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Guardiola pode estar resgatando a essência do 3-5-2 (ou 3-4-3): dominar o meio-campo


Leho.

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Publicado em 01/08/2014, 10:52 --- Atualizado em 01/08/2014, 12:37

Bayern de Guardiola pode resgatar a essência da proposta do esquema com três na defesa: dominar o meio-campo

André Rocha, blogueiro do ESPN.com.br

Você leu neste blog, nas páginas do Diário Lance e nas redes sociais durante a Copa do Mundo algumas críticas e ressalvas ao sistema com três zagueiros que voltou com força nas Arenas do Brasil.

Todo esquema depende da proposta e da execução. Na Costa Rica, o 5-4-1 significava solidez e posicionamento na última linha defensiva negando espaços para as jogadas em profundidade. Tão legítimo quanto a idéia do reconstruído México, que privilegiava as jogadas pelos flancos, mas preenchia o meio-campo com o avanço de um dos zagueiros - Rafa Márquez em especial. Argélia, Irã e outros utilizaram três zagueiros em alguns momentos para "estacionar ônibus" na própria área contra favoritos. Totalmente aceitável.

O Chile de Jorge Sampaoli seguia a filosofia do mentor Marcelo Bielsa: três defensores contra adversários com dois avantes, garantindo a sobra. Mas intensidade e a intenção de ser protagonista.

Questionável, apesar da terceira colocação no Mundial, foi a escolha de Van Gaal: negando a escola holandesa de compactação e valorização da posse de bola. Aposta no encaixe da marcação, meio-campo esvaziado - muitas vezes só com um volante entre as intermediárias, jogo reativo de bolas longas de Sneijder procurando Robben e Van Persie. Ou apelando para bolas paradas. Foi assim até no primeiro tempo contra a Austrália. Eficiente até a semifinal, mas feio de se ver. E o técnico já experimenta no Manchester United...

A preocupação ideológica deste que escreve era que o título da Oranje desencadeasse uma onda de três zagueiros em todo mundo, principalmente no Brasil. Onde a execução muitas vezes é tosca, pragmática. Licença para treinadores escalarem dois volantes e apostarem tudo nas descidas dos alas, que nada mais são do que laterais avançados, e na criação de um ou dois meias procurando o centroavante. Muitas ligações diretas, trabalho nenhum no meio, especulação, times marcando correndo e não posicionados, excesso de bolas paradas. Um show de horrores.

Bem diferente da ideia original. Esboçada já em 1982, com França, Alemanha e a campeã Itália, que na final escalou Bergomi e Collovati para marcar os dois atacantes germânicos e deixou Scirea na sobra.

O "marco zero" oficial, no entanto, aconteceu na Eurocopa de 1984 com a Dinamarca. A idéia era simples: se a grande maioria de times e seleções atuavam com apenas dois atacantes, para que quatro atrás? A solução do técnico Sepp Piontek: avançar um defensor para o meio-campo. A intenção: dominar o setor de criação das jogadas. E ainda com uma ousadia: Morten Olsen, o libero que saía para o jogo e muitas vezes deixava os seus companheiros no mano a mano atrás. Espetáculo nos 6 a 1 sobre o Uruguai na fase de grupos. Pagou o preço contra Butragueño nas oitavas-de-final da Copa do México: 5 a 1 para a Espanha, mais "Fúria" que Roja, em contragolpes.

REPRODUÇÃO EUROSPORTS

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A saída de bola com três zagueiros comandada pelo líbero Morten Olsen em 1986 da pioneira Dinamarca de Sepp Piontek.

A outra iniciativa semelhante foi mais feliz. Argentina de Carlos Bilardo. Lembrada por Maradona e a melhor atuação individual em um Mundial. Mas também pela utilização dos três defensores. De uma forma mais segura. Brown era zagueiro de sobra, não líbero. Cuciuffo e Ruggeri completavam a zaga. Não havia um ala pela direita, já que Giusti e Batista formavam um "duplo pivot" à frente da defesa. Enquanto Olarticoechea fazia o setor esquerdo, havia um revezamento do lado oposto: Burruchaga, Enrique, Valdano... e Maradona, que muitas vezes aproveitava o espaço vazio para receber sem marcação. Não por acaso, o golaço sobre a Inglaterra - o mais bonito da História das Copas - nasceu por ali. Se precisasse variar, Cuciuffo virava lateral direito formando uma linha de quatro. A ideia, porém, seguia intacta: fortalecer o meio-campo.

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A Argentina de Maradona em 1986 contava com trio defensivo e apenas um ala pela esquerda - à direita, todos apareciam, inclusive o gênio do time.

Mudou com a versão brasileira de Sebastião Lazaroni. Que poucos recordam, mas virou referência após a conquista da Copa América, a classificação para o Mundial e vitórias sobre Itália e Holanda na Europa em 1989. Assim como o argentino Brown, Mauro Galvão saía pouco da sobra.

A grande diferença, porém, era a utilização de dois laterais de ofício com alas: Jorginho ou Mazinho e Branco. Na prática, defesa com cinco. Meio-campo vazio com os meias muito abertos, dando suporte para as ultrapassagens. Bebeto recuava para compensar a falta de criatividade.

OLHO TÁTICO

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Na Copa América de 1989, Lazaroni adaptou o 3-5-2 à realidade brasileira com laterais avançados como alas, meias abertos e Bebeto voltando para armar.

Na Copa de 1990 na Itália, várias seleções utilizaram do mesmo expediente. Inclusive a campeã Alemanha, com Berthold e Brehme alinhados aos três zagueiros e Matthaus onipresente no meio-campo marcando, criando e finalizando. Um 5-3-2 que fez o jornalista Jonathan Wilson classificar este momento de inflexão do futebol mundial como a "inversão da pirâmide" a partir do 2-3-5 nos primórdios.

OLHO TÁTICO

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O 5-3-2 da Alemanha campeã mundial de 1990, com os laterais Berthold e Brehme avançados como alas: a inversão da pirâmide.

Nos anos seguintes, Johan Cruyff e Van Gaal criaram execuções diferentes. No Ajax campeão da Europa e do mundo em 1995, o 3-4-3 com meio em losango que era forte no ataque, mas circulava a bola, impunha seu estilo. O mesmo para o "Dream Team" do Barcelona que contava com Koeman, líbero holandês que quando descia para armar as jogadas tinha a cobertura de... Pep Guardiola.

OLHO TÁTICO

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O Barcelona de Cruyff tinha o líbero Koeman saindo para organizar o jogo e lançar Stoitchkov e Romário, com a cobertura de Pep Guardiola.

Catalão agora técnico responsável pela última revolução no esporte. Sem inventar nada, mas aperfeiçoando, combinando e atualizando no Barcelona conceitos de Bielsa, La Volpe, Sacchi, Menotti, Cruyff, Michels, Van Gaal... Deixando sua marca nas duas últimas seleções campeãs mundiais. Combinando desempenho e resultado em um currículo impressionante de 18 títulos em cinco temporadas.

Mas que vem acumulando algumas derrotas emblemáticas, quase filosóficas. A maior delas na semifinal da Liga dos Campeões: 4 a 0 para o Real Madrid na Allianz Arena. A proposta de pressão no campo de ataque, compactação dos setores, valorização da posse de bola e obsessão por superioridade numérica encontrou seu melhor contraponto com Carlo Ancelotti. Sistema defensivo sólido, contragolpes rápidos e precisos aproveitando espaços às costas da retaguarda e bom rendimento nas bolas paradas ofensivas.

Guardiola precisa de respostas ao "antídoto" dos rivais. A Alemanha que constrói o jogo de forma parecida, mas é mais contundente e vertical nos últimos 15 metros de campo é boa referência. Mas o treinador também quer proteger melhor a sua meta e controlar ainda mais o jogo.

Por isso começa a pré-temporada testando a defesa com três zagueiros. Ou defensores. Ou jogadores posicionados na última linha. Na vitória por 1 a 0 sobre o Chivas Guadalajara, ainda muitas ausências.

Mas Rafinha, Javi Martinez e Alaba mais recuados. Formando muitas vezes uma linha de cinco com os alas Hojbjerg e Bernat. Qualificando a saída de bola, melhorando a recuperação com velocidade. Acelerar pelos flancos com ponteiros e alas.

REPRODUÇÃO ESPN

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Flagrante do Bayern contra o Chivas com linha de cinco na defesa avançada - pode ser uma solução de Guardiola para a temporada.

E voltando à essência do sistema: controlar o meio-campo. Com o zagueiro que sai para o jogo, meio-campistas com liberdade para circular, pontas e alas alternando por dentro. Trocando passes, movimentando.

Peças não faltam. Lahm pode ser ala ou volante, Lewandowski o centroavante mais móvel, que finaliza mas também abre espaços. Robben e Ribéry abertos alargando o campo, dando amplitude e espaçando a marcação. O espanhol Juan Bernat mantendo a aceleração pela esquerda e deixando Alaba trabalhar por dentro. Como zagueiro ou até volante. Com Javi Martinez e a provável volta de Boateng, o aumento da estatura contra o jogo aéreo. E ainda Gotze, Muller, Shaqiri, Thiago Alcântara, Pizarro...

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Uma formação dos bávaros entre as muitas possibilidades que tem Guardiola: 3-4-3 com Alaba na zaga, Bernat pela esquerda e Lahm no meio-campo.

A ideia não é nova. Guardiola escalou três atrás em sua última temporada no Barcelona. Agora a proposta é a mesma: seguir protagonista, vencedor. Surpreendendo os rivais com nova dinâmica. Ou a atualização da original. De Piontek ou Bilardo. Para provar que nenhum esquema é sinônimo de jogo feio. Apenas a maneira de atuar.

E aí, acham que terá força suficiente pra ser uma nova tendência mundial, assim como o 4-2-3-1 foi na Copa da África?

Eu particularmente não acho, embora aqui no Brasil nego adore copiar mal e porcamente as "inovações" que assistem pela Tv, e assim pode ser que vire uma nova febre, com meio-campos recheados de volantes e zagueiros horríveis correndo atrás de atacante no mano-a-mano lá atrás.

Postado

Acho que não. Esse esquema é muito bom contra dois atacantes, mas quando o time adversário joga só com um, tu basicamente perde um zagueiro e ganha muita bola nas costas, ainda mais se levar em conta que 98% dos times jogam com aquele "3" da na parte da frente. Os pontas adversários adoram. E nem todo mundo pode se dar ao luxo de ter Lahm, Alaba, Javi de zagueiro. Normalmente os 3 zagueiros são broncos e a tua saída de bola depende demais dos alas e da aproximação dos volantes.

Outro ponto é que o teu meio campo fica vazio se os alas ficarem mal posicionados, além de exigir muito vigor físico pra subir e descer toda hora. Ou tu joga estilo Holanda, num 5-3-2 usando muita bola longa, ou tu joga esquema Guardiola, num 3-4-3 bem ofensivo e marcando lá em cima. Acho que dessa última forma talvez funcione, mas digo novamente que depende muito dos alas. E pode não parecer, mas é um sistema muito complicado porque tu tem muita variação de jogo pela movimentação dos zagueiros e dos alas.

Acho que as formações com o "3" na frente ainda vão durar algum tempo. É dai que parte a melhor distribuição de jogadores em campo. Ao meu ver, o 4-2-3-1 e o 4-3-3 são os esquemas mais equilibrados no futebol. Ocupação de espaços é praticamente perfeita.

Postado

Na minha opinião o Guardiola já atuava com 3 zagueiros desde a época de Barça, só tu olhar a disposição no retorno de bola em jogo. Dani e Adriano eram alas, Busquets voltava para compor a sobra e dois zagueiros ficavam. Busquets atuava como terceiro zagueiro, não volante moderno. A saída era realizada sempre pelo Dani, não tinha tanta a cultura de um ir e outro voltar, como tem o 442 clássico brasuca. Não é surpresa que ele venha a efetuar um real 3 5 2. Pelo menos não pra mim.

Porém o "3-4-3" é uma tática arriscada, o Barça dava certo pois era um 3 5 2, ou 3 6 1 como preferirem, jogando com uma meia cancha bem ocupada. Acho que Ribery e Robben são muito agudos para arriscar um 3-4-3, jogadores individualistas que não ajudam tanto na marcação. A dupla de volantes é ótima, mas não acredito que seja barra pesada para aguentar um ataque forte. 3 5 2 seria a tática desse Bayern, vende um dos dois, Ribery ou Robben, contrata um Pogba, o atacante de trás fazendo a ligação e o referência puxando espaço para uma incursão de um meia surpresa. Jogada de ataque ótima. Juve já fazia isso.

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