’10 clássico”, mas ele nunca foi. Tanto que Muricy o cobrava para entrar na área e fazer gols, se cobra que ele é um jogador muito lento, que participa pouco do jogo.

Um delírio coletivo que busca no passado um jogador que raramente existiu. Zico era um 10 clássico ou um craque com a camisa 10? Pelé talvez não tenha sido um 10 clássico, se aproximando muito mais de um atacante. Rivaldo, o 10 do penta, era mais atacante do que armador. Nos anos 1960, Ademir da Guia vestia a 10 do Palmeiras e, mesmo sendo craque, era criticado por ser “lento” e “sobrecarregar Dudu”, o volante do time. Alex, anos depois, vestiria a mesma 10 do Palmeiras e seria tachado de Alexotan, inclusive na seleção. O 10 do tetra era Raí, que nunca foi um armador de jogadas propriamente dito, mas muito mais um ponta de lança, fazia muitos gols e com muitas qualidades técnicas, mas altamente criticado, desde as Eliminatórias até a Copa, quando foi para o banco para a entrada de Mazinho, um volante. Zinho, que vestia a 9 em 1994, mas vestiu a 10 no Palmeiras quando Rivaldo chegou ao time, era uma espécie de armador, mas foi apelidado injustamente de “enceradeira”. Para ser o “10”, é preciso lances plásticos, bonitos, espetaculares. Não basta ser um craque do passe, que faça o time jogar. É preciso ter algo de Ronaldinho no auge.

Muito se diz que a camisa 10 ganhou a relevância que tem por causa de Pelé, envergando a 10 do Santos e da seleção, conquistando três Copas do Mundo. Talvez a melhor definição para o que Pelé fez foi criar a camisa 10 mística. Um número que Rivellino usou, no Corinthians, Fluminense e seleção, Rivaldo no Barcelona e na seleção, Giovanni, o messias, no Santos e no Barcelona, Raí no São Paulo, Edmundo e Roberto Dinamite no Vasco, mesmo sendo atacantes puros, Neto, no Corinthians, Dirceu Lopes, no Cruzeiro e tantos outros, completamente diferentes entre si. Talvez não haja um camisa 10 clássico. Nós buscamos mesmo é a camisa 10 mística.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o goleiro reserva

Esteban Alvarado, do AZ, briga com torcedor que invadiu o campo (AP Photo/Stanley Gontha)Esteban Alvarado, do AZ, briga com torcedor que invadiu o campo

Pouca gente dá a devida importância, mas o goleiro reserva é uma das figuras mais místicas do futebol brasileiro. Por quê? Ora essa, como assim? Há uma função específica que todo goleiro reserva exerce com vigor e constância: a de chegar na voadora quando acontecem cenas lamentáveis.

Ninguém se prepara para cenas lamentáveis. Os times não fazem treinamento sobre como agir em situações de briga com os adversários. Mesmo assim, é de conhecimento geral que quando as cenas lamentáveis acontecem (e eventualmente elas irão acontecer), a principal função do goleiro reserva é chegar ARREPIANDO.

E veja, goleiro reserva é uma espécie de profissão. Não são poucos os times que tiveram aquele goleiro reserva folclórico, bom de grupo, que fica ali ocupando o cargo, por assim dizer, por anos. Sérgio no Palmeiras, por exemplo. Ele foi titular por algum tempo, depois tornou-se reserva e assim foi em mais de uma passagem do goleiro pelo Parque Antártica. Ou Bosco, no São Paulo, que ficou anos ocupando o posto de reserva de Rogério Ceni. Ou mesmo Wilson, eterno reserva de Ronaldo no Corinthians dos anos 1990. Dizem que goleiro é um cargo de confiança. Talvez o goleiro reserva também seja.

Basta se lembrar de vezes que você viu cenas lamentáveis. Há um padrão: o goleiro reserva sempre chega rasgando na briga. Depois eles podem até dizer que foram para apartar, que foi para defender o companheiro… Não importa. O fato é que voadora de goleiro reserva é praticamente um fundamento do futebol. Se nem o goleiro reserva defender o time em uma briga, bom, pra que ele serve, não é mesmo?

Lembremos de episódios épicos de cenas lamentáveis. Em 1999, na final do Campeonato Paulista, Palmeiras e Corinthians vinham de jogos de muita rivalidade na Libertadores. Teve embaixadinha de Edílson, confusão, e claro que teve goleiro reserva na confusão: Renato, goleiro reserva do Corinthians, que foi para cima dos palmeirenses.

Em 2010, durante a Libertadores, o Estudiantes venceu por 2 a 1 o Internacional, mas a classificação ficou com o time brasileiro pelo gol fora de casa. Ao final do jogo, uma briga generalizada entre os jogadores. O zagueiro Desábato partiu pra cima do goleiro Abbondanzieri. Entrou em campo então o goleiro reserva Lauro, que desferiu um soco no zagueiro argentino.

Tem goleiro que até se especializa na função treinando artes marciais, como Giovani, reserva do Atlético Mineiro em 2011.

Essa é uma função conhecida por todos, em todos os níveis. Em 2014, em um jogo da segunda divisão gaúcha, o jogo entre Tupi e Internacional de Santa Maria ficou no 0 a 0. Ao final do jogo, o goleiro reserva Baiano, do Tupi, partiu pra cima do lateral Roger Bastos. Virou briga generalizada. O Diário de Santa Maria conta essa história.

Não sabemos quando acontecerão cenas lamentáveis, mas sabemos que o goleiro reserva, seja qual for, estará lá para fazer a sua parte e chegar na voadora.

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Esses artigos eram postados em primeira mão na newsletter semanal do Trivela via-email. São muito bons e puxam exemplos lá do fundo do baú que se aplica pra muito jogador por aí. 

Só adicionaria o Dinei, que foi outro jogador talismã do Corinthians. Tupãzinho é o mais famoso, mas o Dinei não fica atrás. Entrava no segundo tempo e botava fogo na partida.

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Danrlei seguia à risca esse papo de goleiro reserva. Só que ele era titular!

Estourava uma briga na outra área, já tava lá o Danrlei dando "polentaço" e "voadeira" nos adversários.

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Danrlei seguia à risca esse papo de goleiro reserva. Só que ele era titular!

Estourava uma briga na outra área, já tava lá o Danrlei dando "polentaço" e "voadeira" nos adversários.

Hahahahaha, também logo lembrei do Danrlei.

Teve uma vez que ele foi expulso em um jogo e ficou sentado na beira do campo, ehauehuaheuashe. Épico!

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Hahahahaha, também logo lembrei do Danrlei.

Teve uma vez que ele foi expulso em um jogo e ficou sentado na beira do campo, ehauehuaheuashe. Épico!

Sem contar na Libertadores, que ele se meteu na briga do Dinho e Válber das uns socos no cara, aheuaehuae.

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Não consigo ler "lateral que não sabe marcar" sem lembrar do Diego Renan.

Um dia "futuro lateral da seleção", no outro esquecido e lesionado num canto qualquer do Brasil

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Geralmente esses talismãs têm nomes estranhos também: Flávio Caça-Rato, Tupãzinho, Euller "O filho do vento".

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Geralmente esses talismãs têm nomes estranhos também: Flávio Caça-Rato, Tupãzinho, Euller "O filho do vento".

Nome estranho é outra entidade mística do futebol brasileiro. rsrs

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Geralmente esses talismãs têm nomes estranhos também: Flávio Caça-Rato, Tupãzinho, Euller "O filho do vento".

Diego Clementino! hahahah

  • Neto Marques tirou o destaque deste tópico
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Entidades místicas do futebol brasileiro: o terceiro homem de meio-campo

Luís Fernando Mertinez, meio-campo que passou por Guarani, Cruzeiro, Palmeiras, Náutico e Criciúma

Luís Fernando Martinez, meio-campo que passou por Guarani, Cruzeiro, Palmeiras, Náutico e Criciúma. Atualmente no Atlético PR.

Os anos 1990 consagraram uma formação tática baseada no 4-4-2. No Brasil, passamos a chamar de “quadrado” do meio-campo: dois volantes defensivos e dois meias ofensivos. Mesmo nos tempos de 4-3-3 com dois meias, era comum ter um meio-campo mais organizador e um mais meia-atacante.

Com o 4-4-2 dos anos 1990, as funções ficaram mais definidas. Quem marcava bem era volante; quem atacava bem era meia. Vez ou outra aparecia uma figura que não era nem tão bom marcador para ser volante nem tão habilidoso para ser meia. Com isso, surgiu mais uma entidade mística do futebol brasileiro: o terceiro homem de meio-campo. E ela continua nos gramados até hoje.

Em geral, o terceiro homem de meio-campo se encaixava no esquema como um segundo volante mais habilidoso, armador. Como não era um marcador muito firme, muitas vezes era improvisado como meia ou assumia essa função durante o jogo. Outras vezes, quando estava jogando como meia, era recuado para a volância por causa da pegada, para dar a famosa “leveza ao meio campo”. O nó é que ele não desempenhava nenhuma dessas funções muito bem. Era um híbrido.

Quando há um jogador desses no elenco, e ele tem técnica, os técnicos não titubeiam. Eles dizem que esse jogador precisa atuar “protegido” para render. Para isso, o professor coloca dois volantes atrás e, pimba: este jogador vira o “terceiro homem” de meio campo.

Em tese, é uma boa ideia. Ter um armador, um jogador que não é tão atacante, que não chega tanto de cabeça na área (proj. Muricy), mas que dá qualidade à faixa central do gramado, olha, é ótimo. Ainda no mundo ideal, o terceiro homem de meio-campo é aquele jogador que dá a ilusão de TOQUE DE CLASSE. Só que o mundo ideal não existe. O terceiro homem não marca, não cria, não organiza, não ataca, não marca gols. Mas “bate bem na bola” e “é muito técnico”. Bingo!

Um exemplo disso era Martinez, que passou por Guarani, Palmeiras, Cruzeiro e Náutico, entre outros tantos clubes no futebol brasileiro. Canhoto, surgiu como um meia de criação, foi recuado para volante, mas também não era um marcador tão firme. Então, o meio-campo era armado para que ele fosse um terceiro volante ou um meia recuado – ou um pouco dos dois. Na teoria, um conceito de modernidade, de um jogador que marca e ataca. Na prática, um jogador que marca pior que um volante e ataca pior que um meia. É um homem à procura de um lugar. Martinez só rendeu quando o time jogava em torno dele, como o Náutico de 2012 e 2013.

Rosinei, cria do terrão do Corinthians, também foi um deles. Meia de origem, não conseguia render tão bem e acabou recuando para volante. Também não era a sua melhor posição. Acabou vestindo a camisa do famoso terceiro homem de meio-campo, podendo não atacar tão bem como meia e não defender tão bem como volante. Funcionou tão bem quanto uma mobilete numa rodovia: é a motor, mas não rende na estrada.

Teve também o caso de Fabiano, que surgiu no São Paulo e rodou por diversos clubes, como Santos e Atlético Mineiro, e esteve na seleção durante a Olimpíada de 2000. Gostava de vestir a camisa 7, número que usou nos Jogos de Sidney. Como meia, criava poucas chances. Como volante, não marcava tão bem. O resto você já sabe: acabava tendo que atuar como terceiro homem do meio-campo. Sem marcar e nem criar tão bem (virou um mantra…)

E como não lembrar de Corrêa, que atuou por Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro? Era sempre lembrado por ser um jogador que “batia bem na bola”, “técnico”, mas que deixa o time exposto se joga de volante e que não cria nada quando joga como meia. Vira o tal terceiro homem de meio-campo, que não tem a responsabilidade de fazer nenhuma das duas coisas. E não faz mesmo – exceto quando, ao bater bem na bola, faz um golaço e justifica toda a euforia em torno da sua técnica (palmeirenses vão sempre lembrar do seu golaço de falta contra o Fluminense, em 2005, que carimbou a ida do clube à Libertadores).

Poucos times se beneficiam dos terceiros homens. Mas, quando eles chegam durante a janela de transferência, dão um baita ânimo à torcida. Afinal, repita comigo no replay: “Eles são técnicos e batem bem na bola”. O terceiro homem é um talento em busca de uma função.

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Terceiro homem de meio-campo dependendo do esquema pode ser justamente o 10, já que o quarto homem costuma se infiltrar atrás dos atacantes e também ajudar a finalizar (atacante sombra).

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Deviam fazer um post sobre as suspensões longas por indisciplina, uma entidade verdadeiramente mística, dado que inexiste. 

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o terceiro homem de meio-campo

Li o texto pensando no Petros. hahahahahaha

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Maicon ex-SP hoje no Grêmio se encaixa perfeitamente

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O engraçado é que o Tcheco de fato tinha mais qualidade pra armar o jogo, diferente dos outros dois. E o Giuliano, embora seja "terceiro homem de meio-campo", não se encaixa muito nessa descrição.

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Entidades místicas do futebol brasileiro: o zagueiro zagueiro

Por Felipe Lobo

Odvan, o zagueiro zagueiro, marca Riquelme: sim, isso aconteceu
Odvan, o zagueiro zagueiro, marca Riquelme: sim, isso aconteceu

Em 1999, o Vasco era um dos melhores times do Brasil (faz tempo…) e tinha na sua dupla de zaga dois jogadores completamente diferentes entre si: Mauro Galvão, já veterano e muito técnico, com 37 anos, e Odvan, um jogador que sempre teve como grande qualidade a vitalidade e caça ao tornozelo adversário. O primeiro era discutido como melhor zagueiro do Brasil na época, mas foi o segundo que foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa América, no Paraguai. O técnico, na época, Vanderlei Luxemburgo, justificou a convocação de Odvan criando uma expressão que passaria a ser eterna: “Odvan é zagueiro zagueiro”.

Mas o que é um zagueiro zagueiro?

Há quem diga que zagueiro não pode ser bonito. Outros gostam de dizer que zagueiro tem que ter um nome que imponha respeito. Foi assim que Jonathan Doin virou Paulo Miranda. Mas além da LATARIA, muitos acreditam que o zagueiro precisa ser sério na atitude. Na época que piercing e chuteiras coloridas começaram a aparecer no futebol, havia quem dissesse que zagueiro não podia usar nada disso. E se ele for grosso e não souber sair jogando, é até melhor.

O zagueiro zagueiro é especialista em um tipo de lance: aquele bico para a arquibancada depois de desarmar um adversário. É quando a torcida comemora como se fosse um gol. Mal sabem os torcedores que o zagueiro zagueiro faz isso só porque se ele tentar um passe, a chance de errar é enorme. Uma vez que desarmou o adversário, o zagueiro zagueiro só quer se livrar daquele estranho objeto esférico e voltar à caça de tornozelos, situação em que fica mais confortável.

Desejado por muitos técnicos da velha guarda, o zagueiro zagueiro odeia quando ele sobe para a área e a bola sobra nos seus pés. Ter a redonda nos pés, para um zagueiro zagueiro, é um tormento. Ele não sabe o que fazer, é como jogar futebol de terno. Por isso, ele trata de se livrar logo da danada. De preferência fazendo sinal de crucifixo.

Como não tem muita intimidade com a pelota, o zagueiro zagueiro às vezes complica e entrega uns gols no seu time. Um recuo mal calculado, um chutão para o lado que sai para trás, uma entrada atabalhoada que acaba em um pênalti ou mesmo uma expulsão por ter dado uma bordoada no adversário que fez uma firula. Aí a torcida que o exaltou por aquele chutão é a mesma que irá xingar toda a sua dinastia por ter prejudicado o time.

Melhor então ficar com a boa imagem, como esta aqui de Odvan imitando Stevie Wonder e cantando “I Just Called To Say I Love You”:

Sujeito de nome estranho (geralmente no aumentativo) e/ou apelido de Caveirão/Roçadeira/Porrada/Arranca-Toco/Quebra-Costela. Feio, bigode estilo sujo de feijão, camisa pra dentro e chuteira preta. Tem a famosa 'cara de mau', assustando os atacantes só com o olhar. Joga no máximo três partidas antes de ser expulso. Salva um gol em cima da linha e bate no peito como um gorila. Nos assusta com seus dribles desnecessários e arriscados, botes furados, erros de posicionamento e bizarros gols-contra.

Este é o Zagueiro-zagueiro, mais uma entidade mística do futebol brasileiro.

  • Vice-Presidente
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O vídeo do Odvan já zerou a porra toda. hahaha

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Me lembrei de Márcio Rosário, só que ele é tão ruim que não seria justo comparar ele com outro jogador.

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Paulão deve ser o melhor exemplo do "zagueiro zagueiro" atualmente. Nome no aumentativo, só sabe chutar pra frente e lixar canelas. Claro que ainda tem seus lampejos de craque, como gols de bicicleta e meias-luas, mas ai já é outra história.. Hahahah

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Renato Abreu, maior terceiro homem do meio de campo da história. Gil é zagueiro zagueiro também. Zelão era outro, Roque Junior, Lucio, DURVAL..só lendas

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Últimos exemplares desses zagueiros aí no São Paulo é o Édson Silva. Se bem que Fabão é mais cara disso.

  • Diretor Geral
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Pô, que baita ideia (o tema) dessas colunas hein? Hahaha demorei, mas tô curtindo mt ler cada uma delas. Mas sou eu ou o Felipe Lobo tem um ar pessimista quando escreve sobre os temas? Porra, ele sempre acaba denegrindo de alguma maneira essas "entidades místicas" no fim da coluna, como fez com  o "3o homem de meio-campo" por exemplo.

Volante "brucutu" sempre me agradou. Até hoje eu ainda vejo espaço pra ele, mas claro, seu "campo de atuação" acabou diminuindo bastante... ainda assim, pra acertar defensivamente um time com problemas, acho válido.

Sobre o "camisa 10 clássico": ele falou, falou, falou mas não citou UM EXEMPLO dele hahahaha! Porra, achei o colunista exigente DEMAIS quanto à isso. Eu por exemplo vejo no James Rodríguez um cara assim, jogando pela Colômbia, ou no Özil, dentro do Arsenal. A figura do "camisa 10 clássico" tá mt atrelada também à velocidade de jogo mais lenta do passado, e esse tipo de jogador nunca mais existirá.

3o homem de meio-campo me agrada pra caralho. Fabiano, camisa 7 do SP nem acho que seja esse perfil, era mais meia-atacante mesmo. Arouca nos tempos de Santos é que fazia bem essa função...

Agora, "zagueiro-zagueiro" nunca me agradou, vai tomar no cu como eu odeio zagueiro assim HAHAHAHA! Dependendo do jogador e do time, eu até reconheço sua importância, mas nunca gostei desse estilo. Prefiro mil vezes mais "zagueiro-técnico", mas que chegue junto quando preciso (Miranda).

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Entidades místicas do futebol brasileiro: a eterna promessa

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Começa com os burburinhos. “Dizem que tem um moleque na base que joga demais”. Normalmente é um jogador precoce, que começa a jogar em uma categoria acima da sua durante toda a carreira. Ele tem 15 anos, mas já atua no sub-17. Ele tem 17, mas atua pelo sub-20. E assim vai. É aqueles jogadores que assinam contrato aos 12 anos, aos 13 já coleciona uma série de reportagens sobre ele ser um futuro craque e aos 15 já defendeu a seleção do país em inúmeros torneios.

Tem uma fama enorme de ser o craque do time, de ter marcado centenas de gols atuando pelas divisões de base. Usualmente recebe o apelido de “Novo (algum craque)”, que já o faz ficar sob uma pressão ainda maior para vingar. Mal passou dos 16 anos e as notícias sobre ele já fazem a torcida ficar ansiosa para vê-lo entre os profissionais. Começa uma certa pressão para que o garoto vá logo para o time de cima, mas os discursos são parecidos: ele ainda é novo, temos que dar tempo ao tempo.

Como o jogador é um craque em potencial, o empresário pede um salário alto para alguém que nunca sequer entrou em campo pelos profissionais. Aos 16 anos, idade que pode finalmente assinar como profissional, ganha um salário maior do que a maioria das nós, mortais, vai ganhar na vida. Tem tudo, é protegido, às vezes é até escondido em algum lugar no exterior para fugir do assédio de clubes estrangeiros. Mimado por todos, protegido, muitas vezes nem precisa marcar, “porque ele tem muito talento para desperdiçar marcando”. Não tem só um empresário: tem um staff, com gente que cuida da sua carreira, do seu estilo e de mais um monte de coisas que nem se sabe direito o que é, mas dizem que é legal ter porque tem uns nomes em inglês.

Aos 17, a pressão já é grande demais. Todo mundo quer ver aquele fenômeno em campo. As pessoas começam a procurar os jogos do time de base para assistir. Na categoria sub-20, ele é um novato, joga com companheiros muito mais velhos. É reserva, porque seu corpo ainda é de um adolescente, enquanto os mais velhos da categoria já têm barba na cara e físico de gladiador. Sempre que ele entra em campo e toma uma falta mais dura, já se fala em “proteger o talento”.

No noticiário, o empresário já diz que ele será o futuro da seleção. Já surgem notícias que grandes clubes europeus, aqueles mais ricos, fizeram propostas por ele, mas o clube dono do seus direitos rejeitou. O empresário fala maravilhas, e fica ainda mais maravilhado de poder falar o quanto quiser e ganhar páginas de jornal, minutos no rádio e posts na internet. A conta do jogador no Twitter é seguida por milhares e milhares de pessoas. Ele assina contrato com uma marca famosa de material esportivo.

Até que finalmente chega a hora. Os centenas de gols na carreira da base geram uma enorme expectativa. A torcida já grita o seu nome antes mesmo de ele ter pisado no gramado com o time principal. Quando ele vai para o aquecimento pela primeira vez, a torcida se anima. “Lá vem o nosso garoto”, dizem uns para os outros os torcedores na arquibancada. Chega a hora. O técnico chama. Ele recebe as instruções. Corpo franzino, rosto de adolescente. Sobe a placa. A torcida se alvoroça. Ele entra em campo com pé direito, toca o chão, faz sinal de cruz, levanta aos mãos ao céu.

Na primeira bola que recebe, ele dá uma pedalada, parte para cima. Passa pelo primeiro, mas o segundo marcador chega e tira a bola. A torcida se anima. “O garoto é bom de bola!”, diz o torcedor, olhando para o lado, sem conter a alegria. No fim, não deu para fazer muito na estreia. Era a primeira vez, o garoto nem tem idade para dirigir e enfrentou uns marcadores malandros. É normal, todo mundo pensa, ele precisa de tempo.

O garoto prodígio já é chamado de “jóia” pela imprensa. Dá entrevistas em programas de TV. Alguns analistas dizem que é cedo para avaliar o jogador. É xingado no Twitter, porque o acusam de ser torcedor de um rival e de estar com inveja do novo futuro supercraque que está pintando.

Os primeiros jogos já ficaram para trás e o garoto ainda não explodiu. Surgem os primeiros pedidos de paciência, porque o jogador é muito novo, ele precisa se adaptar. O time, em crise, começa a sofrer com os resultados. A torcida pede para que a promessa seja titular. O técnico fala em entrevista coletiva que é preciso de tempo. Diz que o jogador precisa “ganhar corpo”, que ainda não está pronto. O time continua sofrendo com resultados, vencendo algumas partidas e tropeçando em tantas outras.

Finalmente, o garoto é colocado como titular. A expectativa é alta, ele é muito acionado, a torcida faz festa para absolutamente qualquer lance dele. Não brilha. É o nervosismo, alguns dizem, é jovem, jovem oscila. Em jogos seguintes, ele entra, mas o time não muda. Sua vontade e habilidade estão ali, é evidente, mas ele não consegue fazer valer o seu talento. A confiança some. Ele passa a errar lances simples. Os pedidos por ele já não são tão frequentes. Já surgem os primeiros xingamentos ao jogador. Acusam-no de falta de humildade.

A temporada acaba, o time não foi lá grande coisa. Chega um novo técnico. Diz que o garoto não está nos planos. Pede para emprestá-lo, porque ele precisa ganhar experiência. Ele vai para um time da Série B com a expectativa de jogar mais. Começa bem, titular, mas acaba indo para o banco quando os resultados não vêm e o gol não sai.

Ao final da temporada, o garoto volta ao clube de origem, que o empresta novamente a um outro clube. Até que o contrato acaba. O mundo girou, ele não volta mais. Não há mais interesse de Barcelona, Chelsea ou Real Madrid. Nem de times da Série B. Começa a ter que procurar times do interior para jogar o campeonato estadual. Aquele salário que ele ganhava aos 13 passou a ser o salário que ele ganha aos 20, 21 anos.

Alguém sempre o contrata achando que ele voltará a ser aquilo que nunca foi, um craque que irá decidir jogos, brilhar, ser a estrela do time. Vive de “ah, aquele”, sendo contratado mais pelo barulho que fará do que epla bola que (não) irá jogar. Aos 22 anos, já tem mais de uma dezena de clubes no currículo. Você verá alguma notícia dele acertando com algum clube nos próximos meses. Alguém lembrará que era aquele jogador promissor, que jogou com aquele outro que vingou e virou mesmo craque. Ele continuará a sua vida de trabalhador da bola, tentando reviver o sonho que ele quase chegou a realizar.

Por Felipe Lobo, do Trivela

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De terceiro homem de meio campo, acredito que ninguém se encaixa melhor nesse rótulo no atual futebol brasileiro do que o Lúcio Flávio. O cara, já rodou por Paraná, São Paulo, Atlético-MG, Botafogo, Internacional, Santos e hoje tem sua segunda passagem pelo Coritiba. E por incrível que pareça, com 36 anos, o cara não tem NENHUM TÍTULO NA CARREIRA. Nem mesmo um simples estadual. Mesmo assim, quase sempre foi amado pelos técnicos.

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