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Time da Audi sobe e expõe como corporações estão driblando as regras da Bundesliga.


Johann Duwe

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Postado

Time da Audi sobe e expõe como corporações estão driblando as regras da Bundesliga.

 

A Bundesliga contará com um novato na próxima temporada: o Ingolstadt, que venceu o RB Leipzig neste final de semana e confirmou o acesso inédito na segunda divisão do Campeonato Alemão. Só não espere muito a história de superação do clube do interior que subiu quatro divisões nas últimas dez temporadas. Em teoria, pode parecer um feito imenso da cidade bávara de 130 mil habitantes. Na teoria. Porque a ascensão do Ingolstadt é um filme já repetido no futebol alemão durante os últimos tempos: o do time que recebe aporte financeiro de uma indústria gigante. Desta vez, a Audi, que possui sua sede na cidade.

 

A cidade da Baviera possui sua trajetória no futebol desde o século XIX, com o ESV Ingolstadt e o MTV Ingolstadt. Mas as dificuldades enfrentadas pelos pequenos clubes, limitados a torneios regionais, impulsionou a fusão de ambos em 2004, criando o FC Ingolstadt. Uma nova equipe que nascia fortalecida e que, logo nos primeiros meses, passou a contar com a ajuda decisiva da Audi. Mais do que patrocinar os tricolores, a empresa automotiva também comprou parte de suas ações e faz parte da supervisão técnica do clube. Além disso, investiu € 20 milhões na construção do Audi Sportpark, estádio para 15 mil torcedores inaugurado em 2010.

 

Desde 2004/05, a ascensão do Ingolstadt é notável. Logo em suas duas primeiras temporadas, subiu da Bayernliga para a Regionalliga Süd, equivalente ao terceiro nível do Campeonato Alemão na época. Já em 2008/09, participou da segundona pela primeira vez, mas não aguentou mais do que uma temporada. Voltou para 2. Bundesliga em um ano, com o novo estádio, e fazia campanhas de meio de tabela até o sucesso de 2014/15. Assumiu a vice-liderança logo na oitava rodada e não saiu de lá desde então.

 

Por valor de mercado, o Ingolstadt está entre os cinco elencos mais caros da segundona. Além disso, o investimento de € 1,75 milhões em contratações foi o quarto maior dos participantes desta temporada – bem abaixo dos € 25 milhões do RB Leipzig, é verdade, que não resultou em acesso. Em público, no entanto, os tricolores tomam um baile dos rivais. A média no Audi Sportpark chega a quase 10 mil espectadores por jogo, apenas a 14ª entre os 18 times da segundona, e menos de um terço do que levam às arquibancadas os tradicionais Kaiserslautern, Nürnberg e Fortuna Düsseldorf.

 

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A concorrência com o vizinho Bayern de Munique na Baviera explica as dificuldades para o Ingolstadt emplacar entre os torcedores. Mas, no fundo, acaba refletindo um fenômeno que não tem sido bem visto na Alemanha, com clubes pequenos chegando ao topo da Bundesliga graças a corporações multinacionais. O maior exemplo disso é o Hoffenheim, impulsionado pelos milhões da SAP a partir dos anos 2000. A rejeição geral se repete com o RB Leipzig, bancado pela Red Bull, ainda que o clube tenha ganhado a simpatia crescente do público da cidade oriental – com a média de público saltando de quatro para 24 mil em cinco anos. Ou mesmo Bayer Leverkusen e Wolfsburg, historicamente ligados aos funcionários de Bayer e Volkswagen, mas que receberam maiores investimentos das companhias nas últimas décadas.

 

A federação alemã possui regras específicas para impedir o surgimento de clubes-empresa. A partir de 1999, a entidade determinou nenhum acionista poderia ter mais de 50% da posse de uma mesma equipe, assim como nenhuma poderia ter menos de sete investidores. A exceção só foi dada a clubes ligados a empresas há mais de 20 anos, como Leverkusen e Wolfsburg. O que não evitou que “jeitinhos” fossem dados. O Hoffenheim, por exemplo, possui montantes desproporcionais vindos de Dietmar Hopp, o dono da SAP, que possui 49% do Hoffenheim. Já o RB Leipzig dividiu sua administração entre nove funcionários da Red Bull.

 

O mesmo acontece com o Ingolstadt, que na prática possui 20% de suas ações sob o controle da Audi, mas participação ativa na tomada de decisões. Aumenta o temor dos clubes mais tradicionais, que, sem as mesmas oportunidades financeiras, veem mais dificuldades de competir. Especialmente diante da possibilidade de redividirem o dinheiro dos direitos de transmissão de TV, priorizando as audiências e prejudicando pequenos históricos como o Freiburg e o Augsburg. Seriam atropelados pela geração de novos ricos.

 

Por mais que o Ingolstadt ganhe apelo na Bundesliga, não espere a simpatia das outras torcidas com os novatos, assim como é explícito nas partidas do Hoffenheim. A luta contra o “futebol moderno” se torna cada vez mais intensa entre os tradicionalistas. E não é só questão das instituições que perdem espaços para as empresas. É também a artificialidade de novos clubes que ganham torcedores apenas pelo sucesso e que, na maior parte dos casos, não seriam sustentáveis sem o aporte financeiro. Que, se os seus donos mudarem de ideia, não sobrevivem apenas pela força das próprias arquibancadas.

  • Vice-Presidente
Postado

Eu acho que se eles são organizados o suficiente para isso, merecem subir. Dificilmente o Ingolstadt vai virar uma máquina.

Postado

Henrique, na minha visão a bronca não é nem eles subirem, mas sim subirem sendo subsidiada por uma empresa, tal qual Hoffenhein e RB Leipzig, enquanto que equipes que foram tradicionais como o Nuremberg, 1860 München e outros, vem sofrendo porque não contam com esse "bônus" nas finanças. Quero só ver quando o RB Leipzig subir, pois convenhamos, não deve demorar muito, quero ver os jogos deles apenas para sentir a torcida adversária. 

  • Vice-Presidente
Postado

Henrique, na minha visão a bronca não é nem eles subirem, mas sim subirem sendo subsidiada por uma empresa, tal qual Hoffenhein e RB Leipzig, enquanto que equipes que foram tradicionais como o Nuremberg, 1860 München e outros, vem sofrendo porque não contam com esse "bônus" nas finanças. Quero só ver quando o RB Leipzig subir, pois convenhamos, não deve demorar muito, quero ver os jogos deles apenas para sentir a torcida adversária. 

 

Bobagem, o Bayer e o Wolfsburg estão aí a anos e sempre se sustentaram graças aos "bônus". Só por que tem mais tempo tem privilégio?

 

Se eles tem uma identidade, igual o Red Bull Leipzig, que resgatou um pouco as esperanças do lado Oriental, por que não acreditar que o Ingolstadt, pode trazer algo novo para a Baviera e para o futebol alemão?

Postado

Acho bobagem, também. Claro que eu gostaria de ver o dinheiro investido em um clube tradicional, mas é só preferência.

 

Tem dois trechos muito interessantes sobre tradicionalismo no futebol no livro Soccernomics:

 

1. "Sempre que as pessoas se lembram dos velhos tempos, quando trabalhadores comuns podiam ir aos jogos de futebol, vale a pena estudar as fotografias das massas usando boné, de pé, nas arquibancadas, e procurar os rostos que você não vê: negros, asiáticos, mulheres. É verdade que os estádios de hoje, apenas com lugares marcados, excluem os pobres. Contudo, antes dos anos 1990 as arquibancadas provavelmente excluíam uma variedade maior de pessoas. Nos anos 1970 e 1980, quando o futebol se tornou assustador, a violência expulsou até mesmo muitos homens brancos mais velhos."

 

2. "A atual desigualdade no futebol incomoda as pessoas não por ser sem precedentes, mas por ser mais determinada pelo dinheiro do que costumava ser. [...] Portanto, a desigualdade no futebol não é sequer nova. O que é novo é o dinheiro. Muitas pessoas tendem a achar que a desigualdade se torna injusta quando é comprada. Incomoda a elas que o Chelsea (ou o New York Yankees) possa contratar os melhores jogadores apenas por ser um clube rico. É um argumento moral e uma forma de igualitarismo idealista que diz que todos os times deveriam ter mais ou menos os mesmos recursos."

 

A minha pergunta é: porque o Nuremberg ou o 1860 München merecem mais que o Ingolstadt o investimento? Eu não acho que merecem, mas eu gostaria de ver esse investimento de preferência em times que levem torcida aos estádios, que tenham maior representatividade, etc. Mas isso, basicamente, por uma questão de festa. Na Alemanha isso não é problema, porque a torcida é presente nos estádios, mas no Brasil é muito diferente botar a grana num Remo e num São Caetano. Eu só não coloco isso num patamar moral. Tradicionalismo só não pode ser linha mestra de argumento moral.

Postado

Desde que sejam empresas com identidade relacionada ao time e a cidade, não vjeo nenhum grande mal nisso. A Audi é de Ingolstadt, é como uma empresa local investindo no time local. O foda é quando vem uma empresa de fora jogando dinheiro num time sem fãs, e desbalanceando a liga inteira.

Postado

E com o detalhe que a Audi nem bota o nome no clube como o Red Bull Leipzig bota. Tremenda palhaçada.

  • Diretor Geral
Postado

Também acho uma grande besteira. Queria ver se acontecesse um "Grêmio Osasco" por lá, a chiadeira que não ia virar.

Postado

Beleza, talvez para eles que torcem para clubes do mesmo país, talvez eles tenham um sentimento mais forte por presenciarem mais essa questão.

 

Outra matéria da Trivela bem bacana, 25 marcas de carro que tem/tiveram seus próprios clubes.

 

http://trivela.uol.com.br/juve-wolfsburg-sochaux-25-marcas-de-carros-que-tiveram-os-seus-proprios-clubes-de-futebol/

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