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Do terror ao crime: organizadas têm trânsito livre nos clubes do Recife


Guest João Gilberto

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Guest João Gilberto
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Do terror ao crime: organizadas têm trânsito livre nos clubes do Recife
Ex-integrantes revelam como funciona a relação das uniformizadas de Sport e Santa
A morte de um torcedor atingido por um vaso sanitário arremessado das arquibancadas do Arruda, após um jogo do Santa Cruz, no dia 2 de maio, chocou não apenas o Recife. O incidente absurdo repercutiu no mundo, que passou a olhar de forma estarrecida a dura realidade existente há décadas numa das cidades sedes da Copa. Foi um caso extremo, num universo rotineiro provocado pelas torcidas organizadas dos três clubes da capital pernambucana. E o mais contraditório: tudo acontece com a conivência de quem deveria combatê-los.
Os clubes viraram território de guerra, e ex-integrantes que conversaram com a reportagem do GloboEsporte.com confirmam que o tráfico de droga, a venda de produtos roubados e até mesmo reuniões onde são decididas ações criminosas são livres. O Ministério Público e a Polícia afirmam saber de tudo, mas culpam a lentidão da Justiça pela falta de ação.
No dia 12 de março, o titular do Juizado Especial do Torcedor (Jetep), Ailton Alfredo, disse que não tinha poder de julgar o pedido mais recente para banir as torcidas organizadas dos estádios pernambucanos. De acordo com o magistrado, como existe um pedido semelhante correndo na 5ª Vara da Fazenda Pública desde 2012, o Jetep nada pode fazer.
- Nesse caso, a preferência é pela ação mais antiga. Despachei a nova ação para que seja julgada pela mesma vara. Com isso, até lá, tudo continua da forma que está.

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O cenário da violência livre foi relatado por um ex-integrante da Torcida Jovem do Sport, que pediu para não ser identificado por medo de represálias. De acordo com ele, quem tenta se afastar do grupo sofre consequências que vão desde o impedimento de usar camisas da organizada, passado por humilhação de quem continua e podendo chegar até a ameaças de morte.
- O tempo que passei lá vi que o uso de drogas é livre, sem nenhuma precaução, sem nenhum medo de ser preso, sem nenhum medo de que aconteça algo errado. Simplesmente eles estão lá para se drogar, para traficar. Eles se reúnem dentro do Sport e fora também, sempre que há oportunidade. São encontros diários. Eles vivem para aquilo, está entendendo? Pessoas que largam do trabalho e vão direto se reunir para se drogar, para fazer negociação de produtos roubados, de celulares roubados, correntes de prata roubadas. Já vi gente armada lá dentro, com revólver, com faca... Dentro do clube e fora também. Lá não existe medo. A política é não ter medo de nada. Se cometem as piores coisas, como se tivesse isento de tudo. Talvez porque as autoridades façam vista grossa. Lá, gente de bem é exceção.
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O relato do torcedor não é novidade para a Polícia. O diretor da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil de Pernambuco (CORE), o delegado José Silvestre, reconhece, mas alega que difícil combater o que ele classifica como crime organizado por conta de impedimentos da Justiça. Silvestre é responsável por comandar o inquérito que levou à prisão, este mês, dois integrantes da organizada do Náutico, e que busca mais quatro integrantes da principal organizada do Sport. Entre eles, o presidente da Torcida Jovem, Mário de Azevedo Santos Júnior, conhecido como Marinho.
- É uma sensação de enxugar gelo, sim, porque a nossa legislação precisa ser modernizada. Existe a possibilidade de punição efetiva? Existe. Mas diante da realidade que nós estamos vivendo, nós precisamos usar da força do encarceramento. O medo tem que ser usado. Ele tem que ter medo de ser preso. Tem que entender que, se ele fizer aquilo, vai ficar fora da família dele porque o respeito já se perdeu faz muito tempo. A partir de um momento que a gente faz um inquérito, que identifica todo mundo e você não conseguem prender porque não consegue um mandado de prisão - porque na nossa lei a prisão é exceção, é difícil. É bastante difícil. Essas torcidas são organizações criminosas. Agem como organizações criminosas. Possuem planejamento de organização criminosa. Por que tratá-los como torcedores?
A morte do torcedor no Arruda, de acordo com Silvestre, não surpreendeu.
- No caso do menino que morreu atingido por um vaso, a novidade, vamos dizer assim, é que eles, infelizmente, atingiram alguém. Já houve, em anos anteriores, casos em que eles jogaram privada, extintor de incêndio em policiais e também tentando atingir torcedores rivais, mas não atingiram ninguém. Nessa última aí, parecia que já estava mais orientado, já estavam mais preparados para tentar atingir um grupo específico, e aí conseguiram.
Um ex-integrante da Inferno Coral, que também pediu para não ser identificado, reforça o que já foi apontado por Silvestre.
- Sempre existiu esse negócio de jogar vaso e pedra das arquibancadas e todo mundo sabe disso. Certo. A culpa é do marginal. Mas a culpa também é da impunidade porque se tivesse punido aquele cara que jogou um vaso e não machucou ninguém, ninguém mais jogaria. Então, o cara lá estaria vivo hoje. Mas passam muito a mão na cabeça...
A desilusão de José Silvestre também não foge ao que é relatado pelo procurador-geral do Ministério Público Federal de Pernambuco (MPPE), Aguinaldo Fenelon, que garante seguir buscando encontrar meios para extinguir, definitivamente, as organizadas dos estádios.
- A impunidade tem alimentado a violência. Todos estão denunciados, mas estamos aguardando o judiciário. Era importante termos essa resposta. Queremos a criação de um juizado para julgar apenas casos envolvendo torcedores, pois fica mais fácil o acompanhamento. Queremos o fim das organizadas e pedimos isso em uma ação e estamos esperando a resposta da justiça. Mas, infelizmente, a morosidade ainda é grande neste país.
O titular do Juizado Especial do Torcedor, Ailton Afredo, também reconhece a complexidade do problema, mas se defende.
- Não é algo tão simples assim. Não podemos viver em uma "guerrilha" institucional, onde, diante de um problema, cada instituição tenta se eximir de culpa. O Brasil tem a quarta maior comunidade carcerária, mas está longe de ser o quarto país mais seguro. A questão da lentidão de julgar não é algo que acontece com crimes de torcida organizada. É um problema de vários casos. Temos situações de latrocínio, homicídio, que não estão ligados ao futebol, mas que demoram. A polícia, a justiça, o Ministério Público... Todos, na medida do possível, estamos tentando resolver um problema que é complexo. Não é fácil.

Clubes são coniventes com as organizadas
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Se a impunidade alimenta a violência entre as torcidas, a parceria com os clubes ajuda a nutri-las. Ingressos para entrar nos estádios, financiamentos de viagens e livre acesso às dependências das sedes. Até mesmo em locais destinados exclusivamente aos sócios. Tudo isso, em troca de apoio político. Pratica constatada nas palavras de outro ex-integrante da maior organizada do Santa Cruz, a Inferno Coral, que conta com detalhes os bastidores.
- A torcida ganha ingresso, sim. Participava de uma torcida que conseguia comprar os ingressos pela metade do preço, mas que algumas pessoas, cerca de 30, entravam de graça. Mas tem uma torcida que o presidente é diretor do Santa Cruz. Ele ganha alguns ingressos e repassa a preço de estudante. Ganha cerca de mil ingressos para vender.
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O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, nega qualquer tipo de aproximação com as organizadas. No entanto, ele tem no seu quadro de diretores Rogério Guedes Nascimento, ex-presidente da torcida Império Coral, criada de uma dissidência da Inferno Coral, e ainda aparece em fotos vestido camisas das organizadas.
- O Santa Cruz mantém a mesma posição que sempre teve. Nunca cedemos ingressos, nunca demos nenhuma sala para que as organizadas fizessem suas sedes. Temos uma relação natural com as torcidas. Se eles apareceram aqui (sala presidencial), foram recebidos. Uma ou duas vezes, houve apresentação de atletas que eles estavam perto, mas nunca houve aproximação institucional. Nunca tive uma relação que pudesse se oficializar. No meu caso, em razão de ser político, foi montada uma foto minha com a mesma foto que usei na campanha. Essa relação nunca existiu. Tenho dirigentes que são ex-dirigentes de organizadas, mas que são empresários respeitados atualmente. Contrato o cidadão, pessoas de bem.
Ex-diretor do Santa Cruz responde ação na Justiça
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A declaração de Antônio Luiz Neto, no entanto, é contraditória. Numa ação que corre na 4ª Vara Criminal da Capital de Pernambuco, desde 2007, Rogério Guedes Nascimento, juntamente com mais 12 torcedores, é denunciado em quatro artigos do Código Penal após se flagrado em brigas em estádios. Dentre eles, o Art. 288 - "Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes". O processo não impediu o ex-dirigente de ser um dos convidados na cerimônia de homenagem aos 99 anos de Santa Cruz, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, no dia 5 de maio de 2013. Quando exercia o cargo de diretor comercial do clube.
Fora da diretoria do clube, mas atuando como colaborador, Rogério reconheceu que ainda responde processo, mas afirmou que a ação que acarretou o problema com a justiça é foi um espisódio isolado.
- Não faço mais parte da diretoria do Santa Cruz e estou fora da torcida há quatro meses. Ajudo o pessoal, mas não sou mais presidente. O processo é um fato isolado, algo que aconteceu em 2007, mas que não representa o que eu sou. Foi um fato isolado.
Porém, o ex-integrante anônimo da Inferno Coral que conversou com a reportagem revela que a relação das uniformizadas com a diretoria do clube é estreita.
- Normalmente, diretor de torcida sempre conhece diretor do clube. Sempre participa como conselheiro. A torcida organizada sempre se junta e participa. Em uma campanha eleitoral é comum estar junto do presidente. A época que o presidente mais lembra da torcida é na eleição. O atual presidente do Santa tem fotos com camisa de uma organizada e agora ele vem discriminando. Mas quando ele estava precisando, ele fazia reunião, chamava os torcedores para o comitê dele. Sempre tinha isso.
As afirmações, no entanto, são questionadas por Rogério Guedes, que disse nunca ter recebido qualquer tipo de incentivo do clube.
- Nunca recebi ingressos e nem incentivo. Isso não existe. Esse tipo de coisa não existe.

Náutico sofre represália ao tentar romper com organizadas
De tão entranhadas nos bastidores dos clubes, as organizadas custam – e lutam muito para não perder as regalias. Está sendo assim no Náutico, onde o presidente Glauber Vasconcelos vem sofrendo sistemáticas ameaças por ter eliminado qualquer beneficio para as uniformizadas desde que assumiu o clube, no início do ano.
- O primeiro pedido foi de 300 ingressos. Falei que era impossível. Depois, vieram os pedidos de dinheiro para aluguel de sede, passagem para viagens e sempre negamos, pois a nossa decisão era cortar esse tipo de situação. Mas isso gera consequências. Sofri várias ameaças, através de mensagens, muros pichados... Aí, na semifinal do Pernambucano, contra o Salgueiro, os caras invadiram o hotel, ameaçaram dar nos jogadores. Uma pessoa dessas gosta do clube? Mas para manter essa postura é preciso ter um apoio das autoridades. Preciso desse apoio, pois já ameaçaram a minha família e também temo por eles.

GLOBOESPORTE.COM

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ri demais do 14.666 hahahahahahahahaha inferno coral

falando sério, isso não é privilégio dos times de Pernambuco, a Geral do grêmio cada dia ganha mais força no conselho do grêmio.

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Tamanho da pedra que foi jogada ontem no carro da arbitragem após Sport x Corinthians, no estacionamento da ilha do retiro,

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